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“Situação dos palestinos em Gaza é semelhante ao de um campo de concentração”, denuncia entrevistado

Ualid Rabah revelou que a população de Gaza tem 4h de energia elétrica por dia, prejudicando o funcionamento de escolas e hospitais.

“A Palestina é rigorosamente uma prisão a céu aberto, há um regime de apartheid em todo o território palestino e os traços de uma vida em Gaza são equivalentes aos de campos de concentração. Qualquer coisa fora disso é desonesto”, afirma Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) e entrevistado do programa TVGGN 20H da última segunda-feira (9).

Ao longo do programa, Rabah contextualizou a situação dos palestinos, especificamente os que vivem na Faixa de Gaza, território em zona de guerra desde o último sábado (7), quando o grupo Hamas disparou uma chuva de foguetes lançados da Faixa de Gaza sobre Israel.

“É sempre importante deixar muito claro que a Palestina vive sob ocupação e que Gaza, especificamente, vive uma circunstância inusitada, pois vive cercada há 17 anos. Isso tudo faz com que esta população de 2,2 milhões de habitantes seja uma das maiores concentrações populacionais do mundo e viva numa circunstância absolutamente anormal. Primeiro, porque ela é 73% refugiada, resultado da limpeza étnica de dezembro de 1947 a 1959”, continua o presidente da Fepal.

O militante contesta que, apesar da restrição, se 79% dos palestinos deixassem o cerco rumo ao território de Israel, eles não estariam invadindo nada, já que a população foi expulsa do próprio território e roubada. Somente a partir deste enquadramento, o convidado afirmou que é possível compreender a real situação do conflito.

Precariedade
Ualid Rabah afirmou ainda que os 17 anos de bloqueio imposto aos palestinos fizeram com que a população vivesse em condições absolutamente precárias. Na Faixa de Gaza, os moradores contam com apenas quatro horas de fornecimento de energia elétrica por dia, em média, comprometendo assim o funcionamento de escolas e hospitais.

De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), apenas 10% da água distribuída para os habitantes da Faixa de Gaza é própria para consumo humano. Consequentemente, 90% da população não tem acesso ao saneamento básico.

O bloqueio imposto por Israel isolou ainda a população territorialmente. Segundo o presidente da Fepal, quase 100% da população de crianças e jovens nunca saíram da Faixa de Gaza, reclusão que causa os mais altos índices de problemas psiquiátricos graves desde que os dados começaram a ser apurados.

“Essa população enfrenta 56% de desemprego. Na população jovem, o índice chega a 75%. Perto de 80% da população vive na pobreza ou na extrema pobreza. Essa população não tem acesso à saúde, é impedida por controle das entradas de alimentos em gaza, é impedida de ter consumo médio diário acima doa quantidade mínima de calorias identificado como próprio para o ser humano por cálculo da OMS [Organização Mundial da Saúde]”, continua Rabah.

Limpeza étnica
O entrevistado do programa comentou ainda que esta não é a primeira guerra entre palestinos e israelenses e que existe uma verdadeira tentativa da limpeza étnica contra os palestinos desde, pelo menos, 1973, época em que não havia o Hamas – grupo que hoje é usado como justificativa israelense na promoção dos ataques.

*Com TV GGN

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ONU sobe o tom e define o ataque de Israel a Gaza como crime de guerra

A ONU apela para que o sionista Netanyahu cumpra com as regras internacionais e não ataque civis, alertando que o cerco e extermínio em massa contra a população de Gaza se constitui crime de guerra.

Mesmo que a mídia hegemônica queira dar peso de igual monta ao Hamas e ao exército do Estado terrorista de Israel que usa as piores praticas de guerra desde 1948, a ONU faz uma separação clara e justificável entre as duas partes e forças.

Os dados divulgados pela ONU são alarmantes e mostram que a operação de resposta dos terroristas de Israel já atingiu 5,3 mil prédios, gerou 187 mil deslocados e deixou 610 mil palestinos sem água potável. O abastecimento de energia é precário e desumano para garantir luz em Gaza.

Já a OMS denuncia o fato de que a ofensiva do exercito terrorista do estado de Israel atingiu muitos hospitais, ambulâncias e matou médicos e enfermeiras no território de Gaza. Um massacre aos moldes dos campos de concentração nazistas.

