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Autoridades alemãs cogitam abandonar o X após apoio de Musk à AfD

Governo alemão recebe apelos para se desvencilhar da plataforma, enquanto várias organizações no país já o fizeram.

O que a estrela da NBA LeBron James, o icônico escritor de terror Stephen King e o jornal britânico The Guardian têm em comum? Todos eles abandonaram o X, a rede social anteriormente conhecida como Twitter, desde a vitória eleitoral de Donald Trump em novembro de 2024. Eles, no entanto, estão longe de serem os únicos. Na semana passada, mais de 60 universidades de língua alemã anunciaram que não usariam mais o X.

Comandada pelo cabo eleitoral de Trump mais rico do mundo, Elon Musk, a rede parece estar perdendo a preferência dos usuários fora do campo político conservador e – apesar da promessa do bilionário em 2022 de manter a plataforma “politicamente neutra” – muitos observadores acreditam que ele está trabalhando ativamente para transformar o X em um megafone extremista.

Especialistas ouvidos pela DW disseram que não há como dizer com segurança se o sistema foi ou não atualizado para impulsionar postagens de direita desde o início da era Musk, já que seus algoritmos estão constantemente sendo ajustados e reagindo a uma base de usuários em mutação.

“O resultado para os usuários é o mesmo, independentemente da causa: significativamente mais conteúdo de extrema direita na plataforma e nos feeds recomendados pelas pessoas”, disse o cientista social e pesquisador de mídia digital Colin Henry à DW.

Musk também alavancou seu status como o perfil mais seguido no X para amplificar vozes e narrativas pró-Trump na preparação para a eleição dos EUA, até mesmo se referindo a si mesmo como o “primeiro-amigo” de Trump, parodiando o termo “primeira-dama”.

“Não alimente o troll”
Atualmente com os olhos voltados para a política da União Europeia (UE), Musk disse a seus mais de 211 milhões de seguidores que o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, é um “tolo” e o presidente Frank-Walter Steinmeier – cujo cargo é essencialmente cerimonial – é um “tirano”.

Musk também endossou publicamente a legenda de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), dizendo que era o único partido que poderia “salvar a Alemanha”. Na última quinta-feira (09/01), Musk realizou uma live no X com a colíder da AfD e candidata a chanceler nas próximas eleições alemãs, Alice Weidel.

O apoio de Musk a Trump e a intromissão contínua na política da UE geraram indignação na Alemanha. No entanto, as postagens de Musk provocaram pouco mais do que um dedo em riste de Scholz, que disse que sua abordagem era simples: “Não alimente o troll”.

“O que conta na Alemanha é a vontade dos cidadãos, não as declarações erráticas de um bilionário nos EUA”, disse Scholz à revista alemã Stern.

Vale a pena o esforço?
O autor de ficção científica e ativista da internet Cory Doctorow disse à DW que Musk já exerce poder suficiente para influenciar o voto em disputas eleitorais acirradas. Para ele, essa influência se deve em parte ao fato de a mídia tê-lo idolatrado por muitos anos como “uma espécie de herói”.

Para ele, Musk seria capaz de usar X para convencer para seus mais de 211 milhões de seguidores de que “a AfD é formada por sujeitos bacanas e sua associação com o fascismo e a limpeza étnica é exagerada”.

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