PF fez busca no endereço, em Maceió. Sala abrigou diretório do União Brasil, até hoje comandado pelo assessor do presidente da Câmara.
Naquela tarde, a Polícia Federal (PF) perdeu de vista o homem da mala. Pedro Salomão já tinha sacado R$ 115 mil em dinheiro, circulado com uma bolsa marrom “rechonchuda” e dirigido um carro usado na campanha do presidente da Câmara, Arthur Lira, quando entrou no edifício Delman, no bairro da Pajuçara, em Maceió, capital de Alagoas. Após o suspeito passar pela catraca, os investigadores fizeram o último registro possível: ele foi ao sétimo andar.
Nem as imagens do circuito de segurança esclareceram em detalhes a visita do dia 26 de janeiro deste ano. “Ainda não foi possível identificar especificamente qual sala Pedro teria acessado”, registra o documento em que a PF fez os pedidos de prisão da Operação Hefesto, deflagrada no último dia 1º de junho para apurar desvios no Ministério da Educação (MEC).
Mas o Metrópoles descobriu que uma empresa do assessor de Lira ocupa uma sala no derradeiro ponto observado a partir das câmeras de segurança do prédio. Embora não haja menção nos documentos da investigação que vieram a público até agora, a PF chegou a fazer buscas no local, atrás de evidências do que pode ter sido a primeira entrega de dinheiro em um endereço ligado diretamente a Luciano Cavalcante, braço-direito de Arthur Lira.
Sede do União Brasil
A sala 716 da Rua Sampaio Marques, 25, aliás, também já foi a sede do União Brasil, segundo registros da campanha de 2022 enviados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O partido, àquela altura, tinha o próprio Luciano Cavalcante como presidente — ele segue até hoje à frente do diretório alagoano, controlado por Lira.
Após a saída do homem da mala do prédio comercial, policiais recuperaram as imagens do circuito de segurança e delimitaram a parte do sétimo andar por onde ele circulou (veja na foto em destaque). Com base nessa análise, requisitaram ao condomínio a lista de proprietários das salas. Restaram seis sob suspeita. Mesmo assim, o pedido de prisão enviado à Justiça destaca que “não foi encontrado qualquer possível vínculo entre os investigados e os inquilinos/proprietários”.
Conversando com outros frequentadores do prédio, no entanto, o Metrópoles apurou que, apesar da suposta dúvida sobre o destino do homem da mala ao visitar o prédio, os policiais tinham, sim, uma aposta. Tanto que chegaram a cumprir um mandado de busca e apreensão especificamente na sala 716, relacionada a Luiz de Albuquerque Medeiros Neto. Medeiros Neto, o dono da sala, confirmou que o endereço foi alvo da ação, mas disse que o espaço está “alugado há anos”. Ele se negou a revelar quem é o inquilino.
Bastaram alguns contatos com outras pessoas que circulam diariamente pelo edifício para descobrir que a sala é ocupada atualmente pela LDL Serviços e Consultoria Ltda, empresa aberta em março deste ano que tem Luciano Cavalcante, o homem de confiança de Arthur Lira, entre seus três sócios. Nos registros da Receita Federal, a LDL declara funcionar na sala.
Embora a empresa tenha sido aberta apenas em 2023, a conexão de Luciano com a sala é mais antiga: no ano passado, o endereço já era usado como sede do diretório de Alagoas do União Brasil, presidido por ele.
Entrega expressa
O pedido de prisão feito pela PF destaca que, no dia 26 de janeiro deste ano, Pedro Salomão, o homem da mala que entregava dinheiro aos suspeitos de se beneficiaram com a venda superfaturada de kits de robótica para escolas públicas, “passou pouquíssimo tempo no local”. Os investigadores registram que, na saída de Luciano, a bolsa marrom estava “com dimensões consideravelmente menores do que na entrada, o que indica que ela “teria sido esvaziada em alguma das salas do sétimo andar”.
Naquele mesmo dia, também segundo a PF, o homem da mala havia visitado duas agências bancárias. Documentos de inteligência apontam que, no total, ele sacou R$ 115 mil. Também nessa etapa do monitoramento, os policiais analisaram o volume da bolsa. Antes dos saques, escreveram, ela “aparentava inicialmente estar vazia”. Depois, “estava rechonchuda, bastante volumosa, aparentando possuir vultosa quantia em dinheiro”. Na sequência, ele se dirigiu para o andar da sala do assessor de Lira.
Até agora era sabido apenas que Pedro havia feito uma suposta entrega de dinheiro para o motorista de Luciano Cavalcante, o assessor de Lira, em Brasília. E que, após o encontro, o motorista seguiu para um apartamento ocupado por Cavalcante. Os investigadores haviam mapeado, ainda, que em Maceió o homem da mala esteve na casa do assessor do presidente da Câmara — nesse episódio, porém, pelo menos pelo que se sabe até agora, não há evidência clara de que houve entrega de dinheiro como a que surge agora, com a visita ao escritório.
Em nota, o advogado André Callegari, responsável por defender Luciano Cavalcante, disse que na data da suposta entrega seu cliente “estava em Brasília”. Procurado, Arthur Lira preferiu não se manifestar.
*Exclusivo Metrópoles
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