Piñera pede a ministros que ponham cargos à disposição e avisa que pode retirar estado de emergência anunciando o fim do toque de recolher para algumas regiões.
SANTIAGO – Em resposta à grande marcha que tomou as ruas do Chile nesta sexta-feira, o presidente Sebastián Piñera pediu aos ministros que coloquem seus cargos à disposição. Ele também anunciou o fim do toque de recolher para algumas regiões e a retirada da classificação de estado de emergência de várias localidades, a partir de domingo.
Pedi a todos os ministros que disponibilizassem seus cargos para poder estruturar um novo gabinete para enfrentar essas novas demandas e cuidar dos novos tempos – disse Piñera, referindo-se à onda de protestos e embates que já causaram 19 mortes.
O líder também avaliou que “o Chile está diferente de uma semana atrás” e classificou a última manifestação como “exemplar”.
– Vimos uma mensagem muito presente na alma dos chilenos, pois eles a expressaram com uma eloquência que chegou a todos nós. A marcha de ontem foi uma mensagem forte. Uma mensagem da grande maioria dos chilenos pedindo um Chile mais justo e solidário. Todos ouvimos essa mensagem. Todos mudamos e estamos com uma nova atitude. É como uma agitação – disse ele, que também fez um minuto de silêncio pelos mortos nos protestos e enfatizou a necessidade de se ter “capacidade de dialogar e saber ouvir”.
Piñera se reuniu, também neste sábado, com ministros e representantes de vários grupos sociais, no Palácio de La Moneda, sede do governo. Na ocasião, disse:
Queríamos convocar vocês para nos ajudar a criar uma metodologia que nos permita ouvir os chilenos, não apenas no nível da academia, da sociedade civil, dos sindicatos, do próprio governo, mas uma metodologia que venha a surgir desta e de outras reuniões e seja dirigida e coordenada pelo ministro Sebastián Sichel, com a colaboração de todos vocês, e nos permita satisfazer a uma enorme demanda.
Depois do encontro, foi anunciado o fim do toque de recolher para Santiago, Valparaíso, Biobío, Coquimbo e La Serena. Piñera disse que sua intenção é suspender os estados de emergência em todas as regiões, se as circunstâncias permitirem, a partir do próximo domingo.
– Depois de conversar com as Forças Armadas, quero anunciar que, se as circunstâncias permitirem, vou suspender todos os estados de emergência a partir de domingo para a normalização que todos os chilenos desejam.
Enquanto isso, algumas lojas comerciais seguem operando em horário limitado.
Piñera já tinha dito, na sexta-feira, que “todos escutaram o recado” sobre as desigualdades sociais no país. “A grande, alegre e pacífica passeata de hoje, onde os chilenos pedem um Chile mais justo e solidário, abre grandes caminhos de futuro e esperança”, escreveu Piñera no Twitter sobre o protesto que reuniu cerca de 1 milhão de pessoas em Santiago.
A multidão ocupou o centro da capital para exigir reformas em um sistema econômico que consideram desigual, e para denunciar o governo pelo emprego dos militares contra a pior revolta social em três décadas no Chile.
O protesto estudantil, iniciado há uma semana contra o aumento na tarifa do metrô, provocou uma grave crise social, onde manifestantes continuam nas ruas para exigir uma fatia maior da prosperidade que transformou o país em um dos mais estáveis da América Latina.
Incidentes isolados ocorreram em meio à gigantesca passeata, como diante do Palácio de La Moneda, sede do governo, onde as forças de segurança dispararam jatos d’água, bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar os manifestantes.
*Com informações do Globo