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Pesquisadores descobrem novos biomarcadores de Alzheimer no sangue

Diagnóstico no momento correto é a chave para prevenir a evolução da doença, segundo autores da pesquisa.

Novos estudos publicados nesta semana revelam que a avaliação de microRNA no sangue de pacientes pode ser usada para a identificação do Alzheimer ainda no seu estado precoce.

Fornecer esse diagnóstico no momento correto é a chave, segundo os autores da pesquisa, para prevenir a evolução da doença e pode ajudar na eficácia dos tratamentos. Os trabalhos ainda estão em fases preliminares.

Atualmente, o diagnóstico é feito em diferentes etapas. Segundo Claudia Suemoto, pesquisadora e professora da USP (Universidade de São Paulo), antes de investigar a ocorrência de Alzheimer, o paciente tem que ser diagnosticado com demência pela apresentação de sinais e sintomas, como alterações de memória e linguagem ou dificuldade de tomada de decisão, que atrapalhem a autonomia da pessoa no dia a dia.

Uma vez que a demência seja confirmada por testes cognitivos, o primeiro procedimento médico é buscar causas reversíveis para essa perda de cognição por meio de exames de neuroimagem ou de sangue. Só quando descartadas essas possibilidades que o especialista irá investigar a ocorrência de Alzheimer, e os testes de biomarcadores poderão entrar em cena.

Suemoto ressalta que, no Brasil, esses testes estão disponíveis em poucos laboratórios, alguns dos quais devem enviar as amostras para serem analisadas nos Estados Unidos. Por isso, os testes de biomarcadores são ainda muito caros e indisponíveis para a maioria da população e essa prática clínica não está disseminada.

Uma alternativa para o diagnóstico cada vez mais popular é o exame de biomarcadores, dentre os quais os mais conhecidos do Alzheimer são as proteínas beta-amiloide e tau, que se proliferam no cérebro do paciente e causam a neurodegeneração. Essas substâncias podem ser identificadas em exames do tecido cerebral, de imagem ou por análises do líquido cefalorraquidiano e do plasma.

Existem, entretanto, outros sinais do desenvolvimento da doença. Um deles são os micro-RNAs plasmáticos (miRNAs). O meio ambiente e nosso estilo de vida é capaz de controlar a forma na qual nosso código genético se expressa, e essas moléculas são as responsáveis por promover esse diálogo. Assim elas estão diretamente relacionadas com a neurodegeneração, entre outros processos.

Além disso, os miRNAs se manifestam no sangue anos antes do que as proteínas do Alzheimer. Por isso, eles podem ser uma ferramenta útil para revelar a janela de tempo ideal para iniciar um tratamento ou uma intervenção preventiva. Essa janela consiste no momento em que o quadro do paciente está evoluindo de uma deficiência cognitiva leve para a demência.

Acreditando que medir os miRNAs pode levar ao surgimento de um exame para o Alzheimer mais econômico e acessível e menos invasivo, os pesquisadores dos Estados Unidos e da Alemanha trabalharam, primeiro, para identificar quais dessas moléculas estão envolvidas na evolução da demência.

Para isso, usaram os dados da Alzheimer’s Disease Neuroimaging Initiative, um grande estudo multicêntrico destinado à coleta de dados de pacientes da doença em todo o mundo. De posse das informações de saúde de mais de 800 pacientes, os cientistas descobriram nove miRNAs associados à presença de proteínas beta-amiloides, dois associados à tau e outras oitos relacionadas com a neurodegeneração. Esses resultados foram publicados na revista científica Alzheimer’s & Dementia.

Testes para identificação do Alzheimer
A segunda fase da pesquisa consistiu em examinar amostras de plasma de mais de 800 pacientes, alguns saudáveis e outros com comprometimento cognitivo leve ou demência, na busca da presença dos miRNAs identificados anteriormente. Além disso, os pacientes foram submetidos a testes neuropsicológicos que são normalmente aplicados para a identificação do Alzheimer.

