Ano: 2019

Filha de Olavo de Carvalho detona o pai: “Vocês compraram uma fraude”

Guru do governo Bolsonaro, Olavo de Carvalho é visto como arauto da direita e do conservadorismo brasileiros, que costumam defender os valores da família. Mas, segundo Heloisa de Carvalho, 50, mais velha dos oito filhos de Olavo, a própria família nunca foi uma prioridade para o escritor. Ela diz ter sido criada “jogada”, a ponto de, ainda criança, deixar de ir à escola porque o pai não pagava mensalidade nem comprava material. E vivia em uma casa com 30 pessoas, membros de uma comunidade islâmica liderada por ele, que chegou a ter três esposas ao mesmo tempo.

No livro “Meu Pai, o Guru do Presidente – A Face Ainda Oculta de Olavo de Carvalho” (Kotter Editorial), em pré-venda e com lançamento previsto para 15 de janeiro, ela e o filósofo, escritor e youtuber Henry Bugalho escancaram o passado da família com a qual ela não tem mais nenhuma relação. Com o pai, cortou o contato em 2017, quando, diz, tentou interceder por um dos realizadores de um documentário sobre Olavo que se sentiu injustiçado com falta de créditos. “Depois disso, ele me bloqueou de tudo. Então, eu disse: ‘Peraí, agora vou chutar o balde'”. Foi quando começou a divulgar as acusações contra o pai.

“Ele é um guru. Criou uma seita de fanáticos seguidores. Se ele falar que o céu é cor-de-rosa, vão acreditar. Mudou o grupo, o discurso, os hábitos, mas continua sempre sendo uma seita de zumbis cegos que não o questionam”, disse Heloísa.

Segundo ela, o objetivo de Olavo sempre foi ter “influência e poder”. “De repente, ele conseguiu, e eu me vi em uma questão pessoal e moral de falar: ‘Peraí, vocês estão comprando uma fraude’”.

No livro, Heloísa conta histórias da vida do pai, que segundo ela chegou a ter três esposas ao mesmo tempo quando montou uma seita esotérica islâmica na própria casa.

Heloísa diz ainda que foi obrigada a se converter à seita, sendo casada pelo pai aos 16 anos. Ela afirma ainda ter encontrado a mãe em uma banheira após tentativa de suicídio.

“Ela tinha cortado os pulsos, tem marcas até hoje. Saiu de lá para o manicômio. Meu pai deu meus irmãos para minha avó, e eu fui morar com ele”.

 

 

*Com informações Uol/Forum

Seu Jair da casa 58 é o verdadeiro chefe de Queiroz

Em 2016, Donald Trump disse que nem um flagrante de homicídio abalaria a fidelidade de seus eleitores. “Eu poderia atirar em alguém no meio da Quinta Avenida e não perderia nenhum voto, ok? É incrível!”, gabou-se.

Ao que tudo indica, Jair Bolsonaro acredita dispor dos mesmos superpoderes. Só isso pode explicar o fato de o presidente ter se referido às investigações conduzidas pelo Ministério Público do Rio como “pequenos problemas”.

O presidente disse ontem que não tem “nada a ver” com o vaivém de dinheiro no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio. É uma versão capenga, porque as principais decisões tomadas ali passavam pelo chefe do clã.

Jair é um velho parceiro de Fabrício Queiroz, apontado como operador da “rachadinha” do Zero Um. Quando os dois ficaram amigos, Flávio tinha apenas 3 anos. O ex-PM estava lotado no gabinete do filho, mas seu verdadeiro chefe era o pai.

“Conheço o senhor Queiroz desde 1984. Nós somos paraquedistas. Nasceu ali, e continua, uma amizade”, disse Bolsonaro quando o escândalo veio à tona. Em maio, ele contou que o amigo lhe pediu ajuda quando enfrentava “problemas” na polícia. “Aí ele começou a trabalhar conosco”, relatou, usando a primeira pessoa do plural.

Queiroz depositou R$ 24 mil na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro. O presidente atribuiu os repasses a um empréstimo informal. Nunca explicou por que o ex-PM precisaria de sua ajuda financeira — de acordo com o Coaf, ele movimentou R$ 7 milhões em três anos.

O amigo de Bolsonaro recebeu ao menos R$ 203 mil da mãe e da mulher do miliciano Adriano da Nóbrega, hoje foragido da polícia. As duas estavam penduradas no gabinete do Zero Um, que condecorou o ex-capitão do Bope quando ele estava preso por homicídio. O dinheiro passou por contas de Adriano antes de ser devolvido a Queiroz.

De acordo com o Ministério Público, Flávio usava uma loja de chocolates para lavar dinheiro da “rachadinha”. Ontem ele citou o negócio para justificar uma série de repasses suspeitos. Segundo o senador, o sargento que depositou R$ 21,2 mil em sua conta gastou tudo com doces. Se atirasse em alguém na rua, Trump teria uma desculpa mais criativa.

 

*Por Bernardo Mello Franco (O Globo)

O PM Chocólatra de Flávio Bolsonaro

Segundo a Época, o sargento da Polícia Militar Diego Ambrósio, que pagou um boleto de R$ 16,5 mil do apartamento de Flávio Bolsonaro, e foi um dos alvos da busca e apreensão de ontem feita pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, passou a quinta-feira em contato com o Bradesco, pedindo ao banco extratos que o permitam provar que ele não faz parte do esquema de desvio de dinheiro público de que Flávio é suspeito.

Em entrevista exclusiva à coluna de Guilherme Amado, enquanto mexia em 160 folhas de extratos fornecidas pelo banco, o chocólatra Ambrósio deu sua versão sobre o pagamento e sobre os repasses feitos por ele ao então deputado estadual e a dois ex-funcionários do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa.

Segundo ele, o pagamento do boleto foi um favor a Flávio, feito durante o churrasco de comemoração que eles faziam pelo resultado inesperado que o amigo tivera na eleição municipal de 2016.

Mas durante a entrevista, Ambrósio se enrolou e disse não se lembrar exatamente como foi reembolsado por Flávio, mas depois entrou em contato para informar ter lembrado que Flávio o pagou os R$ 16 mil em espécie, e ele usou o dinheiro para pagar contas de sua empresa de serviços de segurança, a Santa Clara.

O outro repasse, cujo valor ele não identificou, diretamente na conta da loja Kopenhagen de Flávio, teria sido referente à compra de panetones.

