Mês: julho 2019

Tiro no pé – A tenebrosa madrugada do ex-juiz Sergio Moro

Por Marcio Augusto D. Paixão

Imaginem a madrugada de Sergio Moro entre a noite do dia 24 e a manhã do dia 25 de julho. No dia 24, a Polícia Federal prende estelionatários (a essa altura, já temos informações suficientes para não chamá-los de “hackers”) que invadiam contas de Telegram pertencentes a autoridades – e então Sergio Moro comemora nas redes sociais, pois imaginava que constituiria uma “virada de jogo” em relação à Vaza Jato; afinal, sempre esteve acostumado a desqualificar os adversários ideológicos pelo método de imputar-lhes as pechas de “criminosos” e “corruptos”, e o circo estava armado para passar a fazer isso com Glenn Greenwald.

Ao fim do dia, Moro começa a perceber a furada sem tamanho em que se meteu. Com a apreensão dos computadores dos golpistas pela PF, as mensagens de Telegram extraídas da conta de Deltan Dallagnol serão autenticadas e estarão integralmente disponíveis para os advogados de pessoas acusadas na Lava Jato, inclusive os da defesa de Lula, para que sejam usadas a fim de anular os processos criminais em relação aos quais houve quebra da regra de imparcialidade do juiz (já falei sobre isso – https://bit.ly/2YwjSku e https://bit.ly/32TTIb2).

Assim, Moro passa a perceber que: (I) depois de dois meses negando a autenticidade das mensagens, elas serão autenticadas por órgãos oficiais; (II) o material poderá ser usado em prol dos acusados, o que era difícil até aquele momento; (III) provavelmente alguns processos criminais serão anulados em razão da suspeição do juiz – o que representa uma mácula indelével a qualquer (ex-)magistrado; (IV) até o Supremo Tribunal Federal reconhecerá que era suspeito para julgar alguns casos; e (V) o ex-presidente Lula provavelmente será solto.

Essas cinco consequências gerariam a desmoralização dele, como nunca antes vista em relação a um Ministro da Justiça: comprova-se que era um mentiroso (quando negava a veracidade das mensagens), e que nunca foi imparcial quando juiz – acarretando até a soltura do ex-presidente cuja prisão representa um troféu para o bolsonarismo.

Mas não para aí. Em uma das mensagens vazadas, Moro disse a Dallagnol que “duvidava da sua capacidade institucional de limpar o Congresso Nacional”. Ao se lembrar disso, imagino eu que lá pela madrugada, Moro se desesperou – porque essa é a única mensagem que, caso seja verdadeira, pode derrubá-lo do cargo e jogá-lo ao ostracismo. Ficará difícil para Bolsonaro decidir comprar uma briga com o Congresso Nacional só para manter Moro, quando pode trocá-lo por qualquer outro juiz da Lava Jato sem que haja maior prejuízo perante sua militância bolsonarista (como, por exemplo, Marcelo Bretas – que chegaria agradando evangélicos).

A única solução que restou a Moro consistia na destruição dessas mensagens apreendidas pela PF, e passou o dia de ontem operando desesperadamente com esse propósito. Telefonou a dezenas de autoridades para avisar-lhes que elas haviam sido hackeadas, com o objetivo de tentar obter apoio institucional para seu discurso de que “as mensagens devem ser destruídas” (repito, única providência apta a garantir que permaneça no cargo), alegando razões que vão desde a segurança nacional até a inviolabilidade da privacidade das vítimas. Moro sabia que a destruição das mensagens depende de uma decisão judicial, mas também sabe que essa só virá na velocidade desejada (antes que os advogados obtenham cópias) se houver amplo apoio institucional.

Não suficiente, o desespero fez com que ficasse matutando sobre meios de usar do cargo para intimidar Glenn Greenwald, o que resultou na edição de uma “coincidente” portaria dispondo sobre os casos em que estrangeiros deverão ser deportados/repatriados do país por força de práticas criminosas. Conquanto essa portaria não deva se aplicar a Glenn – porque é residente no Brasil, casado com brasileiro e pai de brasileiros (art. 55 da Lei de Migrações) – é evidente que foi editada para constrangê-lo e para atiçar a militância bolsonarista que opera contra ele.

Considerada a oportunidade em que publicada a portaria, não resta dúvidas quanto ao propósito intimidatório: ela consiste no único ato publicado pelo Ministro da Justiça no Diário Oficial da União de hoje (https://bit.ly/2YtpsV0). Sim, isso mesmo: não há mais nenhum documento que tenha sido assinado ontem pelo Ministro da Justiça e publicado hoje no Diário Oficial. Imaginem ele, em meio a tamanha crise, tendo tempo para revisar e assinar somente essa portaria – é porque ela é também fruto da crise.

Sergio Moro, ontem, teve seu dia de político delinquente comum: passou o dia em seu gabinete concebendo estratégias para apagar os rastros de seus atos ilícitos e abusando do cargo para se proteger e constranger adversários. Atuou como típico tiranete mafioso de terceiro-mundo; operou como Eurico Miranda em uma eleição para direção do Vasco da Gama.

(DoFacebook de Márcio Augusto D. Paixão)

*Blog do Edney

Glenn Greenwald: “As únicas pessoas que cairão no jogo cínico de Moro são aquelas que querem cair”

Por Glenn Greenwald, em suas redes sociais

Sérgio Moro – sendo Sérgio Moro – está tentando cinicamente explorar essas prisões para lançar dúvidas sobre a autenticidade do material jornalístico. Mas a evidência que refuta sua tática é muito grande para que isso funcione para qualquer pessoa. Vamos revisá-la:

Primeiro, lembre-se que no dia em que publicamos, nem Moro nem LJ negaram a autenticidade do material. Eles apenas negaram impropriedades. Foi só mais tarde que eles inventaram essa tática, quando perceberam que seus aliados estavam abandonando-os. Como a Folha reportou:

Depois, a Folha trabalhou “lado a lado” com a nossa equipe e verificou a autenticidade do arquivo – inclusive comparando os chats dos seus repórteres com os promotores com o original. Como qualquer hacker poderia forjar isso? Obviamente, isso seria impossível.

Depois da investigação da Folha, Veja fez a mesma coisa, e concluiu a mesma coisa: o material é autentico, e contém coisas que um hacker nunca conseguiria forjar, inclusive conversas com seu próprios repórteres. Autentico “palavra por palavra”

Depois que Veja e Folha provaram de forma independente a autenticidade, um procurador do MPF disse ao Correio Brasiliense que recuperou as conversas de seu telefone, comparou-as com o que publicamos e descobriu que elas eram completamente verdadeiras. Como um hacker poderia forjar isso?

