Ano: 2024

Publicidade e capitalismo

Beneficiando-se dos recursos da Big Tech para manipular o desejo das pessoas, as corporações capitalistas conquistaram não esse ou aquele setor, mas o mundo; em vez de uma coluna semanal, o próprio controle dos meios de comunicação.

Por Luiz Marques

A publicidade interpelava a necessidade (“esse produto é o melhor”); buscava o convencimento no ideal de eu (“esse produto deixa você mais atraente”); ora se beneficia dos recursos da Big Tech para manipular o desejo das pessoas. As corporações capitalistas conquistaram não esse ou aquele setor, mas o mundo; em vez de um depósito com excedentes, a sociedade; em vez de uma coluna semanal, o próprio controle dos meios de comunicação. A história poderia recuar ao papiro de Tebas, há três mil anos, que anunciava uma recompensa pelo escravo fugitivo, ou às circulares em pilastras do Fórum de Roma. Optou-se pela aventura na Idade Moderna.

No século XVII, newsbooks tinham a função de difundir as notícias. Em Londres, a Catedral de Saint Paul foi o centro de divulgação que, no crescendo, se expandiu com as publicações impressas. Recomendações eram feitas de forma direta, como a que data de 1658: “A bebida chinesa excelente e aprovada por todos os médicos, chamada Tcha, e em outras nações Tay ou Tee, é vendida no Sultaness Head Cophee-House”. A menção aos médicos apela à óbvia autoridade dos especialistas, mais chamados a opinar do que os filósofos nos países de língua inglesa, diferente da França. Na sequência do progresso advieram a sutileza da linguagem e a imagética. Como diz João Cabral de Melo Neto, num belo poema: “A pele do silêncio / pouca coisa arrepia”.

Hoje a publicidade é “um sistema organizado de persuasão e satisfação, funcionalmente similar aos sistemas mágicos em sociedades mais simples, mas estranhamente coexistindo com uma tecnologia científica avançada”, lê-se no ensaio “Publicidade: o sistema mágico”, in: Cultura e materialismo, de Raymond Willians. A magia supre a falta de respostas negociadas com a morte, a solidão, a frustração, a crise de identidade. O estatuto de “cidadão” cede ao de “consumidor”, que substitui o de “usuário”. Somos os canais de escoação do produzido para o mercado. Condição que subsiste ao protesto por bens coletivos (escolas, hospitais). Temas que mostram autonomia do poder econômico e do poder político para uma tomada de deliberações na sociedade.

Arte e ciência

Custou arrumar a bagunça. O estilo usual era o dos “classificados”. O charlatanismo para combater o coronavírus equivaleu aos “estimulantes reais contra o ar infecto”, na epidemia de peste bubônica (1665-1666), na Inglaterra. Propagandas sobre dentifrícios que “usados, os usuários não são jamais acometidos por dores de dente”, trezentos anos atrás, permaneciam ainda nos anúncios televisivos da British Dental Association, à época em que os Beatles aprendiam os acordes. As entidades de publicitários selaram a transição da publicidade para uma profissão, aproximando-a da psicologia, da sociologia e do marketing. A publicidade se descobre uma arte e ciência.

O curioso é que raros produtos de origem fabril se valeram da publicidade, no início. Esta demorou a ser acolhida com suas galerias artísticas (os bunners). O gosto e as urgências da comercialização andavam em lados opostos. A publicidade contemporânea nasce na volumosa campanha publicitária da Imperial Tobacco Company que, em 1901, ofereceu uma soma fabulosa por oito páginas do The Star. O periódico aceitou entregar quatro, um “recorde mundial”, para imprimir “o anúncio mais caro, colossal e convincente nunca publicado em jornal, em todo o mundo”. O volume de entradas desde então se converteu na lição elementar de campanhas publicitárias.

Para chamar a atenção, se utilizava nos cartazes a letra cursiva, o negrito e o asterisco, mais tarde as ilustrações da espuma milagrosa que servia para afiar a lâmina de barbear. Anunciantes recorriam a trapaças e a mentiras. Pós-revolução industrial, a poluição visual das cidades cobriu as ruas com as estampas do livre mercado. Porções, sabonetes e itens do quilate coloriram a paisagem urbana. E a luz de neon, the sound of silence, padronizou as noites de Norte a Sul.

Dissimulação

Durante a Primeira Guerra havia propagandas “Papai o que Você fez na Grande Guerra”. Um poster dizia que o homem que desapontasse o seu país desapontaria igualmente sua namorada ou esposa. Pressões do campo de batalhas e da economia enfatizavam as angústias. O existencialismo captou o espírito do tempo filosoficamente. Na versão autoritária havia que controlar e reprimir a liberdade dos indivíduos para fazer escolhas. Chantagens e falsas promessas receberam uma maquiagem, com ares de modernismo. A subjetivação da interlocução e a decodificação das emoções com vistas a uma potencialização dos lucros estendia os seus tentáculos sobre as almas.

