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Depois da eleição, bolsonaristas decretarão sigilo de cem anos em seus votos

Não há ingênuo na parada. Quem vota em Bolsonaro, sabe a bisca que o sujeito é. Não existe mini Bolsonaro, na verdade, não existe um mínimo de caráter em Bolsonaro, e ele mostrou isso em quatro anos de mandato.

O duro é quando a gente olha o mapa da pesquisa e vê uma unidade que representa uma fração enorme da classe média escolarizada, que frequenta livrarias, teatros e outras funcionalidades do nosso conceito civilizatório, parece querer tonificar a segregação no país, aumentar a força de uma corrente fascista, votando em Bolsonaro.

Não são exatamente aquilo que se denomina bolsonarista, são pessoas que se dizem pragmáticas e pela reabilitação da ética na política, o que é uma gigantesca piada. Não simplesmente porque esse governo é o mais corrupto da história, mas porque ele sabe disso. Ele usa o mesmo discurso de Bolsonaro para votar em alguém que gravita no mesmo padrão vibratório.

É aí que se encontra a resiliência a um cara que fala “pintou um clima” com crianças de 14 anos, que inunda as redes com seus ataques monstruosos a crianças venezuelanas, chamando-as de prostitutas, como quem quer justificar o seu assédio, como bem escreveu hoje Xuxa na Folha de São Paulo.

Esse produto político, que causou essa doença coletiva, chamado bolsonarismo, tem por trás uma parcela nada leve da sociedade que, clamando ética, combate à violência, é extremamente antiética, para dizer o mínimo, e extremamente violenta e, por isso, aplaude e vota num sujeito que promoveu o maior tráfico legal de armas de que se tem notícia, dando à população, mas sobretudo aos bandidos um poder de fogo que passa e muito da quantidade de armas sobre o poder das forças de segurança no Brasil.

E é nessa dimensão catastrófica que a balela argumentativa do bolsonarista cai por terra, pior, a pesquisa mostra que 76% da população formada por pobres, pretos, mulheres, são contra essa epidemia de armamento no Brasil. No entanto, uma verdadeira nação de sujeitos considerados brancos, de classe média, sendo a maioria com formação superior, forma um contingente de aproximadamente 40 milhões que aprovam esse espalhamento generalizado de armas no país.

Isso é louco, contraditório, não se encontra qualquer explicação clássica para tal vilania social, mas ela é real, faz parte da sociedade e escancara que tipo de civilização, herdada da escravidão, temos no Brasil.

Pior, depois da eleição, os cínicos e hipócritas que votam em Bolsonaro, vão lacrar com esparadrapo e impor cem anos de sigilo sobre seus votos.

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Por Carlos Henrique Machado

Compositor, bandolinista e pesquisador da música brasileira

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