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Enchendo as burras: Megaoperações de R$ 1,22 bilhão em dólar ocorreram horas antes de adiamento do tarifaço

Volume bilionário de contratos foi registrado pouco antes do anúncio da Casa Branca, destoando do padrão de outros pregões

Contratos de dólar futuro negociados na Bolsa em volumes centenas de vezes acima da média chamaram atenção no mercado financeiro por terem sido registrados poucas horas antes de um anúncio crucial da Casa Branca. Na tarde de 30 de julho, às 15 horas, o governo norte-americano comunicou o adiamento da aplicação de tarifas contra o Brasil — decisão com potencial para provocar variações expressivas na taxa de câmbio e gerar ganhos imediatos para quem estivesse posicionado corretamente. A proximidade temporal entre essas negociações e o anúncio levanta sinais de alerta para autoridades e analistas de mercado.

Somando apenas as operações de maior porte realizadas antes das 15h via mesas do BTG Pactual (cód. 85) e da Tullett Prebon (cód. 127), foram 24.430 contratos de dólar futuro do tipo DOLQ25. Cada contrato representa R$ 50 mil, o que totaliza R$ 1,221 bilhão em valor nocional. Esse volume destoa de forma acentuada da média do dia, de apenas 9 contratos por transação, e também dos padrões verificados em outros pregões.

O maior pico ocorreu às 12h29, quando a mesa do BTG intermediou quatro ordens sequenciais — de 5.000, 5.000, 5.000 e 4.930 contratos — executadas com diferença de apenas 47 milissegundos, totalizando 19,9 mil contratos. Mais cedo, às 10h42, a Tullett registrou uma única operação de 4.500 contratos, volume 497 vezes maior que a média diária. Ordens acima de mil contratos também foram identificadas pelas mesas da BGC Liquidez e da CM Capital, sempre antes das 15h.

Embora operações vultosas possam ocorrer por razões legítimas, como hedge ou realocação de portfólio, a concentração extrema em um curto espaço de tempo e a coincidência com um evento de alto impacto econômico e político reforçam a necessidade de apuração. Além disso, a execução em milissegundos sugere uso de sistemas de negociação de alta frequência, geralmente operados por grandes players institucionais.

Comparativo com outros dias do mês
A análise de pregões anteriores e posteriores mostra que o dia 30 de julho foge completamente do padrão. Em outros pregões de junho e julho, os volumes negociados por essas mesas foram bem menores e diluídos ao longo do dia. No dia 31 de julho, primeiro pregão após o anúncio da Casa Branca, o total negociado pelas mesmas mesas despencou para 570 contratos, uma queda superior a 97%. Essa mudança abrupta reforça a percepção de que as operações do dia 30 estavam diretamente relacionadas à expectativa ou ao conhecimento prévio da decisão.

O que caracteriza suspeita de informação privilegiada
No Brasil, a Lei nº 6.385/76 proíbe o uso de informação relevante não pública para obter vantagem no mercado. Posicionar-se com base em dados estratégicos antes de sua divulgação configura crime de insider trading, sujeito a sanções severas. No caso de 30 de junho, a magnitude das ordens, a sincronia com o anúncio e a ausência de padrão similar nos demais pregões reúnem indícios típicos para justificar a abertura de investigações pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pelo Ministério Público Federal.

Movimentações desse porte, especialmente antes de anúncios de grande impacto, podem provocar distorções significativas nos preços e prejudicar investidores que não têm acesso a informações privilegiadas. No mercado de câmbio futuro, oscilações abruptas afetam desde fundos de investimento atrelados ao dólar até empresas com contratos de importação e exportação indexados à moeda americana, com impactos em cadeias produtivas inteiras. Casos suspeitos de insider trading corroem a confiança no sistema financeiro, tornando imprescindível uma atuação rápida e efetiva dos órgãos reguladores.

Anúncio do tarifaço também teve negociações incomuns
Esta não é a primeira grande movimentação atípica envolvendo o tarifaço. Como o ICL Notícias revelou com exclusividade, na manhã de 9 de julho, o mercado de contratos futuros de dólar também teve um movimento fora do comum. Em apenas 75 minutos, entre 11h30 e 12h45, nove negociações somaram mais de R$ 6,6 bilhões, quase 10% do total daquele dia. O maior negócio ocorreu às 11h38, com o BTG Pactual intermediando quase 10 mil contratos, equivalentes a R$ 2,7 bilhões. O anúncio das tarifas foi feito pelo presidente norte-americano Donald Trump às 16h17.

Os valores foram calculados com base no dólar a R$ 5,44, cotação do início do dia. As operações ocorreram pouco antes do anúncio do tarifaço dos Estados Unidos contra o Brasil e agora essas movimentações são investigadas pelo Supremo Tribunal Federal.

*Por Cleber Lourenço e Deborah Magagna. Publicado com exclusividade pelo ICL.


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Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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