Ano: 2024

Mensagens mostram intimidade entre Anielle e Almeida até novembro de 2023

Pivôs de um escândalo de assédio sexual, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, trocavam mensagens em tom informal, a ponto de se tratarem pelos apelidos de “Preta” e “Preto”. Mesmo depois da reunião em maio de 2023, em que Anielle teria sido assediada por Almeida, de acordo com o colunista Igor Gadelha, os dois seguiram trocando mensagens com intimidade. Mas um distanciamento entre eles aconteceu em novembro do ano passado.

O Meio teve acesso a um arquivo de WhatsApp que mostra os diálogos trocados entre os dois desde o dia 10 de novembro de 2022, ainda no período da transição do governo Lula, até 24 de março deste ano. A veracidade e a integridade desse arquivo foram confirmadas por um interlocutor do governo.

O Meio procurou Anielle e Silvio Almeida para ouvir suas versões sobre as mensagens e, assim que obtiver alguma resposta, atualizará este texto.

Almeida é acusado pela organização Me Too Brasil por supostos episódios de assédio sexual, de acordo com reportagem publicada pela coluna de Guilherme Amado, no Metrópoles. Uma das vítimas de assédio seria a ministra Anielle.

A informalidade entre os dois fica evidente até agosto do ano passado. Em mensagem enviada na manhã de 28 de agosto de 2023, o ministro diz o seguinte para Anielle: “Bom dia! Três coisas: 1. Quero reafirmar tudo o que disse ontem a você. Quero ser seu parceiro, a pessoa em que você pode confiar. Eu não estava bêbado quando conversamos ontem no avião do PR…rsrs 2. Reafirmo que só temos a ganhar nos unindo e, mais do que isso, demonstrando essa unidade em palavras e ações. 3. E reafirmo o que disse por último: acho você uma mulher extraordinária, Anielle Franco”. A resposta da ministra veio em seguida, com um “Bom dia”, seguido de “Minha admiração por você é imensa. A última coisa que eu quero é que a gente se dê mal. Sei que a gente pode não ter começado tão bem, mas eu acredito de verdade, que a gente pode mudar daqui pra gente. Reafirmo tb o nosso combinado. Vou chegar já já no gabinete e vou ver a agenda como tá e te falo”.

Em 2 de setembro, ao se despedir de Almeida, a ministra escreveu: “Bom fds pra vcs. Não esquece de mim semana que vem. Bjo!” A resposta do colega foi calorosa: “Nunca vou esquecer porque para mim este nosso papo é um dos mais importantes que eu tenho que fazer. Tanto em nível político, quanto em nível pessoal.”

Em seguida, Anielle enviou uma imagem ao colega de Esplanada e recebeu de Almeida a resposta: “Somos lindos, Anielle! E esse seu vestido é deslumbrante.” Essa conversa ocorreu no dia 3 de setembro de 2023, na véspera de Anielle defender que Lula nomeasse uma mulher negra para a vaga que aberta no Supremo Tribunal Federal (STF) pela aposentadoria da ministra Rosa Weber.

Na época, o elogio foi bem recebido pela ministra. Ela respondeu: “Ficou mto foda né !?” “Bora pensar num textinho pra subir juntos!? Pode ser amanhã kkkkk só queria te enviar mesmo”. E Almeida concordou: “Vamos! Tô muito animado com a possibilidade da gente acertar tudo esta semana”.

Anielle, por sua vez, responde a Almeida: “Algo leve. Tipo. Lindos, negros, competentes e ainda ministros kkkkkk”, o que arranca risadas de Almeida. “Tem que ser algo leve, mas que ao mesmo tempo ressalte nossa aliança pessoal e política. Vou pensar em algo”, respondeu ele.

As mensagens demonstram ainda que Anielle passou um longo período sem falar com Silvio por esse canal. Mais precisamente, de 21 de novembro de 2023 a 24 de março de 2024. Neste dia, vieram a público as revelações do inquérito da Polícia Federal sobre o assassinato da vereadora Marielle, irmã de Anielle. Depois de duas ligações de Silvio não atendidas, o ministro escreveu uma mensagem à colega: “Querida Anielle: Venho prestar minha solidariedade a vc neste momento de esclarecimentos, mas também de reviver a dor intensificada pela comprovação da absurda falência do estado com requintes de crueldade para com a sua família. Preciso lhe informar que a gestão do programa de proteção em nível federal identificou que medidas de proteção executadas pelo programa estadual são insuficientes para proteção da sua família e de Monica Benício neste momento, pois estão sem escolta federal que se considera recomendável nas atuais circunstâncias. Já entramos em contato com o MJ para solicitar essas medidas, obviamente sob sua consulta e avaliação. Estou a sua disposição para o que for necessário. Forte abraço”.

