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Marçal confirma que discutiu com jornalista ‘só para gerar cortes’ para redes sociais

No Roda Viva, candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo diz que entrevistadores terão ‘que aguentar os cortes’ e volta a bater boca,

O empresário Pablo Marçal (PRTB) confirmou que reagiu de forma agressiva a uma pergunta da jornalista Clarissa Oliveira durante sabatina da CNN Brasil, no dia 26, apenas para produzir cortes para as redes socais. Após o programa, a colunista do canal revelou que Marçal deu uma explicação inusitada para o descontrole. “Olha, aquilo ali foi só para gerar cortes, viu?”, teria dito ainda dentro do estúdio.

— Falei isso mesmo — disse Marçal, no programa Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira, atribuindo a tática a uma exposição menor do que os seus adversários fora das redes sociais. — Estou sem fundão, sem padrinho político, sem tempo de TV. Vocês vão ter que aguentar os cortes.

Na CNN, a jornalista havia perguntado sobre o envolvimento de Marçal, em 2005, com uma quadrilha que disparava e-mails para invadir contas bancárias e subtrair valores de correntistas. Ela argumentou que Marçal deveria ter cumprido a pena de quatro anos e cinco meses de prisão, em regime semiaberto, mas o caso acabou prescrito. Antes de terminar a pergunta, no entanto, o candidato a interrompeu e disse que a entrevistadora deveria “estudar um pouquinho”.

No Roda Viva, Marçal também se irritou ao ser chamado de “coach” e bateu boca com jornalistas em diversos momentos, incomodado com as perguntas. O candidato discutiu com a colunista do GLOBO, Malu Gaspar, sobre uma reportagem a respeito de planos para criar um partido político e pretender atrair o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Marçal adotou um tom ríspido ao pedir que não o interrompessem sempre que tinha a resposta comentada, ainda que tergiversasse sobre os assuntos ou aproveitasse o tempo para falar de outros temas. Perguntado sobre o uso de raps na campanha, o candidato respondeu cantando a música Diário de um detento, dos Racionais MC’s, enquanto o jornalista tentava concluir a pergunta.

Marçal disse não ter ideia de quanto gastou com os “campeonatos de cortes”, que premiam usuários que geram maior alcance com vídeos curtos relativos ao ex-coach nas redes sociais e que se tornou objeto de ação na Justiça Eleitoral por abuso de poder econômico. Ele negou, no entanto, que as suas empresas tenham mantido pagamentos desde que anunciou a intenção de concorrer à prefeitura de São Paulo.

— Não faço ideia quanto que já gastei com isso. Foi um dinheiro razoável — declarou.

Por outro lado, rebateu os indícios de que um dos desafios tenha gerado ganhos eleitorais. No Discord, houve promessa de pagamento para os melhores colocados em um campeonato que exigia o uso da hashtag #prefeitomarcal nos posts para concorrer às premiações.

— Não teve pagamento. Pedi para parar porque sabia que ia dar problema — justificou, antes de se dizer “perseguido” pela Justiça Eleitoral na ação movida pelo PSB de Tabata Amaral e que resultou no desligamento dos seus perfis nas redes sociais sob o argumento de preservar a isonomia da disputa. Marçal fala em “censura prévia”.

PCC, ‘despachante’ e STF
Sobre o tema que gerou a polêmica na CNN, Marçal disse, ao Roda Viva, que se envergonha de ter se envolvido com uma quadrilha que disparava e-mails para invadir contas bancárias e subtrair valores e afirmou que “não é bandido”.

— Os candidatos falam: “Você roubava velhinhas”. Nem sei quem são essas pessoas. Eu trabalhei para um cara que fez isso, que inclusive pegou cadeia e foi condenado. Eu fui prescrito porque não tinha nenhum crime na minha vida antes — disse o candidato.

Outra polêmica abordada foi o suposto envolvimento do presidente do PRTB, Leonardo Avalanche, com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele se negou mais uma vez a dar mais detalhes sobre a conversa que teve com Avalanche em que teria pedido o seu afastamento, mesmo em um momento em que promete transparência na gestão pública.

— Peço que ele tenha bom senso. Eu resolvi me afastar, particularmente, dele, e estou seguindo a minha campanha em paz, porque é constrangedor o tempo inteiro ter que responder essas questões, segundo Samuel Lima, O Globo.

Marçal também se justificou por ter dado uma procuração para Florindo Miranda Ciorlin representá-lo junto a órgãos federais para realizar o trâmite de aquisição de um jatinho por R$ 9,1 milhões. Florindo já foi preso pela Polícia Federal, denunciado pelo Ministério Público e se tornou réu na 1ª Vara Federal Cível e Criminal de Cáceres (MT) por suspeitas de fornecer aviões para traficantes transportarem 5,1 toneladas de cocaína da Bolívia para o Brasil. As informações foram reveladas pelo site “Metrópoles”.

— Não fiz negócio com ele, não. Era um despachante. É que nem ir no Detran. Foi só para a compra da aeronave, ele transferiu para mim e acabou. Comprei de um empresário do interior de São Paulo que não tem nada a ver com ele — disse.

As suspeitas de envolvimento de pessoas do seu partido e do seu círculo pessoal, como o influenciador fitness Renato Cariani, com o crime organizado levantou dúvidas sobre a capacidade de Marçal conseguir prevenir a infiltração em seu eventual governo. Ele já defendeu secretariado político com “processo seletivo”. O candidato desviou do assunto diversas vezes, alegando que o PCC já se encontra nos serviços públicos e que pretende afastar quem apresentar problemas.

Em um aceno ao eleitorado de Bolsonaro, o ex-coach opinou no “Roda Viva” que existe um “desequilíbrio” dentro do Supremo Tribunal Federal (STF) e que os ministros agem politicamente, sem observar os limites da Constituição no que se refere, por exemplo, a usurpar a função legislativa do Congresso Nacional.

— O Supremo está muito político. Ele está tentando dosar uma radicalidade que tivemos no passado e acho que já passou do limite. Com todo o respeito aos 11 togados, já passou essa onda. O Brasil precisa ser unificado. A gente precisa baixar essa pressão. Nós confiamos na Justiça, mas não precisamos de uma Corte política. Não precisa legislar e nem atuar politicamente. Eles estão fazendo isso — afirmou.

O empresário, no entanto, evitou chamar o ministro Alexandre de Moraes, o principal alvo bolsonarista no STF, de “ditador”, nem respondeu se apoia ou não o seu impeachment. Defendeu apenas que supostos abusos cometidos pelo magistrado “tem que ser apurados”.

Marçal foi confrontado sobre a hipótese de que evitaria ataques diretos a Alexandre de Moraes para não provocar a inelegibilidade da própria chapa. Em áudio, o presidente do PRTB, Leonardo Avalanche, disse que teria “pilotado” uma decisão do ministro que permitiu a convenção da sigla, e consequentemente a indicação de Marçal à candidatura.