Então temos o BuzzFeedBrasil. Duas vezes designaram uma equipe de jornalistas investigativos para determinar se o que publicamos correspondia ao que se sabe sobre a LJ. Ambas as vezes concluíram que o material que publicamos estava alinhado com todos os eventos conhecidos.

Temos então a distinta senadora, Mara Gabrilli, que confirmou que a mensagem dela que publicamos era, na verdade, totalmente precisa. Como, Sérgio Moro , seus hackers poderiam ter forjado algo assim?

Todos nos lembramos do Faustão: ele confirmou sem hesitação a mensagem que enviou a Moro, publicada pela Veja. Obviamente, não havia como um hacker forjar isso. Esta é mais uma prova de que o material é autentico.

Ainda nesta semana, mais uma confirmação veio de um ministro do STF: o ministro Barroso confirmou que a reunião privada entre ele, Moro e LJ – publicada a partir do arquivo – aconteceu. Não há como um hacker forjar isso.

Não nos esqueçamos de que o próprio Moro – relutante mas claramente – admitiu várias vezes que as mensagens secretas eram reais. Ele confessou dar sugestões a DD sobre testemunhas e se desculpou com a MBL por chamá-las de “tontos” – coisas que um hacker não poderia saber.

Finalmente, temos a mais forte evidência de todas: uma reportagem investigativa completa do El Pais no qual eles não apenas confirmaram a autenticidade das mensagens, mas também entrevistaram um outro procurador do MPF que confirmou que as mensagens são reais.

Quão mais conclusivo pode ser? As únicas pessoas que cairão no jogo cínico de Moro são aquelas que querem cair. Qualquer um com a mínima racionalidade revisará essa evidência e verá facilmente que – como todos os jornalistas concluíram – ela é autêntica e bem incriminadora.

 

*Do Mídia Ninja

Faltam elementos no relato de hacker, afirmam especialistas em segurança digital

Método descrito por Walter Delgatti Neto à PF demandaria “conhecimento sofisticado” e mais tempo para chegar à cúpula da República.

Walter Delgatti Neto, de 30 anos, mais conhecido como Vermelho —ou, agora, como o hacker de Araraquara—, descreveu à Polícia Federal como, de maneira autodidata, conseguiu chegar, supostamente, ao aparelho celular do procurador da República Deltan Dallagnol, depois de hackear também nomes como o da ex-presidenta Dilma Rousseff ou do presidente do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. No depoimento que deu às autoridades, obtido pela GloboNews, Delgatti Neto conta que acessou a caixa postal das vítimas para conectar-se às suas contas no Telegram. No entanto, especialistas em segurança digital ouvidos pelo EL PAÍS apontam incoerências entre o relato e o modus operandi necessário para uma invasão dessa importância e com tamanha abrangência. De acordo com a PF, outras 1.000 pessoas teriam sido alvo da “organização criminosa” composta por Delgatti Neto e outras três pessoas detidas na terça-feira—outros seis indivíduos são investigados—.

Daniel Lofrano Nascimento, que atua há mais de 15 anos no setor de cibersegurança (já foi hacker e hoje é dono da consultoria de segurança digital DNPontoCom) é taxativo: “A narrativa descrita por ele é muito improvável”. Além de considerar o método de invasão por caixa postal “ultrapassado” —que não seria usado por um hacker com capacidade de chegar aos principais nomes do cenário político nacional—, Nascimento explica que demandaria mais do que poucos meses para executá-lo. “Eles ligaram para mais de 1.000 caixas postais, uma por uma, em poucos meses? É muito trabalho. Não dá para hackear 1.000 telefones, mesmo que estivermos falando de quatro hackers de ponta. É um número altíssimo. E ninguém considera eles hackers ou crackers . Segundo a própria PF, são estelionatários”, argumenta o especialista.

A técnica que teria sido usada por eles e deu nome à operação da PF, o Spoofing —”falsificação tecnológica que procura enganar uma rede ou uma pessoa fazendo-a acreditar que a fonte de uma informação é confiável quando, na realidade, não é”— tem versões mais comuns, principalmente por computador. “O golpe mais comum é quando você acha, por exemplo, que está acessando determinado site de internet banking, mas não está nele e, sim, em uma página que foi construída. Para o usuário, este aparenta ser o site do banco, mas, na verdade, é um site falso para roubar dados sigilosos”, explica José Ricardo Bevilacqua, diretor da Control Risks, especialista em segurança digital, no Brasil.

A hipótese de Daniel Nascimento é que um ataque como esse foi feito por meio de invasão a operadoras telefônicas e clonagem de chips, que, segundo ele, funciona como um espelhamento do celular, permitindo clonar automaticamente o e-mail e o número da vítima. “É possível fazer isso através de um chip virgem. Eles invadem a operadora, descobrem o número da vítima no chip e este número fica ativo em dois aparelhos ao mesmo tempo. Daí você tem as informações associadas ao tal número”. Neste caso, os hackers não teriam usado a caixa postal, mas solicitado o código do Telegram via SMS, que teria chegado no chip clonado. Esse é um dos procedimentos de recuperação do Telegram, o que não acontece com plataformas como WhatsApp, Google Drive ou iCloud, que solicitam um PIN para permitir o acesso. “Mas invadir uma operadora exige muito conhecimento técnico. Me causa estranheza, porque mesmo um hacker excelente demoraria mais tempo para fazer isso”, pondera Nascimento.

Kalinka Castelo Branco, professora de Sistemas da Computação do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP não descarta a hipótese de acesso ao Telegram das vítimas por meio da caixa postal, mas ressalta: “Não é um ataque comum nem trivial. Requer conhecimento técnico muito sofisticado”. Além disso, Castelo Branco vê práticas incomuns para um grupo com potencial de hackear a cúpula da República. “O que a maioria dos atacantes faz quando obtém esse código é trocar todas as senhas para bloquear o acesso da vítima. Não foi o caso”.

Castelo Branco também questiona a abrangência do ataque. Segundo a especialista, para atingir mais de 1.000 pessoas, entre elas alguns dos nomes mais importantes dos panoramas político e jurídico nacional, o mais provável seria o que descreve como um “ataque zumbi”: uma invasão de várias máquinas de terceiros, não necessariamente relacionados com os alvos finais do hackeamento, para controlá-las e usá-las para chegar aos dispositivos das vítimas. “Outra opção é que o grupo tivesse acesso físico aos dispositivos dessas autoridades ou houvesse proximidade geográfica que permitisse acesso à mesma rede Wi-Fi que elas usam, por exemplo”, acrescenta.