O que não mudou na travessia entre os séculos foi o método de vender as ilusões. Exceto que, agora, se vende de uma bebida a um partido político. O empresariado aderiu à lógica dissimuladora. À medida que a sociedade adapta-se totalmente às massas, a publicidade pede que integremo-nos totalmente nela. A reciprocidade é falsificada. Nesse sentido, o fetichismo da mercadoria, que é um atributo do valor de troca, não de uso, foi superado pelo valor do sígnico.

“Da informação, a publicidade passou à persuasão, depois à persuasão clandestina, visando agora o consumo dirigido, amedrontando-nos com a ameaça de consumo totalitário. O discurso publicitário dissuade e persuade, daí parecer que o consumidor é senão imunizado, livre da sedutora mensagem publicitária”. Com efeito, “se a publicidade não persuade o consumidor sobre a marca, o faz sobre coisa mais fundamental à ordem da sociedade inteira”, observa Jean Baudrillard em “Significação da publicidade”, in: Teoria da cultura de massas, organizado por Luiz Costa Lima. A reflexão, é dos anos 1970; algoritmos da inteligência artificial reinventaram as regras do jogo.

Consciências

No Brasil, a campanha presidencial de 1989 é a primeira no sistema nacional de telecomunicações. A vitória do parceiro da famosa emissora de TV, em Alagoas, não surpreende. O país é permeado pela propaganda política em novelas, nos noticiários, nas jornadas esportivas. Aqui, firmou-se uma aliança entre publicitários, jornalistas, difusores ditos independentes e donos da opinião pública – o “coronelismo eletrônico”. Na atual legislatura, vinte deputados federais e seis senadores possuem ligações midiáticas diretas, outros têm relações familiares. A publicidade se desenvolveu vendendo bens na economia, modernamente vende pessoas na cultura mercadológica. Fez-se indissociável do modo de produção no capitalismo. Os objetos não se bastam; provam-no as reiteradas associações com predicados de beleza, de virilidade, de sensualidade e de status social.

O “cenário de representação política é construído na e pela mídia e vai muito além das campanhas eleitorais, no que se refere à duração e ao conteúdo”, sublinha Venício A. Lima, no artigo sobre “A propaganda eleitoral e partidária e as eleições”, in: Mídia, eleições e democracia, coordenado por Heloiza Matos. O consolo é que na semiótica corporal Lula da Silva evoluiu bastante. No debate final da candidatura debutante, editado capciosamente pela Rede Globo, o ex-metalúrgico relevou os ataques baixos do oponente e estendeu o braço para cumprimentá-lo (erro); o corpo denunciou o colonizado. Desta vez, recusou ficar perto do colonizador ao debater (bingo).

Concluindo. Primeiro, o problema da publicidade não é a má qualidade dos anúncios, ao contrário do que sugerem os aristocratas que subestimam o talento das agências. Segundo, a publicidade retrata um fracasso social em achar informações confiáveis e espaços de participação e decisão, no Estado de direito democrático. Terceiro, os anúncios que fantasiam a sociedade de consumo e a vinculam aos princípios da felicidade e da solidariedade reforçam as desigualdades realmente existentes. Quarto, a publicidade é estratégica para as ações educacionais (respeito às leis do trânsito, aviso sobre catástrofes climáticas) e sanitárias (calendário com locais de vacinação, infantil e adulta); mas desorganiza as consciências para mudanças estruturais, o que só é possível através da práxis política com base num programa transformador para desalienar a vida privada e transcender a mercantilização de tudo e todos. Aí, contam os partidos e movimentos sociais.

Formulações políticas que congelam a democracia no estágio formal-procedimental são reles peças publicitárias do regime de injustiças distópicas. A luta ideológica contra-hegemônica por uma nova sociedade não se encerrou com a derrota do neofascismo, em 8 de janeiro.

Luiz Marques é docente de Ciência Política na UFRGS, ex-Secretário de Estado da Cultura no Rio Grande do Sul

*Forum 21

Sem novas trocas de reféns, familiares israelenses tentam impedir ajuda humanitária a Gaza

Em protesto, manifestantes procuraram bloquear passagem de Kerem Shalom e exigiram que governo negasse entrada de recursos básicos a palestinos até que seus parentes fossem libertados pelo Hamas.

