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Palestinos realizam greve na Cisjordânia em protesto contra brutalidade de Israel

Palestinos realizaram uma greve geral neste domingo (21/04) na Cisjordânia para protestar contra a brutalidade das Forças de Defesa de Israel (IDF) após um ataque em um campo de refugiados no qual pelo menos 14 pessoas foram mortas.

Sindicatos e organizações sociais da Cisjordânia aderiram a paralisação. Segundo a agência de notícias Wafa, a greve “paralisou todos os aspectos da vida”, incluindo escolas, universidades, lojas comerciais, bancos e fábricas fechadas. O transporte público também está paralisado.

Ainda de acordo com a Wafa, a greve ocorre após apoio do Fatah, que pediu união de todos os palestinos neste momento que a região “enfrentam uma brutal agressão israelense”.

O ataque israelense ocorreu por horas no sábado (20/04) no campo de Nour Shams, na província de Tulkarm. Soldados realizaram uma agressão contra o local, uma ofensiva que impactou infraestruturas, como redes de eletricidade, fontes de água e internet.

A operação em Nur Shams também resultou na destruição de propriedades de palestinos e ainda no impedimento de ambulâncias transportarem os feridos para unidades hospitalares.

O ataque deste final de semana é mais um episódio de violência de Israel contra os palestinos. Uma contagem do Ministério da Saúde da Palestina aponta que cerca de 500 palestinos foram mortos pelas forças israelenses na Cisjordânia desde o início da guerra de Israel contra o Hamas.

Na Faixa de Gaza, um ataque efetuado pelas forças israelenses em Rafah, no sul, matou pelo menos 22 pessoas.

Segundo a Xinhua, as ruas das aldeias, vilas e cidades da Cisjordânia estão praticamente vazias.

De acordo com a Wafa, entre as vítimas do bombardeio que atingiu várias casas da cidade do enclave estão 18 menores de idade. O Ministério da Saúde de Gaza afirmou que pouco mais de 34 mil pessoas foram mortas na região desde o início das operações israelenses.

*Opera Mundi

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2023: o ano mais sangrento já vivido pelos palestinos da Cisjordânia

Na Cisjordânia, governada pela Autoridade Nacional Palestina, os ataques de colonos e soldados israelenses prosseguem, com o número de crianças mortas duplicando desde 2022.

A segunda Nakba prossegue em ritmo acelerado na Cisjordânia, com níveis de violência sem precedentes perpetrada tanto pelas Forças de Defesa de Israel (IDF) como pelos colonos israelenses. O escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) alertou para o fato de Israel estar impondo um estado de “terror constante” na Cisjordânia em razão da força do Estado israelense e à violência dos colonos.

A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA) disse que 2023 foi o ano mais mortal para os palestinos na Cisjordânia desde que começou a registrar vítimas em 2005. Cerca de 300 palestinos foram mortos na Cisjordânia entre 7 de outubro e 10 de janeiro. O pior ano da história em termos de mortes de crianças.

O Peace Now, um grupo de defensores israelenses, relatou um “aumento sem precedentes da atividade de colonização na Cisjordânia”, que os colonos realizam geralmente com o apoio das Forças de Defesa de Israel (IDF). Um grande número de assentamentos viola terrenos privados palestinos. Até hoje, foram criados nove novos assentamentos e 18 estradas ilegais foram pavimentadas, além de haver um “novo fenômeno de colonos que fecham as vias de tráfego palestinas contra ordens militares”.

300 ataques de colonos desde 7 de outubro

Desde 7 de outubro, foram registrados mais de 300 ataques de colonos israelenses, nos quais estes “ameaçam palestinos com armas de fogo, vandalizam as suas propriedades, obstruem [o acesso à água potável], arruínam as suas [oliveiras]… roubam os seus pertences”, além de atacá-los fisicamente. A violência dos colonos obrigou mais de 1,2 mil palestinos a abandonar as suas casas.

Embora Israel não tenha aprovado oficialmente estes assentamentos, de acordo com o relatório do ACNUDH divulgado recentemente, os colonos estão expandindo os assentamentos com o apoio político dos principais ministros do governo mais direitista de Israel até hoje. Em 24 de dezembro, o gabinete de Israel aprovou 75 milhões de shekels israelenses (20 milhões de dólares americanos) para fortificar 70 assentamentos na Cisjordânia, apesar de eles serem reconhecidos como ilegais.