Os especialistas explicam que o passo a passo para invadir o dispositivo de um cidadão comum ou de uma figura de alta patente política é, em teoria, o mesmo. Ressaltam, no entanto, que surpreende que autoridades que ocupam altos cargos políticos e jurídicos não utilizem meios mais potentes de segurança. A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) recomenda aos membros do Executivo o uso de celulares encriptados, que não dispõem de aplicativos de mensagens, mas é sabido que há resistência por parte das autoridades em usar tais dispositivos. Depois dos vazamentos, tanto o ministro da Justiça, Sergio Moro, quanto o presidente Jair Bolsonaro passaram a usar esses celulares.

Para Castelo Branco, outro fator chave para entender o caso é a cultura de uso de aplicativos e grupos de mensagens no Brasil. “Nos casos internacionais de hackeamento, tanto os métodos de segurança como a técnica utilizada pelos invasores era mais sofisticada”, lembra. Ela se refere ao vazamento de e-mails enviados de um servidor particular de Hillary Clinton durante sua gestão como secretária de Estado americana, de 2009 a 2013, e à invasão de informações da chanceler alemã, Angela Merkel, no início deste ano.

Uma das principais dúvidas sobre o caso diz respeito a mensagens supostamente apagadas. Delgatti Neto afirma que interceptou diálogos entre março e maio deste ano. Moro alega que não usava o Telegram desde 2017, e o Telegram diz que a política da plataforma é apagar o conteúdo de um perfil que não tenha sido utilizado em seis meses. José Ricardo Bevilacqua explica: “Quando fazemos perícia, sempre tentamos recuperar informações do dispositivo. Na nuvem, o backup armazena mensagens. Nesse caso, é possível recuperá-las, mas, uma vez mais, isso é trabalho para profissionais”.

 

 

*Do El País

Dallagnol na esbórnia: “vou ficar rico; há risco sim, mas o risco tá bem pago rs”

“Vou ficar rico; há risco sim, mas o risco tá bem pago, rs”

Dallagnol, nesta frase, personificou a cena trágica em que vive o Brasil, sem pernas, sem braços, sem cabeça institucional.

Todos os homens das instituições de controle no Brasil viraram bonecos de ventríloquos do sistema financeiro. E ainda tem gente que aplaude a consumação dessa tragédia, porque deu um golpe em Dilma e prendeu Lula sem qualquer prova de crime.

Isso se transformou numa rinha de classe com os pitbulls do mercado provocando chacinas institucionais, sobretudo dentro do aparelho judiciário do Estado  brasileiro.

Não deixa de ser a consumação de séculos de um poder que sempre serviu à oligarquia. O fato novo é que o lado oculto da lua foi revelado pelo Intercept.

Curiosamente não foi por motivação partidária de direita nem de esquerda, mas por um hacker saliente que capturou coisas que até Deus duvidaria nas sombras do Telegram.

São tantos os figurões que ele apanhou que Moro resolveu chantageá-los como se ele fosse uma bomba amarrada ao corpo de cada um que, se explodisse, levaria as almas dos figurões dos intermúndios das sombras para uma temporada no inferno.

Isso é o Brasil, minha gente! Aquele que traz o brasão, o país que baniu qualquer sentido ético, qualquer sopro de humanismo, qualquer coisa se entenda como civilização. É selvageria em estado puro.

Fux, com aquela soberba nabiça, soma-se a essa salada de batatas, de joelhos para os banqueiros, com vocábulos já naturalizados pelo mercado em que a clandestinidade se transforma, na língua dos conspiradores, em confidencialidade e o vernáculo dos vigaristas ganha aquele verniz elegante, podre de chique.

E o que se faz em um umbral desses? Come-se, bebe-se, dança-se e conspira-se contra um país inteiro. Isso tudo é produto da podridão institucional deste país, na justa medida da escória da “alta sociedade” com sua elegância e requinte de crueldade contra o sentimento de milhões de brasileiros, que sentem no lombo o preço do cardápio oferecido a Fux e Dallagnol pelos banqueiros em troca de meia-dúzia de dinheiro.

Como? Tirando Lula da disputa e impedindo-o até de dar entrevistas, mantendo-o sequestrado numa solitária para fazer zarpar a grande estrela das sombras ligadas ao crime mais hediondo do país, que são as milícias.

Para Dallagnol e Fux não há desonra nisso, é uma questão de sobrevivência, como mostra o riso “rs” comiserado de Dallagnol na mensagem. Enquanto isso, aqui fora, os pobres diabos miseráveis suam de sol a sol para levar um pedaço de pão para casa, num país cravejado de miséria que Bolsonaro, o presidente dessa escória, diz não existir.

 

 

*Por Carlos Henrique Machado Freitas

 

 

 

“O Brasil Agradece” Esta é uma das mensagens dos outdoors, em favor da Lava Jato, patrocinados por procurador da Força-tarefa

Em depoimento à Polícia Federal nesta semana, o hacker Walter Degatti, preso em Araraquara, revelou o financiamento ao acessar conversas particulares entre o procurador Diogo Castor e seus colegas.

O procurador da República Diogo Castor de Mattos foi afastado da força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná porque participou do financiamento de outdoors com uma campanha de apoio à Lava Jato, que os próprios colegas entenderam ser conflituoso com o exercício da função. A história foi revelada pelo hacker que teve acesso a mensagens privadas do grupo, Walter Delgatti Neto, durante depoimento à Polícia Federal nesta semana, e confirmada na noite desta sexta à coluna por duas fontes da Lava Jato.

O outdoor foi instalado em março deste ano na rodovia de acesso ao aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. A peça trazia imagens de nove procuradores e a seguinte mensagem, sem assinatura: “Bem-vindo a República de Curitiba – terra da Operação Lava Jato – a investigação que mudou o país. Aqui a lei se cumpre. 17 de março, cinco anos de Operação Lava Jato – O Brasil Agradece”.

Na época, coletivos de advogados criticaram a veiculação do outdoor por entender que ela feria “o princípio constitucional da impessoalidade”. Eles cobraram investigação sobre a autoria e a forma de financiamento do outdoor.

Reportagem de Thiago Herdy, na revista Época, informa que, em depoimento à Polícia Federal nesta semana, o hacker Walter Degatti, preso em Araraquara, revelou o financiamento ao acessar conversas particulares entre o procurador e seus colegas.

Porém, na época, seus colegas justificaram a saída por conta de uma recomendação médica, sem mencionar a questão dos outdoor, que foi instalado em março. Na ocasião, coletivos de advogados criticaram a veiculação da peça por entender que ela feria “o princípio constitucional da impessoalidade”.

