Instituições financeiras estimam inflação e juros em alta, e crescimento do PIB em baixa.
Após errarem em 2023 e 2024, os bancos insistem em previsões pessimistas para a economia nacional, desta vez para 2025. Estimativas de economistas ligados a instituições financeiras coletadas pelo Banco Central (BC) apontam que o novo ano deve ser de crescimento menor e inflação maior, juros em alta e dólar a R$ 6.
Nos dois anos anteriores, os bancos previram taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) que acabaram sendo superadas, com folga, pela realidade da economia nacional. Mesmo assim, voltaram a apontar um crescimento tímido para 2025, menor do que o verificado em 2023 e 2024. Reforçam, assim, o que já é tradicional no mercado.
“O mercado é mais pessimista do que a própria realidade”, resumiu Miguel de Oliveira, diretor executivo de estudos e pesquisas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). “Ele esperava o fim do mundo em 2023. Depois, em 2024. Aí se viu que os indicadores são bons”, disse.
Para 2025, os bancos estimam que a economia cresça 2,02% – em 2023, ela cresceu 3,2% e, nos últimos 12 meses, 4%. Também estimam uma inflação de 4,99% ao final do ano, ou seja, acima da meta de até 4,5% estabelecida para o índice; e ainda uma taxa básica de juros de 15% ao ano em dezembro – hoje, ela está em 12,25%.
Todas as previsões estão registradas no Boletim Focus, pesquisa divulgada semanalmente pelo BC justamente para dar uma ideia do ânimo do mercado sobre o país.
Para Oliveira, as previsões registradas na primeira edição do Focus de 2025 são exageradas. “Vai ser um ano desafiador, naturalmente, por conta do dólar alto e juros altos, mas eu particularmente não acho que a gente vai ter um ano tão difícil assim”.
Projeções para 2025:
Inflação (IPCA) – 4,99%
Crescimento do PIB – 2,02%
Dólar – R$ 6,00
Selic – 15% ao ano
Fonte: Boletim Focus (3 de janeiro de 2025)
Erros sucessivos
O economista Pedro Faria, economista e doutor em história pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, diz que bancos e outras instituições do mercado financeiro precisam fazer previsões sobre a economia para tomar decisões. Segundo ele, no entanto, os bancos têm adotado modelos matemáticos defasados para a elaboração de estimativas.
“Os modelos têm premissas erradas. Trata o governo como um inibidor do investimento privado, quando a gente vê que a realidade é outra”, disse Faria. “O gasto do governo cresce, gera demanda, o empresário investe porque ele está vendendo”.
Mauricio Weiss, economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ratifica esse erro. “O mercado sempre subdimensiona o impacto da ampliação dos gastos na economia. Por isso, previu um crescimento muito mais baixo do que ocorreu em 2022, 2023 e 2024. Por outro lado, o mercado subdimensiona o impacto na redução dos custos trabalhistas, e previu muito para cima o PIB em 2017, 2018 e 2019”.
Projeções x realidade em 2024:
Inflação (IPCA)
. Projetado – 3,90%
. Apurado – 4,87% (12 meses acumulados até novembro)
Crescimento do PIB
. Projetado – 1,59%
. Apurado – 4% (12 meses acumulados até setembro)
Dólar
. Projetado – R$ 5
. Apurado – R$ 6,18
Selic
. Projetado – 9% ao ano
. Apurado – 11,25% ao ano
Fontes: Boletim Focus (5 de janeiro de 2024) e indicadores
Projeções x realidade em 2023:
Inflação (IPCA)
. Projetado – 5,36%
. Apurado – 4,62%
Crescimento do PIB
. Projetado – 0,78%
. Apurado – 3,2%
Dólar
. Projetado – R$ 5,28
. Apurado – R$ 4,85
Selic
. Projetado – 12,25% ao ano
. Apurado – 11,75% ao ano
Fontes: Boletim Focus (6 de janeiro de 2023) e indicadores
Influência na realidade
Weiss ressalta que, apesar de quase sempre equivocadas, as previsões dos bancos têm forte impacto sobre a realidade da economia nacional. Ele lembrou que nas discussões do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC sobre a taxa básica de juros, a Selic, as previsões registradas no Focus são balizadoras.
“E o BC as leva em consideração na condução da política econômica”, afirma. “Elas importam porque os detentores do dinheiro acreditam nelas. Então, por pior que sejam, impactam na vida concreta do país”.
“As instituições financeiras são quem definem o custo de endividamento das empresas, para onde vai a poupança, muita coisa real”, acrescenta Faria. “Mesmo que estejam erradas, as previsões são importantes e vão continuar sendo”.
Revisões sistemáticas
Oliveira, da Anefac, afirmou que as previsões dos bancos são revisadas frequentemente. Ele mesmo acredita que, por serem muito pessimistas sobre a economia em 2025, eles terão de ser corrigidas durante o ano.
Weiss, no entanto, diz que, por conta principalmente dos juros, a economia nacional tende a ter resultados piores em 2025 do que em anos anteriores. “Neste ano eu também estou mais pessimista por conta da elevação na taxa de juros”, reconheceu. “Talvez os bancos acertem suas previsões, mas pelo motivo errado”.
Andrew Storfer, diretor do Núcleo de Economia da Anefac, diz que o quadro para 2025 não é bom, e critica o governo. “As perspectivas são de um ano difícil principalmente porque o governo não está fazendo sua parte. Isso implica que a política monetária tem que ser mais restritiva, com juros mais altos, para conter a inflação”.
Ele ressaltou que apesar do pessimismo em 2024, os bancos estimavam uma inflação menor e um dólar mais baixo que o atual. “Segundo os bancos, a inflação ia ficar em torno de 3,8% e ficou em torno de 4,9%. O câmbio que era previsto R$ 4,9 terminou em quase R$ 6,2. Então, acho até que o mercado foi otimista no começo de 2024”.
*BdF