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ONU critica cerco de Gaza por Israel, exige acesso a civis e denuncia Hamas

Jamil Chade*

Numa declaração emitida nesta segunda-feira, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, criticou o cerco estabelecido por Israel sobre Gaza e alertou para os ataques contra escolas e hospitais palestinos. A declaração ocorreu depois de uma reunião extraordinária dos principais chefes das agências da ONU, na qual ele também denunciou o Hamas e fez um apelo por negociações.

Guterres deixou claro que condena os “ataques abomináveis do Hamas e de outros grupos contra cidades e vilarejos israelenses na periferia de Gaza, que deixaram mais de 800 israelenses mortos e mais de 2.500 feridos”.

“Infelizmente, espera-se que esses números aumentem, pois os ataques estão em andamento e muitas pessoas ainda não foram encontradas”, disse, lamentando ainda o número de pessoas sequestradas.

Guterres também criticou a decisão do Hamas de lançar “foguetes indiscriminados que atingiram o centro de Israel, incluindo Tel Aviv e Jerusalém”. “Reconheço as queixas legítimas do povo palestino. Mas nada pode justificar esses atos de terror e a morte, mutilação e sequestro de civis”, disse.

O chefe da ONU fez um apelo para que os palestinos interrompam os ataques e libertem todos os reféns.

Guterres critica cerco de Israel contra Gaza
Mas também denunciou o fato de que a resposta israelense vem ocorrendo contra civis. “Estou profundamente alarmado com as informações de que mais de 500 palestinos – incluindo mulheres e crianças – foram mortos em Gaza e mais de 3.000 ficaram feridos”, disse. “Infelizmente, esses números estão aumentando a cada minuto à medida que as operações israelenses continuam”, afirmou.

Guterres não deixou de mandar um recado ao governo israelense. “Embora eu reconheça as legítimas preocupações de segurança de Israel, também lembro a Israel que as operações militares devem ser conduzidas em estrita conformidade com o direito humanitário internacional”, disse. “Os civis devem ser respeitados e protegidos em todos os momentos e infraestrutura civil nunca deve ser um alvo”, disse.

Segundo ele, a ONU já tem relatos de mísseis israelenses “atingindo instalações de saúde dentro de Gaza, bem como torres residenciais de vários andares e uma mesquita”. “Duas escolas que abrigavam famílias desabrigadas em Gaza também foram atingidas”, afirmou..

Guterres destacou que cerca de 137 mil pessoas estão abrigadas em instalações da ONU, e esse número aumenta à medida que os bombardeios e ataques aéreos continuam.

Essa não é a primeira vez que um alto funcionário da ONU denuncia a situação imposta por Israel sobre Gaza. Relatores das Nações Unidas já qualificaram o bloqueio estabelecido desde 2007 contra a região de “crime de guerra”.

“A situação humanitária em Gaza já era extremamente terrível antes dessas hostilidades; agora, ela só vai se deteriorar exponencialmente”, alertou Guterres.

Segundo ele, equipamentos médicos, alimentos, combustível e outros suprimentos humanitários são “extremamente necessários”, juntamente com o acesso da equipe humanitária. “O socorro e a entrada de suprimentos essenciais em Gaza devem ser facilitados, e a ONU continuará se esforçando para fornecer ajuda para atender a essas necessidades”, afirmou.?

Num apelo, ele insistiu que todos os lados devem permitir o acesso das Nações Unidas para prestar assistência humanitária urgente aos civis palestinos presos e desamparados na Faixa de Gaza.

“Faço um apelo à comunidade internacional para que mobilize apoio humanitário imediato para esse esforço”, disse, apontando como ele e o Coordenador Especial da ONU estão conversando com os líderes da região para evitar que a crise se amplie.

Essa não é a primeira vez que um alto funcionário da ONU denuncia a situação imposta por Israel sobre Gaza. Relatores das Nações Unidas já qualificaram o bloqueio estabelecido desde 2007 contra a região de “crime de guerra”.

“A situação humanitária em Gaza já era extremamente terrível antes dessas hostilidades; agora, ela só vai se deteriorar exponencialmente”, alertou Guterres.