A saída de Castor ocorreu também pouco tempo depois da publicação de um artigo de sua autoria no site “O Antagonista”, com críticas ao risco de o Supremo Tribunal Federal (STF) transferir para Justiça Eleitoral a apuração de crimes de caixa 2, mesmo quando houvesse indícios da coexistência de crimes como lavagem de dinheiro, corrupção e pertencimento à organização criminosa.

 

*Com informações do DCM/Época

Vídeo: família de Bolsonaro usa helicóptero da FAB para ir a casamento e ele chama de “idiota” a pergunta de repórter

Bolsonaro correu para carro da comitiva presidencial após perguntas sobre uso de helicóptero da FAB que levou parentes para a festa de casamento do filho, Eduardo. Nesta sexta, presidente participou de formatura do sobrinho em escola militar de Goiás.

Irritado, Jair Bolsonaro encerrou entrevista coletiva nesta sexta-feira (26) após classificar como “idiota” uma pergunta feita por jornalista sobre o uso de um helicóptero da FAB (Força Aérea Brasileira) por seus familiares para ir à festa de casamento do filho, Eduardo Bolsonaro.

“Com licença, estou numa solenidade militar, tem familiares meus aqui, eu prefiro vê-los do que responder uma pergunta idiota para você. Tá respondido? Próxima pergunta”, disse, interrompendo a pergunta antes mesmo de sua conclusão.

“Eu vou falar de Brasil e de Goiás. Eu já sei a sua pergunta”, disse.

Diante da insistência de um outro jornalista, indagando os motivos de não responder sobre o uso da aeronave, Bolsonaro deixou a coletiva correndo para o carro da comitiva presidencial.

A entrevista foi interrompida ao fim de uma cerimônia em comemoração ao 161º Aniversário da Polícia Militar de Goiás e formatura da 45ª turma de aspirantes da PM.

Entre os formandos estava Luiz Paulo Leite Bolsonaro, que é sobrinho do presidente. Ele recebeu das mãos do tio a condecoração por ter ficado em terceiro lugar no curso de formação.

Nesta sexta, Bolsonaro passou o dia em Goiás, antes de condecorar o sobrinho, ele participou de um churrasco na casa do músico Amado Batista.

Helicóptero da FAB
Um vídeo divulgado nas redes sociais nesta quarta-feira (24) mostra um grupo de parentes usando um helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir ao casamento de Eduardo Bolsonaro com a psicóloga Heloisa Wolf.

O vídeo, postado pelo deputado federal Paulo Pimenta (PT), foi feito pelo sobrinho de Jair Bolsonaro, Osvaldo Campos. Descontraído, ele mostra uma tia, uma criança e outras pessoas e ainda diz: “Saiu a caravana do Vale do Ribeira, direto para o Rio e Janeiro”.

Eduardo Bolsonaro casou no dia 25 de maio, em uma casa de festas em Santa Teresa, na região central do Rio de Janeiro, com cerimônia para cerca de 150 convidados (assista ao vídeo).

https://www.facebook.com/DeLuccaWilliam/videos/688657828279074/?t=2

 

 

*Com informações da Forum

 

 

Novo Vazamento: “Lava Jato e eleições”, tema de Dallagnol e Fux em reuniões clandestinas com banqueiros

Por Reinaldo Azevedo

Aqui tudo parece/ que é ainda construção/ e já é ruína”. São versos da música “Fora da Ordem”, de Caetano Veloso, que está em “Circuladô”, de 1991. É o mesmo disco que traz “Cu do Mundo”, em que se canta: “A mais triste nação/ na época mais podre/ compõe-se de possíveis/ grupos de linchadores”. O poeta americano Ezra Pound afirmou que os “artistas são as antenas da raça”. Podem antecipar maravilha e horror. Quase 28 anos depois de “Circuladô”, os linchadores, também os do mundo virtual, perderam qualquer pudor, e a ruína tenta se passar por construção.

Leiam o diálogo que segue, travado entre Débora Santos, assessora da XP Investimentos, e Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato A transcrição segue conforme o original. E vocês entrarão em contato com dois flagrantes da nossa ruína: Deltan e, antes dele, o ministro Luiz Fux, do Supremo, participaram de reuniões privadas com banqueiros e investidores para discorrer sobre o tema “Lava Jato e eleições”. Os encontros devem ser chamadas, sem exagero, de clandestinos.

17 de maio de 2018

16:57:38 Débora Olá Deltan, tudo bem? Aqui é Debora Santos. Já nos vimos algumas vezes no ANPR, sou esposa do Pelella. Peguei seu contato com ele para te fazer um convite

16:58:59 Débora Trabalho como consultora/ analista de política e Judiciário da XP Investimentos. Queria te convidar para um bate papo com investidores brasileiros e estrangeiros aqui em SP

17:00:45 Débora Vi que você tem um evento aqui em SP no final do mês e queria ver se conseguimos encaixar um encontro.

17:43:11 Deltan Oi Debora tudo bem? Que honra seu contato!!

17:43:24 Deltan Então, já tenho uma palestra agendada na XP pro fim do ano 17:43:35 Deltan Seria um público diferente?

17:43:53 Deltan Neste mês quase impossível pela agenda, julho mais fácil. 17:44:05 Deltan Vc falaria com Graziella que cuida das palestras?

17:55:02 Débora Claro, claro. Seria um público mais seleto. CEOs e tesoureiros dos grandes bancos brasileiros e internacionais

7:57:02 Débora Falo com a Graziella. Obrigada. Abs

17:59:19 Deltan Me passa uma lista de quem são?

17:59:22 Deltan Quando seria?

18:01:41 Débora Quando você puder. Antes do final do semestre.

18:04:57 Débora JP Morgan Morgan Stanley Barclays Nomura Goldman Sacha Merrill Lynch Cresit Suisse Deutsche Bank Citibank BNP Paribas Natixis Societe Generale Standard Chartered State Street Macquarie Capital UBS Toronto Dominion Bank Royal Bank of Scotland Itaú Bradesco Verde Santander

18:06:17 Débora Esses seriam os convidados. Nem todos comparecem.

18:06:36 Débora Você deve estar agendado para o Expert, uma conferência grande que realizamos em setembro.

18:07:42 Débora Esse bate-papo é privado, com compromisso de confidencialidade, onde o convidado fica à vontade para fazer análises e emitir pareceres sobre os temas em um ambiente mais controlado.

18:08:17 Débora Semana passada recebemos o presidente do TSE, ministro Fux, por exemplo e não saiu nenhuma nota na imprensa.

18:09:25 Débora Nem sobre a presença dele na XP.

18:09:43 Débora Assim, já aconteceu com vários personagens importantes do cenário nacional, como você.

