‘Estamos em guerra em várias frentes e agora é a vez da área norte da Cisjordânia’, afirmou governo de Israel.
Centenas de palestinos abandonaram, nesta quinta-feira (23), o acampamento de refugiados de Jenin, na Cisjordânia, em meio a uma operação do Exército de Israel contra a região ocupada.
“Centenas de moradores do campo começaram a sair depois que o Exército israelense ordenou que eles evacuassem, por meio de alto-falantes em drones e veículos”, declarou o governador de Jenin, Kamal Abu al Rub.
Salim Al Sadi, membro do comitê de gestão do campo, confirmou as ordens de evacuação. “Pediram aos moradores do campo que saíssem antes das 17h locais (12h de Brasília) e há dezenas de pessoas que começaram a ir embora.”
Segundo a emissora Al Jazeera, além de forçados ao deslocamento, alguns palestinos, incluindo homens, mulheres e crianças, também foram presos após serem revistados em postos de controle.
Apesar do relato, o porta-voz do governo de Israel, David Mencer, afirmou que “pessoas que vivem em Jenin e não estão ligadas ao terrorismo são livres para sair, para se afastarem de nossas ações”.
Contudo, rejeitou que o exército israelense tenha emitido ordens de evacuação ao povo de Jenin. Consultadas pela AFP, as forças de Tel Aviv fizeram declarações semelhantes: “por enquanto, não temos informações sobre a ordem de evacuação dos moradores de Jenin”.
A incursão militar, batizada de “Muro de Ferro” e que conta com retroescavadeiras, aviões e veículos blindados, foi iniciada na última terça-feira (21), dois dias após o início de uma trégua entre Israel e o grupo palestino Hamas na Faixa de Gaza.
“Estamos preparados para realizar uma série de operações no campo de Jenin que levarão o campo a uma situação diferente. Estamos em uma guerra em várias frentes e agora é a vez da área norte da Cisjordânia”, diz um comunicado emitido pelos chefes do Estado-Maior Militar de Israel e da agência de segurança Shin Bet.
A operação visa “erradicar o terrorismo em Jenin”, declarou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em referência à cidade e ao campo de refugiados no norte da Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel desde 1967.
O Exército israelense indicou, também nesta quinta-feira, que matou dois combatentes do grupo de resistência palestino Jihad Islâmica na periferia de Jenin, ambos acusados de terem assassinado três israelenses em um ataque em janeiro.
O chefe do Exército, o general Herzi Halevi, classificou como “boa” a decisão de lançar a ofensiva na região: “uma vez que reconhecemos que o campo de Jenin se tornou um centro para aqueles que planejam ataques ou buscam refúgio depois de cometê-los, foi a decisão correta entrar lá por meio da força”, afirmou em comunicado.
Já o ministro israelense da Defesa, Israel Katz, justificou a operação em Jenin por uma “mudança na abordagem de segurança”. “Vamos atacar decisivamente os tentáculos de polvo até que sejam cortados”, afirmou.
Na Faixa de Gaza, onde o cessar-fogo prossegue pelo quinto dia, em meio ao intenso frio de inverno e inundações provocadas por fortes chuvas, palestinos voltam às suas casas, completamente destruídas pelos bombardeios, e procuram os corpos de seus familiares mortos.
O Ministério da Saúde do enclave palestino adicionou outras 122 mortes em sua contagem oficial, apesar da trégua em vigor, devido à descoberta de novas vítimas que estavam sob os escombros, em um conflito que já deixou 47.283 mortos.
Os corpos das 122 pessoas “chegaram aos hospitais nas últimas 24 horas”, indicou o ministério, que também reportou “306 feridos”.
“Em defesa dos palestinos”
Os Houthis, grupo de resistência que atua no Iêmen, acusaram os Estados Unidos, nesta quinta-feira (23), de classificá-los como “organização terrorista” devido ao apoio ao “povo palestino oprimido”.
“A classificação aponta para todo o povo iemenita e sua posição honrosa em apoio ao povo palestino oprimido”, afirmou um comunicado do grupo, citado pelo canal de televisão Al Masirah.
A decisão também “reflete o grau de parcialidade da atual administração americana a favor da entidade sionista usurpadora”, acrescentou, fazendo referência a Israel.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um decreto para classificar novamente os combatentes do Iêmen como “organização terrorista estrangeira”, segundo indicou a Casa Branca na última quarta-feira (22).
O ex-mandatário Joe Biden havia retirado o rótulo quando sucedeu Trump após seu primeiro mandato, antes de mais tarde classificá-los como uma entidade “terrorista global especialmente designada”, uma definição menos severa que ainda permitia que ajuda humanitária chegasse ao país devastado pela guerra civil.
O grupo controla a capital do Iêmen, Sanaa, bem como grandes áreas do país e, desde o início da guerra em Gaza em outubro de 2023, lançou dezenas de mísseis e drones contra Israel.
Desde novembro de 2023, os houthis têm realizado ataques contra navios que consideram estar ligados a Israel na costa do Mar Vermelho, alegando agir em solidariedade aos palestinos no contexto do genocídio na Faixa de Gaza.
Com estes ataques, o grupo rebelde, que faz parte do “eixo de resistência” do Irã, interrompeu o tráfego no Mar Vermelho e no Golfo de Áden, uma área crucial para o comércio mundial.
Em resposta, os EUA estabeleceram uma coalizão naval multinacional e atacaram alvos rebeldes no Iêmen, por vezes com a ajuda do Reino Unido.
*BdF