Os resultados da pesquisa, também divulgados na Alzheimer’s & Dementia, revelaram que, combinados, os exames de miRNA aumentam a precisão dos testes neuropsicológicos e conduzem a uma identificação correta do estágio de evolução da neurodegeneração. Além de fornecer uma alternativa diagnóstica, a nova técnica ajuda na compreensão da evolução da doença e pode contribuir para estudos futuros.

Ivan Okamoto, neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein, diz, entretanto, que novas metodologias para o diagnóstico de Alzheimer ainda precisam de validação, especialmente os exames de sangue. Em particular, é preciso também avaliar a reprodutibilidade dessas análises para a população brasileira, visto que a maior parte da pesquisa é realizada na Europa e nos Estados Unidos, segundo o ICL.

Segundo os pesquisadores, os miRNAs são biomarcadores estáveis e envolvidos em vias metabólicas múltiplas, como neuroinflamação ou disfunção de sinapse. Esses aspectos os tornam alvos ideais para estudos. Sobretudo, eles foram capazes de ajudar na previsão da evolução de pacientes com transtornos cognitivos mais leves para um cenário de demência, momento chave para implementar medidas de prevenção ou tratamento mais eficazes.

Suemoto observa que, ainda mais importante que o diagnóstico, é a prevenção da doença. A eliminação de 14 fatores de risco é capaz de reduzir os riscos da doença para quase 50% das pessoas. Entre eles estão o nível educacional, a perda auditiva, depressão, obesidade, tabagismo, hipertensão, diabetes, isolamento social e poluição do ar. Agora, em 2024, dois novos fatores, perda visual e colesterol LDL alto, foram reconhecidos pela comunidade científica internacional e publicados pela Lancet Comission.

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Estudo identifica microplásticos em cérebro de moradores de São Paulo

Pesquisadores alertam que a presença de microplásticos no organismo pode causar desde problemas cardíacos até diminuição da fertilidade.

São Paulo — Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) em parceria com a Universidade Livre de Berlim identificou fragmentos de microplásticos no cérebro de pessoas que moraram na cidade de São Paulo.

De acordo com a pesquisa liderada pela professora Thais Mauad da FMUSP, oito em 15 amostras coletadas de pessoas falecidas que viviam em São Paulo continham a presença de fibras e partículas de microplásticos. Para os especialistas, as vias olfativas são a porta de entrada para o material.

Os pesquisadores do estudo explicam que a identificação da presença desse material é preocupante porque as partículas podem ser internalizadas pelas células e interferirem no metabolismo celular. O risco é ainda maior para as crianças, que possuem o cérebro em desenvolvimento, o que pode causar alterações definitivas na vida adulta.

Além disso, problemas endócrinos, doenças cardíacas e até diminuição da fertilidade podem ser consequências desses materiais do cérebro.

Para os especialistas envolvidos no estudo, a pesquisa sugere a necessidade de se repensar o uso elevado
de plástico no dia a dia.

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Ministério da Saúde confirma primeiro óbito fetal por febre oropouche

Transmissão da febre oropouche ocorreu de gestante para o feto, de 30 semanas, em Pernambuco.

O Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso de óbito fetal causado por febre oropouche, em Pernambuco. O feto, de 30 semanas, foi contaminado por transmissão vertical, ou seja, a partir da mãe, de 28 anos.

“Continuam em investigação oito casos de transmissão vertical de Oropouche. São quatro casos em Pernambuco, um na Bahia e três no Acre. Quatro casos evoluíram para óbito fetal e quatro casos apresentaram anomalias congênitas, como a microcefalia”, informou o ministério.

Especialistas trabalham em conjunto com secretarias estaduais de Saúde, acompanhados pelo Ministério da Saúde, “para concluir se há relação entre Oropouche e casos de malformação ou abortamento”.