Ambrósio fala também de Fabrício Queiroz e da acusação de que ele intimidou moradores de Copacabana para contratar sua empresa de segurança: “Conheci logo o Queiroz, não tinha como uma pessoa conhecer o Flávio e não conhecer o Queiroz, porque o Flávio só tinha um motorista full time. Qualquer lugar a que o Flávio ia, era o Queiroz que ia. Não existia a possibilidade de a pessoa conhecer o Flávio e não conhecer o Queiroz.”

E segue: O Queiroz tinha um status, trabalha como motorista do Flávio, da família Bolsonaro, uma família que tinha grande chance de crescer dentro da política. Você vê ele [Queiroz] com um diferencial. Nesse meio tempo, o conheci, criei vínculo de amizade como criei com o Flávio, porque a relação com Flávio e Queiroz era junto. Estavam juntos. Não tinha como chamar o Flávio e não ver o Queiroz.

É, logo ali na esquina. Falei: “Flávio, 2016 e a gente sair de uma festa para pagar uma conta, está de sacanagem? Paga no seu telefone”. Ele falou que o aplicativo dele não conseguia, porque para pagar tem de ter autorização. Aí nós estávamos nessa confraternização do fim de campanha, tomando uma cerveja, comendo um churrasco, e eis que ele me vem: “Olha, vamos embora que eu tenho de passar ali no Itaú antes que feche. Eu tenho que pagar uma conta”. Falei: “Pô, não é plausível você interromper um churrasco para encarar 40 minutos de fila num banco em 2016”. Não é verdade? Eu não sabia nem que conta era. Ele falou: “Tenho de pagar um carnê do financiamento do meu apartamento. Vence hoje, e o valor é alto, um dia de juros é coisa de R$ 1000”. Aí eu falei: “Faz o seguinte: Vou tentar pagar aqui na minha conta. Era outro nome, né? Se eu conseguir pagar, amanhã você me dá o dinheiro”. Fui e paguei na minha conta, beleza. E ele me ressarciu. Não consigo te precisar como ele me ressarciu. Eu estou agora com os meus extratos aqui. Estou tentando ver se foi transferência, se me deu o dinheiro em mãos, se me pagou um pedaço num dia e outro pedaço no outro. Porque ele também precisaria ir a um banco sacar o dinheiro. Ter aquele dinheiro disponível. Porque não é uma quantia de R$ 500 que você tem na carteira. Aí as pessoas fazem esse estardalhaço em falar que eu paguei uma conta de R$ 16 mil ganhando R$ 4 mil. Só que as pessoas esquecem que eu sou sócio de uma empresa, e a minha vida é pautada nos ganhos da minha empresa, entendeu?

Que dia foi isso?

O pagamento da cobrança do Flávio foi dia 3 de outubro, e nesse dia meu saldo bancário terminou negativo em R$ 21.147, por conta dessa transferência. No outro dia, eu supri o meu saldo com uma transferência de R$ 20.450, da conta da empresa para a minha conta. E provavelmente o Flávio me restituiu. Como foi? Não lembro. Tem muito tempo, isso. Mas ele me restituiu porque, meu irmão, não dou dinheiro para homem. Dou até para mulher, mas para homem não dou. Nesse dia, 3 de outubro, fiquei devendo R$ 21 mil, cara. (Mais tarde, Ambrósio entrou em contato para dizer que se lembrou que Flávio pagara a ele em dinheiro e, com esse dinheiro, ele pagou contas de sua empresa.)

Você não consegue ver nos dias seguintes a esse pagamento a entrada, transferência, depósito que você fez na conta?

Não, não tem. Mas ele me restituiu com certeza, irmão. Ele não ficou me devendo. A forma como ele me pagou, se foi em dinheiro, se foi um dia depois, dois dias depois, se parcelou, se transferiu para minha conta, estou procurando. Se estiver na conta, está aqui, mas não consigo te precisar, porque estou com um maço de 200 papéis aqui, estou totalmente perdido.

A entrada, transferência, depósito que fez na conta?

Não tem. Mas ele me restituiu, com certeza. Ele não ficou me devendo. A forma como ele me pagou , se foi dinheiro, se foi um dia depois, dois dias depois, se parcelou, se transferiu para a minha conta, estou procurando. Se estiver na conta, está aqui. Mas não consigo precisar, porque estou com um maço de 200 papéis, que estou totalmente perdido. Seria interessante frisar a transferência de R$ 16.564,81 no dia 3, e no próprio dia 3, minha conta fechou com débito em R$ 21.147,68. Não paguei juros porque, como sou funcionário público, tenho dez dias sem juros no banco. E no outro dia, recebi alguns depósitos na minha conta e complementei com R$ 21.450 da minha empresa. Tirei da minha conta da empresa e transferi para mim.

Você, na ocasião, não estranhou que ele tivesse esse valor, com um salário de deputado não tão maior assim? O salário de um deputado estadual, hoje, 2019, são R$ 25 mil brutos.

É, não… Eu não, não… Assim, se ele tinha uma prestação aprovada no nome dele… Eu nem lembro. Hoje se fala que era no nome da esposa, né? Mas eu não sabia. Não lembro se era no nome dele ou da Fernanda. Não lembro. Eu sei que eu paguei a conta. Mas o Flávio tem um rendimento alto, né? Já era deputado. Ele tinha a empresa dele, eu sei que ele tem lá a loja de chocolate. A esposa dele também trabalha. Ela é dentista, salvo engano foi militar, tem rendimentos. Então quando tem uma prestação de R$ 17 mil para vencer, eu não sei, né? Não é da minha alçada. Mas não vi estranheza nenhuma nisso. Até porque era uma coisa particular dele. Eu estava quebrando um galho para ele. Não dá para fazer uma auditoria financeira da minha vida para lembrar de tudo. Eu estava fazendo um favor para um amigo.

De 2016 para cá, você trabalhou na campanha do Flávio? Em 2018 também?

É. De 2016 para cá, eu estava cedido em uma secretaria de Estado daqui do governo. Aí disseram agora que eu fiz dois depósitos, transferências, para ex-assessores dele, nesse mesmo ano de 2016. Não tem isso também? É o Fernando Pessoa, o designer gráfico dele, e o (Marcos) Domingos, um sargento da PM. O Fernando me ajuda muito em identidade visual na minha empresa, fez alguns serviços para mim. Eu não posso precisar se foi isso. De repente comprei alguma coisa, paguei alguma coisa para ele, ou transferi um dinheiro para ele, para dar tipo um agrado em um serviço que ele fez para mim. Não sei, mas tenho uma relação de amizade com o Fernando.

