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Cotidiano

Substância 500 vezes mais forte que heroína é encontrada em drogas em SP

Estudo da USP e da Unicamp constatou a presença de nitazeno em 95% das apreensões de opioides no estado paulista.

Pesquisadores da USP e da Unicamp encontraram a presença de nitazeno, uma substância 500 vezes mais forte que a heroína, em drogas apreendidas no estado de São Paulo.

De acordo com o estudo, a substância foi analisada em 95% das apreensões de opioides entre julho de 2022 e abril de 2023. Esse é o primeiro relato consistente de apreensão de nitazeno no país.

Responsável por 100 mil mortes em 2022 nos Estados Unidos, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, o nitazeno virou uma grande preocupação de saúde pública não só no país americano como também pela Europa.

O mesmo grupo de pesquisadores já havia detectado o fentanil, outro opioide sintético capaz de causar uma grande destruição no usuário. Agora, com a presença do nitazeno, a preocupação é ainda maior.

“Esses nitazeno são cerca de 10 vezes a 20 vezes mais potentes do que o fentanil. Então, o que a gente tem é uma droga com potencial de causar dependência muito grande e potencial de causar fatalidades também muito grande”, explicou o professor de toxicologia da USP, Maurício Yonamine, ao Jornal Nacional, da TV Globo.

O professor ainda acrescenta que os nitazenos são substâncias que foram sintetizadas com o objetivo de servirem como medicamentos, mas nunca foram usados para esse propósito, justamente pelo fato de ter sido constatado antecipadamente seu alto potencial de causar dependência e morte. “Nitazenos são opioides cerca de 500 vezes mais potentes que a heroína”, disse.

Transtornos mentais
Já o professor de psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Thiago Marques Fidalgo, alerta que os nitazenos podem levar a transtornos mentais para quem já tem essa predisposição.

“Podem ser o gatilho para o início de um quadro de esquizofrenia, de transtorno bipolar. A droga tem dentre os seus impactos, esse efeito de causar aumento da adrenalina no corpo, que vai gerar reações de luta ou fuga. Então, a gente vai ficar preparado para lutar ou fugir. E isso inclui, por exemplo, uma tensão muscular, essa coisa de ficar mais travado, pilhado, pronto para ter uma reação mais agressiva, se necessário”, explicou Fidalgo.

O que é o nitazeno
Neste mês, a agência antidrogas da Organização das Nações Unidas (ONU) alertou para a propagação do nitazeno pela América do Norte e Europa. Segundo seu último relatório mundial sobre drogas, a substância foi encontrada no Reino Unido, nos EUA, na Eslovênia, na Estônia, na Letônia, na Bélgica e no Canadá.

O nitazeno é uma droga sintética, as chamadas drogas K, e surgiu nos anos de 1950 como um medicamento analgésico. Porém, devido a sua forte potência e ação viciante, nunca foi utilizado para esse fim. Por isso, não há estudos sobre os reais efeitos da droga, já que ela nunca foi utilizada em grande quantidade por humanos.

“O nitazeno foi sintetizado para ser medicamento, mas nunca foi utilizado para tal. De tal forma que a gente não sabe, pois nunca foi utilizado para humanos em uma quantidade grande. A gente não tem essa informação”, acrescentou Yonamine.

Até o momento, o que se sabe sobre a droga vem dos relatos de usuários, como os recolhidos pela reportagem do Jornal Nacional em São Paulo. “Tira minha vontade de me movimentar, minha vontade de comer. Nem me olhar no espelho eu consigo mais. Não tem nada, nem amor próprio mais. O vício me tirou tudo: a vontade de viver, a vontade de sonhar”, relatou um dos dependentes.

A Secretaria Estadual da Saúde informou que possui um centro especializado em tratar pessoas que enfrentam problemas relacionados ao uso do crack e de outras drogas, e que ele funciona 24 horas.

Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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