Entenda a doença

O vírus causador da doença, o Orthobunyavirus oropoucheense (OROV), foi registrado no Brasil pela primeira vez em 1960, mas os casos são mais comuns na região Amazônica. A doença é transmitida para os seres humanos principalmente pelo mosquito conhecido como maruim quando ele pica um animal ou pessoa infectados e depois pica uma pessoa sem o vírus.

No geral, os sintomas são parecidos com os da dengue, como dor muscular, náusea, dor de cabeça e diarreia.

Não existe um tratamento específico para a doença, por isso, as autoridades recomendam evitar viagens para regiões com alta incidência dos casos e se proteger contra a picada a partir de roupas que cubram a maior parte do corpo e repelentes.

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SUS vai disponibilizar dois novos medicamentos para a doença falciforme

Enfermidade genética tem alta prevalência entre pessoas negras, principalmente mulheres.

O Ministério da Saúde vai oferecer dois novos medicamentos — a alfaepoetina e a hidroxiureia — no Sistema Único de Saúde (SUS) para tratar a doença falciforme, uma condição hereditária que é muito comum entre pessoas negras, especialmente em mulheres.

A alfaepoetina é para pacientes que apresentam declínio da função renal e piora do quadro de anemia. Já a hidroxiureia, na apresentação de 100 mg, é para pacientes com pelo menos de 9 meses de idade — a de 500 mg é para doentes com 9 e 24 meses, sem sintomas e complicações.

Os medicamentos devem estar disponíveis em até 180 dias após a incorporação no SUS. A doença é a enfermidade genética com maior prevalência no país e no mundo, com alta concentração de diagnósticos e óbitos em pessoas pardas e pretas.

“É um grande marco para a questão da anemia falciforme, uma doença em que cerca de 80% dos diagnósticos estão relacionados à população negra, sendo 52% desses em mulheres. E, ainda mais nesta semana em que celebramos o Dia Internacional das Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha”, destaca o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Sectics), Carlos Gadelha

Entre os anos de 2014 e 2020, nasceram 3,75 pessoas com doença falciforme a cada 10 mil nascidos vivos no Brasil. A taxa de mortalidade por doença falciforme no país é de aproximadamente 1,12 pessoas a cada 100.000 habitantes.

De 2015 a 2019, entre os indivíduos que foram a óbito em razão da doença, a maioria era parda ou negra (78,6%) e (52,2%) eram mulheres.

Em 2023, 14.620 pacientes estavam recebendo tratamento da doença por meio das Farmácias do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (Ceaf) do SUS.

“A alfaepoetina era um medicamento que ainda não estava disponibilizado para anemia falciforme no SUS, assim como a hidroxiureia na apresentação de 100 mg. Com isso, a assistência farmacêutica amplia o acesso e direciona o olhar de forma mais cuidadosa para essas crianças, considerando principalmente os grupos que mais precisam de uma atenção especial”, destacou o diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos, Marco Pereira

Sintomas
Os sintomas da doença falciforme se iniciam logo no primeiro ano de idade e podem se estender durante toda a vida do paciente, atingindo quase todos os órgãos e sistemas em diferentes graus.

Uma das manifestações clínicas mais comuns é a anemia falciforme, que apresenta a hemoglobina ‘S’ em homozigose. Esse tipo de condição muda o formato das hemácias (glóbulos vermelhos do sangue), o que prejudica a chegada de oxigênio e a circulação nos tecidos.

Os pacientes diagnosticados podem enfrentar crises de dor, icterícia, anemia, infecções, síndrome mão-pé, acidente vascular encefálico, priapismo, síndrome torácica aguda, complicações renais e oculares, entre outros sintomas.

Diagnóstico
O principal instrumento de detecção da doença é o teste do pezinho, que é oferecido pelo SUS. Uma vez realizado durante a triagem neonatal, o diagnóstico possibilita o início de cuidados específicos.

