Beija-flor, historicamente perfeita, avermelha as terras do Brasil na sapucaí. (Assista)

Com o único enredo de protesto do ano de 2023, a Beija-flor subverte a sua própria tradição de enredo sem engajamento, ou crítica. Nos últimos anos, a busca por uma retórica de maior protesto, fez a escola se perder em histórias contadas com críticas vazias e com pouca autenticidade em seus conteúdos. Fato que mudou esse ano.

Com um carro abre alas encenando o quadro de Pedro Américo, o povo faz, o que o samba enredo inicia dizendo, uma revolução do povo, removendo Dom Pedro do cavalo e colocando uma mulher negra no lugar, interpretada por Isabel Filardes.

Em todo o desfile, a mesma beleza poética da letra do samba (no final), diz que o sangue retinto avermelhava essas terras, fica impresso em alas muito críticas, como a ideia de resistência entre os escravizados, como um elo que atravessa a todos os que sofreram para construir o Brasil profundo.

A crítica não ficou apenas na história, há grande ênfase na associação entre o passada e o presente, contida nos trechos: “Eu vim cobrar igualdade, Quero liberdade de expressão” e “O mito do descaso.”. Ainda, no desfile em si, alegorias falam de um império que se fundamentava na escravidão e na exploração de seu próprio povo, é derrubado por uma república que já nascia velha, dentro dos quartéis, por um golpe militar.

A hipocrisia, a autocracia e o racismo estrutural, fazem com que haja o incentivo à imigração branca, após a abolição da escravidão, em um esforço de embranquecimento do homem brasileiro.

Na sequência, a escola mostra o medo do comunismo, antes de um carro que mostra que o poder, no Brasil, existe para controlar e povo, para manutenção da desigualdade e a opressão do rico pelo pobre.

Na última sessão, a ala dos movimentos sociais, traz faixas contra a fome, contra a discriminação racial, social e LGBTQIA+. Os movimentos campesinos, trabalhistas e das periferias estão representados.

O penúltimo carro mostra a reconstrução da bandeira do Brasil e mostra uma matriarca negra costurando a nova bandeira, como quem reconstrói um país.

Por fim, após o carro dos índios e das revoltas indígenas, a escola dá a resposta, para a pergunta de como recriar o Brasil, basta seguir a própria cultura popular.

Perfeito e emocionante. (Assista à íntegra do desfile)

Oh, oh, oh
Oh, oh, oh

A revolução começa agora
Onde o povo fez história
E a escola não contou
Marco dos heróis e heroínas
Das batalhas genuínas
Do desquite do invasor

Naquele 2 de julho, o Sol do triunfar
E os filhos desse chão a guerrear
O sangue do orgulho retinto e servil
Avermelhava as terras do Brasil

Eu vim cobrar igualdade
Quero liberdade de expressão
É a rua pela vida, é a vida do irmão
Baixada em ato de rebelião
Eu vim cobrar igualdade
Quero liberdade de expressão
É a rua pela vida, é a vida do irmão
Baixada em ato de rebelião

Desfila o chumbo da autocracia
A demagogia em setembro a marchar
Aos renegados, barriga vazia
Progresso agracia quem tem pra bancar

Ordem é o mito do descaso
Que desconheço desde os tempos de Cabral
A lida, um canto, o direito
Por aqui o preconceito tem conceito estrutural

Pela mátria soberana, eis povo no poder
São Marias e Joanas, os Brasis que eu quero ver
Deixa Nilópolis cantar
Pela nossa independência, por cultura popular
Deixa Nilópolis cantar
Pela nossa independência, por cultura popular

Ô, abram alas ao cordão dos excluídos
Que vão à luta e matam seus dragões
Além dos carnavais, o samba é que me faz
Subversivo, Beija-Flor das multidões

Ô, abram alas ao cordão dos excluídos
Que vão à luta e matam seus dragões
Além dos carnavais, o samba é que me faz
Subversivo, Beija-Flor das multidões

A revolução começa agora
Onde o povo fez história
E a escola não contou
Marco dos heróis e heroínas
Das batalhas genuínas
Do desquite do invasor

Naquele 2 de julho, o Sol do triunfar
E os filhos desse chão a guerrear
O sangue do orgulho retinto e servil
Avermelhava as terras do Brasil

Eu vim cobrar igualdade
Quero liberdade de expressão
É a rua pela vida, é a vida do irmão
Baixada em ato de rebelião
Eu vim cobrar igualdade
Quero liberdade de expressão
É a rua pela vida, é a vida do irmão
Baixada em ato de rebelião

Desfila o chumbo da autocracia
A demagogia em setembro a marchar
Aos renegados, barriga vazia
Progresso agracia quem tem pra bancar

Ordem é o mito do descaso
Que desconheço desde os tempos de Cabral
A lida, um canto, o direito
Por aqui o preconceito tem conceito estrutural

Pela mátria soberana, eis povo no poder
São Marias e Joanas, os Brasis que eu quero ver
Deixa Nilópolis cantar
Pela nossa independência, por cultura popular
Deixa Nilópolis cantar
Pela nossa independência, por cultura popular

Ô, abram alas ao cordão dos excluídos
Que vão à luta e matam seus dragões
Além dos carnavais, o samba é que me faz
Subversivo, Beija-Flor das multidões

Ô, abram alas ao cordão dos excluídos
Que vão à luta e matam seus dragões
Além dos carnavais, o samba é que me faz
Subversivo, Beija-Flor das multidões

Oh, oh, oh
Oh, oh, oh

*Fabio Rios

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Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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