Não importa a cor do gato, contanto que ele cace o rato (Deng Xiaoping).
Segundo matéria de Guilherme Amado, Época, Arthur Lira está comendo Bolsonaro pelo fígado, sem fazer barulho.
Época – Silêncio demonstra uma mudança grande de estilo em relação a Rodrigo Maia. E isso é uma má notícia para Jair Bolsonaro. Caiu o chanceler, caiu o advogado-geral da União, caiu o ministro da Defesa, caíram os comandantes militares e Arthur Lira nem piscou. Até o almoço desta quinta-feira, 1º de abril, dia da mentira, quando escrevo esta análise, o presidente da Câmara ainda não deu um pio sobre nada disso. Lira foi atendido na reforma, com a ida de uma deputada do centrão, Flávia Arruda, do PL do Distrito Federal, para comandar a articulação política, na Secretaria de Governo. Mas foi derrotado em outros pleitos. O silêncio de Lira é calculado e demonstra uma mudança grande de estilo em relação a Rodrigo Maia. E isso é uma má notícia para Jair Bolsonaro.
Em janeiro, faltando três dias para a eleição da Câmara, Lira dizia que trabalharia em privado para que não fosse necessário cobrar Bolsonaro publicamente quando o presidente fizesse das suas contra a democracia ou o país. De lá para cá, fiel a sua índole, Bolsonaro cometeu várias das suas, e Lira fez um único discurso duro, na quarta-feira 24, quando falou em sinal amarelo e remédio amargo. E bastou.
Bolsonaro entendeu o recado e fez as maldades da reforma numa só tacada, como Maquiavel ensinou. Errou gerando uma crise militar inédita, que aumentará a coesão entre os que veem o Exército como braço do Estado e não do governo. Mas, esquecendo o que o moveu, o fato é que acertou do ponto de vista político e gerencial (e moral, e ético etc.) ao tirar Ernesto Araújo. A ida de Arruda para o Planalto manteve o centrão fiel. E também acertou politicamente ao recusar atender aos pedidos do centrão para trocar os ministros da Educação e das Minas e Energia.
O impopular Bolsonaro sabe que terá de dar tudo que o centrão quiser, mas, se entrega numa tacada só, perde combustível. Lira não gostou da passada de perna na troca de Pazuello. Ele, embora diga o contrário, queria o deputado Dr. Luizinho, do PP do Rio de Janeiro, mas topou a médica Ludhmila Hajjar, diante da negativa do Planalto ao nome do parlamentar. Acabou sendo escolhido Marcelo Queiroga, que se aproximara de Flávio pelas mãos do sogro do zero um, cardiologista como o agora ministro. Lira registrou e não gostou.
Seus interlocutores dizem que ele não comentou as trocas nesta semana para não parecer que estava em oposição ao governo, e que bastaria o fato de Rodrigo Pacheco ter se pronunciado — fazendo uso de sua habilidade de advogado de falar cinco minutos e não dizer nada.
Mas não é bem isso. Lira vai falar em público quando a costura de bastidor não estiver surtindo efeito. E, ao contrário de Maia, não vai ser com notas de repúdio sem consequência real para o governo Bolsonaro no plenário da Câmara.
*Guilherme Amado/Época
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