Considerando que se trata de uma doença degenerativa, é importante iniciar os tratamentos o mais rápido possível – fator que pode ser determinante na limitação dos agravos.

O diagnóstico tardio pode ser realizado de diversas maneiras. Crianças a partir dos 4 meses de idade, jovens e adultos que ainda não fizeram diagnóstico para detecção da doença podem realizar o exame de sangue chamado eletroforese de hemoglobina, que é oferecido às gestantes e parceiros durante o pré-natal, e disponibilizado na rede pública para toda a população.

Além disso, a doação de sangue é também uma opção de rastreio, uma vez que a legislação prevê o rastreamento nos hemocentros e unidades de coleta nos estados e municípios.

*ICL

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Casos de febre oropouche no Brasil aumentam mais de 769% em 2024

Brasil investiga três mortes que podem estar relacionadas à doença; são duas na Bahia e um em Santa Catarina.

O número de casos de febre oropouche aumentou mais de 769% no Brasil em 2024, na comparação com 2023. Dados fornecidos à CNN pelo Ministério da Saúde nesta terça-feira (23) apontam que foram confirmadas 7.236 ocorrências em 16 estados neste ano. Durante todo o ano passado, foram 832 casos.

O Ministério da Saúde aponta que não há mortes confirmadas, mas pelo menos três óbitos estão em investigação. São dois na Bahia e um em Santa Catarina.

A pasta afirma que para se se confirmar um óbito pela doença, é preciso uma avaliação criteriosa dos aspectos clínicos epidemiológicos considerando o histórico pregresso do paciente e a realização de exames laboratoriais específicos.

A maior parte dos registros de casos ocorreu em estados da região norte. Somente o Amazonas concentra 3.224 registros neste ano; Roraima vem em segundo lugar, com 1.709. A terceira localidade com mais ocorrências é a Bahia, com 830 casos. O estado, em 2023, no entanto, não chegou a ter registros da infecção.

O que é a doença
A febre do oropouche é causada pelo vírus orthobunyavirus oropoucheense. A principal forma de transmissão é pelo mosquito pólvora, mas há outros tipos de mosquistos que também podem transmitir o microorganismo. Macacos e bichos-preguiça são os principais hospedeiros. O vírus permanece no sangue do mosquito por alguns dias depois de picar uma pessoa ou animal infectado. Se esse mosquisto pica outra pessoa saudável, ele pode transmitir o vírus para ela.

Os principais sintomas são dor de cabeça, dor muscular, dor nas articulações, náusea e diarreia. São características similares às manifestadas em que está infectado por dengue ou chikungunya. O diagnóstico se dá por exames laboratorais e todo resultado positivo precisa ser notificados às autoridades.

Segundo o Ministério da Saúde, o microorganismo foi detectado pela primeira vez no Brasil em 1960, durante a construção da rodovia Belém-Brasília. Ele foi identificado em uma amostra de um bicho-preguiça e, desde então, houve registros de casos isolados e surtos mais localizados em estados da região amazônica.

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Injeção para prevenir HIV mostrou 100% de eficácia em estudo

Um novo medicamento injetável para a prevenção do HIV mostrou 100% de eficácia em mulheres cisgênero, segundo um grande ensaio clínico realizado na África do Sul e em Uganda. A injeção, aplicada semestralmente, demonstrou maior proteção contra o vírus em comparação com outros dois medicamentos de profilaxia pré-exposição (PrEP).

A eficácia e segurança do medicamento, chamado lenacapavir, foram testadas no ensaio clínico Purpose 1, realizado em três locais de Uganda e 25 locais da África do Sul. O estudo avaliou a eficácia da nova PrEP, injetável, e de outras duas medicações já utilizadas como prevenção da infecção por HIV, ambos comprimidos de uso diário.

Os resultados foram adiantados em junho pela Gilead Sciences, biofarmacêutica que desenvolveu o medicamento. Na quarta-feira (24), os dados foram publicados em artigo científico na revista The New England Journal of Medicine, uma das mais respeitadas no campo da medicina.

