O presidente da CPI da Covid, o senador Omar Aziz (PSD-AM), não errou ao afirmar que “membros do lado podre das Forças Armadas estão envolvidos com falcatrua dentro do governo” e que os honestos devem estar muito envergonhados.
Toda categoria profissional, todo grupo social, tem pessoas honestas e desonestas. Negar isso é encarar a si mesmo como detentor de uma natureza divina.
Ao invés de tentar intimidar o Senado Federal com uma nota indignada que ameaça o Poder Legislativo, o ministro da Defesa e a cúpula das Forças Armadas gastariam melhor o seu tempo depurando suas próprias fileiras. Pois há militares que, com sua ação e inação, foram cúmplices tanto da montanha de 527 mil mortes por covid, como o general Eduardo Pazuello, quanto da corrupção na compra de vacinas.
Aziz não fez uma generalização, como está sendo acusado, apenas deixou claro o que todo mundo está vendo com os escândalos que estão sendo revelados pela CPI. Isso sem contar o envolvimento de militares em outros problemas, como grupos de milicianos no Rio de Janeiro.
“Essa narrativa, afastada dos fatos, atinge as Forças Armadas de forma vil e leviana, tratando-se de uma acusação grave, infundada e, sobretudo, irresponsável”, diz a nota. Mostra, dessa forma, o quanto ela está afastada dos fatos, pois a CPI está nadando em terabytes de dados e provas.
O texto termina dizendo que “as Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às Instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro”.
Melhor fariam se, ao invés disso, afirmassem que não vão aceitar que militares sejam cúmplices na promoção de necropolíticas negacionistas ou se envolvam em negociatas de vacinas.
Troca de comando e a Pazuellada
A nota é exatamente aquilo que Bolsonaro esperava do ministro da Defesa, general Braga Netto, ao coloca-lo no lugar do general Fernando Azevedo e Silva em março. E ao provocar a substituição dos três comandantes das Forcas Armadas. Desejava alguém que saísse em sua defesa e em oposição a quem o fiscaliza e o investiga.
Enquanto isso, o Exército, a maior das forças, que também assumiu um papel de enfrentamento diante do Senado Federal, abaixou a cabeça para a Presidência da República ao absolver o general Eduardo Pazuello. O ex-ministro da Saúde ignorou as regras da corporação ao participar de uma micareta eleitoral com o presidente no Rio de Janeiro. Ficou por isso mesmo.
Uma das justificativas que circularam é que ajoelhar-se a Bolsonaro foi a saída encontrada para evitar um mal-estar que levaria à substituição do comandante do Exército por outro general que, por sua vez, se ajoelharia à Bolsonaro.
Na prática, Bolsonaro jantou o Exército de olho na sobremesa: o alinhamento de grandes contingentes das forças policiais às suas necessidades e uma possível insubordinação deles em relação aos governos estaduais. Devorador de instituições, o presidente vai dobrando-as em nome de seu projeto de poder. Tudo pensando nas eleições de 2022.
Lentamente, as instituições que não podem ser domesticadas pelo bolsonarismo vão sendo consideradas inimigas, tornando-se alvo de pedidos de fechamento por parte de seguidores fanáticos do presidente, como é o caso do Supremo Tribunal Federal.
O Congresso Nacional era apontado constantemente como um desses inimigos. Em abril do ano passado, um ato golpista, realizado em frente ao quartel-general do Exército, com a participação do presidente da República, pedia um novo AI-5 contra os parlamentares.
A pancadaria contra o Congresso foi bastante reduzida após o acordo de aluguel de Bolsonaro com o centrão ser firmado com a eleição de Arthur Lira (PP-AL) à Presidência da Câmara dos Deputados. Mas a CPI da Covid é um espaço em que o bolsonarismo é minoria. E isso enfurece Jair.
Ao divulgar a nota, o comando das Forças Armadas acaba não protegendo os seus, muito menos a imagem positiva que elas têm junto à maioria da população, mas os interesses de Bolsonaro.
Poderiam atuar para evitar que os militares se tornem engrenagens na máquina bolsonarista de moer gente e caráter. Poderiam.
*Leonardo Sakamoto/Uol
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