Familiares de reféns israelenses se mobilizaram, nesta terça-feira (09/01), para acessar a passagem de Kerem Shalom em uma tentativa de impedir a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. A medida foi tida como uma forma de protesto contra o “fracasso” na libertação de seus parentes, que seria possível por meio de uma negociação entre as autoridades de Tel Aviv com o grupo de resistência palestina Hamas.

Os manifestantes exigiram que Israel negasse toda a ajuda humanitária aos palestinos, enquanto os “136 israelenses em Gaza permanecessem em cativeiro”.

No entanto, as próprias forças de segurança do Estado judeu acabaram intervindo o protesto e bloqueando o comboio que transportava esses familiares. De acordo com a polícia, o veículo foi detido porque estava em uma “zona militar fechada” já designada.

Ao portal de notícias israelense Ynet, uma das manifestantes que tentou fechar o acesso de uma das únicas fronteiras que possibilitam o transporte de recursos básicos aos palestinos, afirmou que os reféns israelenses “também precisam de ajuda humanitária”: “É hora de acabar com essa piada”, concluiu.

Ainda de acordo com o Ynet, as famílias estão planejando uma segunda tentativa de chegar a Kerem Shalom nos próximos dias.

À medida que a crise humanitária entre os palestinos se agrava, Israel é cada vez mais pressionado pela comunidade internacional para permitir a entrada de ajuda na Faixa de Gaza.

Nesta terça-feira, o próprio representante da Organização Mundial de Saúde (OMS) para os palestinos expressou preocupação com relação aos recursos limitados que chegam em Gaza, afirmando que “é muito pouco” e que “é tarde demais, especificamente no norte”.

Já o coordenador das equipes médicas de emergência do organismo, Sean Casey, declarou que há fome em Gaza, e que a assistência humanitária, principalmente a de alimentos, é “desesperadamente necessária”.

Até o momento, o Ministério da Saúde de Gaza contabiliza mais de 23 mil palestinos mortos pelas ofensivas israelenses, sendo que a grande maioria desse número é composta por mulheres e crianças. Além disso, pelo menos 59 mil estão feridos, o que representa aproximadamente 2,7% da população total de Gaza.

Já as autoridades israelenses contabilizam cerca de 1.200 de seus civis mortos. De acordo com o Estado judeu, 240 foram tomados como reféns, dos quais, oficialmente, 132 permanecem em cativeiro após uma trégua humanitária de sete dias negociada entre as autoridades israelenses e o Hamas, que resultou na libertação de 105.

Enquanto outros foram libertados fora do acordo temporário entre as partes do conflito, três morreram por engano pelos próprios soldados das Forças de Defesa de Israel (IDF).

*Opera Mundi

Lula e Lewandowski já discutem equipe do Ministério da Justiça; diretor da PF fica, mas Cappelli pode sair

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Ricardo Lewandowski já estão tratando da futura da equipe do Ministério da Justiça e da Segurança Pública, informa Guilherme Amado, no Metrópoles. O ministro aposentado do STF, que comandará a pasta com a saída de Flávio Dino, concordou em manter no cargo o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, como quer Lula.

Lula tem ótima avaliação do trabalho de Andrei.

Em relação a outros integrantes da atual equipe de Dino, Lewandowski disse querer nomear o secretário-executivo, o que significaria a saída de Ricardo Cappelli do cargo.

Sobre os outros secretários, Lewandowski ficou de avaliar nome a nome.

 

 

É preciso processar e prender os peixes graúdos da tentativa de golpe do 8 de janeiro

Por Gilberto Maringoni, em perfil de rede social, via professor Manuel Domingos Neto

É MUITO BOM QUE O GOVERNO FEDERAL promova na próxima segunda o ato solene em defesa da “Democracia inabalada”.

Ele acontecerá no Senado para marcar o primeiro aniversário da tentativa de golpe do 8 de janeiro e contará com a presença dos presidentes dos três Poderes, governadores, prefeitos, parlamentares e outras autoridades.

Mas, pelo andar da carruagem, periga ser um acontecimento estridente na forma e pasteurizado no conteúdo. De outra parte, a extrema-direita faz barulho para fazer valer sua visão dos fatos.

Comecemos pelo ato. A expectativa é que nos salões do Legislativo sejam tecidas loas a uma democracia abstrata e que sejam disparadas acusações aos responsáveis mais evidentes pela ação golpista.

São eles o lumpesinato que botou pra quebrar – e que ameaçou explodir um caminhão na entrada do aeroporto de Brasília – e tenebrosas figuras de médio escalão, como o governador do DF, Ibaneis Rocha, seu ex-secretário de Segurança, Anderson Torres, e o comandante da PM local.