Anielle retorna em uma ligação de 50 segundos. Os dois trocam mais duas mensagens sobre um ofício ao ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, para estender a proteção à família. Anielle, formalmente, responde: “Obgd”. E esse é o fim do arquivo.

*Luciana Lima/Meio

Especial 7 de setembro: o Haitianismo e a Independência do Brasil

Saiba o que foi o Haitianismo: movimento das potências europeias para evitar outra revolução de escravizados, como a do Haiti.

Haitianismo. Você já ouviu, leu ou viu essa palavra? Sabe o que ela significa? Tudo bem, vamos juntos entender um pouco como, em nossa história, essa palavra esteve presente em grande parte do século XIX e que, de certa forma, entre o dito e o não dito, esteve presente em nossa independência.

A palavra surgiu após os ecos da Revolução Haitiana pelo continente americano. O movimento aconteceu numa pequena e valorosa colônia francesa no mar caribenho, Saint Domingue. Se a Revolução burguesa, na França, em 1789, teve entre as ideias alguns dos conceitos filosóficos do Iluminismo como liberdade, igualdade e fraternidade, na Colônia caribenha, tais ideias foram colocados em xeque.

Os jacobinos negros, como ficaram conhecidos no livro de C. R. L James, foram além e questionaram para quem seriam a liberdade e a igualdade. Os revolucionários haitianos passaram a ação, pegaram em armas e lutaram pela libertação da escravidão e também pela igualdade entre Colônia e Metrópole. E quanto à fraternidade, bom, essa nem na França, nem no Haiti foram amplamente cultivadas, e é assunto para um outro momento. Vejamos, agora, porque esse movimento se tornou fonte desta palavra “haitianismo”, que carregava, em seu significado, o medo.

Trabalhadores, sim, trabalhadores escravizados foram os protagonistas desse movimento que culminou no fim da escravidão e logo depois na independência dos domínios coloniais franceses. Negros escravizados, ex-escravizados, mulatos escravizados ou não, e no começo da revolução, brancos pobres: essa foi a configuração da revolução. E, à frente, um general negro ex-escravozado: Toussaint Louverture.

Sob seu comando, Louverture levou os haitianos à vitória contra tropas francesas, espanholas e até mesmo inglesas. Pode imaginar isso? Lá, no longínquo final do século XVIII, começo do século XIX. Foi espantoso, assustador, revelador, ameaçador, algo que “precisava ser silenciado para não servir de exemplo para outras colônias”, para outros escravizados, para outros trabalhadores. E olha que ainda nem tínhamos a famosa frase de Karl Marx: “Trabalhadores do mundo, Uni-vos.” Sim, isso aconteceu muito antes de Marx.

Neste ponto, você já deve ter entendido o porquê do medo na raiz da palavra haitianismo. Por aqui, em terras que ainda eram portuguesas, os ecos dessa revolução foram sentidos, com muito medo. Afinal, a colônia portuguesa na América tinha uma população majoritariamente negra e indígena, e os trabalhadores eram, em sua maioria, escravizados.

O que a Revolução Haitiana influiu na Independência do Brasil?
Haitianismo foi o medo de que algo igual, ou minimamente parecido. acontecesse em outras colônias. A partir daquele movimento, os ingleses grandes comerciantes de escravos, passaram a defender o fim do tráfico negreiro. Os portugueses se viram pressionados a dar fim ao comércio de escravos. Talvez a melhor solução para os comerciantes negreiros para a América portuguesa, fosse à separação de Portugal. Nossa independência, diferente de outras na América foi liderada por um português que ao fim se tornou o Imperador. Ou seja, ficamos independentes da metrópole sendo governados pelo filho do Rei metropolitano, e garantindo assim o comércio de escravos por um bom tempo ainda. Aqui no Império do Brasil, o fim do tráfico de escravos só passaria a ser de fato ilegal em 1850.

Para além da independência, outra consequência desse haitianismo foi a repressão cada vez mais violenta sobre qualquer rebeldia ou revolta de escravizados. Assim foi com os Malês, na Bahia de 1835; Manoel Congo, no Rio de Janeiro em 1838 e Carrancas, em Minas Gerais em 1833, só para citar algumas.