18:22:33 Deltan Quais as datas possíveis de junho?

18:22:51 Deltan Tome em conta os jogos da copa

18:23:10 Débora Primeira semana

18:23:21 Débora Qualquer dia, seria ótimo.

19:31:19 Deltan Primeira semana não consigo.

19:31:19 Deltan A partir do dia 18 conseguiria

19:31:19 Deltan Agenda antes está impraticável.

21:08:39 Débora Podemos acertar então. Na semana do dia 18, só tem jogo do Brasil na sexta. Veja qual dia é melhor pra voc.

23:06:04 Deltan Mas me esclarece melhor: Vcs têm encontros regulares sem data definida? Ou querem fazer um encontro específico com alguma pauta? O ideal seria eu participar de um encontro que já exista.

18 de maio de 2018

10:33:53 Débora Fazemos econtros regulares com atores do mercado para fazer análises conjunturis sobre temas da atualidade. Estamos na fase de ciclo de encontros sobre Lava Jato e Eleições, por isso estivemos com o ministro Fux, na semana passada, e estamos negociando data com os ministros Barroso e Alexandre de Morais tb.

10:34:49 Débora Além de integrantes do Judiciário, estivemos nas últimas semanas com algumas lideranças políticas e cientistas políticos.

10:35:33 Débora A reunião com vc se coloca nesse contexto do ciclo de debates sobre eleições, lava jato e conjuntura política em 2018.

11:24:14 Débora A principal diferença entre a conferencia que vc fará em setembro e dessa reunião privada é o tipo de público. Na conferencia ampliada, é um público heteregeneo que compreende o cenário mais amplo, sem aprofundamentos, meio que o que já está nos jornais. O público dessas reuniões privadas é mais qualificado, se aprofunda em conceitos de debates.

22 de Maio de 2018

23:08:33 Deltan Débora, a ida dos Ministros é remunerada como palestra?

23:09:01 Deltan Os encontros são convocados então tendo em vista um convidado especifico, certo?

23:42:49 Débora Sim, fazem parte de um projeto que vem sendo desenvolvido ao longo do ano, mas são convocadas rodadas para cada convidado

23:44:40 Débora Temos como hábito respeitar a privacidade dos nossos convidados 23:55:23 Deltan Opa entendo perfeitamente.

23:55:44 Deltan Debora vou pedir para a Fernanda que me ajuda com essas palestras para falar com Vc.

23 de Maio de 2018

00:01:15 Débora Tudo bem.

COMPREENDENDO A CONVERSA

Como sabemos, a Lava Jato buscou e busca se estabelecer como o eixo formador de um outro país. Desse eixo irradiariam um novo Ministério Público, um novo Poder Judiciário, um novo Congresso e uma nova forma de fazer política. E, no entanto, a cada diálogo que se revela, o que se vê é a ruína moral a serviço da corrosão institucional. O diálogo que vocês acabam de ler diz muito mais do que parece.

Reportagem publicada em parceria pela Folha e pelo site The Intercept Brasil já evidenciou que Deltan Dallagnol, em conversa com Roberson Pozzobon, seu colega de força-tarefa, buscou criar uma empresa, em nome das respectivas mulheres, para profissionalizar a sua atividade de palestrante. Em uma mensagem enviada àquela que Sergio Moro diria ser sua “conge”, o procurador admite ter ganhado R$ 400 mil líquidos com a atividade paralela só no ano passado. O Brasil empobreceu bastante de 2014, ano em que teve início a Lava Jato, a esta data. Mas Deltan enriqueceu.

Falemos um pouco das personagens que aparecem no diálogo acima. Débora Santos é mulher do procurador Eduardo Pelella, que foi chefe de gabinete e braço direito de Rodrigo Janot quando procurador-geral da República. Era, de fato, dizem as boas línguas, quem tocava a PGR. Ela já foi personagem deste blog. E por uma razão singularíssima: trabalhava na área de “consultoria em comunicação social e gestão de crises” no gabinete de ninguém menos do que Edson Fachin, o ministro do Supremo que é o relator do petrolão.

Vocês entenderam direito: Pelella, o marido de Débora, traçava as estratégias do procurador-geral da República, também chefe do Ministério Público Federal, o órgão que acusa. E Débora, a mulher de Pelella, traçava as estratégias de comunicação de Fachin, o relator do petrolão, o homem que julga. A promiscuidade entre acusador e juiz parece que tenta se estabelecer como regra no país. O resultado é desastroso.

LAVA JATO E ELEIÇÕES

Débora quer que Deltan discorra sobre “Lava Jato e eleições” a quem regula suas apostas a depender de cenários que, ora vejam, dependem, por sua vez, em grande parte, das decisões do próprio procurador. Quanto custa a bola de cristal do vidente que tem como interferir no futuro? Reitere-se: Débora, a mulher de Pelella, o íntimo de Janot, que desenhou a Lava Jato, não está convidando o buliçoso procurador para falar a uma plateia ampla — a conferência —, que ela trata até com certo desdém. Afinal, um evento assim, aberto, seria formado por um “público heterogêneo”, que se contenta “meio com o que já está nos jornais.”.

Não! A Pelella do Pelella quer mais — e sabe que Deltan vai oferecer: “O convidado fica à vontade para fazer análises e emitir pareceres sobre os temas em um ambiente mais controlado”.

Ou por outra: aquele que representa o órgão que é o titular da ação penal e que detém praticamente o poder de vida e morte sobre carreiras políticas vai desenhar cenários, que ele próprio tem o poder de fabricar, a banqueiros, em “reuniões privadas”.

 

*Matéria completa no Blog do Reinaldo Azevedo

Glenn Greenwald: o mais bombástico ainda será publicado

Dois dias após a prisão dos hackers, jornalista afirma que Moro trabalha sem transparência e ameaça a democracia no Brasil.

As notícias sobre as prisões dos hackers paulistas chegavam a todo instante nas telas dos computadores e celulares, na tarde dessa quinta-feira (25/07/2019), quando o jornalista Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil, recebeu o Metrópoles em sua casa, no Rio de Janeiro, para uma entrevista. Cauteloso, mas sereno, ele falou sobre os últimos fatos relacionados ao vazamento de conversas entre procuradores da Lava Jato e o então juiz Sergio Moro. Também fez previsões.

“Os materiais mais bombásticos e importantes ainda não foram publicados, mas logo serão”, afirmou o jornalista, nascido nos Estados Unidos e há 14 anos residente no Brasil. Desde a segunda semana de junho, Greenwald vive, pela segunda vez, a experiência de se expor em público por divulgar arquivos de grande repercussão pública.

