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Brasil à beira do apagão

A situação ficou mais crítica do que se estimava até início de julho e tempos serão bicudos.

Ainda é possível evitar um racionamento estrito de eletricidade, dizem entendidos no assunto, hoje no setor privado, mas que já tiveram altos cargos na administração do setor elétrico em vários governos, desde FHC. O racionamento no sentido mais geral, por meio de aumento de preços e mudanças de horário de consumo de grandes empresas, já começou.

Uma nova providência de racionamento menos duro deve ser adotada no começo de setembro, se Jair Bolsonaro deixar (o dito presidente da República não quer más notícias antes da pororoca que sua turma quer promover no 7 de Setembro).

Consumidores residenciais e, em geral, empresas menores podem receber um prêmio se reduzirem o consumo. Quem paga essa conta? Não há previsão orçamentária ou plano de crédito extraordinário para isso. Logo, algum outro consumidor vai pagar. Ainda está indefinida a meta de redução de consumo (há quem sugira 5% até o fim do período de chuvas no Centro-Sul do país, em março ou abril, a não ser que caia um dilúvio até lá).

Especialistas do setor elétrico ouvidos por este jornalista dizem, na maioria, o seguinte:

1) implementar o racionamento agora ou em breve é antecipar um prejuízo econômico que ainda pode ser evitado (racionamento entendido aqui como redução obrigatória de consumo);

2) o fim de setembro é uma data crítica para que se tome uma decisão de racionar, mas é preciso elaborar um plano desde já;

3) é possível administrar o sistema “no osso” até novembro, “como aliás tem sido feito em Nova York ou na Califórnia”, diz um especialista, se o plano proposto pelo Operador Nacional do Sistema (o “diretor de tráfego” da eletricidade no país) for executado. Mas o risco de blecautes vai ser muito grande; dezembro depende da chuva;

4) é preciso desde já insistir em reduções de consumo, voluntárias ou incentivadas;

5) o governo não pode politizar o assunto e tem de mostrar mais rapidez na ação. Hum.

A situação ficou mais crítica do que se estimava até início de julho. Em suma, chegou menos água nos reservatórios do Sudeste e do Sul do que se previa; 2021 tem sido pior do que 2020 em termos de água.

As previsões do tempo são mais ou menos precisas para o prazo de 15 dias (e não são boas). Depois disso, é névoa, talvez seca: é difícil saber o que virá de chuva. Para piorar, o consumo cresce com a reabertura da economia e em breve virá o calor.

As medidas propostas pelo ONS incluem o aumento extraordinário da “exportação” de eletricidade do Norte e do Nordeste para o Sul e o Sudeste; importação de mais energia de Argentina e Uruguai; contratação de mais energia de usinas térmicas, o quanto possível (do que se vai saber um pouco mais só na semana que vem); adiar a manutenção de usinas e equipamentos em geral necessários à produção de energia; redução do uso da água dos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste (o que tem implicações ambientais e econômicas).

Em resumo, um racionamento depende de Bolsonaro não dar uma patada no setor elétrico, que as autoridades da área sejam rápidas, que usinas térmicas não pifem, que venha energia bastante dos vizinhos do Mercosul (bom dia, Paulo Guedes!), que o período chuvoso não atrase como em 2020, que exista um plano de incentivo de redução do consumo (que vai custar caro para alguém). Se der um probleminha nesses postes gigantes de luz no meio do nada ou muita gente ligar o ar condicionado, digamos, pode ter blecaute, apagão transitório.

“Tá tranquilo, tá favorável”, como dizia o MC Bin Laden em um sucesso pop do ano de 2017. Só piorou, desde então.​

*Vinicius Torres Freire/Folha

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