Segundo ele, equipamentos médicos, alimentos, combustível e outros suprimentos humanitários são “extremamente necessários”, juntamente com o acesso da equipe humanitária. “O socorro e a entrada de suprimentos essenciais em Gaza devem ser facilitados, e a ONU continuará se esforçando para fornecer ajuda para atender a essas necessidades”, afirmou.?

Num apelo, ele insistiu que todos os lados devem permitir o acesso das Nações Unidas para prestar assistência humanitária urgente aos civis palestinos presos e desamparados na Faixa de Gaza.

“Faço um apelo à comunidade internacional para que mobilize apoio humanitário imediato para esse esforço”, disse, apontando como ele e o Coordenador Especial da ONU estão conversando com os líderes da região para evitar que a crise se amplie.

“Mesmo nos piores momentos – e talvez especialmente nos momentos mais difíceis – é vital olhar para o horizonte de longo prazo e evitar ações irreversíveis que encorajariam os extremistas e arruinariam qualquer perspectiva de paz duradoura”, disse.

*Uol

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Viúva do célebre pensador palestino Edward Said condena violência do Hamas e de Israel; ela participa de evento em São Paulo nesta terça (10)

Viúva do célebre pensador palestino Edward Said condena violência do Hamas e de Israel; ela participa de evento em São Paulo nesta terça (10).

Em meio aos ataques recentes em Israel e na Faixa de Gaza, faz falta a voz do intelectual palestino Edward Said (1935-2003). Sua obra descreve, entre outras coisas, a relação que existe entre a desumanização e a violência. É uma ideia que volta à tona diante dos atentados contra israelenses e também dos bombardeios contra palestinos.

Por coincidência, Mariam Said, a viúva do pensador, está em São Paulo para falar sobre ele. É uma das convidadas do seminário “O Legado Intelectual de Edward Said”, realizado pelo Sesc em parceria com a Unifesp. O evento, gratuito, começa na terça-feira (10). É preciso se inscrever pela internet.

“Ele era um humanista”, diz Mariam à Folha. “Queria que o conflito fosse solucionado de uma maneira humana, acreditava na necessidade de as partes se sentarem para negociar em pé de igualdade.”

Ela condena a violência da facção Hamas e diz que, na história, essa tática não funcionou para os palestinos. “Se você se lembrar dos anos 1960, quando os palestinos sequestraram todos aqueles aviões, era uma ideia parecida. No fim, não rompeu nenhuma barreira.”

Condena também a resposta israelense. O governo de Binyamin Netanyahu fechou o cerco contra Gaza e deve intensificar os bombardeios. “É horrível, desumano e inaceitável.” Segundo ela, o mundo só aceita que isso aconteça porque não vê os palestinos como humanos.

Said é uma das principais referências para o estudo do Oriente Médio. Seu livro “Orientalismo”, de 1978, inclui uma poderosa crítica à maneira com que o mundo fala sobre árabes e muçulmanos. Said denuncia, por exemplo, o uso de estereótipos —como o das odaliscas e dos terroristas.

Além de Mariam, diversos intelectuais de renome participam do seminário em São Paulo. Na quarta-feira (11) falam o professor brasileiro Michel Sleiman e o historiador libanês Fawwaz Traboulsi.

Como a senhora está interpretando as notícias de Gaza?
É inacreditável. Mas, se você parar para pensar por um minuto, não vai culpar os agressores. A cada dois anos Gaza é bombardeada. Ninguém se importa com as pessoas de lá. Israel criou uma situação terrível com o cerco. Os palestinos chegaram ao seu limite.

A senhora está no Brasil para falar de Said. O que ele diria hoje?
Ele era um humanista. Queria que o conflito fosse solucionado de uma maneira humana, acreditava na necessidade de as partes se sentarem para negociar em pé de igualdade. Mas, quando visitamos a Palestina em 1992, percebemos que já não havia mais como ter uma solução de dois Estados. Hoje, talvez não haja chance nem para a solução de um Estado.

A senhora se surpreendeu com os ataques do Hamas no sábado (7)?
Se você tivesse me perguntado dois dias atrás, eu teria dito que era impossível. Não há saída da Faixa de Gaza pela terra, pelo mar e pelo ar. Eles estavam sufocados, não tinham como sair. Mas conseguiram sair.