Não se trata de uma vacina. O lenacapavir é um inibidor de fusão capside, o que significa que ele interfere no capsídeo do HIV, uma capa de proteína que protege o material genético do vírus e as enzimas necessárias para a replicação. Seu uso é injetável, abaixo da pele, sendo necessária a aplicação apenas duas vezes por ano — uma a cada seis meses.

“Com zero infecções e 100% de eficácia, o lenacapavir semestral demonstrou seu potencial como uma nova ferramenta importante para ajudar a prevenir infecções por HIV”, diz Merdad Parsey, diretor médico da Gilead Sciences, em comunicado. “Estamos ansiosos por resultados adicionais do programa clínico Purpose em andamento e continuamos em direção a nossa meta de ajudar a acabar com a epidemia de HIV para todos, em todos os lugares.”

Como o estudo foi feito?
O ensaio clínico testou se a injeção semestral com lenacapavir era segura e se proporcionaria melhor proteção contra o HIV como PrEP em comparação com o Truvada F/TDF, uma pílula diária utilizada amplamente há mais de uma década como PrEP.

Em segundo lugar, o estudo também testou se o Descovy F/TAF, uma pílula diária parecida com Truvada, porém mais recente e com propriedades farmacocinéticas superiores, era menos ou mais eficaz que a injeção semestral com lenacapavir.

Para isso, mulheres entre 16 e 25 anos foram aleatoriamente designadas para receber um dos três medicamentos: lenacapavir, Truvada ou Descovy. O estudo foi feito de forma duplo-cega, ou seja, nem os participantes, nem os pesquisadores sabiam qual tratamento as mulheres estavam recebendo até o teste clínico terminar.

Segundo o estudo, nenhuma das 2.134 mulheres que receberam lenacapavir contraiu HIV. Ou seja, o medicamento obteve 100% de eficiência na prevenção da infecção. Em comparação, 16 das 1.068 mulheres que tomaram Truvada (1,5%) e 39 das 2.136 que receberam Descovy (1,8%) contraíram o vírus.

Novo medicamento pode aumentar a adesão à PrEP, diz pesquisadora
“Lenacapavir semestral para PrEP, se aprovado, pode fornecer uma nova escolha crítica para a prevenção do HIV que se encaixa nas vidas de muitas pessoas que poderiam se beneficiar da PrEP ao redor do mundo — especialmente mulheres cisgênero”, afirma Linda-Gail Bekker, diretora do Desmond Tutu HIV Center na Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul, e ex-presidente da International Aids Society, em comunicado.

“Embora saibamos que as opções tradicionais de prevenção do HIV são altamente eficazes quando tomadas conforme prescrito, lenacapavir semestral para PrEP pode ajudar a lidar com o estigma e a discriminação que algumas pessoas podem enfrentar ao tomar ou armazenar pílulas orais de PrEP, bem como potencialmente ajudar a aumentar a adesão e persistência da PrEP, dado seu cronograma de dosagem semestral”, avalia.

No ano passado, houve 1,3 milhões de novas infecções por HIV no mundo, segundo o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids). A taxa ainda está acima da meta para reduzir o número de novas infecções por HIV para 500 mil casos globais para 2025, estabelecida pela entidade.

A PrEP não é a única forma de prevenir o HIV: ela faz parte de um conjunto de métodos preventivos, incluindo o acesso e uso de preservativos, tratamentos para infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e testagem para o vírus.

Próximos passos incluem testes clínicos em homens
Os estudos clínicos do Purpose 1 serão continuados, mas, agora, em uma fase de “rótulo aberto”. Ou seja, os participantes do estudo serão informados se estiveram no grupo que recebeu o medicamento injetável ou as outras opções orais. Eles poderão escolher a PrEP de preferência à medida que o estudo avança.