Revolta dos Malês: a revolta de escravizados africanos ocorreu em Salvador, em 25 de janeiro de 1835. Foram cerca de 600 homens, a maioria, de negros muçulmanos, em especial da etnia nagô, de língua iorubá. A expressão “malê” vem de “imalê” que, em iorubá, significa muçulmano.

O haitianismo, como nos ensinou o professor Marco Morel: “surgiu no Brasil com a crise da abdicação de D. Pedro I em 1831”. No entanto, podemos afirmar que o sentimento de medo que a Revolução haitiana causou, foi sendo construído ao longo dos anos que se seguiram a Revolução. Tal movimento deu origem ao primeiro país da América onde a escravidão foi abolida.

Em 1824, um Abade francês, Henri Grégorie, definiu assim aquele movimento: “Haiti é um farol elevado sobre as Antilhas, em direção ao qual os escravos e seus senhores, os oprimidos e opressores voltam seus olhares, aqueles suspirando, estes rugindo.” Silenciar o ocorrido na antiga colônia francesa foi o que as metrópoles e as elites coloniais fizeram. Obrigando ou impondo o desviar do olhar ao farol, da luz que poderia inspirar revoltas, revoluções e a justa luta por liberdade e igualdade.

*TVT

Lula promete Orçamento de 2026 com isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil

Presidente defendeu mudanças na cobrança do tributo para taxar ricos e isentar pobres.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira (6) que o Projeto de Lei Anual Orçamentária (PLOA) de 2026 já vai prever que trabalhadores que recebem salários de até R$ 5 mil não tenham o Imposto de Renda (IR) descontado dos seus pagamentos. Segundo Lula, a mudança tornará a cobrança do tributo mais justa no país.

“Vou cumprir minha promessa. Em 2026, na hora que for mandado o Orçamento para o Congresso Nacional, estará lá a rubrica de que quem ganha até R$ 5 mil não pagará Imposto de Renda”, disse o presidente, em entrevista à rádio Difusora, de Goiânia (GO).

A mudança da faixa de isenção do IR foi prometida pelo presidente durante a campanha eleitoral de 2022. Na época, ele disse que a faixa de isenção chegaria a R$ 5 mil até o final de seu mandato, em 2027. Hoje, ela está em R$ 2.824 – dois salários mínimos.

Para Lula, a mudança é necessária para equalizar a cobrança. “Hoje, quem ganha R$ 3 mil ou R$ 4 mil paga proporcionalmente mais imposto do que um rico”, afirmou o presidente.

Ele indicou que a mudança no IR deve prever a taxação de rendimentos que hoje são isentos no país, como os dividendos. “O trabalhador recebe participação no lucro da empresa. Ganha R$ 10 mil ou R$ 15 mil. O imposto vai lá e cobra 27% dele. Agora, os acionistas da Petrobras receberam R$ 45 bilhões de dividendos. Sabe quanto de imposto pagaram? Zero. A coisa está errada”, acrescentou.

A cobrança de tributos sobre dividendos é uma das propostas que devem ser incluídas numa reforma do IR. Em janeiro 2023, dias depois de Lula assumir a Presidência, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), declarou que essa reforma seria encaminhada pelo governo ao Congresso no segundo semestre daquele ano, o que não ocorreu.

Igualdade e consumo

Ao final de 2023, quando o Congresso promulgou a reforma sobre tributos do consumo, foi estabelecido um prazo de 90 dias para que o governo encaminhasse o texto da reforma tributária da renda. O prazo venceu em março, mas não foi cumprido. Haddad disse em agosto que a proposta deve ser entregue em outubro.

O PLOA de 2025, enviado ao Congresso em agosto, não prevê reajuste da tabela do IR. Ainda assim, Lula reforçou seu compromisso de mudar o imposto, incluindo alterar os tributos cobrados sobre heranças no Brasil. “Nos Estados Unidos, a herança paga simplesmente 40% de imposto. Aqui no Brasil, é só 4%”, comparou.

Para Lula, reduzindo a tributação dos mais pobres e aumentando a cobrança sobre os mais ricos, o Brasil caminha para uma maior igualdade. Além disso, estimula sua economia, já que os mais pobres consomem mais quando têm mais renda disponível.

