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Normalização de Israel com árabes é o alvo dos ataques

Jamil Chade*

Ao disparar foguetes em direção ao território israelense, o Hamas tenta mandar um recado claro e definitivo: não existirá qualquer processo de normalização das relações de Israel com o mundo árabe enquanto as reivindicações do movimento não forem atendidas.

Nos últimos meses, um esforço diplomático inédito tem permitido o restabelecimento de relações entre alguns países árabes e Israel. Há poucas semanas, uma delegação de Tel Aviv visitou a Arábia Saudita, algo que poderia ser considerado como impensável há poucos anos. Dias depois, um ministro israelense foi o primeiro representante da cúpula de um governo de Israel a fazer uma viagem oficial aos sauditas.

Já na semana passada, o ministro de Comunicações de Israel, Shlomo Karhi, também viajou para o país árabe e divulgou uma foto no qual ele e outros membros de sua delegação rezavam no quarto de hotel. Em suas mãos, partes da Torá, o livro sagrado hebraico. Os trechos seriam dados para o governo saudita, como parte dos esforços de normalização que, se fosse concretizada, mudaria a lógica e o mapa político da região.

Mas, para uma ala dos palestinos, a normalização da situação de Israel na região está ocorrendo num processo de marginalização de qualquer reivindicação do movimento em Gaza. Na Liga Árabe, o tema palestino não mobiliza mais e a situação desse grupo vive um abandono. Para muitos na região, a ideia de uma paz com o estabelecimento de dois estados é apenas um sonho distante. Na prática, uma ala palestina acusa parte dos árabes de traição.

Internamente, a liderança política palestina, o Fatah, está absolutamente desacreditado e sequer ameaça realizar eleições, por saber que seria o grande derrotado.

Ao disparar mísseis, o Hamas tenta enterrar definitivamente o Fatah, se apresenta para uma nova geração de palestinos inconformados como seus verdadeiros representantes e busca torpedear e bloquear o diálogo entre o mundo árabe e Israel.

O ataque também é um recado indireto dos iranianos aos sauditas de que a aproximação entre Israel e Ryad não é apreciada.

No fundo, o Hamas manda um recado para a região: nada poderá ser feito sem nós.

O problema, segundo diplomatas, é que, ao matar dezenas de civis inocentes, o grupo aprofunda a rejeição internacional e justifica o isolamento político que sofre nas principais capitais do poder.

 

Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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