“A Argentina está em ponto de ebulição. Não aguentamos mais”; e o Brasil?

Os argentinos dizem, “não aguentamos mais!” E nós brasileiros, até quando aguentaremos?

Clima nas ruas da Argentina esquenta com a proximidade das eleições presidenciais e país tem manifestações diárias.

“Aqui na Argentina tem manifestação todos os dias.” A frase foi dita por um dos tantos manifestantes no exato dia dos dois anos do desaparecimento forçado do militante mapuche Gustavo Maldonado. Naquele mesmo dia, quinta, 1 de agosto, dois atos ocorriam no centro de Buenos Aires, na sua principal praça, a de Maio, bem defronte da Casa Rosada, o palácio presidencial. Naquele lugar há décadas as Madre da Praça de Maio promovem ato silencioso, sempre às quintas, dando voltas no seu entorno central, hoje algo encampado por parte considerável da população. Elas são escoltadas para um local reservado da agitação, mas participam ativamente dos protestos, hoje não tão silencioso. “A Argentina está em ponto de ebulição. Não aguentamos mais tudo o que fizeram conosco nesses quatro anos com Macri”, diz Augusto Rivera, assessor da marcha e das Madres. Ele aponta para o povo nas ruas e afirma: “Isso ocorre todos os dias, em lugares variados do país. A resposta será dada nas urnas, a esperança se apresenta com Alberto e Cristina. Hoje, neste mesmo lugar tem outro ato, nele clamamos justiça para o que fizeram com Gustavo Maldonado”.

Mal termina um, tem início outro. Um palanque é levantado em instantes, nele o irmão de Gustavo, Sérgio Maldonado, fala por dez minutos e a massa humana, vinda dos mais diferentes lugares, lota não só a praça, como todas as imediações. Os agrupamentos são constituídos de organizações populares variadas, numa convergência organizada, cada qual ocupando um espaço delimitado nas proximidades, até receberem o chamado para avançar e quando o fazem, com seus hinos e bandeiras, a praça fica completamente abarrotada. Das 17h até as 19h uma inebriante efervescência toma conta de parte significativa dos descontentes de uma Argentina cada vez mais fragilizada, com todos os desmandos, do recorde da fuga de capitais até o estrangulamento dos empregos e salários, principalmente dos aposentados.

A economia cotidiana está paralisada, demissões e empresas fechando ocorrem todos os dias. Um dos que acompanham de perto isso o desenrolar desse processo diária é Maurício Polti, jornalista da 750AM, destacado dentro do programa de Victor Hugo Morales, o La Mañana, das 9h às 12h para dar voz ao que acontece nas ruas. “Não existe um só dia sem que uma empresa se feche na grande Buenos Aires. Sou destacado para ouvir a esses e o faço com grande dor. Esses são os que mais sofrem neste país, pois perdem seus empregos e não existem novas colocações. Viram párias de uma hora para outra, todos manipulados por uma política econômica que os exclui, os joga diariamente para o meio da rua. Muitos sem outra saída, num curto espaço de tempo estarão vivendo nas ruas”.

As manifestações, em sua maioria, ocorrem como denúncia, um necessário grito contra os desmandos. Leonardo Duva, presidente da Gestara (Grupo de Empresas Sociales y Trabajadores Autogestionados de la República Argentina) administra esse caos urbano. “O aumento considerável de trabalhadores sem emprego e sem esperança redobra nossa missão, cada vez mais unidos em atos e conscientização coletiva. Ou revertemos tudo com a ampliação da revolta nas ruas ou através do voto. Essa esperança se apresenta agora, primeiro em agosto e depois em outubro. Ou expulsamos Macri e todos os seus em definitivo ou eles irão nos encurralar de uma forma a nos deixar sem ar para respirar, pois sem dinheiro para comer já nos encontramos.” Numa criativa atividade, Leonardo administra também o Restaurante e Bar Cooperativo Lo de Nestor, reunindo alguns dos que se opõem à invasão neoliberalista.

Iniciativas como essa estão proliferando pelo país, numa forma de união e resistência. No local, o jornalista Gustavo Campana faz uma das paradas na peregrinação do lançamento do seu novo livro, o “Culpables – proyecto de país vs. Modelo de colônia”, onde reúne todos os interessados em discutir o momento do país e seu futuro. “Pelo menos em quatro dias da semana estou em lugares distintos, falando e falando, demonstrando o quando estamos sendo massacrados por um sistema opressor, excludente e contra todos os interesses populares”.

 

 

*Com informações da Carta Capital

 

Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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