Outro passo importante é o estudo Purpose 2, que está em andamento e cujos resultados deverão ser divulgados no final deste ano ou início de 2025. O trabalho avalia o lenacapavir semestral para PrEP entre homens cisgêneros que fazem sexo com homens cisgênero, homens transgêneros, mulheres transgêneros e pessoas não-binárias que fazem sexo com parceiros do sexo masculino (designado no nascimento).

O estudo Purpose 2 está em andamento no Brasil, além da Argentina, México, Peru, África do Sul, Tailândia e Estados Unidos.

Se os resultados de ambos os estudos forem positivos, eles serão incluídos no registro regulatório para o uso do lenacapavir como PreEP, para garantir que o medicamento seja aprovado para várias populações e comunidades que precisam de opções adicionais de prevenção ao HIV.

Os resultados deverão ser analisados a órgãos reguladores de cada país. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também analisará os dados e poderá emitir recomendações, podendo adotar o medicamento nas suas diretrizes de prevenção ao HIV.

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Inclusão de atenção a pessoas com síndrome de Burnout no SUS é aprovada na Câmara

Proposta foi analisada em caráter conclusivo e seguirá para o Senado caso não haja recurso.

Um projeto de lei que institui a Política Nacional de Atenção Integral à Síndrome de Esgotamento Profissional (SEP) no Sistema Único de Saúde (SUS) foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.

O projeto tramitou em caráter conclusivo e deverá seguir para o Senado caso não haja recurso para votação em Plenário.

De acordo com o projeto, a síndrome de esgotamento profissional, também conhecido como burnout, se caracteriza em três dimensões:

  • Sentimentos de exaustão ou esgotamento de energia
  • Aumento do distanciamento mental do próprio trabalho, ou
  • sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao próprio trabalho; e
  • Redução da eficácia profissional.

O texto estabelece que o poder público precisar implementar formas de prevenção e diagnóstico precoce, capacitação permanente de profissionais de saúde e promoção de estudos e pesquisa. Além de fomentar a produção e divulgação de dados sobre a síndrome.

Também determina parceria entre entes públicos e privados para realização de uma semana, sempre no dia 15 de outubro, em que se realiza atividades de conscientização. Todas essas campanhas deverão tratar da importância e o direito de um ambiente seguro e saudável para todos os trabalhadores.

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Cientistas desenvolvem nanorrobôs que podem “matar” células cancerígenas

Segundo os pesquisadores, os aparelhos foram capazes de reduzir em 70% o crescimento do tumor em experimento com camundongos.

Pesquisadores suecos desenvolveram nanorrobôs – robôs muito pequenos, desenvolvidos em dimensões nanométricas – capazes de matar células cancerígenas e reduzir o crescimento de tumores em camundongos. O estudo com os resultados do experimento foram publicados na segunda-feira (1) na revista Nature Nanotechnology.

Os nanorrobôs foram criados por pesquisadores do Karolinska Institutet, localizado em Estocolmo, na Suécia. A “arma letal” dos aparelhos está escondida em uma nanoestrutura e é exposta somente no microambiente do tumor, evitando que células saudáveis sejam destruídas erroneamente.

O grupo de cientistas já tinham desenvolvido, anteriormente, estruturas que podem organizar os chamados “receptores de morte” na superfície das células, levando à morte celular. Essas estruturas levam seis peptídeos (cadeias de aminoácidos) montados em um padrão hexagonal.

“Este nanopadrão hexagonal de peptídeos se torna uma arma letal”, explica Björn Högberg, professor do Departamento de Bioquímica Médica e Biofísica da Karolinska Institutet e líder do estudo, em comunicado. “Se você o administrasse como um medicamento, ele começaria a matar células no corpo indiscriminadamente, o que não seria bom. Para contornar esse problema, escondemos a arma em uma nanoestrutura construída a partir de DNA.”