Você conheceu o Fernando por meio do Flávio?

Eu o conheci no gabinete. Por coincidência, ele mora em Nova Iguaçu, vizinho da minha cidade, Mesquita. Quase todo final de semana eu estava em Mesquita ou tomava uma cerveja com o Fernando. Pagode, entendeu? Aí, três anos depois, a pessoa vai me ligar e falar assim: “Você fez uma transferência de X para o Fernando em 2016?”. Pô, meu querido, nem sei se eu fiz. Mas é bem provável. O cara é meu amigo. Não lembro. Será que foi alguma conta de um almoço que eu reembolsei depois? E o Domingos é um policial amigo meu, olha que interessante, ele estava nessa reunião em que conheci o Flávio, em 2010. O Domingos é um policial que foi lotado no gabinete do Flávio. Só que o Domingos é meu amigo de 15 anos. Trabalhamos juntos em 2007 no 19. Em 2010, o Domingos participou dessa reunião junto com inúmeros policiais que organizei ali em Mesquita, para o Flávio e para o Jair. Tenho foto dessa reunião com o Domingos, entendeu? É uma forma de eu mostrar que minha relação com o Domingos não é dali do gabinete. Eu conheço o cara há dez anos. “Ah, mas por ventura depois ele veio trabalhar”. Isso foi caso forçado. Ele e um monte de gente, pô.

O pagamento foi Domingos foi o quê?

Eu não sei precisar, porque foi um único… Falam como se eu tivesse feito transferências pontuais mensais, quando na verdade foi uma única transferência, que eu nem sei se existiu. Eu tenho de olhar aqui, nos extratos, e assim que eu tiver o valor, data certinho, eu te mando. (Depois da entrevista, Ambrósio enviou valores estimados dos depósitos, e disse ter lembrado que o valor para Domingos era referente a uma caixa de som).

Você não sabe o que foi?

Olha, eu liguei para o Domingos para perguntar, e ele falou que eu nunca transferi nada para ele. Só que o Domingos tem 280 quilos. A gordura está tomando conta do cérebro dele. Então ele não lembra qual o tipo de hambúrguer do McDonald’s que ele comeu ontem, quanto mais o que aconteceu em 2016. Você já viu que o cara magro arrasa os gordinhos, né? (risos).

Você não tem certeza de nenhum dos dois depósitos. O do Fernando, você supõe que seja uma remuneração por um serviço que ele fez para você, e o do Domingos você não lembra nem sequer se houve. É isso?

Alguma coisa que ele ajustou para mim, alguma identidade visual da minha empresa, entendeu? Naquela época eu não tinha o serviço de marketing que eu tenho hoje. Ele ali fazia o serviço, fez alguma coisa para mim, e eu dei um agrado para ele, efetuei o pagamento. Alguma coisa desse tipo. Eu acredito que seja. Pô, é uma covardia, né? O que você fez em julho de 2016…

Como você avalia a condução do caso Queiroz, a defesa do Flávio até aqui?

Ele tem essa tática de empurrar com a barriga. Não funciona. Vou muito ao encontro. Estou procurando a imprensa para dar meu depoimento, dos fatos. É isso que eu quero mostrar.

Quando seu nome apareceu na história, você ligou para ele?

Não tenho contato com o Flávio há mais ou menos… Quando ele foi para Brasília, o contato acabou, porque eu não vou para lá, não sou remunerado por ele, não trabalho por ele, não vou pagar R$ 4 mil numa passagem para falar: “Oi, Flávio, tudo bem?”. Quando ele vem para o Rio, algumas vezes pontuais coincidiam com a minha folga, e eu falava: “E aí, Flávio, está no Rio?” “Estou no Rio, vou no evento tal”. “Vou te buscar”.

Ainda não falou com ele sobre esse episódio?

Ainda não. Não falo com o Flávio há exatamente seis meses. Sem trocar telefone nem WhatsApp, porque ele é senador, o filho do presidente, chegar nele é uma coisa quase impossível. Não vou lá para falar com ele, porque tenho minhas demandas de trabalho aqui também. Não tenho disponibilidade nem de tempo, nem de dinheiro. Mas quando vem para o Rio, algumas vezes dentro desse ano, me incorporei na equipe dele para ter a oportunidade, dar uma abraço, perguntar como está, a amizade continua.

Você, nesse período todo em que o conhece, nunca foi lotado em nenhum gabinete dele?

Nunca trabalhei diretamente com ele. Nunca.

Você já indicou alguém para trabalhar com ele alguma vez?

Não.

Você foi investigado por intimidar moradores de Copacabana para que contratassem serviços de segurança?

Isso foi na parte da empresa. Explico tudo. Pode perguntar.

Quando criou a empresa?

Criei em 2014. Ela trabalha especificamente com três serviços: terceirização com serviço de portaria, portaria e vigia; limpeza; e instalamos alarmes, segurança eletrônica. Instalamos alarmes em condomínios, alarmes antiarrombamento. Basicamente.

Ela começou com esse escopo todo ou foi ganhando?

Você monta a empresa e, de acordo com a demanda, você vai acoplando. Já estou na minha quarta alteração contratual. Vai aparecendo uma oportunidade de trabalho, não está no seu escopo, você inclui serviços. As pessoas falam que operei serviço de segurança, o que nunca houve. Nunca houve. Operei serviço de portaria, terceirização de serviço de portaria, monitoramento de bens de pessoas com controle de acesso, instalação de serviço eletrônica.

Quando fala portaria, o que quer dizer especificamente?

Trabalho com condomínio.

Guarita?

É, condomínio. Porteiro, vigia, vigia noturno, limpeza de condomínio, qualquer serviço eletrônico, a minha empresa trabalha. Portão, porta automatizada, câmeras, sistema de alarme, aquela cerca que toca alarme. A empresa se chama Santa Clara Serviços.

Como se chegou a essa história sobre moradores de Copacabana?