*BdF

Fala de Putin sobre o Brasil na mediação do conflito em Kiev evidencia ‘força diplomática’ do país

Nesta quinta-feira (5), o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que o Brasil é um dos países interessados em pôr um fim ao conflito em curso na Ucrânia.

A declaração foi dada durante a realização do Fórum Econômico do Oriente, na cidade russa de Vladivostok.

Segundo especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil, a fala de Putin reforça o papel do Brasil como país neutro e solucionador de conflitos via intermediação diplomática.

À Sputnik, Larissa Caroline da Silva, mestre em relações internacionais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), pontuou que esse movimento do líder da Rússia realça a força diplomática brasileira.

“A declaração do Putin sobre o Brasil coloca o Brasil de novo nessa questão [como solucionador e intermediador], que é algo que o presidente Lula vem desde o início do mandato se posicionando. E o Brasil, inclusive, já tinha demonstrado interesse em ser mediador desse conflito”, cravou a internacionalista.

Larissa Caroline acredita também que o governo brasileiro “aceitaria tranquilamente e […] gostaria de fazer […] parte dessa negociação […] desse conflito”.

Mudança de percepção
Para o jurista Hugo Albuquerque, “o Brasil é um dos poucos países que têm tomado uma posição de querer encerrar realmente o conflito”.

“O Ocidente coletivo tem tomado uma posição de derrotar a Rússia. Por isso o presidente Putin chega a essa referência ao Brasil, e a mesma coisa à China, que é uma aliada até mais orgânica da Rússia. Ela busca uma solução, porque à China não interessa economicamente e geopoliticamente esse conflito; ela busca uma saída concertada. Mas isso não interessa ao Ocidente liderado pelos Estados Unidos”, analisou Albuquerque.

Segundo Larissa, a declaração recente do presidente russo pode de fato impactar a percepção de alguns países sobre a neutralidade do Brasil. No entanto, ela também abre uma oportunidade estratégica para o país se afirmar como um mediador eficaz.

“Acredito que a afirmação do Putin pode impactar a percepção de alguns países sobre a neutralidade do Brasil, mas talvez seja até interessante trazer o Brasil para essa discussão”, comentou Larissa. Ela destacou que “o Brasil é um país que não se envolve em conflitos, tem boas relações com os seus vizinhos” e que sempre manteve a visão de ser um país pacífico em sua política externa.

Jandira: “denúncia de assédio citando Silvio deve ser encarada com seriedade, mas sem condenações ou linchamentos prévios”

Deputada comentou sobre a suposta denúncia de assédio envolvendo o ministro Sílvio de Almeida.

A deputada Jandira Feghali se pronunciou após o movimento Me Too, conhecido por seu apoio a vítimas de violência sexual, confirmar receber denúncias contra o ministro Silvio Almeida citando a também ministra Anielle Franco, que optou por não comentar sobre o caso até o momento. Em defesa, Silvio Almeida divulgou uma nota negando as acusações e repudiando as alegações de assédio.

“O episódio que envolve dois ministros negros e muito simbólicos é triste e surge num momento politicamente delicado. Exige a prioridade nas apurações com ausculta e direito de defesa. Uma denúncia de assédio deve ser encarada com seriedade, pois a vida e voz das mulheres precisam ser respeitadas, mas sem condenações ou linchamentos prévios. E que ao final, a justiça prevaleça acima de interesses outros. Nossa luta se fortalece assim: com respeito e justiça”, diz Jandira.

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Aparição de Caiado em festa com foragido vira pauta em Goiás

Ronaldo Caiado esteve no aniversário de Gusttavo Lima na Grécia; grupos de Zap mostram foto em que ele aparece no mesmo cenário que foragido.

Circula em grupos de WhatsApp uma foto do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), no mesmo evento que José André da Rocha Neto. Fundador da casa de apostas Vai de Bet, o empresário está foragido da Justiça brasileira e é investigado no âmbito da Operação Integration, responsável pela prisão da advogada e influenciadora digital Deolane Bezerra. A ação mira um esquema de lavagem de dinheiro e fraudes em apostas online.

O evento em questão foi o aniversário do cantor Gusttavo Lima, celebrado na Grécia. A assessoria de imprensa de Ronaldo Caiado afirma que o governador tirou férias e viajou à Europa para acompanhar a comemoração do cantor sertanejo, mas que não conhecia todos os convidados do artista, como o foragido. Caiado tem a segurança pública como uma de suas principais pautas.

