Durante a Guerra Fria, agência orquestrou a derrubada de regimes e a instauração de ditaduras que cometeram graves violações dos direitos humanos.
A revelação feita pelo jornal New York Times de que o presidente dos EUA, Donald Trump, autorizou uma operação especial da CIA, a principal agência de inteligência americana, na Venezuela confirmou o que a Casa Branca já dava a entender há algum tempo: para Washington, o tempo de Nicolás Maduro no poder já chegou ao fim.
O sinal verde permitiria à agência realizar operações em solo venezuelano, inclusive letais, mas ainda não é possível determinar se há de fato um plano em curso.
Uma eventual operação da CIA na Venezuela — a agência foi acusada de intervir diretamente no golpe fracassado de 2002 para derrubar Hugo Chávez e de atuar junto à oposição a Maduro —, se juntaria a uma longa lista de ações de Washington na América Latina, voltadas a mudanças de regimes considerados hostis pelo governo americano.
Veja algumas delas
Chile
Segundo documentos do governo americano, o principal alvo de Washington era Salvador Allende, político do Partido Socialista e candidato à Presidência em 1964. Antes da votação, Washington autorizou uma campanha para difamar Allende, que contribuiu para sua derrota nas urnas.
Quatro anos depois, o socialista voltou a concorrer, dessa vez com apoio de Cuba e da União Soviética — do outro lado, o dinheiro americano continuou a chegar, mas não impediu sua vitória. Segundo um relatório do Senado americano, de 1975, foram gastos cerca de US$ 8 milhões entre 1970 e 1973 para fomentar a oposição e angariar apoio entre os militares para o golpe liderado por Augusto Pinochet.
O então presidente americano, Richard Nixon, e seu conselheiro de Segurança Nacional, Henry Kissinger, apoiaram a junta militar desde o início, e incrementaram a ajuda militar a Santiago — Kissinger, de acordo com registros oficiais, disse a Nixon que os EUA não atuaram diretamente no golpe, mas ajudaram a “criar as melhores condições possíveis”.
Nos anos seguintes, o Chile foi um dos líderes da chamada Operação Condor, voltada a reprimir a oposição em ditaduras de direita apoiadas pelos Estados Unidos nos anos 1970.
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Brasil
Em março, quando o governo americano divulgou mais de sete mil documentos sigilosos do governo de John Kennedy, ficou comprovada a participação da CIA nos movimentos que antecederam o golpe de 1964, que derrubou o presidente João Goulart e deu início a 21 anos de ditadura militar no Brasil.
A agência, em telegrama de 1963, afirmava que Goulart “vivia em um mundo de fantasia”, e endossava a tese dos conspiradores de que ele pretendia dar um autogolpe e instaurar uma ditadura comunista. Na ocasião, conselheiros de Kennedy indicavam que um golpe seria preferível a deixar o Brasil entrar para a área de influência da União Soviética.
De acordo com O Globo, documentos revelados recentemente confirmaram ainda que os EUA tinham um plano de contingência militar — a Operação Irmão Sam — para apoiar os golpistas caso fosse necessário.
A proposta previa o uso de navios americanos e o fornecimento de armas e combustível para os insurgentes, mas foi cancelada horas depois da derrubada de João Goulart.
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Equador
Nas eleições de 1960, a chegada ao poder de José María Velasco Ibarra, que apesar de não ser um novo Fidel Castro ou um comunista convicto, acendeu sinais amarelos em Washington, e teve início uma das mais intensas operações da CIA na região. A agência conseguiu se infiltrar em praticamente todas as agremiações políticas do país — na esquerda, o objetivo era afastá-las da influência cubana; na direita, angariar apoio às ideias americanas e ao anticomunismo.
Ibarra foi forçado a renunciar em 1961, por pressão dos militares, mas seu sucessor, Carlos Julio Arosemana, também não era bem visto pelos americanos. Além da infiltração no meio político, a operação contou com a divulgação de notícias falsas em órgãos de imprensa aliados e a atentados atribuídos à esquerda.
Arosemana foi derrubado em 1963, e substituído por uma junta militar afável a Washington.
Guatemala
Após o fim da ditadura de Jorge Ubico, que gostava de ser chamado de “Napoleão da América Central”, em 1944, a Guatemala foi comandada por dois presidentes que defendiam a realização de reformas sociais, contrárias à agenda de Washington, incluindo uma reforma agrária que desapropriou terras improdutivas da United Fruit Company.
A empresa americana intensificou seu lobby junto ao governo americano para derrubar o governo, e a CIA deu início à operação PBSuccess, seguindo a cartilha de ações de desinformação, apoio à oposição e incitação junto aos militares. O então presidente, Jacobo Árbenz, se viu sem saída a não ser a renúncia em 1954, no que foi o início de quatro décadas de instabilidade no país.
Haiti
No início dos anos 1990, a CIA foi acusada de fornecer apoio para militares que derrubaram o recém-eleito presidente Jean-Bertrand Aristide, e alguns dos comandantes do levante eram pagos por Washington e receberam treinamento nos Estados Unidos. Aristide retornou ao poder em 1994, em uma operação comandada pelos americanos, mas isso não significou que estivesse nas graças da Casa Branca.
No golpe de 2004, a CIA foi acusada de fornecer apoio material e militar à Frente Nacional Revolucionária para a Libertação e Reconstrução do Haiti, grupo armado que derrubou Aristide.
Como esperado, o governo americano jamais confirmou o apoio ou a participação no movimento.
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Cuba
Nenhum país da América Latina foi alvo tão recorrente de operações da CIA como a ilha comandada por um regime socialista desde 1959.
Meses depois da fracassada Invasão da Baía dos Porcos, em 1961, a CIA orquestrou a chamada Operação Mongoose, que autorizava atentados e assassinatos com o objetivo de fragilizar o regime, mas que teve pouco sucesso.
A Operação Northwoods, em 1962, pretendia organizar atos de violência dentro dos Estados Unidos para culpar os cubanos e justificar uma guerra contra a ilha, mas ela não saiu do papel.
Em outra frente, a CIA não economizou esforços para tentar matar o líder da revolução, Fidel Castro: segundo documentos oficiais e depoimentos de ex-funcionários da agência, foram mais de 600 tentativas, desde atentados até um charuto envenenado. Castro morreu em 2016, aos 90 anos de idade.
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