O primeiro foi em 2013, quando o jornalista publicou uma série de reportagens produzidas a partir de um acervo retirado ilegalmente da Agência de Segurança Nacional (NSA), episódio que teve intensa repercussão mundial. Agora, ele se vê de novo imerso em um caso impactante, com desdobramentos imprevisíveis para o cenário político brasileiro.

Desde o início da divulgação dos diálogos, Greenwald se defronta com Moro, atual ministro da Justiça e Segurança Pública. Na opinião do jornalista, o ex-juiz da Lava Jato ultrapassou os limites da lei por ter trabalhado sem transparência. “Qualquer pessoa que pode usar o poder nas sombras, sem transparência na investigação, vai ser corrupto. É da natureza humana”, afirma.

Aos 52 anos e casado com o deputado David Miranda (PSol-RJ), o jornalista vive em uma casa ampla no Rio. Há uma década e meia no Brasil, ele afirma ser otimista em relação ao futuro do jornalismo, com a participação cada vez maior de profissionais independentes. Segue a entrevista:

Quais as consequências das prisões da operação Spoofing, da Polícia Federal, para o trabalho do Intercept?
Poucas. No passado, nós reportamos com materiais fornecidos por fontes que também foram presas. Obviamente, [me refiro] ao caso do [Edward] Snowden. Depois de semanas das reportagens, ele anunciou publicamente que era a fonte e foi processado imediatamente por muitos crimes. Mas, para o governo dos Estados Unidos, isso não mudou nada o nosso jornalismo. Continuamos reportando os documentos que ele nos deu. Nós não sabemos se os caras que eles [Polícia Federal] prenderam eram nossas fontes, e não vamos comentar nada sobre isso. Mas, se eles são ou não, não tem nenhuma consequência para a nossa reportagem.

Você chegou a ter contato pessoal com as fontes?
Pessoal, fisicamente?

Sim.
Eu não vou comentar sobre a comunicação com a nossa fonte.

Quais os próximos passos para o trabalho de vocês?
É difícil comentar o material que ainda não está publicado porque obviamente temos um processo editorial e jornalístico que é muito importante e eu aprendi essa lição várias vezes durante o caso do Snowden, quando as pessoas estão sempre querendo saber: “Ah, por favor, dá uma dica do que está chegando”. E às vezes eu disse alguma coisa que não foi totalmente verdade porque o material não estava pronto jornalisticamente para discutir. Eu aprendi essa lição de que, até estarmos prontos, não vou discutir o material. Mas eu posso falar que tem muitos artigos, muitas discussões e declarações que são graves e muito importantes e que serão publicados logo.

Quanto tempo você ficou reportando no caso do Snowden?
Na realidade, nós continuamos reportando por cinco anos, seis anos, até hoje. Obviamente, o material mais grave, mais importante, foi divulgado nos primeiros 18 meses. Mas, depois disso, quando alguma coisa acontece no mundo e de repente você quer pesquisar o acervo para verificar se tem documentos relevantes para a notícia, muitas vezes isso acontece. O acervo do Snowden fortalece a nossa reportagem. E, também, nós sempre achamos que tínhamos a responsabilidade de divulgar o máximo que nós conseguirmos publicar dentro da nossa obrigação de ser responsável. Eu falaria que as declarações mais graves, mais importantes, foram publicadas nos primeiros 18 meses.

No caso do material de agora, que você destacou ser um acervo muito grande, você tem uma ideia se o mais importante já saiu ou ainda tem muita coisa importante?
Eu tenho certeza, porque eu conheço o material que estamos trabalhando, que os materiais mais bombásticos e importantes ainda não foram publicados, mas serão em breve. Tem muitas revelações graves. Essas seis semanas que começamos a publicar foram muito pouco tempo para um acervo deste tamanho. Então, com certeza, vai ter muito mais revelações graves no futuro.

Qual a diferença do material atual para o do Snowden?
Uma diferença é que o material do Snowden era sobre segurança nacional. Então, por um lado foi um pouco mais sensível, porque com materiais e segredos sobre segurança nacional você pode errar e acabar publicando algo que deixa alguém em perigo sério, perigo de morte. Então, por um lado é mais perigoso. Mas, por outro, o material que estamos trabalhando agora é sobre as pessoas mais poderosas deste país que já mostraram que quebrariam qualquer lei ou código de ética para realizar seus fins. Então, eu acho que a reportagem que estamos fazendo, neste caso, é mais perigosa, com mais risco, que a reportagem que fizemos, pelo fato de a matéria ser sobre o governo atual. Durante a época do Snowden, eu estava no Brasil ou na Alemanha reportando sobre outros governos, com distância. Mas, agora, as pessoas que estamos revelando, divulgando, denunciando, são muito mais próximas e têm mais controle sobre nós. Então, o material é mais perigoso.

Você se sentiu, ou se sente, perseguido em algum momento?
Com certeza. Desde o começo [o ministro da Justiça e Segurança Pública] Sergio Moro está usando a linguagem para criminalizar o nosso jornalismo. Ele nunca usa a palavra jornalistas para falar sobre nós. Sempre nos chama de “os aliados dos hackers”, criando a teoria de que participamos do crime. Ele está fazendo isso de propósito. É uma ameaça grave quando está vindo do ministro da Justiça, que tem o poder para investigar, espionar, monitorar e processar. Obviamente, é uma ameaça séria. Também tem essa reportagem de um site que não é confiável, mas que é bem próximo aos procuradores da Lava Jato, ao Ministério Público, que reportou que eles [autoridades] estão me investigando, usando o Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras] para investigar as minhas atividades financeiras. Também estamos recebendo o tempo todo ameaças de morte bem detalhadas, bem sérias. Não é o tipo de ameça que se recebe todo dia quando você é figura pública: “Oh, espero que você morra” ou “Vou te matar”, mas com muitos detalhes, com dados pessoais. E também quase todos os dias o número 1 ou número 2 no trending topics do Twitter é alguma coisa como “Glenn na cadeia”, ou algo assim. Obviamente, que são os bolsonaristas fazendo isso. Mas quando você fica três, quatro, cinco ou seis semanas com o seu nome no topo da lista do Twitter, dizendo que você deve ser preso, isso também é um tipo de ameaça.