Há um debate intenso sobre a legitimidade da violência nessa situação.
Jornalistas —na TV, no jornal, no rádio— chamam os palestinos de “terroristas” antes de dizer qualquer coisa. Com isso, com essa palavra, já deixam claro quem são os bandidos, os vilões. Já não pensam que os moradores de Gaza são como qualquer outra pessoa no mundo. Eles têm sentimentos, famílias, vidas. Estão pagando o preço por esse conflito.

A senhora condena a violência do Hamas?
Eu sou totalmente contra a violência. Na maior parte dos casos, a violência não funciona. Não funcionou para os palestinos. Se você se lembrar dos anos 1960, quando os palestinos sequestraram todos aqueles aviões, era uma ideia parecida. No fim, não rompeu nenhuma barreira.

Israel tem fechado o cerco em Gaza, dizendo que tem direito de agir.
É horrível, desumano e inaceitável. Os palestinos são humanos e têm que ser tratados como tal. Não importa a razão. Estão bombardeando civis. Isso não seria aceitável em nenhum outro lugar —apenas na Palestina.

Seu marido falava bastante sobre a desumanização dos palestinos…
Exato. É isso que está acontecendo.

O que vai acontecer nos próximos dias e semanas em Gaza e Israel?
Não aguento mais ver as crianças de Gaza sofrerem. Essa situação é perigosa, também, porque não sabemos como os outros atores regionais vão agir. Sim, os israelenses têm o direito de se defender. Sim, os judeus sofreram muito na Europa. Mas, como Edward costumava dizer, os palestinos são vítimas de vítimas. Precisamos ao menos reconhecer isso.

Com tudo o que está acontecendo, há perspectiva próxima de paz?
Está mais difícil. Muito mais difícil.

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Manipulações midiáticas sobre a geopolítica palestina, por Francisco Fernandes Ladeira

O não familiarizado com a geopolítica palestina, impressão é que Israel foi “vítima” de um “ataque gratuito” dos “terroristas do Hamas”.

Nas coberturas internacionais da grande imprensa brasileira, a linha editorial predominante sempre será aquela que esteja em acordo com os interesses das agendas externas das potências imperialistas. Não há exceção.

Nesse sentido, para tentar atrair a adesão do público, os discursos geopolíticos da mídia recorrem a determinados atalhos cognitivos (recursos linguísticos para tornar inteligível para o cidadão comum a caótica configuração das relações internacionais) e utilizam estratégias de manipulação como enquadramentos, fragmentação dos fatos, ocultação de condicionantes históricos e escolha de certas fontes em detrimento de outras.

No último sábado (7/10), a manchete dos noticiários internacionais dos principais veículos de comunicação do país (com poucas variações) foi a seguinte: “Ataque do grupo terrorista palestino Hamas surpreende Israel”.

Para o leitor/telespectador/ouvinte que não está familiarizado com a geopolítica palestina, a impressão é a de que o Estado de Israel foi “vítima” de um “ataque gratuito” dos “terroristas do Hamas”.

No entanto, se trata de pura manipulação midiática.

Conforme afirmou o professor Reginaldo Nasser, em entrevista à Fórum, o rótulo de “terrorista” ao Hamas é completamente inadequado, haja vista que o grupo, atualmente, é uma organização política que, na verdade, deflagrou uma operação militar contra o cerco ao seu território (Faixa de Gaza). Ou seja, não houve um “ataque à Israel”, mas uma “reação legítima” à ocupação israelense exercida sobre o território que pertencente, por direito, ao povo palestino.

Mas as manipulações midiáticas não pararam por aí. Como já bem apontou Perseu Abramo, uma das principais estratégias de manipulação da grande imprensa brasileira é o chamado “padrão de ocultação”, que se refere à ausência e à presença dos fatos reais na produção jornalística. Não se trata, evidentemente, de fruto do desconhecimento, e nem mesmo de mera omissão diante do real. É, ao contrário, um deliberado silêncio militante sobre a realidade.

Desse modo, é ocultado nos noticiários a informação de que Gaza – cercada por terra, mar e ar pelo Estado de Israel – apresenta uma das piores situações humanitárias no mundo (onde a insegurança alimentar é extremamente alta, chegando a 75-80% e, ainda por cima, há um controle rigoroso sobre a entrada de alimentos).

