O bolsonarismo dá passagem ao “lamarçal” que pode ser muito pior

Converso aqui com meus botões. Não será Pablo Marçal um perigo maior do que foi Bolsonaro quando se elegeu em 2018? Sei que há uma grande diferença entre eles: Bolsonaro se elegeu presidente da República. Marçal sequer se elegeu ainda prefeito de São Paulo.

Bolsonaro poderia atentar contra o Estado de Direito Democrático, e até o fez. Em mais de uma ocasião no seu governo, pressionou os militares a aplicarem um golpe. Se ele não conseguiu, por que um prefeito, mesmo da maior cidade do país, conseguiria?

Nós, jornalistas, estamos dando a Marçal uma atenção extrema porque a Bolsonaro não demos até que ele levasse a facada em Juiz de Fora. Fomos surpreendidos, eu pelo menos fui, pela ascensão de Bolsonaro. Não queremos ser pela de Marçal. De resto…

Com o surgimento das redes sociais e devido à crise do jornalismo enquanto negócio, faltam-nos recursos para cobrir as eleições num país-continente. Daí o foco na eleição de São Paulo, nas entrevistas e debates travados entre candidatos, no fenômeno de nome Marçal.

Bolsonaro vestiu a fantasia de candidato antissistema, mas nem ele nem seus filhos foram ou são antissistema. Enriqueceram como membros do sistema que dizem combater e vivem às custas dele. Marçal, sim, pode se oferecer como candidato antissistema.

Esperto, malandro, capaz de mandar às favas todos os escrúpulos e de desafiar as leis, um dia foi pobre, hoje é um homem rico. Enriquecerá ainda mais disputando eleições daqui por diante, mesmo que as perca. Teve 300 mil votos para deputado federal em 2018.

Por ter cometido irregularidades durante a campanha, não assumiu o mandato graças a uma intervenção da justiça. Seus adversários suplicam a Deus para que a justiça casse o registro de sua candidatura a prefeito de São Paulo. Sentem-se fracos para vencê-lo.

Uma vez derrotado ou impedido, Marçal será candidato a presidente em 2026, ou a senador. E seu exemplo será seguido por centenas ou milhares de pessoas país a fora que pensam como ele. Os extremistas de direita não precisarão mais se dizer bolsonaristas.

Por sinal, o bolsonarismo míngua com a decadência e a inelegibilidade daquele que já foi tratado como Messias. Bolsonaro não conseguiu criar um partido para chamar de seu e acabou como cabo eleitoral bem remunerado do PL de Valdemar Costa Neto.

*Noblat