Cerca de 70 mil palestinos têm apenas 10 minutos para pegar entre 300 e 400 pacotes de suprimentos disponíveis; finalizado esse tempo, os soldados abrem fogo contra a multidão
O uso da fome como arma de guerra de Israel na Faixa de Gaza, denunciado por mais de 100 ONGs nesta quarta-feira (23/07), soma-se aos brutais ataques das forças israelenses contra a população civil que busca alimentos nos centros de ajuda controlados pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF, em inglês).
De acordo com a Assessoria de Imprensa do Governo da Faixa de Gaza, desde 27 de maio, 995 pessoas foram mortas e mais de 6 mil ficaram feridas em ataques israelenses nos falsos centros de distribuição de ajuda, controlados pela GFH, que assumiu o controle das distribuições, substituindo o sistema humanitário liderado pelas Nações Unidas.
Em relato contundente, postado pela jornalista Inés El-Hajj na plataforma X, o jornalista Motasem A Dalloul, que está em Gaza, conta como se dá a distribuição dos alimentos, considerada ‘armadilha mortal’ pela ONU, nestes locais.
Armadilha mortal
“Regularmente, a GHF publica o cronograma de distribuição no Facebook. A cada vez, cerca de 60.000 a 70.000 palestinos convergem para o local designado. Alto-falantes anunciam que quando a luz verde acende, as pessoas têm apenas 10 minutos para pegar entre 300 e 400 pacotes de ajuda, embora muitos dos suprimentos essenciais, como farinha, açúcar e sal, sejam arrebatados primeiro por gangues e colaboradores”, relata o jornalista.
“Após a janela de 10 minutos, a luz fica amarela, sinalizando que restam apenas 5 minutos para fugir antes que metralhadoras automáticas abram fogo indiscriminadamente contra qualquer um que ainda esteja na área”, complementa Dalloul.
Ele conta que essas zonas de distribuição são espaços abertos e áridos cercados por altos montes de areia. “Existem quatro desses pontos no sul de Gaza e, em alguns casos, as pessoas devem caminhar até 40 quilômetros apenas para alcançá-los”.
Como destaca a jornalista Inés El-Hajj em sua postagem, “o GHF criou a ‘área dos Jogos Vorazes’, eles brincam com as vidas dos palestinos como se não valessem nada”.
Ouça o depoimento:
Horrible and the most horrific testimony you will ever hear
I have spoken on a space with @AbujomaaGaza, who explained the process of the “Death Traps” the GHF have created…I quote “regularly posts the aid distribution schedule on Facebook. Each time, around 60,000 to 70,000… pic.twitter.com/3UJdg7Nvgn
— Inés El-Hajj|Stories from Palestine 🇵🇸 (@InesStories99) July 21, 2025
Bloqueio
Enquanto isso, conforme denunciam mais de 100 entidades humanitárias, “nos arredores de Gaza, em armazéns – e até mesmo dentro da própria Gaza – toneladas de alimentos, água potável, suprimentos médicos, itens de abrigo e combustível permanecem intocados, com organizações humanitárias impedidas de acessá-los ou entregá-los”.
“Médicos relatam taxas recordes de desnutrição aguda, especialmente entre crianças e idosos. Doenças como diarreia aquosa aguda estão se espalhando, mercados estão vazios, lixo está se acumulando e adultos estão desmaiando nas ruas de fome e desidratação. As distribuições em Gaza chegam a apenas 28 caminhões por dia, longe do suficiente para mais de dois milhões de pessoas, muitas das quais estão há semanas sem assistência”, afirmam em nota.
A GHF é atualmente presidida pelo líder evangélico Johnnie Moore, conselheiro de Donald Trump para assuntos inter-religiosos e membro da Comissão dos EUA para a Liberdade Religiosa Internacional. Ele assumiu o cargo em junho deste ano, após a renúncia de Jake Wood, ex-fuzileiro naval dos EUA, que declarou que não poderia garantir a independência da fundação em relação aos interesses israelenses.
*Opera Mundi
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