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Ataque a Israel reconfigura a política na região

Pano de fundo são as conversações para a normalização de relações entre o país e a Arábia Saudita.

O ataque do Hamas a Israel traz um abalo sísmico na política do Oriente Médio. No curto prazo, a população israelense deverá se unir em torno do premiê Binyamin Netanyahu para dar uma resposta ao grupo terrorista (“rally’round the flag”). Mas essa é uma tarefa extremamente complexa tanto do ponto de vista militar como político.

Os israelenses não podem simplesmente despejar toneladas de bombas sobre Gaza, como fariam em condições normais. O Hamas capturou mais de uma centena de reféns e os espalhou pela área.

Netanyahu também precisa ser cuidadoso para não alienar o incomum apoio político que Israel conseguiu angariar. Uma incursão terrestre é provável, mas não sem muitas baixas entre os israelenses. Cenários mais tenebrosos incluem uma escalada, com o envolvimento militar do Hizbullah e eventualmente até do Irã.

Mais à frente, Netanyahu será cobrado por seus erros. Os serviços de inteligência fracassaram espetacularmente. Quando algo parecido aconteceu, 50 anos atrás, na Guerra do Yom Kippur, o governo de Golda Meir caiu poucos meses depois. Foi o começo do fim da hegemonia dos trabalhistas. Não é impossível que os israelenses se deem conta de que a estratégia da direita de apenas administrar o conflito com os palestinos não é sustentável, levando à eleição de uma administração que volte a discutir seriamente a paz, não com o Hamas, é claro, mas com outros grupos palestinos.

O pano de fundo geopolítico são as conversações para a normalização de relações entre Israel e Arábia Saudita. Por ora, elas ficam congeladas, como queriam o Hamas e o Irã. Dependendo do que acontecer nas próximas semanas e meses, podem colapsar inteiramente ou até acabar sendo fortalecidas, o que favoreceria uma solução negociada para o surgimento de um Estado palestino.

Gostaria de acreditar na segunda possibilidade, mas ninguém jamais perdeu dinheiro por apostar contra a paz no Oriente Médio.

*Hélio Schwartsman/Folha