Jair Bolsonaro, claro, estará na ponta da língua de alguns dos oradores, entre os quais se destacarão o próprio Lula, os representantes da Câmara, do Senado e do STF.

É POSSÍVEL QUE A LINHA adotada seja a de que a tentativa de golpe teria sido obra de médios empresários do agro e donos de postos de gasolina, juntamente com a malta acampada nas portas dos quartéis desde o final de 2022. Seriam esses o que pretendiam enforcar o ministro Alexandre de Moraes, fechar o STF, derrubar o governo recém-eleito e instaurar uma ditadura, aos gritos de “Mito!”.

Se olharmos para as experiências de troca violenta de poder no Brasil e na vizinhança, logo salta aos olhos que golpe de verdade não se improvisa. É jogo de cachorro grande e não de baderneiros.

No Brasil de 1964, no Chile de 1973, na Argentina de 1976 e na Venezuela de 2002, grupos sociais muito semelhantes, com variações locais, se articularam para emparedar sociedades, tomar o poder, mudar regimes e reprimir descontentes. Esses setores eram sempre as forças armadas, a embaixada dos EUA, o grande capital, a cúpula da Igreja católica e a mídia corporativa.

DIFUNDIR A IDEIA de que pés de chinelo movidos a picanha e cerveja de graça, mesmo que liderados por um genocida, dessem cabo de uma empreitada dessas significa fazer pouco caso da inteligência alheia.

Parece haver uma operação cortina de fumaça para livrar a cara de gente mais qualificada.

Supor, por exemplo, que os militares evitaram um golpe em 8 de janeiro de 2023 por sua arraigada fé democrática, como várias autoridades repetem, implica viajar de primeira classe na maionese.

Curioso é que esse tem sido o traço unificador do discurso de personagens distintos entre si, como o ministro Alexandre de Moraes e o titular da Defesa, José Múcio Monteiro.

Parecem não lembrar que o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira se somou ao então presidente Bolsonaro, pouco antes das eleições presidenciais, ao levantar a lebre de que haveria “risco relevante” nas urnas eletrônicas, sugerindo uma “investigação técnica” nos equipamentos.

Ou que o acobertamento dos vândalos nas portas dos quartéis esteve a cargo de diversos comandantes militares.

Vamos combinar: o que inviabilizou o golpe bolsonarista foi a falta de apoio externo – o governo Biden deixou clara sua contrariedade – e a divisão do grande capital, cuja maior fração embarcara na candidatura Lula pouco antes das eleições de outubro.

É BEM VERDADE que Moraes destacou, em entrevista recente, não ser “possível ter clemência com uma tentativa de golpe”.

Prossegue ele: “Não é possível esquecer quem tentou subverter a democracia no Brasil. (…) Todas as pessoas civis ou militares, da reserva ou da ativa, políticos ou não, todos serão responsabilizados”.

Espera-se que o ministro não recue.

Sempre vale puxar pela memória e verificar que a turma da farda não tem tradição na defesa da legalidade constitucional entre nós.

Em todos – todos! – os ataques à democracia empreendidos desde o golpe republicano de1889, o tropel dos coturnos foi ouvido.

Conspirando, colocando tropa na rua, montando ditaduras, aparatos repressivos e subordinando-se sempre à potência dominante, integrantes desse setor têm forte responsabilidade na construção de nossa sociedade desigual e injusta.

DIFICILMENTE LULA em seu discurso do próximo dia 8 apontará o dedo contra membros de uma instituição de Estado que colheu imenso desgaste durante os anos Bolsonaro, seja por denúncias de corrupção, pela direção irresponsável que imprimiu ao Ministério da Saúde, ou pela incessante busca de boquinhas governamentais.

Além disso, é pouco provável que mencione os partidos políticos ligados ao genocida, agora aboletados em seus ministérios (PP, Republicanos, PSD e União Brasil).

O líder petista construiu a administração com essa gente, por vários motivos, e não pode investir contra ela a quente. “Somos um só povo”, assinala um slogan preparado pela área de comunicação oficial.

APESAR DA NÍTIDA MUDANÇA DE ARES no país, neste primeiro ano, o governo protagonizou recuos sem conta.

Diz o lugar-comum: “não existe vácuo em política”. Aproveitando a deixa, a oposição de extrema-direita mais uma vez mete o pé na porta.

Na sexta (5), trinta senadores, entre eles Rogério Marinho (PL), Ciro Nogueira (PP), Flávio Bolsonaro (PL), Tereza Cristina (PP), Damares Alves (Republicanos), Esperidião Amin (PP), Hamilton Mourão (Republicanos) e Sérgio Moro (União) lançaram a “Manifestação pública referente ao ato Democracia Inabalada, convocado pelos chefes dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário”.