Chegou ao Globo uma denúncia de que está havendo intimidação de moradores por parte de empresas de segurança. A acusação repetia aquela velha história: “Se você não me contratar, vou fazer isso, isso e isso”. Expliquei para o repórter que minha empresa trabalhava e nisso saiu uma matéria no Globo, vinculando meu nome e o nome da empresa. Abriu um inquérito policial militar. Esse inquérito durou seis meses e foi arquivado por falta de materialidade. Em contrapartida, peguei carta de referência de todos os meus clientes e apresentei na Corregedoria, fizeram contato com todos os meus clientes, perguntando se algum foi ameaçado, todos os outros foram a meu favor dizendo que nunca, dizendo que eu prestava um serviço que tinha proposto e foi arquivado. Não fui nem repreendido nesse inquérito, porque eles pediram toda a documentação da empresa. A minha vida, tudo foi devassado. Não perdi um cliente.

Nesses anos de relacionamento com o Flávio, ele alguma vez te indicou algum cliente, te ajudou de alguma maneira na empresa?

Nunca. Poderia ter indicado, mas nunca (risos).

Como policial, como avalia essa suspeita de que existe ligação do Flávio, da família Bolsonaro, com a milícia?

Vejo com perplexidade, porque não participo diariamente da vida de Flávio. Tenho uma relacionamento de amizade e isso tudo é fato novo para mim. As pessoas que são arroladas podem sentar do meu lado numa mesa que não sei nem quem são.

O Adriano da Nóbrega (suposto miliciano homenageado por Flávio), por exemplo, você não conhecia?

Não conheci e não conheço. Não sei se é alto, se é baixo, se é gordo ou se é magro. Nunca nem trabalhei com ele, nunca cruzei com ele. Conheço pessoas que conhecem ele, por conta do vínculo profissional. É um policial mais antigo do que eu, que já trabalhou em determinado batalhão. Mas eu nunca vi ele.

Desde que essa história veio à tona, um ano, você alguma vez esteve com o Queiroz?

Não. Quando ele se afastou eu nunca mais tive contato com ele.

Então você não sabe responder à pergunta que o Brasil inteiro quer saber: onde está Queiroz?

Onde está Queiroz… (risos). Infelizmente não vou poder te responder. Eu também não sei. Queria até encontrá-lo, para falar com ele, pois fizeram uma situação… O Brasil está numa situação muito difícil, o investigado passa a ser sentenciado em última instância. O cara é crucificado midiaticamente e aí ele já é execrado.

Mas o caso dele tem complicadores que vão além de uma mera crucificação, como você está colocando, não?

Sim, está ficando (complicado). Mas, no curso de uma denúncia, um inquérito investigativo, a gente só tem um meio que é o acusatório. Você só se defende do processo. Então a pessoa acusa, acusa, acusa, acusa e joga na mídia. Só aparecem as acusações.

Mas ele foi chamado inúmeras vezes para depor e não se apresentou.

Sim.

E o repasse para a conta da loja de Flávio?

Todo ano, eu presenteio meus clientes, funcionários e amigos. Como qualquer empresa faz. Tem umas que dão chaveiro. Tem outras que dão calendário. E eu dou panetone da Kopenhagen. E o Flávio tinha acabado de inaugurar a loja, 2015 ou 2016, se não me engano, eu numa dessas saídas com ele falei: “Flávio, vou presentear, vou comprar os panetones lá”.

Você estava na inauguração?

Não tava! Eu não tinha esse vínculo diário. Encontrava ele esporadicamente e eu também tenho três filhos, né, meu parceiro? Tem que correr muito atrás.

Aí você comprou panetone…

Aí comprei o panetone… Passa-se uma imagem de que eu faço transferência mensais para a loja do Flávio. As transferências foram em novembro, dezembro e janeiro. Porque eu faço uma compra entre 100, 120 panetones. E eu, na amizade, falo com o Flávio que vou comprar com ele mas para ele parcelar essa porra em três vezes por favor. Aí dou um cheque em novembro, outro em dezembro e outro em janeiro. E isso é facilmente comprovado no perfil da minha empresa no Instagram. Teve um ano que botei quase 60 fotos de clientes recebendo. E esse ano já estou distribuindo de novo.

Esse ano você comprou de novo na loja do Flavio?

Não, comprei de outra loja. E não comprei nem por causa disso. Porque não comprei: meu contato com o Flávio está cada vez mais difícil, a comodidade que eu tinha era o contato direto com ele, e, p…, a loja dele é lá no Via Parque e minha empresa é em Copacabana. Vamos combinar.

Você lembra quantos panetones comprou naquele ano?

Olha, todo ano eu compro numa média de 100 a 120. Agora, como foi a forma de pagamento: depósito na conta dele. Nunca dei dinheiro em espécie.

Na conta da empresa?

Isso, na conta da empresa. Ou fui algum depósito? Não lembro. Se saiu da conta da minha empresa ou da minha conta pessoal, não posso te dizer. Mas foi tudo proveniente para esse tipo de conta. Este ano, estou preocupado porque ontem levaram a lista de pessoas que eu tinha que entregar panetone.

Você se refere à busca e apreensão?

É, a operação de busca e apreensão levou. Levou minha listagem de entregas deste ano. Eu vou entregando, dando o ok. Eu vou pedir para minha secretária tirar uma foto da minha sala com os panetones para entregar neste ano. Já foram comprados.

 

 

*Eduardo Barretto, Naomi Matsui e Daniel Salgado/Época

A ex-mulher de Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira Valle e os quarenta parentes

Não poderia deixar a história dessa figuraça chamada Ana Cristina Siqueira Valle, a 02 de Bolsonaro, sem comentar suas traquinagens moralistas com a turma do Vem pra Rua aqui da região Sul Fluminense.

Ela, que sassaricava aqui nas cidades próximas a Resende, como Volta Redonda, Barra Mansa e etc., era anunciada nos microfones dos caminhões como uma celebridade da nova política e da moral da família brasileira.

A mulher era uma “mita”. Não se sabe como será a sua vida a partir de agora nas bandas de cá depois dessa desmoralização pública e em rede nacional dela e da parentada toda, envolvidas no cartel de lavagem de dinheiro de Queiroz e Flávio Bolsonaro.

Lanço aqui um desafio para quem provar que conseguiu gravar todos os nomes da penca de parentes que ela pôs no esquemão que movimentou praticamente R$ 5 milhões, até onde sabe o Ministério Público. Pelo jeito, cabe muito mais denúncia nessa caixa preta resendense.

A fieira é longa e o grau de parentesco da garganta é múltiplo.