A técnica de construir estruturas em nanoescala usando DNA é chamada de “origami de DNA” e é alvo de pesquisas da equipe de Högberg há anos. Agora, os pesquisadores usaram a técnica para criar uma espécie de “interruptor de segurança”, que é ativado ao encontrar células cancerígenas.

“Conseguimos esconder a arma de tal forma que ela só pode ser exposta no ambiente encontrado dentro e ao redor de um tumor sólido”, explica o professor. “Isso significa que criamos um tipo de nanorrobô que pode mirar e matar especificamente células cancerígenas”, completa.

A “arma letal” do nanorrobô é ativada pelo pH baixo, característico do microambiente que envolve as células cancerígenas. Em análises realizadas em tubos de ensaio, os pesquisadores conseguiram mostrar que a arma peptídica fica escondida dentro da nanoestrutura quando está em um pH normal de 7,4. Porém, ela é ativada quando o pH cai para 6,5, matando as células danificadas.

Redução de 70% do câncer de mama com o uso de nanorrobôs
Os pesquisadores testaram a ação do nanorrobô em camundongos com câncer de mama. Segundo o estudo, a ferramenta reduziu em 70% o crescimento do tumor em comparação com roedores que receberam uma versão inativa do nanorrobô.

“Agora precisamos investigar se isso funciona em modelos de câncer mais avançados que se assemelham mais à doença humana real”, diz o primeiro autor do estudo, Yang Wang, pesquisador do Departamento de Bioquímica Médica e Biofísica do Karolinska Institutet. “Também precisamos descobrir quais efeitos colaterais o método tem antes que ele possa ser testado em humanos”, acrescenta.

O próximo passo dos pesquisadores é investigar se é possível tornar o nanorrobô mais direcionado, colocando proteínas ou peptídeos em sua superfície que se ligam especificamente a certos tipos de câncer. Além disso, eles afirmam que a invenção será patenteada.

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Resistencia à ivermectina pode ser chave de surto de sarna em SC

Duas creches em Balneário Camboriú foram fechadas por conta do grande número de contaminações; UFAL elaborou estudo sobre tema em 2021.

Duas creches tiveram as aulas suspensas na cidade de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, por conta da grande quantidade de casos registrados de escabiose, também conhecida como sarna humana.

E um dos fatores que pode ter levado a esse surto foi o uso desenfreado de ivermectina, medicação que compunha o chamado “kit covid” e tinha seu uso incentivado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a pandemia, mesmo que tal medicação não tenha sua eficácia comprovada contra a doença.

Segundo o site NSC Total, tal hipótese foi inclusive admitida pelo médico infectologista Fábio Gaudenzi de Faria, superintendente de vigilância em saúde de Santa Catarina, mas não totalmente confirmada por não ter sido feita uma análise da resistência do parasita responsável pela escabiose.

O caso confirma estudos realizados por universidades federais durante a pandemia de covid-19, onde destacavam que o uso desenfreado de medicamentos como hidroxicloroquina e ivermectina poderiam tornar esses remédios ineficazes contra os casos para os quais eles foram originalmente desenvolvidos.

Vale lembrar que, em 2021, o sistema de saúde de Santa Catarina colapsou por conta do grande número de casos de covid-19, e pacientes diagnosticados com o vírus da covid-19 eram orientados a fazer o uso de medicamentos como ivermectina e cloroquina.

Pesquisa alerta para resistência ao medicamento
Em 2021, o Núcleo de Estudos em Farmacoterapia (NEF) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) desenvolveu um trabalho onde cogitou que um surto de escabiose registrado em Pernambuco estava relacionado ao uso em excesso de ivermectina, que acabou por gerar cepas responsáveis pela escabiose que eram resistentes ao medicamento.

“O nosso artigo lança a hipótese de que poderíamos ter problemas com surtos de escabiose resistente, por conta do uso irracional da ivermectina. O surto está configurado, pois está havendo um aumento rápido de casos de lesões de pele com coceira e outros sintomas”, contextualiza Sabrina Neves, pesquisadora do Instituto de Ciências Farmacêuticas (ICF) e uma das autoras do artigo.