Inicialmente chegaram a dizer que você teria contratado um hacker da Rússia, que teria conseguido as informações por lá e enviado para cá. Agora, descobriram que é um amador de Araraquara que invadiu os celulares. Como é a sensação de ser Araraquara o epicentro desse vazamento?
As mesmas pessoas que estavam promovendo essas teorias da conspiração totalmente loucas, como o pavão misterioso, por exemplo – que estava falando que eu paguei um hacker na Rússia – ou o artigo totalmente maluco na revista Isto É dizendo que era Edward Snowden que fez o hackeamento, usando o argumento que ele teria amizade com os fundadores do Telegram, de repente, abandonaram essa teoria e mudaram para outra: que eu paguei esse hacker no interior de São Paulo. Isso mostra como o movimento do Bolsonaro funciona no Brasil. Eles simplesmente criam fake news e teorias da conspiração sem base nenhuma e usam YouTube, Twitter e redes sociais para espalhar. E eles estão pegando muitas pessoas. Tenho amigos que não são bolsonaristas dizendo que seus amigos e seus pais receberam essas mensagens forjadas do pavão e perguntam se é verdade, porque ninguém vai analisar se é verdade ou não. Essa campanha é muito séria. É assim que o Bolsonaro ganhou.

Mas você pagou pelas informações?
Não, obviamente não pagamos nada. Até mesmo o suspeito, que a PF prendeu ontem e acusou de ser nossa fonte – e nós não estamos confirmando – mesmo no depoimento dele, ele confirmou o que estamos falando o tempo todo. Que a fonte passou a informação de forma anônima, sendo que, antes disso, nunca falou comigo e que a informação foi obtida sem qualquer pagamento, sem nada. Simplesmente passaram a informação e recebemos. É o que temos sempre falado.

Na minha opinião, depois de muitas semanas lendo como Sergio Moro funciona nas sombras e também observando como ele está reagindo nesse caso, eu acho que é o contrário, que ele é a ameaça mais extrema, mais severa à democracia brasileira no governo Bolsonaro. Glenn Greenwald

Você notou alguma diferença do comportamento do Moro e outras autoridades nos últimos dias ou é o mesmo, a mesma postura?
Eu não entendo como Sergio Moro pode estar envolvido nessa investigação. Sobretudo comandando uma investigação quando ele tem um óbvio conflito de interesses, visto que ele era o principal alvo da nossa reportagem e, ao mesmo tempo, está investigando. Nenhuma democracia permitiria isso. É incrível que ele não tenha dito que não vai ter envolvimento. Ele é uma pessoa extrema. Acho que as pessoas estavam esperando que Moro iria amenizar as coisas mais severas de Bolsonaro contra a democracia. Na minha opinião, depois de muitas semanas lendo como Sergio Moro funciona nas sombras e também observando como ele está reagindo nesse caso, eu acho que é o contrário, que ele é a ameaça mais extrema, mais severa à democracia brasileira no governo Bolsonaro.

No passado, como advogado, você defendeu supremacistas brancos nos Estados Unidos. Isso contrasta, por exemplo, com a foto de seu perfil no Twitter, que questiona: “Quem mandou matar Marielle”. O que o levou a defender um grupo tão diferente de você?
Eu acho que é totalmente consistente. É impossível afirmar que você acredita em princípios e em direitos se você só defende esses princípios de direito quando é sobre pessoas que têm a mesma ideologia e as mesmas opiniões políticas que você tem. Por causa disso, nos Estados Unidos, tem uma tradição que é muito nobre, muito importante, que eu acredito muito, de advogados que querem defender a liberdade de expressão e não defenderem essa liberdade para pessoas que têm a mesma ideologia que eles, porque isso é muito fácil de fazer. Mas para defender liberdade de expressão de pessoas que têm ideologia diferente de você. Tem um caso muito famoso, da organização das liberdades civis nos Estados Unidos, composto por muitos advogados judeus e, em 1977, eles defenderam o direito dos nazistas se manifestarem e protestarem em uma cidade com muitos judeus que sobreviveram ao Holocausto. Foi uma polêmica enorme, como pode, um judeu defender o direito de nazistas de protestar na cidade onde tem judeus que sobreviveram ao Holocausto? Eles responderam que era impossível defender liberdade de expressão se você só defende liberdade de expressão para pessoas com as quais você concorda. Eu concordo totalmente com essa ideia, esses princípios. Vou dar um exemplo muito mais recente, de seis ou oito semanas atrás. O Antagonista e a revista Crusoé foram censurados pelo STF. Fui uma das primeiras pessoas que saiu em defesa do Antagonista denunciando essa censura. Nós achamos que esse tipo de jornalismo que eles praticam é totalmente ruim e não publicaríamos esse artigo [censurado] porque foi só uma fonte anônima acusando outra pessoa. Mas nós publicamos esse artigo censurado em defesa e em solidariedade à liberdade de imprensa de um site que nós odiamos, que tem uma ideologia que nós achamos que é totalmente ruim. Acho que é assim que você defende liberdade, direitos e princípios.

Para que serve o tipo de jornalismo que vocês fazem no atual contexto político do Brasil?
É bem conhecido que o Brasil foi o tipo de país, por muitos anos, dominado por dois ou três veículos grandes, controlados por famílias bem ricas, com a mesma perspectiva. Então, foi muito difícil criar espaço para o jornalismo independente. Eu sabia disso, mas percebi, pela primeira vez, no impeachment da Dilma, quando quase todos os jornais defenderam o processo. Foi incrível para mim, porque impeachment é o caso mais extremo que uma democracia pode viver. Você pode assistir GloboNews, pode ler a Folha (de S. Paulo), pode ler Época, Veja, O Globo e quase não tinha diferença nenhuma sobre o impeachment.

Qualquer pessoa que pode usar o poder nas sombras, sem transparência na investigação, vai ser corrupto. É da natureza humana. Glenn Greenwald

Foi nessa época que eu percebi que o país estava precisando muito de jornalismo independente, para dar voz a outras pessoas que não estavam sendo ouvidas. E também tem blogueiros, jornalistas independentes muito bons aqui, com muita energia. Os blogueiros aqui no Brasil são melhores do que em qualquer país, mas não são muito financiados. Então, nossa ideia, quando criamos o The Intercept Brasil foi fazer jornalismo independente, sem prioridade para qualquer partido para o governo nem Polícia Federal, establishment, mas bem financiado. Então, criamos uma equipe que pode fazer jornalismo investigativo, profissional. Nossa ideia era exatamente o que estamos fazendo agora, levando transparência para as facções que estavam sendo protegidas pela grande mídia. Acho que isso é muito perigoso e muito importante, pois nos últimos quatro ou cinco anos, Sergio Moro e a Lava Jato fizeram um trabalho bom por um lado, mas com consequências muito graves para o país. Não tinha quase nenhuma transparência, nenhuma investigação, nenhum questionamento. Tem jornalista fazendo isso, mas muito pouco. E eu acho que foi exatamente por causa disso que eles conseguiram fazer tudo sem transparência, que ele [Moro] se tornou corrupto, pois qualquer pessoa que pode usar o poder nas sombras, sem transparência na investigação, vai ser corrupto. É da natureza humana.

