Planejamento inclui envio de 500 homens de diversas forças e cerco logístico para impossibilitar permanência de garimpeiros na floresta.
Segundo O Globo, o governo Lula pretende começar nesta semana, de forma gradual, uma megaoperação para expulsar mais de 20 mil garimpeiros ilegais que permanecem como invasores na reserva indígena do povo Ianomâmi — a maior do país, com 96 mil quilômetros quadrados de extensão. Antes do efetivo sair em campo as autoridades vão tentar promover o chamado “estrangulamento logístico” da atividade irregular. Isto é, bloquear os acessos e desmontar os entrepostos que abastecem os garimpos com mão de obra, combustível e alimentos.
A ideia é que, sem os insumos, os criminosos se retirem do território sem precisar recorrer à força. Os primeiros garimpeiros saíram da região no fim de semana “espontaneamente”, divulgou o governo de Roraima. A ação de asfixia logística inclui, por exemplo, retenção de barcos que levam combustível para a região dos garimpos.
Múcio viaja na quarta
Diante do tamanho do território, que equivale a quase o estado inteiro de Pernambuco (98 mil km²), a ação deve contar com mais de 500 homens da Polícia Federal (PF), Exército, Marinha, Força Aérea Brasileira, Ibama, Funai e Força Nacional; e durar mais de dois meses. <SW>
O ministro da Defesa, José Múcio, viajará nessa quarta-feira, ao lado de comandantes militares, para marcar o início das ações.
A primeira parte deste plano já foi posta em ação na semana passada. A Força Aérea Brasileira (FAB) ativou a chamada Zona de Identificação de Defesa Aérea (ZIDA) no espaço da região. Aplicado principalmente para capturar aviões do narcotráfico, o procedimento envolve interceptar voos suspeitos que atravessem a chamada “área vermelha”. Se o piloto não atender às ordens nem aos tiros de advertência dos jatos da FAB, a aeronave pode ser abatida no ar. Situada em uma área de difícil acesso e florestas intactas em Roraima e Amazonas, boa parte dos garimpos são mantidos por aviões e helicópteros.
A outra parte do plano consiste em montar blitz nos rios para restringir o tráfego fluvial de balsas que também transportam insumos aos garimpos. O problema é que, na atual época das chuvas, a bacia amazônica se multiplica em diversos rios, igarapés e igapós que são utilizados pelos criminosos para desviar das autoridades.
A operação de estrangulamento também envolve a atuação de três agências federais: de Petróleo (ANP), de Aviação Civil (Anac) e de Telecomunicações (Anatel). A ANP fiscaliza a comercialização de combustível para as aeronaves e motores de garimpo. A Anac rastreia as rotas aéreas e aeródromos suspeitos. E a Anatel consegue mapear por monitoramento de radiofrequência a concentração dos garimpeiros no meio da selva.
Agentes de inteligência da PF, Ibama e Funai têm passado os últimos dias levantando dados sobre a localização das áreas de garimpo na reserva indígena. Eles contam com um sistema de imagens por satélite que mostra em tempo real a presença de dragas nos rios e áreas devastadas.
Em operações anteriores, a PF já mapeou mais de dez campos de garimpo espalhados pelos rios Homoxi, Uraricoera e Catrimani. Em uma das últimas incursões realizadas em 2021, os agentes se depararam com uma comunidade que mantinha mais de 2.000 pessoas, com uma infraestrutura de bares, lan house, oficina mecânica, prostíbulo, mercado e até um consultório odontológico, segundo relatório da Polícia Federal.
Um decreto do presidente Lula também permitiu “neutralizar”, ou seja, destruir o maquinário usado no garimpo, como retroescavadeiras.
As autoridades também devem tomar mais cautela em função da presença do crime organizado na região e possíveis reações por parte dos garimpeiros. Em maio de 2021, um bando munido de fuzis e balaclavas abriu fogo contra a comunidade ianomâmi de Palimiú. Desde aquela época, investigações policiais passaram detectar a iniciativa de membros de facções em se apropriar de campos de garimpo na terra ianomâmi, além de utilizarem o local para fugirem da polícia.
Fuga de garimpeiros
No fim de semana, o governo de Roraima informou que trabalhadores do garimpo ilegal começaram a deixar “espontaneamente” a terra indígena Ianomami, diante das notícias de que o governo federal deve retirar os garimpeiros da região.
Vídeos divulgados pelo governo estadual mostram trabalhadores do garimpo entrando em canoas para deixar o território, de acordo com o comunicado. Alguns, sem sucesso, ainda buscam voos clandestinos.
“São homens, mulheres e crianças que, tendo conhecimento das operações que deverão ocorrer nos próximos dias, resolveram se antecipar e evitar problemas com a Justiça”, diz o Estado.
No sábado, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, afirmou que o governo federal também acompanha a saída dos garimpeiros do local.
— Temos informações que garimpeiros já estão saindo. É bom que saiam, é bom que reduz nosso trabalho. São 20 mil garimpeiros para serem retirados — disse a ministra.
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