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A herança deixada pelo governo militar-miliciano de Bolsonaro, por Luís Nassif

Para contentar o apetite do mercado, o governo aceitou o mais daninho ataque à saúde pública, desde a industrialização do fumo: as bets.

Conversava com meu amigo Luiz Alberto Melchert, um sábio com múltiplos conhecimentos. E ele previa: é só começar a área fiscal a dar sinais de superávit, para o mercado pressionar para aumentar a taxa Selic e pegar o aumento.

Dois dias depois, de fato, parte do mercado, através da mídia, começou a pedir aumento de dois pontos na Taxa Selic.

O Brasil é o país da síndrome de Sísifo. Considerado o mais astuto de todos os mortais, Sísifo foi rei e fundador de cidades, conhecido por sua inteligência e por enganar diversas vezes os deuses. Sua punição, dada a ele por Zeus, foi rolar uma pedra pesada montanha acima, apenas para fazê-la cair toda vez que ele estava prestes a chegar ao topo. Esta tarefa eterna tornou-se o símbolo do absurdo e da inutilidade de algumas ações humanas.

O Brasil é a revanche de Sísifo: por aqui, ele puniu Zeus (o país) a eternamente empurrar a pedra para o alto do morro, para vê-la cair em seguida.

Qualquer arremedo de superávit será eternamente garfado pelo mercado através de uma lógica simples e bizarra.

Se a receita está crescendo, é porque a atividade econômica está crescendo.

Se a atividade econômica está crescendo, abre espaço para reajuste de preços e de pressão sobre a inflação.

Para prevenir, aumenta-se a taxa básica de juros, o mercado se apropria do crescimento da arrecadação e a pedra de Sísifo rola ribanceira abaixo novamente. Investimentos em infraestrutura, saúde educação, retomando o ciclo virtuoso do crescimento? Que nada. Apenas mais impostos no bolso do rentista.

Não apenas isso.

Para contentar o apetite do mercado, o governo aceitou o mais daninho ataque à saúde pública, desde a industrialização do fumo: as bets, os sites de apostas.

Tivemos uma pequena experiência quando houve a permissão para as máquinas eletrônicas de apostas e para os cassinos em centros urbanos. Houve uma epidemia de viciados perdendo bens, desestruturando as famílias. Mais que isso, os bingueiros passaram a dispor de um poder ilimitado sobre as polícias. Financiavam campanhas de deputados em troca da indicação de delegados amigos para sua área de atuação.

Como é uma atividade que atua no limite da legalidade, uma das pernas mais óbvias dos cassinos é a do financiamento de campanha de políticos aliados e o suborno.

*GGN

Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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