Esta medida viola de forma flagrante a Resolução 2334 do Conselho de Segurança da ONU de 2016, que considerou os assentamentos de Israel, já naquela época, como uma “violação flagrante do direito internacional” e exigiu que a expansão fosse interrompida de acordo com as Convenções de Genebra. É evidente que o governo israelense e muitos dos seus cidadãos não se importam nem respeitam quaisquer tratados ou acordos, uma vez que continuam com a limpeza étnica do povo palestino de suas terras.

Drones assassinam jovens

Além disso, as IDF têm realizado constantes incursões, perseguições e ataques a várias cidades, vilas e campos de refugiados da Cisjordânia para atingir preventivamente aquilo que chamam de “células terroristas”. Durante o seu ataque ao campo de refugiados de Balata, as IDF dispararam recentemente diretamente contra ambulâncias, para impedir que chegassem aos civis feridos. No sul da Cisjordânia, as IDF dispararam gás lacrimogêneo contra jovens que resistiam aos ataques ilegais.

As IDF têm como alvo habitual os jovens, e recentemente mataram Yousef Nader Suleiman Idrees, de 16 anos, que estava sentado perto da área onde os confrontos estavam ocorrendo. Os israelenses também realizam ataques com drones contra palestinos inocentes. No dia 7 de janeiro, ataques com drones mataram sete palestinos, quatro deles irmãos, que estavam a caminho do trabalho em Jenin.

Israel também tem como alvo os palestinos nos postos de controle, onde são impostas restrições de movimento sufocantes e discriminatórias. O mesmo se aplica ao direito de culto dos palestinos da Cisjordânia, a quem se nega cada vez mais acesso à mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém Oriental, especialmente para as orações de sexta-feira, onde normalmente 50 mil pessoas comparecem. Recentemente, a polícia israelense atacou os fiéis perto de Al-Aqsa com água de esgoto.

IDF / WikiCommons
Ataque das Forças de Defesa de Israel ao acampamento de Jenin, em janeiro de 2023
O número de crianças vitimadas duplicou e 880 pessoas foram presas

Enquanto enfrentam humilhantes derrotas militares e operacionais em Gaza, as Forças de Defesa de Israel conduzem operações contra os mais vulneráveis na Cisjordânia. A UNICEF informa que o número de crianças mortas duplicou desde 2022, com 83 crianças mortas e 576 feridos e detidos. O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, afirmou que “as violações documentadas no [relatório do ACNUDH] repetem o padrão e a natureza das violações relatadas no passado no contexto da prolongada ocupação israelense… a intensidade da violência e da repressão é algo que não se via há anos”.

Os terríveis ataques das IDF são complementados pelas suas detenções arbitrárias em massa de palestinos sob acusações forjadas. Muitos são depois detidos em regime de detenção administrativa sem sequer uma acusação. As IDF prendem preventivamente cerca de 60 palestinos por dia, e há atualmente mais de 5.730 detidos. Desde o início de 2024, quase 230 palestinos foram presos na Cisjordânia.

O ACNUDH descreve as detenções: “abusos físicos e psicológicos e humilhações por parte das [IDF], incluindo violência sexual e de gênero contra homens e mulheres”, de modo que o próprio processo de detenção equivale à tortura.

No dia 20 de novembro, as IDF prenderam cerca de 880 crianças palestinas, uma prática brutal tornada possível pela persistente desumanização do povo palestino por parte dos israelenses como “animais”. As condições são tão terríveis que Luay Al-Taweel, de Hebron, recentemente libertado, descreveu a prisão sionista em Negev como uma “cópia exata das prisões de Abu Ghraib e Guantânamo, ambas ‘símbolos notórios’ das violações dos direitos humanos cometidas pelos EUA”.

O povo se defende

Apesar do terror constante e dos ataques devastadores das IDF e dos colonos, os palestinos da Cisjordânia convocaram uma greve geral no começo de janeiro para protestar contra o assassinato do líder do Hamas e das Brigadas Al-Qassam, Saleh Al-Arouri, por parte de Israel. A greve abrangeu empresas, universidades e escritórios públicos e privados, liderada por uma coalizão de facções palestinas. Ismat Shakhshir, membro da Secretaria Geral da União Geral das Mulheres Palestinas, descreveu os assassinatos como “medidas desesperadas” devido à “incapacidade da ocupação de avançar em Gaza”.