Em duras palavras, denunciam “falhas por parte do governo federal” na contenção da depredação de um ano atrás.

O ataque é direto ao STF, que teria cometido “práticas abusivas” no inquérito das fake news e nas prisões da arraia miúda dos golpistas.

Denunciam “omissões flagrantes de autoridades do governo do Presidente Lula” durante a arruaça de janeiro passado. E seguem: “Ao contrário do afirmado pelo Presidente Lula, a democracia, para nós, não é relativa”. Finalizam altissonantes: “Apelamos (…) aos chefes dos Poderes da República a voltarem a atuar dentro dos ditames constitucionais com a consequente volta à normalidade democrática”.

A AUSÊNCIA DELIBERADA dos governadores de oposição no evento do Senado – com destaque para os do Sul-Sudeste e do DF – completará a risca de giz com que a extrema-direita pretende delimitar os campos no Brasil.

Ou seja, se Lula, como é de seu feitio, faz de tudo para conciliar opostos e evitar bolas divididas, o conservadorismo coloca a política no posto de comando e chama o governo para briga.

Seguramente assim age por se sentir fortalecido diante dos já citados recuos oficiais, como os realizados frente à Faria Lima (com a adoção do novo arcabouço fiscal), ao centrão, aos militares, às igrejas neopentecostais, às ações da política externa em relação a Israel etc. Preocupante.

PARA TERMINAR, UMA HISTORINHA.

Entre 2002-13, durante os governos de Hugo Chávez, estive cerca de 15 vezes na Venezuela. Escrevi dois livros e inúmeros artigos e reportagens sobre o país. Chávez sofreu uma tentativa de golpe entre 11 e 13 de abril de 2002, como me referi no início. Forte resistência popular e um racha nas forças armadas desbarataram a mazorca.

A partir daí, em toda oportunidade, em especial nos aniversários da intentona, ele fazia questão de denunciar o ataque à democracia e alardear alto e bom som quem eram os responsáveis. Agia assim em eventos solenes, em formidáveis manifestações de massa e em viagens internacionais.

Tornou a memória do combate ao golpe algo vivo, fazendo dele uma fonte de legitimidade de sua gestão. Houve outras ameaças. Mas a demarcação politizada de campos em disputa tornou-se uma espécie de vacina contra aventuras rupturistas.

VÁRIOS ANALISTAS RECLAMAM da intensa polarização existente no Brasil. O governo Lula faz de tudo para evitar bater de frente com o ultraconservadorismo. Entre os motivos há o fato de bolsonaristas ocuparem importantes cargos federais, assim como vários projetos neoliberais integrarem o atual leque de políticas públicas, como a austeridade fiscal.

A polarização faz parte da democracia. Não há como fugir dela. Seu oposto é o pensamento único.

Mesmo que o governo Lula tente a todo custo evitar enfrentamentos, como provavelmente fará na segunda-feira, eles são inerentes à vida social.

A extrema-direita, ao contrário, faz da polarização seu elã vital. Ela trabalha para que suas orientações fiquem nítidas aos olhos da população. Com isso, politizam o enfrentamento.

APESAR DE DISCORDAR frontalmente do mérito de suas propostas, é necessário reconhecer que no método de ação a extrema-direita pode consolidar ainda mais sua base social, visando acentuar a defensiva do governo.

No caso dos militares, Lula fez um grande acordo para apaziguar suas relações com eles, nomeando um político da elite ultraconservadora de Pernambuco, formado na ditadura, para chefiar a Defesa, oferecendo-lhes mais autonomia política – suas ações muitas vezes são dissonantes à política externa, por exemplo – e voltando a aumentar o naco do orçamento público a eles destinado.

A tais vantagens, soma-se a perspectiva de impunidade. Ao que tudo indica, o ato de 8 de janeiro visa sacramentar mais uma vez esse pacto pelo alto, passando o pano para a atuação dos comandantes nos últimos anos.

Despolitizar a ação governamental e ceder sempre aos corpos armados são iniciativas que historicamente não tiveram desfechos positivos para a democracia. Que nunca é abstrata, diga-se de passagem.

*Gilberto Maringoni é jornalista, cartunista e professor Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC.

 

O cão de guarda da oligarquia

Lira não presta, ponto.

Lira atira para várias direções. Mas essas têm que ser permitidas pela oligarquia que domina o congresso nacional.