Além disso, é importante lembrar do silêncio midiático sobre a recente onda de ações do governo de extrema direita de Benjamin Netanyahu contra os palestinos, sobretudo em locais sagrados para o Islã, como a Mesquita de Al-Aqsa. Trata-se do motivo alegado pelo Hamas para a ofensiva contra Israel. Qualquer jornalismo minimamente plural, que ouve os dois lados de um conflito, teria mencionado esta questão.

Consequentemente, na grande mídia, as investidas do grupo palestino contra o Estado Sionista não tiveram causas; somente consequências. Desse modo, ocultando os fatos citados acima, é possível construir a narrativa de “ataque terrorista surpresa contra Israel”.

Mas não basta rotular o Hamas como “terrorista” e Israel como “vítima”, constituindo o atalho cognitivo maniqueísta de dividir o mundo entre “bem” e o “mal”. É preciso gerar aquilo que o linguista francês, especialista em Análise do Discurso, Patrick Charaudeau, chama de “efeito patêmico”, cujo objetivo é o engajamento/envolvimento da instância da recepção, por meio de performance no mundo dos afetos, despertando no público sentimentos como ódio, compaixão, tristeza e/ou solidariedade.

Assim, são incessantemente mostradas imagens das vítimas israelenses dos “ataques do Hamas”. As perdas do outro lado, diga-se de passagem, em número muito maior, são estrategicamente negligenciadas. Não por acaso, as reportagens em Israel privilegiam as perdas humanas; enquanto as notícias sobre Gaza enfatizam as perdas materiais.

Também nessa linha, é construído o discurso de que o exército de Israel visa somente “instalações militares” e o Hamas “ataca, sobretudo, a população civil; logo, é terrorismo”.

*GGN

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Ataque a Israel reconfigura a política na região

Pano de fundo são as conversações para a normalização de relações entre o país e a Arábia Saudita.

O ataque do Hamas a Israel traz um abalo sísmico na política do Oriente Médio. No curto prazo, a população israelense deverá se unir em torno do premiê Binyamin Netanyahu para dar uma resposta ao grupo terrorista (“rally’round the flag”). Mas essa é uma tarefa extremamente complexa tanto do ponto de vista militar como político.

Os israelenses não podem simplesmente despejar toneladas de bombas sobre Gaza, como fariam em condições normais. O Hamas capturou mais de uma centena de reféns e os espalhou pela área.

Netanyahu também precisa ser cuidadoso para não alienar o incomum apoio político que Israel conseguiu angariar. Uma incursão terrestre é provável, mas não sem muitas baixas entre os israelenses. Cenários mais tenebrosos incluem uma escalada, com o envolvimento militar do Hizbullah e eventualmente até do Irã.

Mais à frente, Netanyahu será cobrado por seus erros. Os serviços de inteligência fracassaram espetacularmente. Quando algo parecido aconteceu, 50 anos atrás, na Guerra do Yom Kippur, o governo de Golda Meir caiu poucos meses depois. Foi o começo do fim da hegemonia dos trabalhistas. Não é impossível que os israelenses se deem conta de que a estratégia da direita de apenas administrar o conflito com os palestinos não é sustentável, levando à eleição de uma administração que volte a discutir seriamente a paz, não com o Hamas, é claro, mas com outros grupos palestinos.

O pano de fundo geopolítico são as conversações para a normalização de relações entre Israel e Arábia Saudita. Por ora, elas ficam congeladas, como queriam o Hamas e o Irã. Dependendo do que acontecer nas próximas semanas e meses, podem colapsar inteiramente ou até acabar sendo fortalecidas, o que favoreceria uma solução negociada para o surgimento de um Estado palestino.

Gostaria de acreditar na segunda possibilidade, mas ninguém jamais perdeu dinheiro por apostar contra a paz no Oriente Médio.

*Hélio Schwartsman/Folha

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Hamas ameaça transmitir a execução de reféns israelenses se bombardeios em Gaza continuarem

Porta-voz do grupo extremista, Abu Obeida, disse responsabiliza Israel pela decisão de matar os cativos.

O Hamas, que lançou uma ofensiva-relâmpago contra Israel no sábado, ameaçou nesta segunda-feira matar reféns caso o Estado judeu continue com os bombardeiros contra a Faixa de Gaza. O grupo extremista armado acrescentou que pretende transmitir as execuções, diz O Globo.