Possivelmente, a ex-celebridade vai enfiar a viola no saco e desencarnar de qualquer ato público, porque essa é a autêntica hipócrita, daquela que é pura emoção em nome da ética.

Eu vi como brotava moral da boca dessa infeliz e como oxigenava ou contaminava os devotos de Bolsonaro nas bandas de cá. A 02 é uma portenta para vender seus versos ensaiados com falas angulosas para sair do jeito que queria nas fotos espalhadas depois de cada evento.

Por isso acho que será complicado para a matriarca dos bolsominions sul fluminenses ser engolida até por seus aliados.

Na verdade, ela vai entrar numa profunda decadência depois de ter virado assunto principal, sobretudo nas esquinas de Resende.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

Advogado de Queiroz joga a toalha e pula fora do caso

O advogado Paulo Klein, responsável pela defesa do ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (RJ- sem partido), Fabrício Queiroz, e seus familiares, abandonou o caso. Klein afirmou ao UOL se tratar de uma “decisão de foro íntimo” e reiterou ter “convicção da honestidade dos —agora— ex-clientes”.

A decisão foi tomada pouco mais de 24 horas depois de operação do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) que cumpriu 24 mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Queiroz, e a parentes de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente. Ele permaneceu à frente da defesa por mais de um ano.

A suspeita é que Flávio Bolsonaro e Queiroz comandem um esquema de desvio de dinheiro a partir da “rachadinha” de salários de funcionários do gabinete do ex-deputado estadual pela Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

Queiroz chegou a depositar um cheque de R$ 24 mil, que foi parar na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro. O presidente da República justificou dizendo que seria a quitação de um antigo empréstimo, mas disse não ter nenhum documento para comprovar a operação.

Empresa de chocolates na mira

Funcionários do MP estiveram em uma empresa de Flávio Bolsonaro para recolher documentos.

A ação foi realizada pelo Gaecc (Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção), responsável pelas investigações do Caso Queiroz.

Os investigadores estiveram na sede da empresa Bolsotini Chocolates e Café Ltda —franquia da loja de chocolates Kopenhagen localizada no shopping Via Parque, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.

A administração do Via Parque confirmou que houve o cumprimento do mandado no local.

Empresa foi alvo de quebra de sigilo

A empresa de Flávio Bolsonaro vem figurando com frequência nas investigações do Caso Queiroz.

O senador usa frequentemente o fato de ser proprietário da loja como justificativa para suas movimentações financeiras e evolução patrimonial —ambas investigadas pelo MP do Rio

Em abril, a empresa teve os sigilos fiscal e bancário quebrados pelo juiz Flávio Itabaiana, 27ª Vara Criminal do Rio. No mesmo pedido, Flávio e sua mulher, a dentista Fernanda Antunes Figueira Bolsonaro, também foram alvos das medidas cautelares. Em entrevista à RedeTV em janeiro deste ano, Flávio citou suas atividades empresariais como fonte de seu patrimônio.

“Sou empresário. Eu movimento no ano, recebo no ano, do lucro desta minha empresa, muito mais do que eu recebo como deputado.

No comércio, você pega dinheiro”, afirmou, em referência a movimentações com valores em espécie. “A origem [dos recursos investigados] é a minha empresa e o imóvel que eu vendi, no valor de R$ 2,4 milhões.

Você acha que, se fosse um dinheiro ilícito, eu ia depositar na minha conta”, questionou. Porém, relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) divulgado em janeiro pela revista Veja contradiz a versão do senador para explicar seus ganhos financeiros.

O documento apontou movimentação atípica de Flávio Bolsonaro R$ 632 mil entre agosto de 2017 e janeiro de 2018.

Segundo o RIF (Relatório de Inteligência Financeira), Flávio recebeu no período R$ 120 mil como lucro da loja.

O valor é menor do que sua remuneração à época como deputado estadual, que somou R$ 131 mil no mesmo período. O órgão não conseguiu identificar a origem de outros R$ 90 mil recebidos pelo filho mais velho do presidente.

 

 

*Gabriel Sabóia/Uol

Lava jato grampeou 462 ligações de defesa de Lula por 23 dias

Os investigadores da “lava jato” grampearam o ramal central do escritório que defende o ex-presidente Lula por quase 14 horas durante 23 dias entre fevereiro e março de 2016. Ao todo, foram interceptadas 462 ligações, nem todas relacionadas à defesa do ex-presidente, mas todas feitas ou recebidas pelos advogados do escritório.

E as conversas que estavam relacionadas à defesa de Lula foram transcritas em relatórios diários enviados pela Polícia Federal aos procuradores da “lava jato” e ao ex-juiz Sergio Moro. E, conforme mostraram conversas de Telegram obtidas pelo site The Intercept Brasil e divulgadas pela Folha de S.Paulo, os grampos foram usados para que a força-tarefa se antecipasse às estratégias da defesa.

Os grampos, conforme revelou a ConJur em março de 2016, aconteceram num momento sensível para a “lava jato”: o Supremo Tribunal Federal estava para decidir quem seria competente para ficar com o caso de Lula, o consórcio de Curitiba ou o Ministério Público de São Paulo.

Os promotores paulistas chegaram ao ex-presidente a partir de uma investigação sobre o envolvimento da Bancoop na propriedade de um prédio no Guarujá (SP) – onde está o tríplex que resultou numa condenação a Lula. Para a defesa de Lula, feita pelos advogados Cristiano Zanin Martins e Valeska Teixeira Martins, o caso do ex-presidente deveria ficar em São Paulo. Mas, para a “lava jato”, Lula havia recebido propina de empreiteiras a partir de contratos da Petrobras.

A interceptação do ramal central do escritório de Zanin e Valeska, portanto, foi bastante útil para os curitibanos. Conforme documentos apresentados pela defesa de Lula ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, a PF fez diversos relatórios sobre as conversas relacionadas ao ex-presidente, avaliando se elas poderiam ser úteis ou não ao processo.

No dia 4 de março de 2016, por exemplo, Zanin ligou para o criminalista Nilo Batista, que também trabalhou na defesa de Lula. Segundo o relatório enviado aos procuradores pelo agente da PF William Coser Stoffels, eles “conversaram amenidades”.

