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Governo Bolsonaro, como na ditadura, tem relatório sobre 81 jornalistas e influenciadores

Uma empresa de comunicação contratada pelo governo federal orienta como o órgão deveria lidar com um grupo de 81 jornalistas e “outros formadores de opinião” considerados influenciadores em redes sociais. A medida a ser tomada varia: “o monitoramento preventivo das publicações da influenciadora”, o “envio de esclarecimentos para eventuais equívocos que ele publicar” ou mesmo “propor parceria para divulgar ações da Pasta”.

O acompanhamento do que é publicado sobre determinado órgão ou autoridade é, em si, uma prática corriqueira, mas o relatório revela e leva ao governo as impressões sobre esses profissionais. O levantamento intitulado “Mapa de influenciadores”, que analisou postagens do mês de maio de 2020 sobre o Ministério da Economia e o ministro Paulo Guedes, foi produzido pela BR+ Comunicação. Ela tem um contrato com o MCTIC (Ciência e Tecnologia) que é aproveitado pelo ME por meio de um Termo de Execução Descentralizada de junho de 2020, no valor total de R$ 2,7 milhões, que inclui outros serviços de comunicação.

Feito em arquivo Excell, o relatório separou os 81 “influenciadores” em três grupos: os “detratores” do governo Bolsonaro, do ME e/ou do ministro Paulo Guedes (não fica claro quem dos três, no entender do relatório, o profissional estaria “detratando”), os “neutros informativos” e os “favoráveis”.

O primeiro grupo é o mais numeroso, com 51 nomes. Os “favoráveis” da lista são 23. E os “neutros informativos”, oito. A conta fecha em 82, e não 81, porque há um nome repetido em dois campos. Do total, 44 são jornalistas. Cada nome é acompanhado de um comentário sobre o que a pessoa tem escrito nas redes sociais a respeito do governo e em especial de Paulo Guedes. Em oito casos, há o telefone celular do jornalista.

O UOL procurou na sexta-feira (27) tanto o MCTIC quanto a empresa BR+ Comunicação. No sábado (28), o MCTIC respondeu o seguinte: “Os esclarecimentos sobre esse assunto podem ser fornecidos pelo Ministério da Economia”.

Procurado, o ME respondeu que os “produtos de comunicação” são definidos no contrato pela Secom, a secretaria de comunicação da Presidência, “assim como é definido para todos os órgãos da administração direta”.

“Esclarecemos, portanto, que os órgãos não têm coordenação sobre essa entrega (Mapa de Influenciadores) mas, assim como monitoramentos de redes sociais e clipping de imprensa, ela é importante para o envio de releases, convocações para coletivas de imprensa, participações em eventos, fotos e vídeos. Os contatos são feitos por e-mail. Não se faz uso de informações pessoais. O produto também não traz informações de profissionais de governos, apenas jornalistas e influenciadores de redes sociais e/ou formadores de opinião – definidos com base no número de seguidores”, informou o ME.

A BR+ Comunicação não havia se manifestado até o fechamento deste texto.

Os integrantes dos três “grupos”, segundo o relatório em poder da Economia

Entre os supostos “detratores” estão jornalistas com milhares de seguidores, como Vera Magalhães, Guga Chacra, Xico Sá, Hildegard Angel, Cynara Menezes, Carol Pires, Claudio Dantas, Luis Nassif, Brunno Melo, Igor Natusch, George Marques, Palmério Dória, Flávio V. M. Costa (editor do UOL), Márcia Denser, Rachel Sheherazade, Luís Augusto Simon (o Menon, colunista do UOL), além dos professores universitários Silvio Almeida, Laura Carvalho, Jessé Souza, Claudio Ferraz, Sabrina Fernandes, Marco Antonio Villa, Conrado Hubner, Rodrigo Zeidan, entre outros.

O autor desta coluna também aparece no campo do “detratores”, após ter publicado um post no Twitter que questionava uma declaração do ministro Paulo Guedes que citou a pandemia como “uma benção”.

Diz o levantamento:”[Rubens Valente] Utiliza as redes de maneira informativa na maioria das vezes. Já criticou o ministro da economia em mais de uma ocasião. ‘Paulo Guedes sobre a pandemia: O que era uma maldição acabou virando uma bênção’. Porque supostamente as exportações do país aumentaram. Uma bênção. Vinte e nove mil mortos’.”

O estudo recomenda a seguinte ação: “Envio de matérias e projetos do ME”. O autor nunca foi procurado pelo ME sobre isso.

Ainda no campo dos supostos “detratores” aparecem youtubers e influenciadores como Felipe Neto, Nathália Rodrigues e Jones Manoel. Os oito “neutros informativos” citados são Alex Silva, Malu Gaspar, Altair Alves, Cristiana Lôbo, Monica Bergamo, Marcelo Lins, Ricardo Barboza e Octavio Guedes.

Para “favoráveis”, relatório sugere “posts em conjunto” e lives

No grupo dos “favoráveis” estão Roger Rocha Moreira, Milton Neves (colunista do UOL), Rodrigo Constantino, Guilherme Fiuza, Winston Ling, Camila Abdo, Tomé Abduch, entre outros.

No campo dos “favoráveis”, o relatório cita que o apresentador de rádio e TV Milton Neves, que tem 2,1 milhões de seguidores no Twitter, é “simpatizante do governo Bolsonaro, fez elogios ao ministro Paulo Guedes por conseguir injetar R$ 500 bilhões no Tesouro por meio de operação estruturada no câmbio. Em declaração, enfatizou desejo de que o ministro Paulo Guedes ficasse ao menos 15 anos trabalhando para o governo federal por seu conhecimento em economia”. O relatório sugere “envio de matéria e projetos do ME; propor parceria para divulgar ações da Pasta”.

Guilherme Fiuza, que tem 634 mil seguidores no Twitter, é assim descrito: “Jornalista favorável ao governo, fez publicações de defesa ao governo e já se referiu ao ministro Paulo Guedes como ‘economista respeitado mundialmente e líder da agenda de reformas'”. O relatório aconselha várias medidas para aproveitar esse apoio de Fiuza: “Post em conjunto com o ME, live para tratar de temas da pasta (como novos números) e proposta de matérias sobre a pasta”.

O comentarista Rodrigo Constantino é citado nesses termos: “Descreve o ministro Paulo Guedes como ‘economista liberal brilhante e patriota’. Liberal, o jornalista costuma destacar medidas de cunho positivo relacionadas ao ME. Na pandemia, defende que o governo e o ME estão trabalhando para a retomada econômica”. O relatório sugere “post em conjunto; live para tratar de temas atuais como a economia na pandemia e perspectivas posteriores; proposta de matéria sobre a Pasta”.

 

*Rubens Valente/Uol

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