Não tem uma cabeça de burro enterrada no congresso. o que tem enterrado lá, é um estatuto bufado pelo Brasil escravocrata que Lira é fiel.

cicatriz deixada pela chibata dos oligarcas do café, é de arrepiar, porque segue par e passo os “donos” do Brasil oitocentista.

Lira é um nada sem a vestimenta de presidente da Câmara dos deputados. Os últimos dois presidentes desse convescote, foram Cunha e Maia, hoje, ninguéns.

Cunha operou para golpear Dilma e Maia para completar o serviço entregando o banco central nas mãos da agiotagem nacional.

Depois de suas cachorradas, a oligarquia quis se livrar deles na base da lenhada .

O Centrão é um sistema oligárquico, no qual o poder está concentrado.

Lira, assim como foi Cunha e Maia, é o atual cão de guarda dessa escória dentro do congresso. Os coronéis lampiões, a elite dos joãos, o resto de Onça da velha república que o povo brasileiro precisa expurgar, enterrar e salgar.

Presidente Lula, no Washington Post: O Brasil frustrou uma tentativa de golpe. O que aprendemos

Por Luiz Inácio Lula da Silva, no Washington Post, via PT na Câmara

Hoje, dia 8 de janeiro, marca um ano que a resiliência da democracia brasileira foi severamente testada.

Uma semana depois da posse de um novo governo, grupos extremistas invadiram as sedes dos três Poderes da República.

Impulsionados por mentiras e desinformação, quebraram janelas, destruíram objetos históricos e obras de arte, enquanto transmitiam seus atos pela internet.

Exibiam desprezo pela democracia similar ao dos invasores do Capitólio nos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021.

Felizmente, a tentativa de golpe fracassou. A sociedade brasileira rechaçou as invasões e, durante o último ano, o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Poder Executivo dedicaram esforços para esclarecer os fatos e responsabilizar os invasores.

Essa tentativa de golpe foi a culminação de um longo processo promovido por líderes políticos extremistas para gerar descrédito na democracia para benefício próprio.

O sistema eleitoral brasileiro, reconhecido internacionalmente pela sua integridade, foi posto em dúvida por quem se elegeu por esse mesmo sistema. No Brasil, reclamavam da urna eletrônica como nos Estados Unidos reclamavam do voto pelo correio, sem nenhuma evidência. O objetivo dessas ilações falsas era desqualificar a democracia, para sua perpetuação no poder de forma autocrática.

Mas a democracia brasileira prevaleceu e saiu mais forte.

Neste meu retorno à Presidência depois de 12 anos, a união do país e a reconstrução de políticas públicas bem-sucedidas têm sido os objetivos do meu governo.

Melhorar a vida das pessoas é a melhor resposta contra os extremistas que atacaram a democracia.

O desmatamento da Amazônia, que crescia no governo anterior, retrocedeu mais de 50% em 2023.

Retomamos políticas de combate à pobreza como o Bolsa Família, que garante renda para as mães que mantém seus filhos na escola e vacinados.

Nossa economia cresceu 3 vezes mais em 2023 do que o previsto pelo FMI e se tornou o segundo maior destino de Investimento Externo Direto no mundo, segundo dados da OCDE.

O Brasil, com seus compromissos democráticos, voltou ao cenário internacional sem a negação das mudanças climáticas e o desprezo pela ciência do governo anterior, que custou a vida de centenas de milhares de brasileiros na pandemia Covid-19.

O mundo vive hoje um momento contraditório. Os desafios globais exigem comprometimento e cooperação entre as nações. Nunca estivemos tão integrados e conectados. Ao mesmo tempo, temos cada vez mais dificuldades de dialogar, de respeitar as diferenças e conduzir ações conjuntas.

As sociedades estão tomadas pelo individualismo e as nações se distanciam umas das outras dificultando a promoção da paz e o enfrentamento de problemas complexos: crise climática; insegurança alimentar e energética; tensões geopolíticas e guerras; crescimento do discurso de ódio e xenofobia.

Estes são problemas alimentados pela desigualdade em escala global – entre as nações e dentro de cada uma delas.

Nas últimas décadas, um modelo de desenvolvimento econômico excludente tem concentrado renda, fomentado frustrações, reduzido direitos dos trabalhadores e alimentado a desconfiança em relação às instituições públicas.

A desigualdade serve como terreno fértil para a proliferação do extremismo e a intensificação da polarização política. Quando a democracia falha em proporcionar bem-estar às pessoas, extremistas promovem a negação da política e a descrença nas instituições.

A erosão da democracia é exacerbada pelo fato de as principais fontes de informação e interação das pessoas serem hoje mediadas por aplicativos digitais que foram desenvolvidas para obter lucro, não convivência democrática.