Já no dia 14 de março, o relatório, feito pelo agente Rodrigo Prado Pereira, foi sobre uma conversa entre Zanin e Lula: “Pergunta como foi o dia. Diz que foi corrido. Acha que avançaram. Estão preparando uma serie de petições. Tem algumas providências para adotar. Uma em especial no Supremo que acha que pode dar certo. Em prejuízo do recurso que está em julgamento. Lils [abreviação para Luiz Inácio Lula da Silva] diz que Cristiano gravou e quer que ele acompanhe para ver se vão deturpar. Vai contrapor qualquer versão. Cristiano entregou num pen-drive a íntegra do depoimento”.

Mas o grampo já acontecia há algum tempo. A defesa de Lula protocolou a reclamação sobre a competência da “lava jato” no dia 26 de fevereiro de 2016. No dia seguinte, Rodrigo Prado Pereira informou Deltan que Roberto Teixeira, sócio de Zanin e Valeska, havia conversado com Jacques Wagner (PT-BA), ex-ministro da Casa Civil e hoje senador, e com Lula sobre conversar com a ministra Rosa Weber, do STF. Ela era relatora da reclamação.

“As conversas internas do escritório e entre os advogados e o Embargante foram ouvidas em tempo real pela Polícia Federal, que elaborou planilhas com resumos dos diálogos e os submeteu ao então juiz Sergio Moro e aos procuradores da República que oficiaram no feito”, afirma a defesa de Lula, nos embargos apresentados ao TRF-4.

Procedimento
Os embargos foram apresentados ao TRF contra a condenação de Lula no caso do sítio de Atibaia. Uma das alegações do documento é que o grampo ao escritório dos advogados do ex-presidente não seguiu o rito da Resolução 59 do Conselho Nacional de Justiça, que regula a interceptação de comunicações por ordem judicial.

A resolução diz que o juiz deve conferir com a operadora de telefonia se o número interceptado pertence de fato ao réu ou investigado, o que nunca aconteceu nesse caso.

Segundo a tese desenvolvida pelo MPF para justificar o pedido de grampo, o telefone do escritório estava registrado na Receita Federal como se fosse a Lils Palestras, a empresa de palestras e consultoria de Lula. Na verdade, o site foneempresas.com é que listava o telefone como se fosse da Lils Palestras. Uma busca no Google mostraria aos procuradores que o número era do Teixeira, Martins e Advogados.

Tudo isso foi alegado pela defesa ao Supremo na época. O relator da “lava jato” era o ministro Teori Zavascki, que pediu explicações a Moro. O ex-juiz disse que não tinha percebido que autorizou o grampo de um escritório de advocacia, mas pediu “escusas”. Teori, então, mandou que a 13ª Vara destruísse as provas — o que nunca aconteceu.

A alegação de ilegalidade nos métodos de investigação também foi apresentada ao TRF-4 no caso do sítio de Atibaia, mas foi ignorada pelo tribunal. Os embargos pedem que os desembargadores da 8ª Turma, a que julga os recursos da “lava jato”, se pronunciem sobre o caso.

“Necessário, portanto, que esse tribunal regional sane a omissão aqui apontada e analise tal ponto a fim de aclarar, diante do presente caso, se pode um Magistrado não só determinar ato ilegal como permitir que ele se repita e perpetue no tempo, sob a justificativa de não ter percebido justamente os dois ofícios da companhia telefônica que davam notícia acerca da real titularidade da linha telefônica interceptada”, dizem os embargos.

 

 

*Do Conjur

Revelação bombástica: Miliciano suspeito de Matar Marielle recebia parte dos salários da rachadinha do clã

Mais uma revelação bombástica: o miliciano Adriano da Nóbrega, chefe do Escritório do Crime, e um dos principais suspeitos de assassinar Marielle Franco, também recebia parte dos salários desviados do gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj; escândalo cresce e torna praticamente insustentável a permanência de Sergio Moro no governo.

No documento em que pediu à Justiça os mandados de busca e apreensão, o Ministério Público do Rio afirma que o chefe da milícia Escritório do Crime, o ex-PM Adriano Magalhães da Nóbrega, ficava com parte dos valores arrecadados na “rachadinha” no gabinete de Flávio Bolsonaro à época em que ele era deputado estadual.

O Escritório do Crime, que atua em Rio das Pedras, na zona oeste do Rio de Janeiro, é apontado pela Polícia Civil do Rio e pela promotoria como responsável pela morte da vereadora Marielle Franco (PSOL), em março de 2018. Adriano está foragido da Justiça.

De acordo com o Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc), diálogos de WhatsApp da ex-mulher do miliciano, Danielle Mendonça da Costa, com o ex-assessor Fabrício Queiroz — apontado como operador financeiro no esquema do gabinete de Flávio — e com Adriano mostram que o chefe do Escritório do Crime

tentou manter sua ex-esposa no cargo e admitiu que era beneficiado por parte dos recursos desviados por parentes dele também nomeados na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

Em conversa no dia 6 de janeiro, Danielle relata a Adriano problemas financeiros e ele se compromete a ajudar com “um complemento”. Nessa mesma conversa, o ex-PM afirma que “contava com o que vinha do seu também”, indicando que recebia parte dos valores oriundos de rachadinha no gabinete de Flávio. O MP não revela, contudo, o quanto Adriano teria embolsado.

 

 

*Com informações do 247

*Foto: Bemblogado

Passando recibo de culpa, Defesa de Flávio Bolsonaro entra com Habeas Corpus preventivo no Supremo

O caso, que tramita sob sigilo, está sob a relatoria do ministro Gilmar Mendes.

A defesa do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) entrou com um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF). O caso, que tramita sob sigilo, está sob a relatoria do ministro Gilmar Mendes. O “cuidado” foi tomado após a operação do Ministério Público do Rio de Janeiro que mira denúncias de “rachadinha” no gabinete de Flávio no tempo em que era deputado estadual.

Como o habeas corpus foi protocolado na noite da última quarta-feira (18) no Supremo, às 23h43, o processo ainda pode ser analisado por Gilmar Mendes, mesmo com o início do recesso do STF, que fez a sua última sessão plenária hoje.

Fontes ouvidas pelo Estadão que acompanham o caso acreditam que as maiores chances de o senador obter uma vitória seria durante o período do recesso, que ficará sob comando de Toffoli e do vice-presidente do STF, ministro Luiz Fux até o final de janeiro.

Tanto Toffoli quanto Fux já deram – também durante o plantão do Supremo – liminares que beneficiaram o filho do presidente da República neste ano.

