A quantidade de moradores diagnosticados com o novo coronavírus na Zona Norte do Rio aumentou 1000% nos últimos dez dias. O número saltou de 8 para 88 casos. De acordo com boletim da prefeitura divulgado nesta terça-feira, pela Secretaria estadual de Saúde, subiu para 586 o número casos confirmados no Rio. As zonas Sul e Oeste, embora tenham uma quantidade superior de diagnósticos confirmados, em números absolutos, acompanharam a taxa média de evolução de casos na cidade. A Zona Sul, que tinha 59 casos no dia 21, saltou para 301; um aumento de 410%. Já a Zona Oeste foi de 28 para 132 casos confirmados em dez dias, o que dá 371% a mais. Considerando todo o município, o aumento no período foi de 103 para 586 casos, o que representa uma alta de 469%.
Especialistas ouvidos pelo EXTRA alertam para o fato de que uma comparação entre as zonas da cidade devem levar em consideração aspectos como o tamanho populacional, a densidade demográfica e o IDH. Algumas dessas variáveis podem, inclusive, explicar o aumento expressivo de casos na Zona Norte, em relação às demais.
A Zona Norte é a mais populosa – concentra 42% da população do município – e também tem a maior densidade demográfica do município (10.185 hab/km2, quase cinco vezes maior do que a densidade da Zona Oeste, por exemplo). A região concentra grandes complexos de favelas, como as do Alemão, Maré e Lins, e por isso ostenta o menor Índice de Desenvolvimento Social (IDS, um indicador criado pela prefeitura com inspiração no IDH, usado pela ONU), apesar de ter ilhas de IDS elevado.
Os bairros que concentram populações com menor poder aquisitivo devem ser, na opinião de Edimilson Migowski, infectologista da UFRJ, alvos de maior atenção por parte das autoridades sanitárias. O boletim desta terça-feira apontou casos confirmados em comunidades como Parada de Lucas, Vigário Geral, Andaraí e o Complexo do Lins.
– Tivemos uma primeira onde forte de casos na Zona Sul e na Barra por conta das pessoas que trouxeram o vírus de fora do país. A partir do momento em que se toma medidas de restrição, as pessoas com melhores condições socioambientais tendem a ter mais facilidade de se confinar e reduzir o contato com outras pessoas. Já nos lugares com IDH mais baixo, onde famílias grandes dividem casas pequenas e muitos dependem do trabalho externo para tirar o sustento do dia-a-dia, o isolamento é uma barreira maior a ser vencida. A partir desse momento, a disseminação do coronavírus é favorecida nos locais onde as condições sociais e o ambiente familiar são piores – avalia.
Sensibilizar os moradores sobre a necessidade do confinamento tem sido o desafio do presidente da associação de moradores do Morro do Salgueiro, Walter Rodrigues. Desde o início do isolamento social decretado pelo governador Wilson Witzel, há duas semanas, o líder comunitário se desdobra em iniciativas para convencer as pessoas a permanecerem em casa.
– Os mais idosos estão preocupados e mais conscientes dos riscos, mas não vejo essa mesma responsabilidade entre os jovens, que podem acabar sendo vetores da doença para seus pais e avós. Conseguimos parar os bailes funk e as rodas de pagode, e também adiamos um campeonato de futebol que estava acontecendo na comunidade. Mas ainda tem muita gente na rua, principalmente nos finais de semana. A gente sempre tenta conversar com as pessoas e faz o que pode para ajudar quem mais precisa, pedindo doações de material de limpeza e cestas básicas. Mas convencer os jovens a ficar em casa tem sido muito difícil – conta.
Presidente da Sociedade de Infectologia do Rio, Tânia Vergara ressalta que, além de as medidas de isolamento terem menos aceitação nas comunidades, existe também uma dificuldade maior de acesso ao sistema público de saúde, agravaddo pelas medidas restritivas nos transportes públicos, o que pode levar a uma subnotificação de casos e a um aumento ainda mais expressivo dos casos.
– Na rotina das favelas, a imposição de medidas de isolamento se torna mais difícil. Além disso, as pessoas que moram em comunidades têm maior dificuldade de acessar o sistema de saúde, porque andam de condução, por exemplo, e isso se tornou mais difícil de fazer por causa do isolamento. No início, quando havia menos casos e eles estavam concentrados nos bairros mais ricos, as pessoas conseguiam fazer o diagnóstico mais rapidamente porque o sistema não estava sobrecarregado. Agora, com o acúmulo de procura por exames, o cenário piorou muito – avalia.
O bairro com o maior número de casos confirmados na Zona Norte é a Tijuca. Rodeado por morros – Borel, Formiga, Salgueiro e Turano -, o bairro concentra 19 registros, de acordo com o boletim divulgado pela prefeitura nesta terça-feira. Considerando a lista de bairros com maior quantidade de casos confirmados, em toda a cidade, a Tijuca ocupa a nona posição, atrás do Flamengo (22) e à frente do Jardim Botânico (16).
A lista dos bairros da Zona Norte com casos confirmados da Covid-19 traz ainda a Vila Isabel, com dez casos, e o Méier, com nove registros. Em seguida, vêm Grajaú, Inhaúma, Maracanã, Pavuna e Rio Comprido, todos com três casos cada. Andaraí, Cachambi, Coelho Neto, Entenho Novo, Lins de Vasconcelos, Manguinhos, Olaria, Penha, Piedade, Quintino e Riachuelo têm dois registros cada um. A lista traz ainda outros treze bairros, todos com um caso cada.
*Com informações do Extra