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Oposição recua da obstrução e expõe fragilidade da pauta da anistia

Nesta segunda-feira (8), a oposição anunciou a suspensão da obstrução total das comissões e do plenário, conforme nota oficial assinada pelo deputado Luciano Zucco (PL-RS), líder da bancada. O ato é considerado um “gesto político” para facilitar a aprovação do regime de urgência do Projeto de Lei da Anistia, classificado como “urgente e essencial” para garantir segurança jurídica e o respeito às liberdades individuais e à democracia. A oposição reafirmou seu compromisso com a defesa dos direitos dos cidadãos e do Estado Democrático de Direito.

A decisão aparentemente busca amenizar o desgaste com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que tem enfrentado pressão de apoiadores de Jair Bolsonaro para pautar a urgência da anistia. Motta, por outro lado, optou por uma postura discreta, sem se comprometer com a proposta. Apesar disso, tornou-se alvo de críticas de grupos bolsonaristas, levantando preocupações sobre seu possível isolamento.

Entre os parlamentares, a suspensão da obstrução é vista como uma tentativa de evitar que o impasse com Motta se transformasse em uma crise política. Contudo, o gesto pode ter chegado tarde, uma vez que durante o período de obstrução, o governo não encontrou dificuldades para aprovar matérias e a ação da oposição revelou-se meramente simbólica.

No que diz respeito à proposta de anistia, parlamentares do PL reconhecem que ela carece de força para avançar, sendo que seu valor político atual se relaciona mais com mobilização digital da base bolsonarista do que com uma expectativa real de aprovação. Um deputado oposicionista teria mencionado que a pauta está mais voltada para gerar “likes e engajamento” do que por uma convicção de que realmente irá passar. Em suma, a situação política continua complexa, com movimentações táticas da oposição em meio a pressões externas e internas.

A percepção de aliados de Hugo Motta sugere que a proposta de anistia, atualmente, é mais uma ferramenta de agitação política do que um projeto legislativo viável. Oposição reconhece que a insistência do bolsonarismo nesse tópico pode estar prejudicando sua influência no Congresso.

Há preocupações de que a deterioração das relações com a presidência da Câmara não apenas comprometa a anistia, mas também futuras propostas, já que Motta é o responsável pela definição da pauta. Assim, os conflitos públicos podem limitar ainda mais o espaço da oposição no processo legislativo.

A insatisfação com a direção da agenda legislativa se junta à percepção de que o debate na esfera pública era mais favorável à oposição quando assuntos econômicos, como o aumento dos preços dos alimentos e falhas no sistema Pix, estavam em foco. Parlamentares experientes do PL acreditam que a mudança para uma agenda mais ideológica e sem viabilidade concreta desorganizou a estratégia e diminuiu o impacto político.

Iniciativas planejadas, como atos com familiares de presos dos ataques de 8 de janeiro, também estão perdendo impulso, levando à crença de que a agenda foi totalmente esvaziada. Até mesmo seus defensores parecem hesitantes sobre a continuidade da proposta.

A expectativa interna é que a suspensão da obstrução simbólica possa permitir a votação em regime de urgência, mas essa meta é considerada improvável; legisladores admitem que, se pautada, a urgência provavelmente será rejeitada. Nesse cenário, essa manobra pode ser vista como uma saída para encerrar a discussão sem que os bolsonaristas tenham que reconhecer um fracasso abertamente.

Assim, a anistia continua sendo uma bandeira retórica, porém distante de tornar-se uma realidade legislativa.

Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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