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Governo está paralisado e coronavírus se espalha pelo país

Sem infraestrutura médica e especialistas em infectologia, pequenas e médias cidades começam a mandar seus doentes para as capitais. Brasil já tem 28.320 casos e 1.736 mortes confirmadas. A presença da Covid-19 ultrapassou a casa dos mil municípios brasileiros e chega também às periferias e favelas.

O coronavírus tomou o Brasil de vez. Com 28.320 casos e 1.736 mortes confirmadas no boletim do Ministério da Saúde, a Covid-19 ultrapassou a casa dos mil municípios brasileiros. A doença se espalha pelos 26 estados e Distrito Federal, chegando a cidades de pequeno e médio porte do interior – há registros da doença em 60% dos municípios com 50 mil a 100 mil habitantes. Alguns municípios já registram transmissão comunitária e tornaram-se centros de disseminação regional do vírus.

Entre as 10 regiões de saúde com maior coeficiente de incidência (casos por 1 milhão de habitantes), surgem a área central do Amapá (AP), Rio Negro e Solimões (AM), Laguna (SC) e Foz do Rio Itajaí (SC). Entre as cinco regiões com maior coeficiente de mortalidade (mortes por 1 milhão de habitantes), estão Limoeiro do Norte (CE) e o Extremo Oeste Paulista (SP).

Especialistas ressaltam que a cada dia observamos um retrato de duas ou três semanas atrás e, estatisticamente, o país já pode ter rompido a marca de 86 mil casos. Afirmam ainda que, se o país viveu uma primeira onda de disseminação da doença concentrada nas metrópoles, agora enfrenta a segunda onda, com focos de disseminação no interior.

No estado de São Paulo, onde havia 9.371 casos e 695 mortes confirmadas até terça-feira (14), os efeitos da baixa aplicação de medidas de isolamento social não tardaram a surgir nas cidades do interior. Segundo análise da Universidade Estadual Paulista (UNESP), a Covid-19 chega a centros regionais fora da capital a partir dos principais eixos rodoviários, e tem potencial para atingir localidades nos arredores em “efeito cascata”.

Um exemplo de como o vírus se espalha facilmente por cidades vizinhas se dá no entorno da capital paulista. A segunda cidade com mais casos registrados é São Bernardo do Campo. Lá foram confirmados 201 casos e 11 mortes até esta terça, segundo dados da plataforma colaborativa Brasil.IO (brasil.io/home), única fonte disponível de informações por município, lista não divulgada pelo Ministério da Saúde.

A região de Ribeirão Preto (SP), no Extremo Oeste Paulista, tem 313 casos confirmados até esta quarta-feira, 15. A parcial, que não necessariamente foi contabilizada pela Secretaria Estadual de Saúde e pelo Ministério da Saúde, se refere a pacientes que testaram positivo em 23 cidades, entre elas Ribeirão Preto, município que concentra a maior parte dos registros (53).
Avanço para interior e periferias

Para o médico infectologista Evaldo Stanislau, diretor da Sociedade Paulista de Infectologia, a tendência natural é que o coronavírus avance para as periferias das grandes cidades e municípios do interior. Até porque esses locais não dispõem nem de infraestrutura hospitalar e muito menos de especialistas em infectologia.

O Sistema Único de Saúde (SUS) é organizado em 451 regiões de saúde. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que 14,9% da população que depende exclusivamente do SUS não contam com nenhum leito de UTI na região em que moram, principalmente no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

As cidades pequenas também têm encontrado dificuldade de acesso aos dados de seus pacientes, pois dependem de hospitais e laboratórios de referência nas cidades maiores. Na Paraíba, os gestores locais precisam aguardar o resultado de exames encaminhados para o Instituto Evandro Chagas, no Pará, o que leva em média duas semanas.
Faltam testes

“Os municípios estão fazendo o trabalho de base, mas a falta de testes e resultados dificulta a ação. Muitas vezes um paciente pode ter Covid, mas não foi diagnosticado, então a família não é alvo das medidas de isolamento, por exemplo. Sem o resultado, não há toda a precaução que poderia haver no caso de ocorrências confirmadas”, explica Soraya Galdino, presidente da representação do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) na Paraíba e secretária municipal de Itabaiana, a 80 quilômetros da capital.

A falta desses dados dificulta inclusive a adoção de medidas de isolamento social para retardar a explosão do problema. “Lidamos com uma cultura populacional na qual as pessoas só se previnem quando têm um resultado confirmado”, lamenta Verônica Savatin, secretária de Saúde de Chapadão do Céu (GO), cidade com 10 mil habitantes.

Para ela os recursos, principalmente os testes, também devem ir para os municípios menores. “Tivemos uma guerra para dividir os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Claro que não dá para abandonar os grandes centros, mas o ministério poderia atentar um pouco mais para os municípios pequenos”, pondera.

Embora a ordem continue sendo a de enviar pacientes que necessitem de cuidados intensivos aos hospitais de referência das chamadas cidades polo, as redes regionais de saúde precisam ser reorganizadas tanto para atender a alta demanda quanto para realizar de forma segura as transferências. Em muitos municípios faltam UTIs móveis para transportar pacientes mais graves e também profissionais especializados para operá-las.

 

 

*Com informações do PT