O que você acha que vai ser o futuro do jornalismo?
Eu acho que esse caso e outros estão mostrando que os grandes veículos de mídia estão perdendo o controle do discurso e do debate político. Tem muitos sites que estão fazendo jornalismo com qualidade alta, inclusive o seu (Metrópoles), e outros. Isso está me dando mais otimismo. Agora, por exemplo, quando estamos procurando parceiros com quem podemos trabalhar com esse acervo, temos opções além de Veja e Folha. Temos sites pequenos, mas muitos profissionais que fazem jornalismo bom, com quem podemos trabalhar. Isso está mostrando que, finalmente, no Brasil, o jornalismo independente está crescendo. Esse espaço está abrindo por causa da Internet e porque as pessoas perderam a fé na grande mídia. Tudo isso está me dando muito otimismo.

Que critérios vocês usam para fazer as parcerias para a publicação deste acervo da Lava Jato?
É o mesmo que usamos no caso do Snowden, que usamos em todos os casos quando recebemos. Por exemplo, a primeira coisa que nós conseguimos fazer no acervo que recebemos foi achar conversas entre nossos repórteres e os procuradores da Lava Jato. Nós conseguimos comparar o que estava no acervo com o que estava ali e conseguimos concluir que o acervo é autêntico, palavra por palavra. Obviamente, seria impossível para um hacker, uma fonte, ou outra pessoa forjar isso. Conseguimos consultar também informações que não são públicas e conseguimos confirmar que o que está no acervo estava totalmente autêntico.

Por que, na sua opinião, eles escolheram o The Intercept para vazar esses documentos?
É difícil para falar, por que eu não falei muito com nossa fonte sobre o motivo. Mas posso especular que essa fonte queria que grande parte do arquivo fosse publicado e sabia que qualquer pessoa que publicasse sofreria ameaça. Eu também presumo que pelo fato de eu ter trabalhado com um acervo muito parecido, eu publiquei e tive ameaças.

 

 

*Do Metrópoles

Moro quer deportar Glenn Greenwald

O ministério da Justiça ordena a repatriação de pessoas consideradas “perigosas” por meio de “investigação criminal em curso”. A medida parece encaixar no escândalo da Vaza Jato, revelado pelo site do jornalista e cujo alvo é o ex-juiz da Lava-Jato.

O ministério da justiça do Brasil editou uma portaria que regula a deportação ou o encurtamento da estadia no Brasil de pessoas consideradas “perigosas” ou “suspeitas” de praticar atos que contrariem a Constituição da República. Segundo a medida, assinada pelo ministro Sergio Moro, as autoridades de emigração poderão tomar conhecimento desses “suspeitos” por “informação de inteligência proveniente de autoridade brasileira ou estrangeira” e “investigação criminal em curso”.

A portaria, que recebeu o número 666, parece encaixar como uma luva no escândalo conhecido como Vaza-Jato, a série de reportagens do The Intercept Brasil, jornal fundado pelo jornalista norte-americano residente no Brasil Glenn Greenwald, que detalha ilegalidades de Moro na condução da Operação Lava-Jato.

E foi publicada do Diário Oficial da União, equivalente brasileiro ao Diário da República, menos de 48 horas depois da polícia federal ter detido quatro suspeitos de piratear os telemóveis de Moro e de mais cerca de 1000 autoridades, na Operação Spoofing. A relação entre essas detenções, que incluem um militante do DEM, o partido com mais ministros no governo de Jair Bolsonaro, e a Vaza Jato não foi confirmada pela polícia e acabou, entretanto, desmentida pelo próprio Greenwald.

O jornalista, aliás, já reagiu à portaria 666. Escreveu no Twitter, em inglês, que “como o New York Times, o Washington Post e outros têm noticiado, o The Intercept vem publicando uma série de devastadoras reportagens acerca da severa corrupção do ministro da justiça de Bolsonaro. Hoje ele publicou uma lei que prevê a deportação sumária de estrangeiros”.

 

*Com informações do Diário de Notícias

Perícia indica autenticidade de áudio de Dallagnol vazado pelo The Intercept

Perícia contratada pela Folha mostra uma série de elementos de autenticidade na gravação de áudio atribuída ao procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, e divulgada pelo The Intercept Brasil no último dia 9.

No arquivo de som disponibilizado pelo Intercept, Deltan diz que a proibição de entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Folha, no ano passado, era “uma notícia boa”.

Segundo o parecer técnico elaborado pela empresa especializada em perícias IBP (Instituto Brasileiro de Peritos), não foram encontrados vestígios de descontinuidades ou eventos acústicos que indiquem a existência de cortes, inserções ou modificações no áudio.

Com base em métodos de fonoaudiologia forense, a perícia indica semelhança entre a voz que consta no registro divulgado pelo Intercept e uma amostra de voz obtida a partir de uma entrevista com Deltan publicada também no Youtube, assim como a gravação desse áudio.

Uma das etapas do trabalho técnico foi a busca por elementos que pudessem excluir a hipótese de que a voz e a fala presentes nos áudios fossem da mesma pessoa.

Em outra fase, os peritos analisaram diferentes parâmetros técnicos e verificaram que as amostras são compatíveis.

O parecer foi assinado por Giuliano Giova, doutor em Sistemas Eletrônicos pela Escola Politécnica da USP, Gustavo Batistuzzo, engenheiro pela Escola Politécnica da USP, Priscila Haydée de Souza, fonoaudióloga pela UNESP e mestre em Fonoaudiologia pela PUC/SP, Aline Cristina Pacheco Castilho, fonoaudióloga pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP e doutora em Neurociências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP, e Jefferson Jesus Hengles Ameida, engenheiro e mestre pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

A amostra para a comparação das vozes foi um arquivo de vídeo que contém uma entrevista de Deltan para o jornalista argentino Hugo Alconada Mon sobre a Operação Lava Jato.

Os arquivos foram examinados com base em fundamentos da fonoaudiologia (com análises perceptivo-auditiva, acústica e perceptivo-visual), da tecnologia da informação e da engenharia.

O trabalho técnico aponta que não há vestígios de edição no áudio disponibilizado pelo Intercept.

“Não há indícios de descontinuidades na expressividade da voz, ou seja, as falas do interlocutor observadas durante a análise do arquivo apresentaram coerência na evolução do ritmo, intensidade e entonação, não apresentando variações de velocidade, pitch, loudness ou súbitas interrupções e transições rápidas, que alterassem a coerência e a linearidade do discurso”, segundo a perícia.

 

 

*Com informações do Falando Verdades