“Qualquer ataque a civis inocentes sem aviso prévio será enfrentada infelizmente com a execução de um dos reféns sob nossa custódia, e seremos forçados a transmitir esta execução”, disse Abu Obeida, porta-voz do Hamas.

“Lamentamos esta decisão, mas consideramos que o inimigo sionista (Israel) e a sua liderança tem responsabilidade por isto”, afirmou Obeida, de acordo com a rede de televisão Al Jazeera.

Conflito armado
Dezenas de pessoas desaparecidas podem ter sido capturadas em Israel por integrantes do Hamas no último fim de semana. Agora, de acordo com a mídia local, as vítimas estão sendo mantidas em diferentes locais da Faixa de Gaza, e o governo israelense tem se mobilizado para estabelecer o número exato de reféns.

Porta-voz internacional do exército, Richard Hecht disse à CNN que “dezenas” de pessoas foram capturadas. Ele ressaltou que a situação era “complexa”, e que “civis, crianças e avós” estavam entre os desaparecidos. Além dos israelenses, porém, pessoas de outras nacionalidades também estão entre os sequestrados.

— O vídeo parece muito ruim, mas ainda tenho esperança. Espero que ela ainda esteja viva em algum lugar. Não temos mais nada pelo que esperar. Estamos tentando acreditar — destacou Ricarda, que também divulgou um vídeo nas redes sociais para apelar por informações sobre Shani.

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Bolsa de Israel perde mais de R$ 80 bilhões após ataques do Hamas

Setor financeiro liderou as perdas em mercado de Tel Aviv; dólar subiu cerca de 3% contra moeda israelense desde início do conflito.

A bolsa de Israel perdeu 63 bilhões de novos shekels israelenses no primeiro pregão após os ataques terroristas do Hamas. A quantia é equivalente a cerca de US$ 16 bilhões e a R$ 82 bilhões. A perda de valor de mercado das empresas listadas na bolsa de Tel Aviv foi registrada no domingo, 8. um dia após a ofensiva ao território israelense, segundo a Exame.

O funcionamento do mercado local vai de domingo a quinta-feira, devido ao sábado ser considerado dia sagrado no judaísmo, o Shabat. O principal índice da bolsa de Tel Aviv, o TA 35, caiu 6,47% no domingo. O índice, nesta segunda, sobe perto de 1%, recuperando parte das perdas do dia anterior.

O setor financeiro foi o que mais se desvalorizou em Israel. As perdas foram lideradas pelo Banco Hapolim, que perdeu 4,5 bilhões de shekels (R$ 5,9 bilhões) em valor de mercado. Os bancos Leumi e Mizrahi Tefahot tiveram respectivas depreciações de 4,2 bilhões e 3,1 bilhões de shekels (R$ 5,5 bilhões e R$ 4,11 bilhões).

O mercado de Israel
Cerca de 541 ações estão listadas na bolsa de Tel Aviv. A quantidade supera as 374 empresas listadas na B3. Apesar do número relativamente alto de companhias com capital aberto em Israel, a soma do valor é bem inferior à da bolsa brasileira.

No fim do último pregão, as empresas da bolsa de Tel Aviv valiam juntas 951,3 bilhões de shekels (R$ 1,24 trilhão), enquanto o valor de mercado das empresas da B3 terminou a última sessão em R$ 4,2 trilhões.

Desvalorização da moeda e alta do dólar
A queda do valor de mercado da bolsa israelense é seguida da desvalorização da moeda local. O dólar, que sobe no mundo inteiro em meio à aversão ao risco, chega ao segundo de apreciação contra o novo shekel nesta segunda-feira. A valorização dólar acumulada em dois dias é de 2,99% contra o shekel. Em Israel, o dólar é cotado a 3,9537 shekels.

 

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‘Foi a maior derrota da carreira de Netanyahu’, diz especialista da Crisis Group sobre impacto da guerra em Israel

Para Joost Hiltermann do Crisis Group, conflito pode transbordar para outros países do Oriente Médio dependendo do que acontecer em Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental, sagrada para muçulmanos e cristãos.

