As agressões de Trump ao Irã buscam garantir o apoio de ultraconservadores e do lobby pró-Israel, com impactos regionais além do bilateral.
O governo Trump retomou sua estratégia de “pressão máxima” sobre o Irã, numa tentativa de forçar não apenas a renegociação do acordo nuclear, mas também de restringir sua margem de manobra na região, com o objetivo claro de minar sua influência geopolítica na Ásia Ocidental.
Isso foi estabelecido em 4 de fevereiro, quando o presidente dos EUA assinou um “Memorando Presidencial sobre Segurança Nacional”, no qual ordenou ao Secretário do Tesouro que intensificasse medidas econômicas punitivas para sufocar a economia do país mencionado.
Apesar da dureza da decisão, Trump expressou seu arrependimento ao assinar o memorando, dizendo: “Estou dividido sobre essa questão. Todos querem que eu assine. Eu assinarei. É muito duro para o Irã.” Durante a cerimônia, ele acrescentou que esperava que o documento “dificilmente precisasse ser usado”.
Isso acrescenta nuances à postura do republicano por mostrar que, embora ele esteja adotando uma linha dura, está deixando em aberto a possibilidade de moderação ou negociação no futuro.
A ênfase em “zerar” as exportações de petróleo do país impacta diretamente sua economia e também introduz uma fonte de tensão nos mercados globais de energia. Estados como China, Índia e Turquia, que mantiveram relações comerciais com a República Islâmica apesar dessas medidas, serão forçados a manobrar em meio à pressão.
A ordem presidencial também aprofunda a ofensiva contra as redes financeiras e logísticas iranianas em solo americano, em uma tentativa de justificar, sob o pretexto da segurança nacional, uma política de assédio sustentado: “O procurador-geral tomará todas as medidas legais disponíveis para investigar, interromper e processar redes financeiras e logísticas, bem como agentes ou grupos de fachada dentro dos Estados Unidos que sejam patrocinados pelo Irã ou por um representante terrorista daquela nação.”
Estratégia eleitoral
A medida faz parte da estratégia eleitoral de Trump, que usa retórica anti-iraniana para garantir o apoio de setores ultraconservadores e do lobby pró-Israel .
A linguagem do documento reflete a intransigência do governo Trump, que descarta explicitamente qualquer negociação nos termos atuais. Ao proclamar o fim da “tolerância” em relação ao Irã e enfatizar que nunca será capaz de desenvolver uma arma nuclear, a Casa Branca tenta projetar uma imagem de força.
No entanto, um olhar mais atento às ações tomadas em menos de um mês de governo sugere que essa dureza inicial não é apenas retórica, mas uma continuação da estratégia de “pressão máxima” implementada no primeiro mandato. Além das declarações bombásticas feitas por Mike Pompeo na época, essa política buscava forçar Teerã a sentar-se à mesa de negociações em condições favoráveis a Washington.
Um exemplo dessa abordagem pode ser visto no relacionamento com o México, quando Trump impôs tarifas como medida de pressão, mas logo depois conversou com a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, o que levou a uma pausa nas restrições e abriu espaços para negociação.
Agressão e negociação
O primeiro pacote de sanções implementado sob este novo mandato levantou dúvidas sobre a seriedade e o impacto real da política de “pressão máxima”.
O Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) anunciou medidas contra um pequeno grupo de navios envolvidos no comércio de petróleo iraniano, incluindo o CH Billion, um Aframax de 21 anos e dois outros navios, o Gioiosa e o Star Forest.
Esta decisão também afeta diversas entidades e indivíduos ligados à exportação de petróleo bruto do país persa para a China. O OFAC disse que a última repressão tem como alvo embarcações que operam em águas internacionais na costa de Cingapura, de onde transportam petróleo iraniano para a China.
Analistas de energia, no entanto, acreditam que esse pacote de sanções não constitui uma verdadeira campanha de “pressão máxima”, mas sim uma ação limitada com impacto marginal no mercado de petróleo.
Incertezas
Inicialmente, os mercados reagiram com incerteza à possibilidade de interrupções na cadeia de suprimentos. No entanto, a perspectiva moderou-se quando, após a ação executiva agressiva, Trump expressou sua disposição de negociar um novo acordo nuclear com o Irã que permitiria ao país “crescer e prosperar pacificamente”.
Ele também postou em suas redes sociais: “Relatos de que os Estados Unidos, trabalhando em conjunto com Israel, vão explodir o Irã em pedaços são muito exagerados.”
Esse abrandamento da retórica sugere que, embora Trump mantenha uma retórica agressiva, ele também pode estar explorando vias alternativas de negociação com Teerã. Em suma, a estratégia parece visar o enfraquecimento, deixando a porta ao diálogo entreaberta, num jogo de pressão e cálculo político.
*Opera Mundi