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‘Boneco de Vini Jr. pendurado pelo pescoço ensejou novos episódios como esse’, diz Flávia Oliveira

Comentarista avalia que a falta de punição em caso ocorrido no mês de janeiro na Espanha permitiu que outras torcidas repetissem ofensas contra o atacante brasileiro.

O racismo sofrido por Vinícius Junior na partida do Real Madrid contra o Valencia neste domingo (21) no Campeonato Espanhol foi só mais um dentre vários que o atacante sofreu no país – nove, no total. O motivo, de acordo com a comentarista Flávia Oliveira, é um só: a falta de punição em casos anteriores, principalmente no mais emblemático deles – quando torcedores do rival Atlético de Madrid penduraram um boneco do brasileiro enforcado em uma ponte da capital espanhola.

“O episódio do Vini Jr. chama a atenção porque ele se dá em uma espiral: começa com um torcedor ou dois, um pequeno grupo, e na medida em que não há punição, não há nenhum tipo de reação nem da Justiça, nem das entidades esportivas, nem do clube – que tem a honra de ter o Vini Jr. no seu elenco – esse processo vai se agravando”, explica Flávia.

A comentarista relembrou que a ofensa, ocorrida no final do mês de janeiro deste ano, não teve nenhuma punição ao adversário do Real Madrid. E com a conivência e a falta de ação das entidades esportivas espanholas, torcedores de outras equipes se sentiram aptos a praticar racismo contra o brasileiro nas rodadas seguintes do torneio nacional local – até o momento, ele já sofreu racismo nove vezes no país.

“A gente viu em janeiro uma situação particularmente violenta, que foi o boneco de Vini Jr. dependurado, enforcado em um viaduto, aquilo remetendo aos momentos mais trágicos e brutais da segregação americana, quando pessoas negras eram linchadas e enforcadas em árvores para uma plateia absolutamente entusiasmada. Aquele episódio, como não teve nenhum tipo de reação a ele, ensejou novos episódios como esse, de uma torcida inteira gritando antes, durante e provavelmente depois do jogo”.

Flávia comentou também as manifestações ao redor do mundo sobre o caso. E lembrou a manifestação do presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ednaldo Rodrigues, que lamentou o ocorrido. Para ela, faltam ações das entidades brasileiras também no futebol nacional para os casos de racismo e também de homofobia que ocorrem nos campos do Brasil.

“A Espanha está no epicentro dessa situação, mas veja que o racismo no futebol não é exatamente novidade. E até me causou surpresa o presidente da CBF perguntar “até quando?” porque os estádios brasileiros colecionam episódios de racismo e homofobia, e as respostas, seja dos cartolas, das entidades esportivas, dos clubes e do próprio governo brasileiro têm sido insuficientes para coibir (o racismo) no Brasil e fora dele”, avalia.

“Quando um atleta se levanta isoladamente, ainda que ele tenha apoios declarados e acolhimento, isso não é suficiente. Porque a impunidade é irmã siamesa do crime. E se esse indivíduo que é racista, que perdeu o pudor de manifestar o seu racismo, que vai em manada para os estádios para expressar o seu racismo, não é punido, e se ninguém é punido, isso encoraja a reincidência”, sentencia a comentarista.

Natural de São Gonçalo (RJ), Vinícius Júnior foi revelado pelo Flamengo em 2016, e comprado pelo Real Madrid em 2017 – mas só chegou ao clube merengue um ano depois. Ele se tornou o principal jogador da equipe ao longo dos anos, chegando à Seleção Brasileira e disputando a última Copa do Mundo, no Catar.

*Com G1

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Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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