Ninguém estava preparado” para o que aconteceu na manhã de sábado em Israel, quando o grupo extremista armado Hamas lançou um ataque-surpresa terrorista sem precedentes por terra, céu e mar, disse ao GLOBO Joost Hiltermann, diretor do programa de Oriente Médio do Crisis Group e especialista no tema. Para ele, o resultado desta escalada do conflito entre judeus e palestinos é igualmente difícil de mensurar: “dependendo do que acontecer em Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental, sagrada para muçulmanos e cristãos”, outros atores regionais podem se envolver no conflito, transformando a disputa territorial em uma guerra mais ampla no Oriente Médio, avalia.

O especialista também destaca os impactos do confronto para a política interna de Israel:

— Se a guerra se limitar a Israel e ao Hamas, Israel vencerá militarmente. Mas do ponto de vista político e psicológico, o Hamas já venceu — afirma. — O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu sofreu a maior derrota de sua carreira.

Joost Hiltermann, diretor do programa de Oriente Médio do Crisis Group — Foto: Acervo pessoal

O que explica a falha de segurança de Israel nos ataques do Hamas?

É preciso perguntar às autoridades israelenses sobre isso e ver o que elas dizem, o resto é especulação. Mas minha impressão é que a inteligência israelense tem se concentrado na fronteira norte e na ameaça do Hezbollah e do Irã. E isso não significa que eles não estejam de olho no Hamas nem suspeitem das ligações entre o Hamas e o Irã. Mas, na minha opinião, eles fizeram uma avaliação errada de que o Hamas não tinha capacidade de travar uma guerra de grandes proporções neste momento, porque ainda estava se recuperando dos últimos confrontos. Eles também não achavam que o Hamas consideraria esse o momento certo pelo mesmo motivo. E digo isso em retrospecto, porque também fiquei surpreso com o fato de que esse era o melhor momento. Ninguém estava preparado.

  • O Hamas atacou por terra, céu e mar. Como tiveram acesso a todos esses equipamentos sem serem notados?

Foi um ataque multifacetado muito bem planejado e bem coordenado, realizado em motocicletas, caminhonetes e algumas asas-delta, que não são tão difíceis de conseguir. São todos equipamentos muito pequenos que podem ser facilmente usados com os foguetes, muitos deles feitos em casa. E o Hamas vem construindo esse arsenal há muito tempo, embora seja um arsenal pouco sofisticado. Mas esse é o ponto. É um povo que está sendo oprimido há muito tempo e está desesperado. Eles irão recorrer a todos os meios para encontrar uma forma de lutar por sua liberdade, inclusive motocicletas. No entanto, é preciso dizer que são meios muito imorais atacar, matar e sequestrar civis.

Qual é a gravidade do que está acontecendo neste momento? Podemos falar de uma nova guerra de Yom Kippur?

O único paradoxo com a guerra do Yom Kippur é o elemento surpresa, mas, fora isso, é muito diferente, porque no Yom Kippur eram os exércitos sírio e egípcio que cruzavam o território ocupado por Israel. Hoje, estamos falando de atores palestinos não estatais. O Hamas entrou em Israel a partir do território ocupado e conquistaram alguns tanques, capturaram algumas estruturas, mas foi um ataque baseado no uso de asas-delta, motocicletas e caminhonetes, totalmente diferente do que aconteceu no Yom Kippur.

A recente conexão entre Israel e a Arábia Saudita pode ter desencadeado esse ataque? Quais razões podem estar por trás do momento escolhido pelo Hamas?

Não creio que exista um gatilho único e, certamente, essas conversas não foram um gatilho, porque elas já estavam acontecendo há algum tempo. O Hamas citou a violência em Jerusalém, nas prisões palestinas, que tiveram sérios problemas nas últimas semanas, e também os protestos violentos em Gaza, na fronteira com Israel. Portanto, pode-se dizer que esses foram os gatilhos, embora as tensões não tenham sido tão diferentes de outras que ocorreram no passado. Parece ter sido muito mais a percepção de que Israel estava vulnerável naquele momento e que o Hamas já estava planejando um ataque há meses.

O Irã já declarou apoio à Palestina e o Hezbollah disparou mísseis em “solidariedade” ao Hamas… Qual é a chance de esse novo conflito entre Israel e Palestina se espalhar pelo Oriente Médio?