O próprio Gusttavo Lima também foi citado no âmbito da operação. Um avião registrado como propriedade de uma empresa do cantor foi apreendido em São Paulo. Ele afirma que já vendeu a aeronave. Os advogados da estrela sertaneja, contudo, recusaram-se a apresentar a referida documentação à coluna.

A Vai de Bet opera no Brasil desde 2022 e tem sede em Curaçao, um paraíso fiscal no Caribe. Ela escolheu Gusttavo Lima como garoto propaganda, mas também patrocinou grandes clubes do futebol brasileiro, como o Corinthians. No exterior, André da Rocha não foi localizado pela Operação Integration.

Prisão de Deolane
A influenciadora foi presa nessa quarta-feira (4/9) no Recife, por suposto envolvimento num esquema de lavagem de dinheiro e jogos ilegais. Além de Deolane, outras 18 pessoas receberam mandados de prisão na Operação Integration, que mobiliza 170 agentes em Campina Grande (PB), Barueri (SP), Cascavel (PR), Curitiba (PR) e Goiânia (GO), além do Recife.

Grupos pró-Bolsonaro e Lava Jato mudam de nome e transferem audiência para Marçal

Para impulsionar Marçal à  Prefeitura de SP, páginas e grupos criados para defender outros políticos e causas mudaram nome e identidade.

A fim de impulsionar a candidatura de Pablo Marçal (PRTB) à Prefeitura de São Paulo, páginas e grupos criados originalmente para defender outros políticos e causas mudaram de nome e de identidade para transferir ao ex-coach a audiência que já possuíam.

Alguns dos grupos existiam desde 2016, e temas anteriores incluíam a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), da Operação Lava Jato e de pautas da extrema-direita. Todos trocaram de roupagem e passaram a divulgar Pablo Marçal — inclusive com a disseminação de desinformação e ataques contra adversários dele —, alcançando ao menos 1,2 milhão de usuários.

A reportagem identificou oito grupos — seis no Facebook, um no Telegram e um no WhatsApp — e três perfis no Instagram que trocaram de nome desde maio para divulgar a candidatura de Marçal, segundo levantamento feito em parceria por ICL Notícias, Aos Fatos e Intercept Brasil.

Um desses canais foi compartilhado pelo próprio Pablo Marçal e se tornou um meio de divulgação oficial da campanha dele.

Criada no Telegram em outubro de 2022, a comunidade chamada InfluenciadoresProBolsonaro foi rebatizada como Marçal por São Paulo. Essa mudança aconteceu no dia 8 de agosto, data do primeiro debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo. Inicialmente com cerca de 52 mil membros, o grupo se expandiu rapidamente após ser divulgado pelo candidato e, hoje, reúne 117 mil usuários.

Nas eleições de 2022, essa mesma comunidade foi usada como parte da estratégia digital da campanha à reeleição de Bolsonaro. Em uma live realizada com o então presidente a duas semanas do segundo turno, Marçal passou a usar a comunidade para enviar “instruções” a supostos 320 mil influenciadores que ajudariam na campanha.

Na época, foi distribuído aos usuários um documento com o título “Faça o que precisa ser feito!”. O material, revelado pelo Poder360, instruía apoiadores a criarem grupos no WhatsApp, usarem uma imagem da bandeira do Brasil em seus perfis, gravarem vídeos e disseminarem as mensagens do grupo original.

Trecho de documento com o título ‘Missão 2’. Texto orienta que usuários gravem e postem vídeos nas redes mostrando indignação contra ‘injustiças que estão levantando contra o presidente Bolsonaro’.

Procurada, a campanha de Marçal não retornou.

A investigação faz parte da aliança “Os Ilusionistas”de 15 meios de comunicação coordenada pelo Centro Latino-Americano de Pesquisas Jornalísticas (CLIP) para investigar a manipulação de informação neste super ano eleitoral na América Latina.

Vira-casaca
Pelo menos três grupos no Facebook que passaram a apoiar Marçal nas últimas semanas estão articulados em rede, já que contam com os mesmos administradores – perfis falsos com fotos de mulheres geradas por inteligência artificial.

É o caso do grupo Juntos com Pablo Marçal – SP, com 36,5 mil membros, que já andou em outras companhias. Criada em 21 de março de 2016, ainda no início do processo de impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, a comunidade se chamava “Juntos com o juiz Sergio Moro” até 7 de agosto de 2024. Foi só então que passou a divulgar a candidatura do ex-coach.

