A delação do Mauro Cid é uma bomba ou meia bomba?
Engana-se quem aposta que Jair Bolsonaro esteja próximo de ser preso depois da delação de Mauro Cid.
O único jeito do ex-presidente parar no xilindró neste momento seria por meio de uma prisão preventiva ou se reiterar em crimes.
Porém, ele tem comparecido aos depoimentos na polícia e não há nenhuma indicação de que esteja atrapalhando as investigações ou coagindo testemunhas.
Ainda há duvidas quanto ao teor da delação do ex-braço direito do Bolsonaro. Pelo que saiu na Veja, o depoimento de Cid talvez até ajude o ex-presidente a se livrar da cadeia ou atrasar ainda mais sua chegada.
É o que pensa Bruno Salles, advogado criminalista do grupo Prerrogativas. “Nunca esteve tão longe a prisão de Bolsonaro”, diz em tom de lamento. Para Bruno, o “Mauro Cid aparentemente está entregando o Bolsonaro, mas na verdade o está salvando de tudo”. Espera-se que a delação ajude a elucidar a venda ilegal de joias que Bolsonaro recebeu enquanto era presidente, em especial se a grana parou nas mãos dele. Também é aguardado que Cid entregue o roteiro do golpe de estado, além de mais detalhes sobre o mandante da falsificação do cartão de vacina. Mas não foi o que se viu pelo que vazou da delação até agora. Palavras do Bruno ao blog:
“A acusação das joias, ela é fraca. Você tem uma discussão jurídica sobre se podia vender aquilo ou não, se as joias eram bem personalíssimos ou não. Tem um conflito ai de legislação e o advogado do Bolsonaro está explorando isso muito bem. A única coisa que o Cid põe no Bolsonaro é isso. Ele diz que achou que poderia vender, o Bolsonaro mandou que vendesse, o Cid diz que vendeu e entregou o dinheiro para ele. Todo resto: vacina, golpe de estado, tudo isso ele tira, ele fala que um monte de louco mandava plano de golpe no celular, mas que nunca falou com nenhum dos generais, nem Braga Netto, nem General Heleno ou Luiz Eduardo Ramos. Ele está passando pano para o Bolsonaro. Em relação à vacina, ele chama tudo para ele também.” (Bruno Salles)
Advogado de 3 ex-presidentes, mas jamais do Jair Bolsonaro, o experiente Antônio Carlos de Almeida, o Kakay, acredita em “abundância de provas” no caso das joias, mas num longo período até uma possível prisão.
“Bolsonaro até onde sei responde a cinco inquéritos, todos eles com crimes que podem levar à prisão após o julgamento. Neste momento, ele levando uma vida normal, não estando interferindo e nem reiterando em crimes, não vejo nenhum motivo técnico para a prisão. O caso das joias me parece ter uma abundância de provas, mas tem que ser feita uma denúncia e ter o devido processo legal. Não enxergo nada neste momento que possa ser favorável a uma prisão dele.” (Kakay)
Um pouco mais otimista quanto a ver Bolsonaro em cana já que o que não falta é crime imputado a ele, o jurista autor de mais de 70 livros Lenio Streck acha que o “cerco vai se fechando na ligação de Bolsonaro com o golpe de estado”. Ele diz que “já não se duvida de que houve tentativa de golpe – isso já está provado; o que falta é uma ligação objetiva da ligação de Bolsonaro como líder da conspiração”.
*Blog do Noblat