Brigada Paraquedista e Forças Especiais travam disputa interna por influência na estrutura do Exército.
O Alto Comando do Exército realiza uma intervenção no Comando de Operações Especiais (COpEsp), unidade formada por Kids Pretos, que aderiu à tentativa de golpe liderada por Jair Bolsonaro. A decisão faz parte de um movimento para retomar o controle hierárquico da tropa de elite, que, ao longo dos anos, acumulou um nível de autonomia e influência que desafiou a estrutura de comando tradicional.
Entre as principais preocupações do Alto Comando estão a quebra de hierarquia e a indisciplina, exacerbadas durante a gestão Bolsonaro, período em que as forças especiais passaram a se considerar acima da cadeia de comando. A intervenção no COpEsp busca conter essa autonomia excessiva e garantir que suas atividades permaneçam sob total supervisão.
Uma das principais medidas adotadas foi a redução no número de vagas do Curso de Ações de Comandos (CAC), essencial para ingresso nas forças especiais em conjunto com a conclusão do curso de paraquedismo. Essa exigência reflete a ligação direta entre as forças especiais e a Brigada Paraquedista, duas unidades que historicamente rivalizam pelo domínio interno no Exército. Nos últimos anos, essa disputa se acirrou, especialmente com o crescimento da independência operacional dos comandos.
O atual comandante do Exército, general Thomás Paiva, oriundo da Brigada Paraquedista, representa uma tentativa do Alto Comando de reequilibrar a influência dentro da instituição. Embora os paraquedistas sejam a porta de entrada para as forças especiais, os comandos adquiriram, ao longo dos anos, maior autonomia e influência política, consolidada durante o governo Bolsonaro. Durante esse período, setores das forças especiais passaram a operar alinhados a interesses políticos, desafiando a hierarquia do Exército e influenciando decisões estratégicas, gerando atritos internos e preocupação com a disciplina militar.
A nomeação de Thomás Paiva para o comando da Força Terrestre faz parte dessa estratégia de contenção, consolidando a influência da Brigada Paraquedista e reduzindo o espaço de manobra do COpEsp. Além da diminuição de novos operadores das forças especiais, outras medidas vêm sendo discutidas para reforçar a supervisão sobre essas tropas. Entre elas, estão o aumento da fiscalização, a revisão do orçamento e ajustes na estrutura de comando, assegurando que sua atuação esteja alinhada às diretrizes institucionais e não a interesses isolados.
O Alto Comando avalia mecanismos para garantir que as operações conduzidas pelo COpEsp respeitem a política institucional do Exército, prevenindo interferências políticas ou ações autônomas que coloquem em risco a disciplina militar. Embora essas medidas sejam bem recebidas por parte da cúpula militar, enfrentam resistência entre setores das forças especiais, que enxergam a reformulação como uma tentativa de reduzir sua influência. Segundo Cleber Lourenço, Forum, alguns oficiais argumentam que as forças especiais desempenham papel estratégico e que a restrição de sua autonomia pode comprometer a eficiência do Exército em cenários de conflito.
O Exército agora enfrenta o desafio de reorganizar sua estrutura interna sem afetar a eficiência operacional das forças especiais. A disputa de poder entre o COpEsp e a Brigada Paraquedista continua sendo um fator determinante nesse processo, e as mudanças poderão redefinir o equilíbrio de forças dentro da instituição. O sucesso dessa reformulação dependerá da capacidade do Alto Comando de reafirmar a hierarquia e limitar a influência política sobre setores estratégicos da tropa. Além disso, será necessário redistribuir funções dentro da estrutura militar para evitar que setores descontentes busquem recuperar seu espaço de forma independente.
O debate sobre o papel das forças especiais dentro do Exército não se restringe apenas à hierarquia, mas também envolve o futuro da doutrina militar brasileira. A crescente sofisticação dessas tropas e sua relevância em operações estratégicas levantam questionamentos sobre como integrá-las à estrutura convencional sem que sua autonomia gere riscos institucionais. O histórico recente demonstrou que, sem uma supervisão adequada, essas unidades podem atuar como centros de poder paralelo, dificultando a manutenção da disciplina e do controle interno. Para evitar esse risco, o Alto Comando precisará equilibrar a restrição da autonomia com a preservação da eficiência operacional dessas unidades.
A reformulação do COpEsp não é apenas uma mudança administrativa, mas um reflexo da disputa interna dentro do Exército. A relação entre as forças especiais e a Brigada Paraquedista continuará sendo central nessa reconfiguração, e os próximos anos definirão se o Exército conseguirá manter o equilíbrio entre eficácia operacional e controle hierárquico. O grande desafio será encontrar um meio-termo entre disciplina e autonomia, prevenindo novos episódios de indisciplina e interferência política dentro das Forças Armadas.