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Margareth Dalcolmo: Seria a Ômicron o começo do fim da pandemia?

No artigo anterior considerei as possibilidades do que poderíamos, neste início do terceiro ano pandêmico, vaticinar para os próximos meses. Pelo registro histórico, sabemos que “uma epidemia pode durar em média dois anos”, nos reportando à memória de outras ao longo dos séculos. Enquanto sonhamos com o dia em que a Organização Mundial da Saúde vai decretar o fim do “período de exceção” causado pela Covid-19, habitam nosso imaginário temores e dúvidas, e pelo menos três hipóteses se desenham em nossa racionalidade, da mais otimista à mais sombria: a Covid-19, a exemplo de outras viroses respiratórias, irá desaparecendo progressivamente? O Sars-CoV-2 permanecerá endêmico, como o vírus da gripe, mantendo uma sazonalidade anual? Ou, o pesadelo maior, continuará produzindo mutações e variantes a escapar de todo o controle e das vacinas?

O momento é positivo, sem dúvida, a despeito da nova cepa ou de eventuais novas variantes, com o impacto das vacinas. O último estudo publicado pelo CDC (Centro de Controle de Doenças americano) analisa um imenso banco de dados nacional, que recebe notificações tanto de profissionais da saúde quanto de usuários, e classifica efeitos adversos de vacinas em leves e severos, hospitalizações e mortes, entre novembro e dezembro de 2021. Entre 4.249 relatos de crianças entre 5 a 11 anos que receberam a vacina Pfizer, 98% dos efeitos registrados foram leves e, entre os mais sérios, erros de doses administradas, e miocardite com 11 casos sem óbito, em 8 milhões de doses aplicadas.

Conclui esta análise, além de ratificar a vacinação como a melhor arma para prevenir a Covid-19, uma forte recomendação da vacina Pfizer/BioNTech como segura e muito eficaz para essa faixa etária.

Após um período de relativa calmaria propiciado pelas vacinas, sobretudo no Brasil, onde não vingaram os discursos negacionistas e antivacina, e sim a histórica adesão e confiança aos programas de imunização, somos apanhados por essa nova variante tão diversa da cepa original, pelas dezenas de mutações em sua estrutura, que os virologistas já a definem quase como se fora um novo patógeno.

Mas será mesmo a Ômicron tão mais contagiosa do que a Delta, mais patogênica? Ou esse padrão genético tão diferente significaria o estiolamento da pandemia e o começo do fim? Sim, essa hipótese guardaria uma boa plausibilidade biológica, com a prudente distância desta e de uma verdade absoluta. Tudo até o momento nos demonstra que as vacinas dão conta, pelo menos, de atenuar a severidade dos casos, visto que não se observa aumento substantivo de hospitalizações graves. E, assim, o Sars-CoV-2 vai desenhando sua endemicidade e passa a fazer parte do diagnóstico diferencial de doenças virais respiratórias rotineiramente.

Nos Estados Unidos, já vemos com atenção o anúncio do laboratório Moderna, a trabalhar na elaboração de uma nova vacina, visando cobrir as mutações observadas na nova cepa viral. Serão necessários, naturalmente, estudos populacionais de efetividade e segurança da nova formulação. Vemos também, com a nova cepa já dominante há semanas, quadruplicarem os casos, sobretudo entre crianças e profissionais da saúde, levando a desfalques nas equipes de saúde. Esse cenário, aguardamos, com realismo, deve ocorrer no Brasil nessas próximas semanas após as festas de fim de ano. A amostra já nos foi dada nos últimos dois dias, com pessoas que viajaram para lugares como Alter do Chão, no Pará, ou litoral do Ceará, e não podem voltar em avião por estarem sintomáticos e testarem positivos.

Que debate decisivo ainda será necessário para ganhar a consciência crítica de nossa gente, quanto à necessidade de comportamentos pessoais e coletivos protetores? Marguerite Yourcenar, a grande escritora, nos ensina que “o verdadeiro lugar do nascimento é aquele em que, pela primeira vez, se lança um olhar inteligente sobre si mesmo”. Podemos nos inspirar neste começo de ano, com sensibilidade e inteligência.

*Publicado no Globo

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Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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