Governistas impediram convocação de secretário das Subprefeituras para explicar a situação.
Após o apagão que deixou mais de 2 milhões sem luz na cidade desde a noite de sexta-feira em São Paulo desde a noite de sexta-feira (11), reacendeu-se o debate sobre as responsabilidades tanto pela falta de energia quanto pela lentidão da volta dos serviços. A Enel, concessionária de energia para São Paulo e Grande São Paulo, culpou os “eventos climáticos extremos” – repetindo a explicação do apagão de novembro de 2023.
O prefeito e candidato à reeleição Ricardo Nunes voltou a reclamar da empresa: “Enel é ‘inimiga do povo de São Paulo.’” Nunes disse mais uma vez que vai lutar pelo cancelamento da concessão, usando o mesmo discurso do ano passado.
Em contrate com as reclamações do prefeito, no entanto, a atuação de seus aliados que integraram a CPI da Câmara de São Paulo que investigou o apagão de 2023 impediu a investigação da precarização dos serviços da Enel, consequência da privatização.
O centro dessa queda de braço entre o poder público e a empresa é o problema de manutenção e da poda de árvores. Como a responsabilidade pela poda das árvores é compartilhada entre a prefeitura e a fornecedora de energia elétrica, uma vez que muitas delas estão próximas da fiação elétrica, esse foi um tema de grande divergência entre os vereadores da base do prefeito Nunes e os vereadores de oposição.
“Levamos dados do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo que mostravam a precarização dos serviços prestados desde a privatização. Tentei convocar o secretário das Subprefeituras Alexandre Modonezi para explicar sobre como estava funcionando a zeladoria e não permitiram”, diz a vereadora Luna Zarattini (PT), que propôs e participou da CPI da Enel, em entrevista ao ICL Notícias.
Luna e a vereadora Elaine Mineiro (PSOL) chegaram a entregar um relatório alternativo da CPI, quando os trabalhos foram encerrados em junho de 2024, em que destacam a importância de a prefeitura assumir a a zeladoria e a poda das árvores. Ela afirma que a Prefeitura de São Paulo, na realidade, avançou muito pouco nas cobranças à Enel. “Muitas árvores caíram agora justamente por a gente não ter poda, atingindo a rede elétrica e causando mais transtornos ainda na cidade”.
Na conclusão da CPI da Enel, você foi uma das vereadoras que se opôs ao relatório apresentado pelos vereadores governistas e elaborou um relatório alternativo. O que motivou esse relatório?
Os vereadores da base do Ricardo Nunes protegeram o prefeito na CPI quando eles não apontaram as responsabilidades da prefeitura em relação ao que aconteceu em novembro do ano passado, que foi muito semelhante ao que está acontecendo agora. Por exemplo, a necessidade que a prefeitura tem de fazer a zeladoria e a poda das árvores.
Além disso, os vereadores não fizeram uma discussão de que a privatização é um desmonte da empresa. Levamos dados do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo que mostravam a precarização dos serviços prestados desde a privatização. Tentei convocar o secretário das Subprefeituras Alexandre Modonezi para explicar sobre como estava funcionando a zeladoria e não permitiram.
De junho para cá, houve algum avanço?
Até agora, a gente não teve nenhum avanço por parte da prefeitura. Mais de um milhão de pessoas ficaram sem luz. A previsão de volta é na segunda-feira (14), comprometendo comércios, comprometendo pessoas que precisam de energia elétrica para guardar medicamentos na geladeira, comprometendo também pessoas que utilizam da energia elétrica e têm equipamentos de sobrevida. A situação é muito, muito terrível.
Vereadora Luna Zarattini (PT)
Qual a postura dos vereadores governistas naquela CPI?
Os vereadores governistas tentaram de toda maneira colocar toda a responsabilidade na Enel e no governo federal, quando na verdade há várias responsabilidades que são da prefeitura e do próprio município.
Agora, os vereadores também não discutiram e nem aprofundaram a questão a empresa ter passado por um processo de privatização, de desmonte, de demissão em massa e de não garantia dos serviços e da qualidade dos serviços, na transição da Eletropaulo para a Enel a partir de 1999. Isso foi algo que a gente denunciou, a privatização e o desmonte da Enel, como também denunciamos a privatização da Sabesp, por esses mesmos vereadores votaram a favor.
O prefeito Ricardo Nunes voltou a criticar a Enel agora nesse episódio. Isso é retórica do candidato Nunes ou, na sua avaliação, há intenção real de que a prefeitura de São Paulo venha a romper com a Enel?
O prefeito Ricardo Nunes usa isso porque já faz quase um ano que aconteceram os primeiros episódios de chuvas fortes e apagão na cidade de São Paulo e nada foi feito em relação a planos de contingência por parte da prefeitura. Ele não quer resolver o problema e nesse momento precisa achar um culpado para fazer toda essa discussão com a cidade, em vez de ter preparado a cidade para as emergências climáticas.
O caos urbano provocado por uma chuva forte, mas previsível, é recorrente na cidade. Há solução? Qual?
A gente vê que a cidade de São Paulo não está adaptada para esses eventos e emergências climáticas. A cidade de São Paulo perdeu a oportunidade de fazer esse debate na revisão do Plano Diretor Estratégico, na revisão do zoneamento quando esses temas estavam na Câmara Municipal. A cidade de São Paulo perdeu essa oportunidade.
Não temos conseguido preparar a nossa cidade para essas emergências. Seria fundamental que a gente fizesse o debate de que setores estratégicos, como de energia, de água, são setores que devem ser preservados e geridos pelo Estado.