Os combatentes da resistência em Nablus, Jenin, Ariha e em outras áreas continuam repelindo a violência israelense, apesar da falta de equipamento militar avançado. O alto oficial político do Hamas, Husam Badran, afirmou que “a resistência em Jenin e em toda a Cisjordânia quebrará a arrogância da ocupação [israelense]”.

Uma agressão israelense-americana

Enquanto as evidência de agressão flagrante e ilegal e as baixas atingem níveis sem precedentes, os EUA continuam dando poder ao governo israelense para levar adiante sua agenda genocida, ao mesmo tempo em que oferecem condenações frouxas para preservarem as aparências. Na ONU, os EUA bloquearam os apelos a um cessar-fogo, mesmo depois de o artigo 99.º da Carta das Nações Unidas, raramente utilizado, ter sido invocado para alertar para uma “catástrofe humana iminente” em Gaza.

Ainda em dezembro, o governo Biden apresentou um projeto de lei sobre segurança nacional, que inclui mais 10,1 bilhões de dólares em ajuda militar incondicional a Israel, e contornou duas vezes o Congresso para enviar imediatamente armas e munições a Israel.

Esta não é apenas uma guerra israelense, é uma guerra israelense-americana. Washington é também um perpetrador de genocídio e totalmente responsável por todos os ferimentos e mortes tornados possíveis pelas armas e pelo apoio político dos EUA.

*SAMEENA RAHMAN/Opera Mundi

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Grupo de 32 brasileiros é resgatado da Cisjordânia, na Palestina

A Operação Voltando em Paz realizou nesta quarta-feira (1°) mais uma ação para repatriar brasileiros da zona de conflito no Oriente Médio, dessa vez da Cisjordânia. Foram resgatados 32 passageiros (30 brasileiros, uma jordaniana e um palestino, ambos casados com brasileiros) que manifestaram interesse em deixar a Palestina.

Eles foram conduzidos em vans e ônibus de 11 cidades diferentes da Cisjordânia até a cidade de Jericó. De lá, todos cruzaram a fronteira em um ônibus fretado pelo governo brasileiro até Amã, a capital da Jordânia, em um deslocamento de pouco mais de uma hora.

O embaixador do Brasil na Cisjordânia, Alessandro Candeas, informou que os veículos foram identificados com a bandeira do Brasil para evitar bombardeios. “Para fins de segurança, as placas, trajetos e listas de passageiros foram informados às autoridades da Palestina e de Israel”, destacou.

Os brasileiros já embarcaram no Aeroporto Internacional Queen Alia, em Amã, em uma aeronave cedida pela Presidência da República, e devem pousar na Base Aérea de Brasília às 5h30 desta quinta-feira (2). Já no território nacional, eles seguirão para cinco capitais – São Paulo, Florianópolis, Recife, Rio de Janeiro e Curitiba –, além de Foz do Iguaçu (PR).

Com isso, o total de brasileiros repatriados da região do conflito chega a 1.446. Foram oito voos patrocinados pelo governo brasileiro.

>> Clique aqui e acompanhe a cobertura da Agência Brasil, sobre o Conflito no Oriente Médio

Outro grupo, de 34 brasileiros e familiares, ainda aguarda para deixar a Faixa de Gaza. Eles estão no Sul do enclave, nas cidades de Khan Yunis e Rafah, próximos à fronteira com o Egito.

Nesta quarta-feira (1), a fronteira foi aberta pela primeira vez desde o início do conflito para a saída de palestinos feridos e de um grupo de cerca de 450 estrangeiros.

“Novas listas serão publicadas em breve e nossos brasileiros devem estar nelas”, afirmou o embaixador Candeas.

Brasília (DF) 01/11/2023 – Grupo de 33 brasileiros são repatriados da Cisjordânia, na Palestina 
Foto: Representação Brasileira em Ramala/Divulgação

Cisjordânia
O território da Palestina reconhecido internacionalmente é formado pela Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas, e pela Cisjordânia, controlada parcialmente pela Autoridade Palestina, entidade essa que, ao contrário do Hamas, é reconhecida por Israel e pela maior parte da comunidade internacional como o legítimo representante do povo palestino.

Desde o início das atuais hostilidades na Faixa de Gaza, há 26 dias, a violência na Cisjordânia cresceu com uma série de assassinatos e confrontos entre palestinos, forças de segurança israelenses e da Autoridade Palestina e ataques de colonos contra palestinos. Os colonos são os israelenses que vivem em assentamentos dentro da Cisjordânia.