 

 

*Com informações da Forum

Vídeo: Bolsonaro jogou uma “pica do tamanho de um cometa” no colo do filho Flávio

O senador Flávio Bolsonaro está assando em praça pública após a operação de busca e apreensão do Ministério Público do Rio de Janeiro vasculhar endereços vinculados a ele, ao “faz-tudo” da família, Fabrício Queiroz, e a ex-assessores dele na Assembleia Legislativa do Rio. Entre os alvos, parentes de Ana Cristina Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro.

A expectativa seria a de que o presidente da República estivesse sentindo, com toda essa movimentação, um misto de ansiedade e remorso. Ansiedade por que a “pica do tamanho de um cometa”, previsto por Queiroz, está chegando com potencial cataclísmico contra seu governo. Remorso pelo fato da origem da relação entre o clã Bolsonaro e o ex-assessor ser Jair, não Flávio. Foi o, agora, presidente que o colocou lá para ajudar a organizar a coisa toda. Teria, portanto, ajudado a jogar o próprio filho na fogueira.

Mas pelas declarações dadas, nesta quinta (19), remorso foi substituído pelo reflexo de auto sobrevivência. Bolsonaro não quis comentar o caso e tirou o corpo fora. “Eu falo por mim. Problemas meus podem perguntar que eu respondo. Dos outros, não tenho nada a ver com isso”. Os “outros”, no caso, são seu primogênito que “herdou” um problema chamado Queiroz do pai.

O ex-assessor atuava, a partir do gabinete da Alerj, para organizar o esquema que tomava de volta parte dos salários de funcionários. A imprensa já mostrou, diversas vezes, a existência de fantasmas que “trabalhavam” nos outros mandatos do clã. A hipótese é de que Queiroz estaria cuidando de uma holding dos gabinetes do clã.

De acordo com dois deputados do Rio com os quais o blog conversou, o agora presidente utilizava, eventualmente, o gabinete do filho 01 na Alerj para despachar, às sextas-feiras, enquanto deputado federal. Não cabe a ele, portanto, nem o benefício da dúvida quanto às atividades ilícitas que ocorriam no gabinete onde Queiroz trabalhava.

Duas histórias merecem foco especial. Primeiro, o depósito no valor de R$ 24 mil na conta da, hoje, primeira-dama, Michelle Bolsonaro, por Fabrício Queiroz. Bolsonaro disse que era a devolução de parte de um empréstimo de R$ 40 mil, mas não deu provas e nem mostrou como o resto dos recursos foram devolvidos.

Isso reforça que estamos diante de um esquema familiar de “rachadinha”, envolvendo crimes de peculato, lavagem de dinheiro (usando loja de chocolates e compra de imóveis) e organização criminosa. E, provavelmente, de um assessor que pagava contas.

A segunda história é a relação do gabinete de Flávio e, portanto, do clã Bolsonaro com milícias e, mais especificamente, com o Escritório do Crime. A especialidade desse grupo não é vender “gatonet”, mas matar por encomenda para quem tem bastante dinheiro. Queiroz era próximo de Ronnie Lessa, preso pela acusação de executar a vereadora Marielle Franco e o seu motorista Anderson Gomes, e do foragido Adriano Nóbrega, apontado como chefe do Escritório do Crime. Até agora a investigação não trouxe o mandante das execuções.

Investiga-se o repasse de recursos, via Queiroz, a milícias em Rio das Pedras, à rede do grupo de matadores. Adriano e Ronnie, contudo, não são pés de chinelo, cobram caro pelo serviço. Não é, portanto, apenas o dinheiro de rachadinha que conectaria ambos grupos.

Há uma proximidade ideológica, tornada explícita nas condecorações que Flávio fez a eles, quando deputado na Alerj, e nos discursos de defesa de sua atuação criminosa que Jair proferiu no Congresso Nacional. O compartilhamento de visões de mundo pode ter aberto caminho também para o apoio político. Imagine as possibilidades trazidas a grupos de extermínio com amigos no Congresso Nacional e no Palácio do Planalto?

A prisão de Flávio Bolsonaro, que já está sendo pedida por deputados federais da oposição, segue algo difícil, mas o início de um processo de cassação de mandato é mais plausível – com capacidade de travar um governo que não conta com uma vistosa recuperação econômica para ampará-lo. Depende daquilo que ainda será revelado e a consequente ojeriza a isso por parte da população nos próximos meses.

A repercussão disso é incalculável. E a contaminação, irreversível. Por que, nas responsabilidades do esquema familiar, onde se lê “Flávio”, deveríamos ler “Jair”.

 

*Com informações do Blog do Sakamoto

*Foto: Esmael de Moraes

MP diz que Flávio Bolsonaro ‘lavou’ R$ 638 mil em compra de imóveis com dinheiro vivo

Para os promotores, o uso de recursos em espécie tinha como objetivo lavar o dinheiro obtido por meio da “rachadinha” no antigo gabinete de Flávio.

O Ministério Público do Rio de Janeiro afirma ter indícios de que o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) e sua mulher, Fernanda, pagaram em dinheiro vivo de forma ilegal R$ 638,4 mil na compra de dois imóveis em Copacabana (zona sul).

Para os promotores, o uso de recursos em espécie tinha como objetivo lavar o dinheiro obtido por meio da “rachadinha” no antigo gabinete de Flávio na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), que consiste em coagir servidores a devolver parte do salário para os deputados.

A informação sobre os imóveis consta do pedido de busca e apreensão de 111 páginas feito pelo MP-RJ à Justiça fluminense, autorizado e cumprido em operação nesta quarta-feira (18).

A suspeita dos promotores decorre do fato de Glenn Dillard, responsável por vender os imóveis a Flávio e Fernanda, ter depositado ao mesmo tempo em sua conta os cheques entregues pelo casal e a quantia em dinheiro vivo. No dia 27 de novembro de 2012, Flávio e a mulher compraram dois imóveis em Copacabana. A escritura aponta o valor da operação como sendo de R$ 310 mil.

O pagamento ocorreu em duas etapas. Primeiro, foi feito um sinal de R$ 100 mil pago em cheques no dia 6 de novembro. Dois cheques (que somam R$ 210 mil) foram entregues na data da assinatura da escritura. O MP-RJ afirma que, no mesmo dia da concretização do negócio, Dillard esteve no banco HSBC, onde tinha conta, para depositar os valores. A agência usada fica a 450 metros do cartório onde foi assinada a escritura, que, por sua vez, fica a 50 metros da Assembleia Legislativa do Rio.