Até se engajar na campanha de Marçal, o grupo estava parado havia pelo menos sete meses. Antes disso, tinha sido usado para convocar manifestações na Avenida Paulista ou pedir o impeachment do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, dentre outras bandeiras da extrema-direita.

As últimas movimentações dele haviam sido o compartilhamento de vídeos de políticos como o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e o senador Eduardo Girão (Novo-CE).

A estreia de Marçal na timeline no dia 7 ocorreu com duas publicações no espaço de 4 minutos: um retrato com o slogan “mude você que ele muda o Brasil” e uma foto no alto de um trio elétrico, fazendo arminha com a mão ao lado de Bolsonaro. “São Paulo não pode cair nas mãos da esquerda nem do PT!! Bora apoiar Pablo Marçal!! O Brasil precisa de São Paulo!!’, publicou a suposta administradora do grupo.

O mesmo perfil falso é membro do PABLO MARÇAL – PREFEITO DE SÃO PAULO 🇧🇷 ✨✨, coletivo que teve um passado ainda mais volátil desde sua criação, em 23 de janeiro de 2021.

Com 55,6 mil participantes hoje, o grupo foi fundado com uma identificação genérica à direita conservadora. Em 2022, porém, atuou na campanha de Sergio Moro (União-PR) ao Senado. Um dia após o primeiro turno das eleições daquele ano, passou a se chamar “bolsonaristas contra o PT”. No ano seguinte, a comunidade chegou a apoiar por um mês o líder da extrema-direita portuguesa André Ventura, do Chega, antes de reatar com Moro. Também flertou durante por dois meses com o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG).

Com quase 100 mil inscritos, o grupo privado 🇧🇷 PABLO MARÇAL BR 🇧🇷 ainda guarda em sua URL uma referência às Forças Armadas brasileiras. Criada em 2017 com referência a “patriotas de direita”, a página passou a se chamar AMOR MILITAR – BR em dezembro de 2022, e retirou a referência aos quartéis logo após o 8 de janeiro.

Em 2023, seu nome se dedicou a exaltar o legado de Bolsonaro, exceto por um período de pouco mais de um mês entre maio e junho de 2023, quando começou a apoiar o senador Marcos do Val (Podemos-ES).

Mobilização para greves de caminhoneiros e contra a votação do chamado “PL das Fake News” (PL 2.630/2020) também constam no histórico de outras páginas que hoje fazem campanha para o candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo.

Leonardo Nascimento, coordenador do Laboratório de Humanidades Digitais da UFBA, estuda o movimento dos grupos e canais e avalia que é necessário observar como nas redes sociais a militância política não está desvinculada de interesses econômicos e, por essa razão, existem tantas mudanças.

“O posicionamento político, militância, via redes sociais não está desvinculado dos interesses econômicos, da ideia de vender coisas, e de monetizar essa participação política. Essas coisas se confundem e, para fazer isso, você precisa ter muitas pessoas nos grupos e canais”, aponta ele.”Esses grupos não possuem uma filiação ideológica ou estreita em um candidato. Na maior parte das vezes, eles formam um arquipélago de interesses desde antivax (pessoas que são contra vacinas) a pessoas que são religiosas, contrárias ao movimento feminista, contra os direitos de pessoas LGBTQ+”, explica. “Eles são criados com objetivos mercadológicos, de vender coisas, e outros deles são criados como de debate temático, mas que em momentos de eleições ou de crise eles se transformam para atingir um determinado objetivo político, eleger um candidato ou defender uma causa, se posicionar sobre algum acontecimento”.

Perfis “transformados” no Instagram
O mesmo tipo de movimento ocorreu em ao menos três perfis de direita no Instagram, que somam 500 mil seguidores. Os três perfis passaram a reproduzir conteúdos pró-Marçal em maio de 2024, durante a pré-campanha.

A maior delas se chama atualmente Pablo Marçal Oficial SP® e tem 335 mil seguidores. Na descrição, o perfil declara ser “perfil reserva oficial” do candidato à prefeitura de São Paulo pelo PRTB. A atual política de transparência da Meta não permite mais ver os nomes anteriores de um perfil, mas afirma que o nome foi mudado uma vez.

Com base em publicações no feed do perfil, a reportagem apurou que só há referências sobre Pablo Marçal a partir de maio. Antes disso, o conteúdo era típico de um perfil bolsonarista, com divulgação de vídeos e memes de Bolsonaro e seus aliados, ataques ao governo, ao PT e à esquerda, diz o ICL.