O modelo de negócio das Big Tech, que prioriza o engajamento e a captura de atenção, promove conteúdo inflamatório e fortalece discursos extremistas, favorecendo forças antidemocráticas que atuam em redes internacionalmente coordenadas.

É ainda mais preocupante que novas aplicações de inteligência artificial, além de agravar o cenário de desinformação, possam promover discriminação, gerar desemprego e afetar direitos.

Essas questões tecnológicas, sociais e políticas estão integradas. Fortalecer a democracia depende da capacidade dos Estados de enfrentar desigualdades estruturais e promover o bem-estar da população, mas também de avançar no enfrentamento aos fatores que alimentam o extremismo violento.

Outros 6 ou 8 de janeiro só serão evitados se transformando a realidade de desigualdade e de precarização do trabalho.

Essa preocupação motivou a parceria de promoção do trabalho decente que lancei com o Presidente Biden em setembro último, com apoio da Organização Internacional do Trabalho.

Também precisamos de ações globais pela promoção da integridade da informação e pelo desenvolvimento e uso inclusivo e humanista da inteligência artificial. Há, neste momento, esforços promovidos pela Organização das Nações Unidas, UNESCO e outros organismos internacionais para enfrentar esses problemas.

O Brasil assumiu a presidência do G20 em dezembro passado, e colocamos a luta contra as desigualdades em todas as suas dimensões no centro da nossa agenda sob o lema “Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável”.

Espero que os líderes políticos possam se reunir no Brasil ao longo deste ano, buscando soluções coletivas para esses desafios que afetam toda a humanidade.

*Publicado no The Washington Post

Ataque de Israel no Líbano mata alto comandante do Hezbollah

Vice-chefe da unidade de elite Radwan, Wissam al-Tawil foi morto por um ataque aéreo no sul do Líbano uma semana após líder do Hezbollah alertar Tel Aviv contra escalada do conflito.

Um ataque aéreo das forças israelenses no sul do Líbano matou Wissam al Tawil, um comandante sênior do Hezbollah, nesta segunda-feira (08/01. As informações foram confirmadas em um comunicado emitido pelo próprio grupo xiita libanês.

Conhecido como “Jawad”, Tawil era vice-chefe de uma unidade da força de elite Radwan e desempenhou um papel importante nos recentes confrontos do Hezbollah contra exército israelense, liderando na gestão das operações do grupo no sul do Líbano.

Um oficial de segurança local, segundo a agência de notícias AFP, classificou o ataque como “muito doloroso” e acrescentou que “as coisas vão piorar agora”.

Após o ocorrido, o vice-presidente do conselho executivo do Hezbollah, Xeque Ali Damoush, pronunciou-se, afirmando que o grupo não se envolverá em quaisquer discussões sobre confrontos transfronteiriços até que os israelenses cessem sua “agressão contra Gaza”.

O ataque acontece uma semana após o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, alertar Israel, por meio de dois discursos televisionados, para não lançar uma guerra em grande escala contra o Líbano.

Desde 7 de outubro, quando as ofensivas israelenses contra o território palestino passaram a ganhar proporções, o grupo xiita libanês perdeu pelo menos 130 combatentes pelos bombardeios transfronteiriços comandados por Tel Aviv.

Retaliação por Saleh al-Arouri
Na manhã de sábado (06/01), o Hezbollah disparou dezenas de mísseis na região de Meron, no norte de Israel, tendo como alvo o posto militar israelense que armazenava uma barragem de 62 foguetes.

Segundo o grupo libanês, a ofensiva foi uma “resposta preliminar” ao assassinato de Saleh al-Arouri, que foi vítima de um atentado comandado pelo Estado judeu, na terça-feira (02/01), em Beirute, capital do Líbano.

Al-Arouri era um alto funcionário do Hamas e fundador da sua ala militar, as Brigadas Al Qassam. Logo após o assassinato, o Líbano havia apresentado uma queixa formal à Organização das Nações Unidas (ONU) por violação da sua soberania e integridade territorial.

O ataque também foi classificado como uma “agressão flagrante” pelo próprio líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, que acrescentou que não ficaria “sem resposta ou impune” frente às ações israelenses.

*Opera Mundi

Ex-roqueiro, Roger, quer criar um museu “a gente somos inútil” em homenagem aos bolsonatistas do 8 de janeiro

Chamados de baderneiros até por Bolsonaro, bolsonaristas do 8 de janeiro devem ganhar um mausoléu com o nome “a gente somos inútil”.

É que o ex-roqueiro, Roger, hoje, vivendo como elenco de apoio no SBT, ficou indignado quando soube que será erguido um museu em prol da democracia contra os atos terroristas de 8 de janeiro.

