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O Dia de Celebração da Amizade com Genocidas promovido pelo Congresso brasileiro

Há pouco mais de um ano, no inicio de maio de 2024, saía o primeiro grande relatório da ONU sobre os resultados do “assédio total” aos “animais humanos” da Faixa de Gaza, anunciado e iniciado assim, nestes termos – termos francamente genocidas -, por Israel em outubro do ano anterior, em ato contínuo ao ataque do Hamas em “solo israelense”.

“Até 12 de abril de 2024, pelo menos 5% da população em Gaza havia sido morta, gravemente ferida ou ferida”, dizia o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, mencionando ainda que 7.000 palestinos de Gaza estavam desaparecidos, sob os escombros, até aquela mesma data.

Naquela data, caso o Projeto de Lei 5.636/2019 já tivesse sido aprovado pelo Congresso Nacional, o Brasil teria celebrado o Dia da Amizade Brasil-Israel, 12 de abril, no dia do corte feito pela ONU para declarar que 5% dos palestinos de Gaza já tinham sido mortos ou feridos na etapa em curso da limpeza étnica da Palestina.

Mas nunca é tarde para o escárnio, não para o Senado brasileiro. Nesta quarta-feira, 21, o presidente da Casa, Davi Alcolumbre, botou na ordem do dia e o plenário da Casa aprovou o PL 5.636/2019, por unanimidade.

Por unanimidade, no momento em que os mortos por Israel na Faixa de Gaza já passam de 60 mil e, os feridos, de 110 mil, ou, ao todo, 7,5% da população de Gaza antes de outubro de 2023. Sem contar o dobro dos desaparecidos de um ano atrás: outros 14 mil palestinos “presumivelmente mortos”.

Por unanimidade, horas após o diretor de Ajuda Humanitária da ONU, Tom Fletcher, afirmar que 14 mil bebês palestinos poderiam morrer na Faixa de Gaza nas 48 horas seguintes por causa do bloqueio de Israel à entrada de remédios e alimentos em Gaza.

Por unanimidade, no dia em que Israel atacou a tiros uma delegação de diplomatas de mais de 20 países em visita a Jenin, na Cisjordânia ocupada ilegalmente pelo Estado sionista.

O Dia da Celebração da Amizade Brasil-Israel foi uma sugestão feita em 2013 pelo então ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, à presidenta Dilma Rousseff que, há mais de década, bem anterior ao genocídio atual, encampou a ideia e a encaminhou ao Congresso como Projeto de Lei do Poder Executivo. A data, 12 de abril, remete à criação em 1951 da legação brasileira em Israel, mais tarde transformada em embaixada.

No momento em que os povos do mundo exigem dos seus países rompimento de relações comerciais e diplomáticas com o Estado sionista, contra o genocídio do povo palestino, o Senado aprova por unanimidade um PL cuja justificação original é “formalizar a sólida relação bilateral do Brasil com o Estado de Israel e fomentar os vínculos cultural, social e econômico existentes entre os dois países”.

Já entre as justificativas elencadas pelo relator do PL no Senado, Carlos Viana (Podemos-MG), para a aprovação do Dia de Celebração da Amizade com Genocidas, consta esta, dada pelo senador à Agência Senado: “os Evangélicos entendem que Jesus Cristo era judeu e que vai voltar por Jerusalém”.

A Agência Senado informou também a posição do Itamaraty sobre a aprovação nesta quarta, dia de bebês morrendo de fome em Gaza, do PL 5.636/2019:

“O Ministério das Relações Exteriores avalia que a criação do Dia da Amizade Brasil-Israel vai reforçar os vínculos culturais e econômicos entre os dois países”.

O PL 5.636/2019 segue agora para sanção do presidente Lula.

*Hugo Souza/Come Ananas

 

Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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