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Opinião

Celular de Mauro Cid expõe participação da ʽfamília militarʼ na engrenagem golpista

Mulheres e filhas de oficiais organizaram acampamentos e engrossaram atos contra a democracia.

A Polícia Federal começou a puxar mais um fio da máquina do golpe: a participação da chamada família militar nos ataques à democracia.

Os investigadores examinaram mensagens armazenadas no celular de Gabriela Cid. Ela é casada com o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, segundo Bernardo Mello Franco, O Globo.

O material ajuda a entender o papel de parentes de oficiais no processo que desembocou na depredação das sedes dos Três Poderes. E ainda dá novas pistas sobre o plano do capitão para impedir a posse do sucessor eleito.

Investigada pela falsificação de cartões de vacina, Gabriela Cid também ajudou a organizar o acampamento bolsonarista ao lado do Quartel-General do Exército. O local serviu como base para os atos de 8 de janeiro.

Numa das mensagens interceptadas pela PF, ela pede doações para os acampados. Em outras, tenta recrutar extremistas para “invadir Brasília”, o que levaria o então presidente a “agir”. “Convoca pelo amor de Deus as pessoas p Bsb”, escreveu Gabriela a uma amiga, 12 dias após a eleição do presidente Lula. “Temos que mudar o Brasil e as Forças Armadas estão ao nosso lado. Quem não puder vir p Bsb tem que ir p a frente dos quartéis”, acrescentou.

Em novembro de 2022, a mulher de Mauro Cid expôs sua receita para o golpe: cassar o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, e exigir “novas eleições com voto impresso”. “Estamos diante de um momento tenso onde (sic) temos que pressionar o Congresso”, escreveu.

Sua interlocutora era Ticiana Villas Bôas, filha do general tuiteiro Eduardo Villas Bôas. Em 2018, o então comandante do Exército usou as redes sociais para pressionar o Supremo a negar um habeas corpus a Lula. Meses depois, recebeu homenagens de Bolsonaro. “O senhor é um dos responsáveis por eu estar aqui”, disse o capitão.

A chamada família militar une ativos, inativos, pensionistas e dependentes. São quase dois milhões de pessoas que frequentam os mesmos clubes, vão às mesmas formaturas e votam nos mesmos candidatos ligados à caserna. Nos últimos anos, grande parte desse contingente passou a engrossar atos que pediam golpe e ditadura.

Até o 8 de janeiro, a presença de mulheres e filhas de oficiais serviu de pretexto para impedir a remoção dos acampamentos golpistas. As mensagens interceptadas pela PF evidenciam o erro dessa blindagem. Enquanto as autoridades faziam vista grossa, parentes de militares incitavam e cometiam crimes sem ser incomodados.

Mais grave que a ação das vivandeiras foi a participação de oficiais da ativa na engrenagem golpista. O celular de Mauro Cid fornece provas contra outros personagens que desonraram a farda, como o major Fabiano da Silva Carvalho e o tenente-coronel Marcelino Haddad.

Numa das mensagens mais reveladoras, o coronel Jean Lawand Junior deixa claro que o golpismo não se nutria apenas do desprezo pela democracia. Também era visto como saída para livrar Bolsonaro de responder por seus desmandos na Presidência. “Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso. O presidente vai ser preso. E pior: na Papuda”, anotou o militar.

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Bolsonarismo

Presença da esposa do general Villas Bôas em atos comprova ativismo golpista da “família militar”

Em vídeo divulgado por um bolsonarista amotinado presumivelmente em frente ao Quartel General do Exército em Brasília, a senhora Villas Bôas é chamada de “celebridade” e tratada como a “esposa de uma celebridade”.

Uniformizada de patriota, ela demonstrava se sentir em casa, bem à vontade. Depreende-se, pela apresentação do locutor, que no momento ela estava acompanhada de um primo e respectiva esposa, mas não fica claro se é primo dela ou do general.

O locutor se refere ao tal primo, também devidamente paramentado de patriota, como alguém que “tá aqui orientando a gente, guiando a gente”. No trecho final do breve vídeo, a senhora Villas Bôas se despede com o tradicional brado “Selva!”.

A presença da esposa do general-conspirador Villas Bôas em atos considerados ilegais e criminosos, porque atentam contra o resultado eleitoral, as instituições e a democracia, é um indício muito significativo do ativismo golpista orgânico e central da “família militar”.

Villas Bôas é uma das vozes mais ensandecidas e, talvez, justamente por isso mesmo, uma das vozes mais respeitadas dentre os defensores das “pessoas identificadas com o verde e o amarelo” que se aboletam em frente aos quartéis “pedindo socorro às Forças Armadas”, como o próprio postou no twitter em 15 de novembro.

A conivência dos comandos militares com atos ilegais promovidos em áreas militares decorre, por um lado, do interesse e do empenho direto deles em instalar o caos para pretextarem a intervenção das Forças Armadas. É amplamente conhecido hoje que as cúpulas militares são a principal fonte de alimentação do clima de caos e baderna, como reforça a mensagem dos comandantes das três Forças “Às Instituições e ao Povo brasileiro” [11/11].

Por outro lado, a cumplicidade dos comandos militares com os baderneiros amotinados em frente aos quartéis deriva do fato de que grande contingente desses amotinados pertence à “família militar” – são filhos, pais, sobrinhos, primos, tios, parentes, amigos de militares.

É até compreensível que se rebelem. Afinal, tinham planos de um poder eterno, e agora estão seriamente preocupados em como pagar a fatura do cartão de crédito, as prestações de dívidas, de consórcio etc, pois perderam as quase 10 mil boquinhas de cargos comissionados e salários-duplex e extra-teto, além de outras facilidades, mordomias e prestígio.

Não se pode esperar, por isso, que os comandantes autorizarem a Polícia do Exército a proceder como corresponderia proceder no caso, ou seja, desocupando as áreas militares que estão ocupadas ilegalmente e, além disso, para propósitos ilícitos e em associação criminosa.

Se depender das cúpulas fardadas, aliás, esses atos deverão continuar acontecendo livremente, pois faz parte do plano para instalar tumulto, caos e conflito no país. É o que garantiu o general André Campos Allão, comandante da 10ª Região Militar/CE.

Em vídeo no qual se dirige às tropas, este general defende os baderneiros e desafia o judiciário. Ele promete proteger os manifestantes “ainda que existam ordens de outros poderes no caminho contrário”.

Fosse o Exército Brasileiro uma instituição comandada por oficiais legalistas, profissionais, sérios e confiáveis, o general André Allão teria sido imediatamente afastado do posto de comando, seria submetido a procedimento disciplinar e, finalmente, expulso do Exército.

No entanto, o general Allão deverá gozar da mesma impunidade assegurada ao Pazuello, que mesmo sendo general da ativa, participou de motociata e comício partidário com Bolsonaro.

A Câmara dos Deputados precisa convocar o Comandante do Exército urgentemente. Em primeiro lugar, os deputados têm de cobrar dele as providências adotadas em relação a este perigoso ataque ao Estado de Direito.

*Com DCM

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