O cenário é idêntico ao do perfil “Pablo Marçal Perfeito”, com 99 mil seguidores e já mudou de nome seis vezes. Também passou a postar conteúdos ligados à campanha de Pablo Marçal em maio. Antes disso, era um perfil de direita bolsonarista mantido pela influenciadora Ana Moreno, conhecida como Ana Opressora, candidata a vereadora em Natal pelo PL. O perfil postava, além de vlogs produzidos pela influenciadora, registros de sua rotina, como idas à academia. Atualmente ela usa em sua campanha uma conta muito menor, com apenas 28,6 mil seguidores.

A mesma lógica também é notada no “Pablo Marçal Prefeito”, com mais de 118 mil seguidores. A conta já mudou de nome três vezes desde que foi criada, em novembro de 2023. O perfil também aderiu à campanha de Marçal a prefeito em maio deste ano. A reportagem apurou que a conta faz parte de uma rede de perfis de direita, que também contam com contas em referência ao ex-presidente Jair Bolsonaro e ao ex-ministro Paulo Guedes. Por trás de todas elas está o influenciador goiano Uelton Costa, candidato a vereador em Goiânia pelo PL e ligado ao deputado federal Gustavo Gayer (PL).

Gusttavo Lima tem contrato há dois anos com bet alvo da polícia

Sede da Vai de Bet foi alvo da polícia em operação que apreendeu avião de empresa de Gusttavo Lima e prendeu influenciadora Deolane Bezerra.

O cantor Gusttavo Lima mantém há dois anos um contrato publicitário com a Vai de Bet, empresa de apostas esportivas alvo da Polícia Civil de São Paulo na quarta-feira (4/9). A sede da companhia foi vasculhada pelos policiais na operação que prendeu a influenciadora Deolane Bezerra por um suposto esquema bilionário de jogos ilegais e lavagem de dinheiro.

Nas propagandas, Gusttavo Lima aparece ao lado do anúncio “Vai de Bet, o melhor site de apostas do Brasil” e diz: “Vai de Bet é a casa do embaixador. Você aposta a partir de R$ 1 e o pix cai na hora”.

A operação policial apreendeu um avião que pertence a uma empresa de Gusttavo Lima, a Balada Eventos e Produções. Os policiais cumpriam mandados de busca e apreensão em São Paulo, Pernambuco, Paraíba, Paraná e Goiás. Recentemente, o artista posou para fotos com o dono da Vai de Bet, José André da Rocha, em um mega iate de luxo na Grécia. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, também está na viagem, de férias e licenciado do cargo, diz o Metrópoles.

Procurado, Gusttavo Lima confirmou que é contratado pela Vai de Bet: “O artista mantém contrato de uso de imagem com a Vai de Bet desde 2022. Seguiremos acompanhando os desdobramentos da operação [policial] e esperamos um breve deslinde”, afirmou o comunicado do artista.

Ofensiva de Israel na Cisjordânia é bomba-relógio contra palestinos. Ação internacional é urgente!

Cisjordânia se tornou palco de assassinatos gratuitos contra palestinos, uma extensão flagrante do que Israel faz em Gaza em seu projeto de colonização.

Os relatórios oficiais e não oficiais vindos do norte da Cisjordânia Palestina, incluindo o mais recente comunicado da prefeitura de Jenin, esclarecem que o exército de ocupação israelense arrasou mais de 70% das ruas da cidade de Jenin, além de 20 km de redes de água, esgoto, cabos de telecomunicações e eletricidade, o que levou ao corte de água em todo o campo de refugiados de Jenin e em 80% da cidade. Além disso, o mercado popular de vegetais na cidade foi incendiado.

O exército do invasor não se contentou em cometer crimes de extermínio contra os cidadãos, mas também destruiu ruas, infraestruturas e atacou hospitais em Jenin. O diretor do hospital de Jenin relatou que as forças de ocupação estão cercando o hospital, impedindo o trabalho das ambulâncias e das equipes médicas, e bloqueando o acesso dos cidadãos ao hospital, enquanto a eletricidade e a água foram cortadas, ameaçando a paralisação total do hospital caso os geradores parem de funcionar. A organização Médicos Sem Fronteiras expressou suas preocupações sobre o cerco dos hospitais pelas forças de ocupação e o corte de eletricidade e água ao hospital de Jenin, o que resultou na suspensão das sessões de hemodiálise.

