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Colonos judeus lincham co-diretor de documentário vencedor do Oscar, diz diretor

Após agressão, polícia israelense teria levado cineasta palestino para local desconhecido.

Colonos judeus na Cisjordânia lincharam no início da noite desta segunda-feira (24) o co-diretor do filme Sem Chão (No Other Land, em inglês), Hamdan Ballal, vencedor do Oscar 2025 na categoria Melhor Documentário. A denúncia foi feita no X pelo outro diretor do filme, Yuval Abraham.

“Um grupo de colonos acabou de linchar Hamdan Ballal, co-diretor do nosso filme no other land. Eles o espancaram e ele tem ferimentos na cabeça e no estômago, sangrando. Soldados invadiram a ambulância que ele chamou e o levaram. Nenhum sinal dele desde então”, publicou Abraham. Veja abaixo a postagem original:

Yuval Abraham יובל אברהם
@yuval_abraham

A group of settlers just lynched Hamdan Ballal, co director of our film no other land. They beat him and he has injuries in his head and stomach, bleeding. Soldiers invaded the ambulance he called, and took him. No sign of him since.
3:15 PM · 24 de mar de 2025

Yuval Abraham, que é jornalista israelense, na sequência postou imagens da agressão cometida pelo grupo de colonos que ocupam ilegalmente a terra palestina de Masafer Yata, residência de Ballal.

https://twitter.com/yuval_abraham/status/1904250011929768348
“O colono mascarado no vídeo faz parte da turba de linchamento que atacou a vila de Hamdan, eles continuaram a atacar ativistas americanos, quebrando seus carros com pedras. A localização de Hamdan ainda é desconhecida” postou ele.

O documentário
O documentário Sem Chão traz a questão do genocídio palestino a uma posição de destaque na principal premiação estadunidense de cinema. Dois dos diretores do filme, o palestino Basel Adra e o israelense Yuval Abraham (os outros dois são Rachel Szor e Hamdan Ballal), na entrega do prêmio, discursaram e fizeram uma forte denúncia das ações militares israelenses em Gaza e na Cisjordânia.

“Há cerca de dois meses, me tornei pai, e minha esperança para minha filha é que ela não precise viver a mesma vida que vivo agora — sempre temendo a violência dos colonos, as demolições de casas e os deslocamentos forçados que minha comunidade, Masafer Yatta, enfrenta todos os dias sob a ocupação israelense”, disse Adra.

Sem Chão conta, justamente, a história das dificuldades que Adra enfrenta enquanto documenta a destruição de Masafer Yatta na Cisjordânia ocupada. A história também mostra sua amizade crescente com o segundo diretor do filme, o jornalista israelense Yuval Abraham, que passa, neste processo, a compreender as restrições, a discriminação que Adra enfrenta e a importância da resistência palestina.

O documentário já havia conquistado outros importantes prêmios. Foi escolhido o melhor documentário no Festival Internacional de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2024, e Melhor Filme Não-Ficcional do Círculo de Críticos de Cinema de Nova York.

Tática de guerrilha para disputar o Oscar
Para disputar o Oscar, os cineastas tiveram de adotar uma “tática de guerrilha”. Não houve nenhum distribuidor que aceitasse distribuir o filme nos Estados Unidos. Como o Oscar exige que a obra estreie no país para disputar a premiação, os cineastas organizaram uma exibição de uma semana no Lincoln Center, em novembro.

“Sem Chão reflete a dura realidade que temos suportado por décadas”, disse também Adra. “Pedimos ao mundo que tome ações concretas para acabar com essa injustiça e interromper a limpeza étnica do povo palestino”, completou o cineasta palestino.

Yuval Abraham também se manifestou na entrega do prêmio e aludiu à sua relação com Abraham. “Fizemos este filme, palestinos e israelenses, porque juntos nossas vozes são mais fortes. Vemos uns e outros a destruição atroz de Gaza e de seu povo, que deve acabar”. Abraham também pediu a liberação dos israelenses feitos prisioneiros pelas ações da resistência palestina em 7 de outubro de 2023.

Abraham ainda teve tempo de criticar o apoio dos Estados Unidos a Isrrael. “A política externa deste país está ajudando a bloquear esse caminho [da paz]”, disse, entre aplausos. “Vocês não percebem que estamos interligados? Meu povo só estará verdadeiramente seguro se o povo de Basel for verdadeiramente livre e seguro”, disse, antes de completar: “Não há outro caminho.”

*BdF

Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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