Roger acredita que o museu, feito de pau a pique e capim gordura, responderá todas as dúvidas que possam surgir sobre a sala secreta do TSE, o pneu divino, para o qual os bolsonaristas rezaram, e os seres extra terrestres que ajudariam os verde e amarelo a tomar o poder..

Roger jorra idiotices fascistas em seu twitter e adora fazer solenes declarações de amor pelo elevado QI do seu fígado. O sujeito é antipático até para os que, supostamente, estão do seu lado na guerra intestina que travam contra a sociedade brasileira.

O sujeito, que está encrespado de cólera, por conta do museu da democracia, quer porque quer um troço qualquer que represente os inúteis terroristas do 8 de janeiro.

O que revela o erro dos que não vão ao 8/1 como Lira e Tarcísio

Eles deveriam ser claros sobre motivos de não participarem de ato em prol da democracia.

O presidente da Câmara, Arthur Lira, informou hoje que não estará presente no ato pela democracia no Congresso, que marcará um ano das tentativas de golpe. Lira alegou problema de saúde na família. Tarcísio de Freitas, que comanda o maior estado do Brasil, e outros quatro governadores alegaram problemas de saúde ou viagem. Seria melhor que dissessem claramente o porque não vão, ficaria mais explícito. Evidentemente não são essas as razões.

O governador de São Paulo, por exemplo, chega hoje à noite de viagem, poderia ter antecipado o voo, claro. O que que isso indica? Indica que a direita brasileira ainda não consegue, na sua totalidade, separar o extremismo da direita democrática. Todas as correntes políticas, direita, esquerda, centro, são bem-vindas no jogo democrático. Quem não é bem-vindo é quem faz o que foi feito no dia 8 de janeiro de 2023, quando foram invadidos o Supremo, o Congresso e o Planalto, destruído o patrimônio público com o objetivo de criar um caos que levasse a uma intervenção militar.

Essas lideranças de direita precisam entender o que é defesa da democracia e o que é divergência política. Não ir ao ato é uma demonstração de falha dessas lideranças, é não perceber que esse é o momento institucional em que todas as divergências políticas deveriam ficar de lado em prol da defesa da democracia.

Esse não é apenas um comportamento das lideranças, muita gente ainda age assim. Felizmente, pesquisa da Quest, divulgada ontem, mostra que 89% dos brasileiros condenam os atos de 8 de janeiro. É importante condenar o ato em si. E também entender que a alternância do poder é do jogo democrático.

Conversei com militares e toda a informação que eu tenho aqui é que as Forças Armadas participarão do evento. Eles irão porque entendem que é um ato institucional em defesa da democracia.

Nesse sentido, a escolha do Congresso como palco central do evento é muito importante, pois mostra que não se trata de um ato do governo Lula, mas da democracia brasileira. E, justamente, o fato do Congresso ser a sede do ato torna ainda pior a ausência de Arthur Lira.

*Miriam Leitão/O Globo

Operação Lesa Pátria: um ano depois, PF mira fomentadores e financiadores dos atos golpistas de 8/1

A Polícia Federal cumpre na manhã desta segunda-feira (8) mandados de busca e apreensão e prisão na 23ª fase da Operação Lesa Pátria, investigação que mira os responsáveis pelos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.

São cumpridos 46 mandados de busca e apreensão e um de prisão.

As ações são realizadas no Distrito Federal, Tocantins, Minas Gerais, Santa Catarina, Maranhão, Bahia, Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso, Goiás, Paraná, Rondônia.

A operação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que também determinou a indisponibilidade de R$ 40 milhões em bens, ativos e valores dos investigados.

“Os fatos investigados constituem, em tese, os crimes de abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido”, diz a PF.

Deflagrada dias após o 8 de janeiro, a Lesa Pátria se tornou permanente, com atualizações periódicas acerca do número de mandados judiciais expedidos, pessoas capturadas e foragidas.

A operação da PF desta segunda tem origem nas quatro frentes de investigação abertas após os ataques de 8 de janeiro.

Uma delas mira os possíveis autores intelectuais, e é essa frente que apura ações do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Outra tem como objetivo mapear os financiadores e responsáveis pela logística do acampamento e transporte de bolsonaristas para Brasília.

O terceiro foco da investigação PF são os vândalos. Os investigadores buscaram identificar e individualizar a conduta de cada um dos envolvidos na depredação dos prédios da capital federal, que acabaram denunciados pela PGR (Procuradoria-Geral da República).

A quarta linha de apuração avança sobre autoridades omissas durante o 8 de janeiro e que facilitaram a atuação dos golpistas.