Essa situação não se limitou à cidade de Jenin, mas também afetou o campo de refugiados de Nur Shams, em Tulkarem, o campo de Al-Far’a, em Nablus, e áreas no Vale do Jordão, dando prosseguimento aos crimes de genocídio que ocorrem na Faixa de Gaza, incluindo assassinatos, destruição, deslocamento, fome e sede.

“Evacuação temporária”, alega Israel
O ministro das Relações Exteriores do estado ocupante, Israel Katz, divulgou um comunicado na mesma linguagem utilizada no início da guerra em Gaza, dizendo: “Vamos proceder com uma evacuação temporária dos residentes do norte da Cisjordânia. Esta é uma guerra em todos os sentidos da palavra, e estamos comprometidos em vencer”. Isso foi acompanhado por declarações provocativas de alguns dos líderes do estado ocupante, incluindo Smotrich e Ben Gvir, que muitos consideram um perigo e uma bomba-relógio após Gaza.

O que está acontecendo no norte da Cisjordânia, transformando-o em um palco de assassinatos gratuitos, não é, como alegam os líderes da ocupação, uma resposta aos grupos de resistência no norte, mas sim uma fase perigosa na guerra de deslocamento e anexação dentro do plano de “resolução final” em um projeto integrado.

O estado ocupante recorre a todos os tipos de armas, desde aviões de guerra, tanques e escavadeiras até bombardeios de artilharia, em uma extensão flagrante do que está acontecendo no setor de Gaza, com o objetivo de redesenhar os mapas de distribuição populacional palestina na Cisjordânia, esvaziando-a gradualmente de seus habitantes para expandir as áreas de colonização e separar a Cisjordânia de Gaza, completando a judaização de Jerusalém e apagando o status legal e histórico dos locais sagrados islâmicos e cristãos, especialmente a Mesquita de Al-Aqsa.

*Diálogos do Sul

Deputado que quebrou placa de Marielle tem candidatura a prefeito do RJ impugnada

Justiça entendeu que Rodrigo Amorim está inelegível devido a condenação por violência política de gênero.

O deputado estadual Rodrigo Amorim (União Brasil-RJ) teve sua candidatura a prefeito do Rio de Janeiro impugnada pela Justiça Eleitoral. A decisão ocorreu nesta quinta-feira (5).

A impugnação ocorreu em processo movido pela coligação de Tarcísio Mota (PSOL-RJ). A juíza Maria Paula Gouvêa Galhardo, titular da 125ª Zona Eleitoral do Rio de Janeiro, entendeu que Amorim está inelegível por ter sido condenado por violência política de gênero em 2023. Ele fez ataques transfóbicos contra a Benny Briolli (PSOL-RJ), primeira mulher trans eleita vereadora em Niterói, na região metropolitana.

Segundo a decisão obtida pela coluna, a juíza entendeu que a condenação em segunda instância à pena de prisão — de 1 ano, 4 meses e 13 dias, mais multa — torna Amorim inelegível, mesmo com o deputado tendo obtido um efeito suspensivo da pena no TRE-RJ pouco antes da eleição.

Em nota, Amorim afirmou que recorreu da decisão: “Tomei conhecimento há pouco da decisão de primeira instância que, contrariando a decisão do desembargador corregedor do TRE, indeferiu a minha candidatura. No entanto, eu já ingressei com o recurso cabível e em nada muda a minha candidatura”.

Deputado se envolveu em agressão a petista
No último domingo (1), Amorim se envolveu em mais um episódio de violência. O candidato a vereador Leonel de Esquerda (PT) foi espancado ao abordá-lo durante um ato de campanha na Praça Vanhargen, na Tijuca, Zona Norte do Rio. As agressões começaram depois de Leonel questionar Amorim sobre desvios em um programa do governo do estado.

Leonel desmaiou e teve que ser internado devido à gravidade dos golpes recebidos. Ele afirma que o próprio Amorim o agrediu, juntamente com pessoas que acompanhavam o ato do candidato bolsonarista.

Rodrigo Amorim ganhou notoriedade durante a campanha eleitoral de 2018, quando, ao lado do ex-deputado federal Daniel Silveira e do ex-governador Wilson Witzel, quebrou uma placa em homenagem à vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada em março daquele ano. Em sua atuação política, ele se notabilizou por ataques contra parlamentares e militantes de esquerda, se envolvendo em diversas discussões no plenário da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.