Confronto visa medidas restritivas para tentar conter a pandemia, que foram adotadas por estados comandados por opositores de Jair Bolsonaro.
Lideranças policiais alinhadas ao discurso do presidente Jair Bolsonaro vêm confrontando medidas de combate à Covid-19 determinadas por governadores que fazem oposição ao governo federal. A tentativa de incitar setores das polícias contra o Executivo estadual, pano de fundo dos protestos após a morte na Bahia do soldado Wesley Santos, no último domingo, também aparece em estados como Ceará, Paraíba, Pernambuco e Espírito Santo.
Segundo analistas e até membros da bancada da bala, há uma tentativa de “politizar” queixas históricas da Polícia Militar, ligadas a questões salariais e estrutura de trabalho, para conservar o apoio ao presidente. O discurso encontra mais eco nas patentes mais baixas e resiste mesmo diante de insatisfações com a PEC Emergencial, que prevê congelamento de salários.
Na Bahia, o deputado estadual Capitão Alden (PSL) liderou uma manifestação de policiais na quarta-feira que, embora negasse “partidarismo político”, conclamava os agentes a “lutar contra governos que tentam impor medidas inconstitucionais”. A fala é um ataque a ações como lockdown, toque de recolher e fechamento do comércio, atribuições conferidas a governadores e prefeitos na pandemia, segundo decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Outro deputado baiano, Soldado Prisco (PSC), que chegou a ser expulso da PM por participar de motins, tentou associar decretos do governador Rui Costa (PT) à morte do soldado Wesley — antes de atirar na direção de agentes do Bope e ser neutralizado, o policial gritou não querer “prender trabalhador”. O discurso foi amplificado por aliados de Bolsonaro. Mesmo sem evidências, a presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, Bia Kicis (PSL-DF), ligou a morte do PM a uma resistência a “ordens ilegais”. Criticada nas redes e por colegas, ela apagou a publicação.
Em pronunciamento, Rui Costa lamentou as “mentiras e ameaças” contra ele e outros governadores. O Ministério Público acompanha as investigações que apuram as circunstâncias do aparente surto psicótico do PM e da reação do Bope.
Além de Alden e Prisco, que se apresentaram como apoiadores de Bolsonaro na última eleição, outras lideranças alinhadas ao presidente usaram o episódio para fustigar governadores de seus estados. No Espírito Santo, o deputado Capitão Assumção (Patriota), que liderou uma paralisação da PM em 2017, alegou que o governador Renato Casagrande (PSB) também tenta “jogar a polícia contra o trabalhador” com medidas restritivas. O deputado paraibano Cabo Gilberto Silva (PSL) acusou governadores de tentarem “rasgar a Constituição”.
— O que aconteceu na Bahia não é caso isolado. Os governadores, especialmente no Nordeste, querem desgastar o presidente — disse.
*Com informações de O Globo
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