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‘Mundo renunciou a nós, mas nós não renunciaremos’, diz poeta palestino

Ensaísta e ativista Murad Al Sudani está no Brasil para assinar acordo de cooperação entre escritores palestinos e brasileiros.

“O mundo renunciou a nós, palestinos, mas nós não renunciaremos. Este é um desafio que fazemos à consciência mundial”, provoca o poeta, ensaísta, professor universitário, crítico literário e editor palestino Murad Al Sudani, em passagem por São Paulo nesta sexta-feira (11/04) para assinar um acordo de cooperação cultural entre Palestina e Brasil.

Secretário-geral da União Geral dos Escritores Palestinos, Al Sudani fez uma série de denúncias contra o Estado sionista de Israel durante encontro com jornalistas no sindicato da categoria na capital paulista. Pelo convênio firmado com a União Brasileira de Escritores, na quinta-feira (10/04), as duas entidades se comprometeram a traduzir e divulgar obras literárias de seus respectivos associados no outro país, com foco principal na produção de jovens autores.

O projeto deve se iniciar com a tradução para o português de uma série de contistas palestinos que têm produzido seus trabalhos no calor da hora, “em tempo de sangue”, como definiu o secretário-geral. “Os contos já estão escritos, por gente que estava sendo bombardeada”, disse ao explicar que os trabalhos ainda são inéditos, estão em processo de seleção e contam com o interesse de editoras brasileiras para a publicação local.

Genocídio em Gaza
Atribuindo a motivação genocida dos sionistas à cobiça pelas reservas de gás ao norte de Gaza, o escritor denuncia o Estado “criminoso” de Israel e seus sócios neste crime, como os Estados Unidos (“a polícia do mundo”): “Israel é um Estado de ladrões, que rouba os palestinos desde que foi fundado”. E completa: “agora vem Trump dizer ao povo de Gaza que deve ir embora. Ele nos considera Estados americanos?”.

Al Sudani descreve em números o extermínio em curso, citando o assassinato de centenas de acadêmicos, professores universitários e pesquisadores, de 211 jornalistas e de 47 integrantes da União Geral dos Escritores Palestinos, cujos corpos em parte ainda permanecem sob os escombros. “Foram destruídas 550 aldeias desde que o Estado de Israel foi implantado. Trocaram seus nomes, atacaram os lugares e suas identidades, falsificando e fabricando mentiras. Esses invasores não têm relação com o lugar, roubam todos os símbolos e tradições palestinos e dizem que pertencem a eles. Cortam centenas de oliveiras palestinas, roubam a comida popular palestina e dizem que é deles”, indigna-se. “Não têm raízes, então tentam arrancar as raízes do povo palestino.”

O escritor e ativista ressaltou também a destruição sistemática de universidades, escolas, centros culturais e museus, e concluiu, na mesma direção: “os sionistas não têm civilização nem cultura, por isso querem destruir a civilização e a cultura dos outros povos. O genocídio é físico e cultural, em todos os níveis, nas telas de vídeo, diante dos olhos do mundo”. Al Sudani deixa uma pergunta no ar: “o que este mundo hipócrita vai fazer? Eu me limito a ficar calado”.

Acordo entre escritores do Brasil e Palestina
Nesse contexto em que parte do mundo parece fechar os olhos para o genocídio palestino, o poeta afirmou que objetivo do acordo entre escritores de dois lados do mundo é sensibilizar intelectuais, literatos e comunicadores brasileiros para um extermínio que não diz respeito apenas aos palestinos, mas a toda a humanidade.

“Devemos dialogar com a consciência dos escritores, comunicadores e elites pensantes do mundo todo. Se não se mexerem com esse massacre, o que vai fazer eles se mexerem? O massacre é de toda a humanidade”, alertou o ativista, editor, entre outras, da Revista dos Prisioneiros, voltada para a realidade de cerca de 7 mil palestinos encarcerados, entre esses escritores que conseguem enviar seus relatos clandestinamente de dentro da prisão para a revista publicar.

Intermediado pela Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), o encontro entre as uniões de escritores daqui e de lá é desdobramento de iniciativa semelhante travada com a Rússia, no âmbito do BRICS e das tratativas para a criação de uma liga de escritores do bloco, de que a Palestina deve participar, embora não seja membro oficial do agrupamento. Quanto ao Brasil, seus intelectuais e seus editores, Murad Al Sudani é objetivo: “precisamos das vozes de vocês”.

*Opera Mundi

Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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