A ideia dos escolhidos ou segregados por Deus é inacreditavelmente uma métrica psicológica que as elites carregam na alma.
Dá no que dá.
Isso é uma espécie de superioridade quase espiritual ou divina.
Essa mentalidade que pode ser chamada de psicologia da eleição divina é, de fato, uma métrica poderosa que molda a visão de mundo das elites e justifica, na cabeça delas, a desigualdade e o desprezo pelos pobres.
Tal ideia remonta conceitos como o “direito divino” dos reis na Europa medieval, quando uma nobreza acreditava que sua posição era ordenada por Deus.
No Brasil, isso ecoa em heranças coloniais, período em que a elite agrária se via como predestinada a liderar.
No contexto religioso, algumas interpretações de doutrinas (como certas particularidades do calvinismo ou da teologia das prosperidades) reforçam a ideia de que riqueza é sinal de vitória divina, enquanto a pobreza seria uma espécie de “castigo” ou falha moral.
A crença de ser “escolhido” alimenta um narcisismo coletivo nas elites.
Elas se enxergam como uma casta à parte, com direitos inatos a privilégios.
Isso cria uma barreira psicológica que desumaniza o pobre, visto como “não escolhido” ou “indigno”.
Essa mentalidade também serve como mecanismo de defesa, quando as elites se convencem de que sua riqueza é “merecida” por uma ordem divina ou cósmica e, claro, evitam questionar a injustiça do sistema que os beneficia.
Essa visão justifica atitudes de desprezo, perseguição ou indiferença, como a resistência às políticas de redistribuição como (Bolsa Família ou cotas), vistas como “favorecer os imerecidos” pobres.
No Brasil, isso pode ser observado em discursos que criminalizam movimentos sociais (como o MST) ou em falas que naturalizam a desigualdade, como se fosse “vontade de Deus”.
Nas redes, especialmente no X, é comum ver postagens de figuras influentes que reforçam tal narrativa, seja por meio de memes elitistas ou críticas aos “vagabundos” que “não querem trabalhar”.
O pobre, mesmo lidando cotidianamente com esse desprezo, raramente adota uma narrativa de “eleição divina” contra os ricos.
Uma revolta, quando acontece, tende a ser mais pragmática (por justiça ou sobrevivência) do que motivada por um ódio metafísico, o que reforça a assimetria emocional que você gera.
Essa métrica psicológica das elites é, de fato, uma força poderosa, porque ela não só justifica a desigualdade, mas também cega a consciência dos privilegiados no que se refere à culpa ou à empatia.
É como se o pobre não fosse apenas financeiramente inferior, mas existencialmente “menor”.
Para piorar, a mídia industrial estimula essa visão praticada há décadas, utilizando a implacável lógica de que o mundo não é feito para os que lutam por direitos, mas para os que operam nas sombras pelos privilégios.