O norte-americano, segundo a investigação, depositou ao mesmo tempo os cheques e R$ 638.400 em dinheiro vivo. A Promotoria afirma que Dillard não realizou outra transação imobiliária no segundo semestre de 2012, que poderia ser uma origem para o depósito diversa do dinheiro da transação do senador.

Ao mesmo tempo, os promotores escrevem na petição que Flávio e Fernanda também não haviam vendido nenhum imóvel naquele ano e não tinham disponibilidade financeira para a operação. Isso indica, para os investigadores, que a única origem possível para os recursos em espécie é o recolhimento de dinheiro feito junto a ex-assessores.

Como revelou a Folha, Flávio Bolsonaro vendeu os imóveis pouco mais de um ano depois, tendo declarado um lucro de R$ 813 mil. Pelas contas do Ministério Público, o rendimento real foi de R$ 176,6 mil. O uso de imóveis para lavagem de dinheiro consiste no subfaturamento da compra para que, numa futura venda lucrativa, o patrimônio final esteja justificado pela transação imobiliária.

Para o MP-RJ, os R$ 638,4 mil passaram a ter aparência legal após a revenda feita por Flávio ser declarada à Receita Federal. A operação desta quarta-feira ocorreu após quase dois anos do início das investigações contra Fabrício Queiroz, policial militar aposentado que era assessor de Flávio e cujas movimentações financeiras atípicas estenderam as suspeitas ao filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro.

Agentes do Ministério Público cumpriram 24 mandados de busca e apreensão ligados à apuração sobre a prática de “rachadinha”. Estão sendo investigados crimes de peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e organização criminosa.

O Ministério Público aponta suspeitas sobre mais um policial militar, uma loja de chocolate e imóveis do senador Flávio como meios para lavagem de dinheiro da suposta “rachadinha” no gabinete dele na Assembleia Legislativa de 2007 a 2018.

A apuração sobre Flávio começou em janeiro de 2018. O antigo Coaf enviou espontaneamente na época um relatório indicando movimentação financeira atípica de Queiroz de R$ 1,2 milhão de janeiro de 2016 a janeiro de 2017. Além do volume movimentado, chamou a atenção a forma com que as operações se davam: depósitos e saques em dinheiro vivo em datas próximas do pagamento de servidores da Assembleia do Rio.

Queiroz afirmou que recebia parte dos valores dos salários dos colegas de gabinete. Ele diz que usava esse dinheiro para remunerar assessores informais de Flávio, sem conhecimento do então deputado estadual. A sua defesa, contudo, nunca apontou os beneficiários finais dos valores.

O advogado do senador, Frederick Wassef, afirmou que recebeu a informação sobre a operação “com tranquilidade”. O senador não comentou a suspeita específica sobre a transação. Em janeiro, o senador disse à Folha de S.Paulo que o negócio foi fechado “de forma legal entre as partes, numa negociação normal, como qualquer outra compra e venda de imóvel”.

“Todos sabem do boom imobiliário pelo qual passou o Rio de Janeiro à época, razão pela qual as quitinetes foram vendidas por valores superiores”, disse Flávio. O Rio de Janeiro viveu desde 2008 um forte aumento de preço nos imóveis. De acordo com dados do Secovi, contudo, a média de valorização não triplicou o preço dos apartamentos de 2012 a 2014, como no caso do senador eleito.

Segundo Flávio, os dois imóveis são quitinetes de 29 metros quadrados. As tabelas do Secovi apontam que unidades de um quarto em Copacabana tiveram valorização de até 70% no período -não há dados para conjugados.

ALVOS:
Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro
Márcia Oliveira de Aguiar, mulher do ex-assessor
Evelyn Queiroz, filha do ex-assessor
José Procópio Valle, ex-sogro de Bolsonaro
Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada de Bolsonaro
Francisco Diniz, primo de Ana Cristina Valle (ex-mulher de Jair Bolsonaro)
Daniela Gomes, prima de Ana Cristina Valle
Juliana Vargas, prima de Ana Cristina Valle
Maria José de Siqueira e Silva, tia de Ana Cristina Valle
Marina Siqueira Diniz, tia de Ana Cristina Valle
Guilherme dos Santos Hudson, tio de Ana Cristina Valle
Ana Maria Siqueira Hudson, tia de Ana Cristina Valle

QUESTÕES AINDA SEM RESPOSTA NO CASO QUEIROZ

– Quem eram os assessores informais que Queiroz afirma ter remunerado com o salário de outros funcionários do gabinete de Flávio?
– Por que o único assessor que prestou depoimento ao Ministério Público do Rio de Janeiro não confirmou esta versão de Queiroz?
– Como Flávio desconhecia as atividades de um dos seus principais assessores por dez anos?
– Por qual motivo Jair Bolsonaro emprestou dinheiro a alguém que costumava movimentar centenas de milhares de reais?
– De que forma foi feito esse empréstimo pelo presidente e onde está o comprovante da transação?
– Onde estão os comprovantes da venda e compra de carros alegadas por Queiroz?
– Por que há divergência entre as datas do sinal descrita na escritura de permuta de imóveis com o atleta Fábio Guerra e as de depósito em espécie fracionado na conta de Flávio?

INCONSISTÊNCIAS NO PEDIDO DO MP-RJ
Pessoas não nomeadas por Flávio Bolsonaro
Há três casos de pessoas sem vínculo político com Flávio que foram alvo de quebra de sigilo. Elas estavam nomeadas no gabinete da liderança do PSL na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro quando o senador assumiu o cargo e, em seguida, as demitiu

Remuneração de Queiroz
Ao comparar gastos com vencimentos de Fabrício Queiroz, o Ministério Público considera apenas salário da Assembleia e ignora remuneração que ele recebe da Polícia Militar

Saques
Há erro na indicação do volume de saques feitos por Queiroz em dois dos três períodos apontados

Laranja potencial
Promotoria atribui ao gabinete de Flávio servidora da TV Alerj que acumulava cargo com outro emprego externo

Patrimônio
Ao falar sobre um negócio que envolve 12 salas comerciais, os promotores do Ministério Público do Rio escreveram que Flávio adquiriu os imóveis por mais de R$ 2,6 milhões, quando, na verdade, ele deteve apenas os direitos sobre os imóveis, que ainda não estavam quitados e continuaram sendo pagos em prestações por outra empresa que assumiu a dívida.

 

*Folhapress