Vídeo: Jornalista pergunta sobre imóveis, e Bolsonaro diz: Seu marido vota em mim

O presidente Jair Bolsonaro (PL) mencionou a vida pessoal da jornalista da Jovem Pan Amanda Klein e a acusou de ser “leviana”, ao ser questionado sobre a compra de imóveis em dinheiro vivo por ele e seus familiares.

Segundo o Uol, a discussão aconteceu durante entrevista ao vivo no canal da Jovem Pan, na manhã de hoje. Na pergunta, Klein citou reportagem do UOL que mostrou que Bolsonaro e familiares negociaram 107 imóveis desde 1990, dos quais ao menos 51 foram adquiridos total ou parcialmente com uso de dinheiro em espécie. Publicidade.

Amanda Klein: É importante enfatizar que isso acontece no contexto de investigação da prática de “rachadinha” nos gabinetes de dois dos seus filhos, o vereador Carlos e o senador Flávio Bolsonaro. O senhor também é suspeito de ter mantido funcionários fantasmas quando era deputado federal em Brasília. O seu filho Flávio negociou 20 imóveis nos últimos 16 anos, sendo que o último deles foi uma mansão de R$ 6 milhões em Brasília. Sua ex-mulher Ana Cristina Siqueira Valle mora em outra mansão, avaliada em R$ 3 milhões, em bairro nobre em Brasília, com seu filho Jair Renan, e ela é investigada por ter supostamente usado um laranja para adquirir esse imóvel. É importante esclarecer qual origem desses recursos, presidente.

Jair Bolsonaro: Amanda, você é casada com uma pessoa que vota em mim. Não sei como é o teu convívio com ele na sua casa.

Amanda Klein: Minha vida particular não está em pauta aqui.

Jair Bolsonaro: E a minha [vida] particular está em pauta por quê?

Amanda Klein: Porque o senhor é uma pessoa pública, o senhor é Presidente da República.

Jair Bolsonaro: Respeitosamente, essa acusação tua é leviana.

A âncora do jornal tentou mudar de assunto ao menos três vezes durante a discussão.

Confira:

Bolsonaro disse ainda que pediria a certidão dos imóveis do marido de Amanda para ver se foram comprados com dinheiro vivo. “Se pegar os bens do seu marido… Eu vou pedir, Amanda, respeitosamente, uma certidão do seu marido, no fórum, se por ventura ele tenha casas, imóveis, e quero ver, na escritura, quando ele comprou, se está escrito moeda corrente ou não. E aí, Amanda, vai estar escrito moeda corrente? Você vai falar o quê?”

Klein é casada com o empresário Paulo Ribeiro de Barros. Em entrevista ao canal de Cíntia Chagas, em abril, a profissional contou que o marido é eleitor de Bolsonaro, e que “às vezes, dá briga no jantar” pelas divergências políticas. “O fato de ele votar no Bolsonaro e eu não, não quer dizer que a gente não tenha pontos em comum”, disse ela na ocasião.

“Você quer me rotular de corrupto, Amanda?”

Durante a entrevista, Bolsonaro disse ainda que a jornalista queria colocar nele um rótulo de “corrupto”. “Você quer me rotular de corrupto, Amanda?”, questionou. “Se a Folha faz essa investigação sem pé nem cabeça para me atingir, me perseguem há mais de quatro anos, agora você, da Jovem Pan, vai querer endossar a Folha de S. Paulo?”

O presidente continuou, citando novamente o marido de Klein.

“Amanda, você está convidada a conhecer minha mansão na vila história de Mambucaba, que vale, segundo a Folha, milhões de reais. Vá lá conhecer, você é casada por uma pessoa bem-sucedida economicamente, eu te vendo hoje a casa que vale milhões de reais. Você vai acreditar na imprensa, Amanda?”

A dificuldade em crescer entre o eleitorado feminino não tem impedido o presidente de continuar atacando jornalistas mulheres. Durante debate presidencial no último dia 28, Bolsonaro atacou a jornalista da TV Cultura Vera Magalhães, que havia o questionado sobre a cobertura vacinal do Brasil.

“Acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão em mim. Não pode tomar partido num debate como esse. Fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”, disse ele, sem responder sobre o tema perguntado.

Em junho deste ano, o Tribunal de Justiça de São Paulo manteve a condenação do presidente por ofender a repórter Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de S. Paulo. Em fevereiro de 2020, o presidente disse a apoiadores que a jornalista “queria dar o furo a qualquer preço contra mim”. “Furo” é um jargão jornalístico para uma informação exclusiva.

Em junho do ano passado, durante a inauguração do Centro de Tecnologia 4.0, em Sorocaba, no interior de São Paulo, Bolsonaro gritou com uma repórter da CNN. Na ocasião, ele disse que a imprensa faz “perguntas idiotas” e “ridículas”, e disse à jornalista para “voltar ao jardim de infância”.

O episódio aconteceu uma semana após ter ofendido uma jornalista da Rede Globo. Ao ser questionado por uma jornalista da TV Vanguarda, filiada da Rede Globo. Na ocasião, ele chamou a imprensa de canalha e mandou a profissional calar a boca.

Em 21 de julho de 2019, Bolsonaro disse que Miriam Leitão, jornalista e comentarista da Globo, mentiu ao dizer que foi torturada durante da ditadura militar. O filho mais velho dele, o deputado Eduardo Bolsonaro, também já atacou a jornalista da Globo usando a tortura que ela sofreu.

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Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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