“Ainda não há diagnóstico da doença que está causando o surto. Algumas hipóteses da etiologia [origem] estão sendo testadas, entre elas está a escabiose levantada pelo artigo”, ressaltou.

A ivermectina era um dos medicamentos que faziam parte do chamado “kit covid”, que muitas pessoas recorreram para lidar com os efeitos da covid-19 inclusive com o incentivo do poder público no auge da pandemia, como por parte do então presidente Jair Bolsonaro.

Segundo a UFAL, o consumo desse antiparasitário aumentou quase dez vezes no Brasil graças a automedicação e a prescrição desenfreada – profissionais de saúde e pessoas continuaram usando o medicamento contra a covid-19 mesmo com evidências científicas e pareceres contrários do Ministério da Saúde e da indústria farmacêutica.

*GGN

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Homem é o primeiro vacinado do mundo contra o câncer de intestino

O professor Elliot Phebve, de 55 anos, recebeu um imunizante personalizado para evitar a recidiva do câncer de intestino.

O professor universitário inglês Elliot Phebve, de 55 anos, foi o primeiro homem a tomar uma vacina contra o câncer de intestino. A aplicação ocorreu na sexta-feira (31/5) como parte de um ensaio médico que vai testar a eficácia deste tratamento para evitar o retorno dos tumores (recidiva) em pacientes que tiveram de lidar com quadros graves da doença.

Elliot foi diagnosticado em 2023 com um tumor de cólon extremamente agressivo. Embora não tenha tido sintomas do câncer de intestino, o quadro foi identificado em um exame de rotina e levou à necessidade de retirar 30 centímetros do intestino grosso dele em uma cirurgia de emergência. O professor fez quimioterapia até desaparecerem os sinais da doença e, em seguida, se voluntariou para participar do ensaio clínico da eficácia do imunizante.

“Ser a primeira pessoa do mundo a ter a graça de receber este imunizante foi um divisor de águas na minha vida”, disse ele. “Dediquei minha vida a ajudar as pessoas e a ciência e espero que este trabalho ajude a pessoas a não terem que viver o que eu vivi”, afirmou ele.

A expectativa no NHS, sistema de saúde pública inglês, é que mais de mil pessoas sejam encaminhadas por seus médicos para participar dos testes da vacina. Assim como na vacina recentemente testada contra o câncer de pele, o imunizante contra tumores no intestino usa uma tecnologia de mRNA, como as vacinas da Pfizer contra a Covid.

Como funciona a vacina contra o câncer de intestino?
Cada uma das doses é personalizada: o imunizante é feito com as mesmas informações genéticas do tumor da pessoa que foi retirado em uma biópsia. Por isso, ela só pode ser usada em pessoas que já tiveram a doença para evitar a recidiva.

As cópias das células que compõem o imunizante não são células de câncer, mas se parecem com elas em seu formato a ponto de permitir ao corpo estudar melhor o inimigo para não deixar ele passar despercebido caso reapareça.

As vacinas experimentais contra o câncer foram desenvolvidas em conjunto pelas biofarmacêuticas BioNTech (criador da tecnologia junto com a Pfizer) e Genentech, membro do Grupo Roche. Elas ainda estão em testes e devem ser testadas em 10 mil pacientes até 2030.

“Ainda é muito cedo para dizer se estas vacinas terão sucesso, mas estamos extremamente esperançosos. Os dados que temos até agora mostraram um aumento alto da capacidade de defesa do organismo”, afirmou a oncologista Victoria Kunene, investigadora principal do estudo.

As vacinas testadas visam ajudar pacientes com diferentes tipos de tumores e, se forem desenvolvidas e aprovadas com sucesso, poderão se tornar parte dos cuidados padrão contra o câncer.