Do dia 7 de outubro até esta terça-feira (31), foram registrados 123 assassinatos de palestinos na Cisjordânia, incluindo 34 crianças. Outros 2.206 ficaram feridos. Do lado israelense, foi registrada a morte de 1 soldado e outros 13 feridos.

*Agência Pública

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Guerra enfraquece Abbas, e moradores da Cisjordânia já apoiam abertamente Hamas

Violência aumenta no maior território palestino, e muitos veem o confronto como única via contra Israel.

As crianças correm com fuzis de assalto de brinquedo sobre o barro e os pedaços de asfalto em uma rua destruída horas antes por retroescavadeiras israelenses. Escondem-se por trás dos escombros do que até um dia antes era um monumento —também destruído— em homenagem à repórter da rede Al Jazeera Shireen Abu Akleh, morta 2022 pelas forças de Israel neste mesmo campo de refugiados de Jenin, no norte da Cisjordânia, o maior território palestino. Buracos de bala e rastros de sangue ainda estão frescos após a operação da última sexta-feira (27). Dois combatentes do Jihad Islâmico foram mortos aqui quando tentavam impedir a entrada de soldados israelenses, diz a Folha.

Mais cedo, adolescentes armados com fuzis —estes verdadeiros— abriam o cortejo fúnebre que correu o centro da cidade de Jenin e as ruas estreitas do campo de refugiados com os corpos dos dois homens. Os adultos disparavam para o ar rajadas de tiros. As crianças, com suas armas de plástico, os imitavam. Centenas de pessoas os acompanhavam.

Em meio aos tiros, aos cânticos religiosos e ao choro, todos parecem comungar da ideia de que já não há mais espaço para diálogo e negociações com Israel. “[Mahmoud] Abbas [presidente da Autoridade Palestina] é um inútil, passou anos tentando negociar, buscar apoio internacional, e nós estamos morrendo todos os dias, perdendo nossas terras”, diz Abu Ahmad (nome fictício), o pai de um dos meninos com armas de brinquedo.

Desde o ataque da facção terrorista Hamas a Israel —que deixou cerca de 1.400 pessoas mortas e levou a uma violenta resposta de Tel Aviv em Gaza, com mais de 7.400 mortos—, críticas abertas a Abbas têm se espraiado de forma inédita na Cisjordânia. Em Ramallah, centro político e administrativo da Autoridade Palestina, protestos contra Abbas —mas de apoio ao Fatah, partido ao qual ele é ligado— explodiram na semana passada. No início, foram contidos pelas forças de segurança locais. Mas agora ocorrem de forma corriqueira, com bandeiras do Hamas e do Jihad Islâmico tremulando pelas ruas da cidade e enfeitando as cabeças de palestinos que pedem uma atuação mais agressiva contra Israel.

“Nós alertamos a comunidade internacional que, com o aumento da pressão sobre os palestinos, facções armadas a favor de uma relação conflituosa iriam ganhar apoio na Cisjordânia”, diz à Folha o vice- secretário-geral do Fatah, Sabri Saidam. O partido, criado pelo histórico líder palestino Yasser Arafat (1929-2004), é dominante entre uma série de facções políticas que compõem a Organização para a Libertação Palestina e aquele que oficialmente controla a Cisjordânia.

Em 2006, o Fatah perdeu as eleições legislativas para o Hamas, que assumiu o controle da Faixa de Gaza. Os dois grupos são rivais políticos importantes e, até pouco tempo, a atuação do Hamas na Cisjordânia era combatida pelas forças de segurança da Autoridade Palestina.

Saidam diz entender as críticas e as manifestações pró-Hamas cada vez mais explícitas, mas afirma que as turbulências são passageiras. “As emoções estão acirradas, e é óbvio que quem está no governo é mais cobrado, isso é comum. Não estamos preocupados com a popularidade do Hamas ou de nenhum outro grupo, estamos preocupados agora em encontrar uma solução para cessar o conflito.”

Nas ruas da Cisjordânia, no entanto, raras vezes a Autoridade Palestina foi tão questionada publicamente como agora. “Mas isso vai passar, é o calor do momento, os palestinos sabem que a única maneira de encontrarmos a paz é por meio de negociações”, declara Saidam, que afirma ter perdido ao menos 30 integrantes de sua família nos bombardeiros a Gaza.