Filmagem compartilhada nas redes sociais mostra Secretário de Segurança trabalhando na mesma viatura que policial José Roberto Barbosa de Souza.
Um vídeo antigo e documentos mostram proximidade entre o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, então tenente da Rota, e um sargento da PM paulista atualmente investigado sob suspeito de ajudar integrantes do PCC. A pasta negava essa relação.
Uma filmagem compartilhada nas redes sociais mostra Derrite, na época da tropa de elite da polícia, trabalhando na mesma viatura que o sargento aposentado José Roberto Barbosa de Souza, o Barbosinha.
Conforme nota oficial, a pasta sustentava que o secretário havia tido “contatos esparsos” com Barbosinha, conhecido como Mão de Rã pela habilidade ao volante, no período em que ambos trabalharam no batalhão da Rota (tropa de elite da PM).
O nome de Souza aparece em relatório da Corregedoria como um dos policiais suspeitos de ligação com PCC que teriam fornecido dados sigilosos de operações para criminosos. O documento diz que o PM trabalhou na Rota entre 2008 e 2018 e, durante esse período, também prestou serviços na seção de rádio do batalhão, juntamente com o sargento Alexandre Aleixo Romano Cezário.
“Segundo denunciante, [Souza] passava informações sobre operações que seriam realizadas na Rota ao crime organizado, sendo que, em 2022, em sua candidatura política, teria utilizado de uma agência para montar o seu comitê, os quais teriam ligações com criminosos do PCC”, diz trecho do documento.
Souza foi candidato a deputado federal pelo União Brasil em 2022. Conforme o advogado de Souza, Abelardo Julio da Rocha, a única verdade contada sobre o sargento até agora é que ele foi motorista de Derrite, apesar de negativa oficial. “Eles foram, efetivamente, da mesma equipe, inclusive há outros documentos que mostram Derrite pedindo elogio pra equipe”, disse.
PM foi motorista de Derrite na Rota
Entre as provas de que Souza foi, de fato, motorista de Derrite na Rota, o advogado encaminhou à reportagem um vídeo gravado em 2010 quando ambos participaram juntos de atendimento de ocorrência em Osasco, na Grande São Paulo. O vídeo mostra Souza ao volante e o então tenente Derrite como encarregado.
Além disso, o advogado encaminhou documentos, também de 2010, em que o oficial pede elogios aos superiores para os membros da equipe Rota 91.328, composta pelo tenente Derrite e pelos soldados Barbosa, Da Mata e Bueno, em razão de prisões realizadas na capital e litoral paulista, segundo Rogerio Pagnan, ICL.
Procurada no fim de janeiro, a Secretaria da Segurança reencaminhou nota compartilhada à imprensa, em que sustentava a versão dos “contatos esparsos”. A assessoria do secretário também confirmou ter informado que Souza não foi motorista de Derrite.
Após a reportagem informar à pasta ter um vídeo e documentos que contrariavam essa tese, a Secretaria da Segurança enviou novo posicionamento, sem mais citar o sargento.
“O secretário Derrite, durante toda a sua carreira da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sempre atuou dentro da legalidade com o objetivo de contribuir para o combate à criminalidade e a proteção da população”, diz trecho da nova nota, sem mencionar “contatos esparsos” ou negar ligação com Souza.
A Folha também questionou a PM sobre a versão apresentada pela defesa, de que Souza jamais trabalhou na sala de rádio ou nos órgãos de inteligência da Rota, diferentemente do que apontam documentos da Corregedoria. Ainda segundo a defesa, isso poderia ser confirmado com uma consulta às escalas de serviço do policial.
A pasta não fez comentários sobre esse questionamento. Respondeu apenas que “a conduta do 3º Sargento citado é alvo de investigação por meio de Inquérito Policial Militar (IPM) que tramita em segredo de Justiça”.
Rocha disse, por fim, que o cliente deve acionar judicialmente os oficiais da Corregedoria, assim como as pessoas que atacaram a honra de Souza na internet, incluindo jornalistas. O advogado afirma que, além do prejuízo emocional, o sargento aposentado perdeu emprego na iniciativa privada.
O advogado disse, ainda, que o sargento aposentado disse estar se sentindo abandonado, principalmente pelos oficiais que trabalharam com ele por anos na Rota e conhecem a índole dele, como os integrantes do Comando-Geral.
“Olha, toda a cúpula hoje da Polícia Militar serviu na Rota e sabe que isso é mentira. Todo mundo ficou absolutamente em silêncio. Isso deixou ele muito triste, decepcionado. Porque a lealdade, você sabe disso, lealdade é uma via de mão dupla, né?”, finalizou o advogado.