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A cobertura europeia sobre o atual momento do massacre em Gaza

Em todos os países analisados foi possível notar a menção às instituições de Gaza como pertencente ao Hamas, deslegitimando as informações de funcionários públicos.

Após 5 meses de operações militares contra a Faixa de Gaza, supostamente, em resposta à operação da resistência palestina iniciada em 7 de outubro, os diversos portais de notícias europeus seguem reportando os fatos sob diversas perspectivas. Ao mesmo tempo em que a realidade concreta os leva a noticiar a crueza das punições generalizadas realizadas por Israel contra o povo palestino, ainda é possível perceber certas dificuldades em nomear os acontecimentos pelo seu verdadeiro nome.

Comparamos diversas publicações do velho continente enfocando-nos, principalmente, sobre a cobertura do massacre de palestinos em busca de alimentos em Gaza por parte do exército israelense e sobre as negociações de cessar-fogo para o início do Ramadã. O resultado, você confere a seguir:

Comparamos diversas publicações do velho continente enfocando-nos, principalmente, sobre a cobertura do massacre de palestinos em busca de alimentos em Gaza por parte do exército israelense e sobre as negociações de cessar-fogo para o início do Ramadã. O resultado, você confere a seguir:

No Reino Unido, cujo papel histórico foi crucial para a partilha colonial do território da Palestina histórica, as linhas editoriais oscilam.

The Telegraph dá espaço para artigos de opinião que criminalizam às manifestações contra o genocídio, também abrem espaço para que dirigentes das Nações Unidas possam se defender ante as acusações de serem facilitadores das atividades do partido islâmico Hamas.

Claramente, este jornal adotou a linha editorial mais conservadora, permitindo títulos como “Hamas refuses to reveal how many hostages are alive”, em um contexto em que Israel se negou a enviar representantes para as negociações de cessar-fogo no Cairo. Em “We’ve got to stop believing Hamas’ lies about civilian deaths in Gaza”, percebemos as reais intenções da publicação, pois se permitem a veicular que o exército israelense tem “incrivelmente matado poucos civis” debruçados sob uma vala comum de mais de 30 mil mártires.

Outra demonstração do viés conservador veio do Comissário Anti-terrorismo do governo britânico, Robin Simcox, que escreveu um artigo para The Telegraph alegando que as ruas de Londres haviam se tornado “área de risco para judeus” aos fins de semana devido às manifestações pró-Palestina e pelo cessar fogo. Por outro lado, a BBC reportou sobre as declarações de Simcox de forma equilibrada ao oferecer espaço para que membros organizadores das manifestações pudessem desmentir as acusações. Assim, a BBC vem apresentando conteúdos com maior teor informativo e contextualizado; similar à cobertura do The Guardian que, inclusive, apresenta uma nota de rodapé em suas matérias referentes à Gaza em que se dizem “profundamente abalados com os recentes eventos em Israel e Gaza” e solicitam apoio para continuar com seu jornalismo investigativo.

Na Alemanha, a cobertura consegue ser a mais deficiente. O país, que já instalou políticas de repressão contra o movimento pró-Palestina como a criminalização do movimento por Boicote, Desinvestimento e Sanções a Israel (BDS), legitima fortemente o estado de Israel como se essa fosse uma forma de se posicionar contra o antissemitismo.

As manchetes da DW sobre o genocídio na Palestina são bastante higienizadas e mais escassas que nos grandes portais dos países vizinhos. Chamam, por exemplo, de “incidente” o tiroteio realizado pelo exército israelense que resultou na morte de mais de 100 palestinos que buscavam ajuda humanitária para alimentar seus seres queridos.

Em todos os países analisados foi possível notar a menção às instituições de Gaza como pertencente ao Hamas, por exemplo, quando o Ministério da Saúde local emite comunicados e números de mortos. Chamá-lo de “Ministério da Saúde do Hamas” deslegitima o trabalho realizado por funcionários públicos, que também são alvos e vítimas do atual processo de genocídio, ao sugerir que tais informações possam estar manipuladas afim de privilegiar o partido islâmico politicamente. O France 24, por exemplo, emite uma grande nota de rodapé ao final de várias reportagens, explicando ao leitor que a fonte dos dados apresentados são do “Ministério da Saúde do Hamas”, apenas para, ao final, mencionar que esses costumam ser compatíveis com aqueles oferecidos pela ONU.

Na França, apesar disso, a cobertura tem sido equilibrada, conseguindo ponderar as reivindicações de ambos os lados. Tanto o Le Monde quanto o France 24 apresentaram a declaração oficial do exército israelense sobre ter disparado apenas em “suspeitos” ao mesmo tempo que replicam o que dizem autoridades locais.

Quanto às negociações de cessar-fogo, ambos relatam a ausência de mediadores israelenses nas discussões e as exigências do Hamas: cessar-fogo permanente, saída completa das tropas sionistas da Faixa de Gaza e retorno dos palestinos do norte do estreito litorâneo. Esta postura difere da abordagem alemã, que enfoca na perspectiva do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, transmitindo ao leitor que a impossibilidade de um acordo de paz seria de responsabilidade, principalmente, do partido palestino.

*Dolores Guerra/GGN

Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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