Depende do que Israel fizer em Gaza e do que acontecer na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, sagrada para muçulmanos e cristãos. Isso pode determinar se outros atores se envolverão no conflito, como o Hezbollah ou o Irã. No momento, não parece que isso vá acontecer, mas quem sabe? Às vezes, os conflitos acontecem porque os atores são arrastados, não porque eles realmente querem.

Correspondente em Tel Aviv: ‘Um foguete do Hamas caiu a uma quadra de onde estou dormindo’, relata Paola de Orte
Os EUA declararam apoio incondicional a Israel. Existe algum risco de que isso possa ser o início de um conflito global?

Não imediatamente. Os Estados Unidos estão brigando com a China pela Palestina, mas a Rússia não vai se envolver, porque está muito ocupada na Ucrânia. Então não parece que haja risco de um conflito global, embora possa haver uma escalada precoce além de Israel e Gaza. Espero que não aconteça, mas é possível.

Netanyahu prometeu destruir todos os locais onde o Hamas está presente. Estamos prestes a ver um banho de sangue?

Netanyahu prometeu destruir os locais onde há equipamento do Hamas, mas o problema é que são áreas povoadas por civis. Não posso prever nada nesse sentido, sob o risco de facilmente estar errado. Mas se Israel lançar uma invasão terrestre em Gaza é seguro dizer que haverá muitas baixas.

Existe um lado certo e um lado errado nessa história?

Há dois modos de analisar esta questão. Um deles é o da guerra, porque existe uma lei internacional para isso e ambos os lados violaram essa lei atacando civis e usando poder de fogo desproporcional. Não estou falando apenas de ontem, mas do passado. Mas há também a dimensão da ocupação militar isralenese de outro povo no território desse outro povo. E isso, inerentemente, causa mais conflitos. É isso que precisa ser resolvido, esperamos que por meio de negociações.

Em termos de política interna, Netanyahu sai mais forte ou mais fraco desse conflito?

Eventualmente, se essa guerra se limitar a Israel e ao Hamas, Israel vencerá militarmente. Mas, do ponto de vista político e psicológico, o Hamas já venceu. E por causa da falha de inteligência e do fracasso do Exército israelense em responder rapidamente, esse governo de direita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu já perdeu sua moral. É muito difícil de ver, porque no momento eles estão no meio de um conflito externo, então ninguém vai dizer nada para derrubá-los. Mas, quando a luta terminar, acho que o acerto de contas virá e eles vão se arrepender. Não sei se isso significa que o governo cairá ou apenas que algumas pessoas serão demitidas, mas, com certeza, Netanyahu sofreu a maior derrota de sua carreira.

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Vídeo: Abandonada por doadores, Gaza vive colapso social, fome e corte de energia

Jamil Chade*

Os ataques iniciados pelo Hamas contra a Israel abrem um período de incertezas e crise humanitária para a própria população no território palestino. Nas últimas horas, as autoridades israelenses cortaram o abastecimento de energia elétrica para a região, deixando milhares de pessoas sem luz.

Desde ontem, as agências da ONU responsáveis por atender a região foram obrigadas a suspender a distribuição de alimentos, de água e mesmo a coleta de lixo. De acordo com dados oficiais divulgados pela entidade, mais de 40 escolas foram fechadas, enquanto pelo menos 20 mil pessoas buscaram abrigo em instalações da agência da ONU.

Faltam ainda recursos. Para o ano de 2023, a entidade havia solicitado ajuda de US$ 344 milhões da comunidade internacional para socorrer os palestinos. Mas recebeu menos de 20% do que foi solicitado, num sinal de que muitos dos doadores abandonaram a população de Gaza.

Sob o bloqueio de Israel há 16 anos, Gaza já vivia uma situação humanitária considerada como crítica e a pobreza e a fome dominavam seus 2 milhões de habitantes. Neste período, quatro conflitos atingiram a região. De um lado, grupos palestinos acusavam Israel de transformar Gaza em uma prisão a céu aberto. De outro, acusavam o Hamas de usar o sofrimento dos civis para justificar seus objetivos políticos.

Agora, o temor na diplomacia internacional é de que a a população local seja a principal vítima da guerra entre o Hamas e Israel.

Condenando os atos do Hamas, o coordenador da ONU para o Processo de Paz no Oriente Médio, Tor Wennesland, deixou claro que a ameaça paira sobre a população civil. “Esse é um precipício perigoso e apelo para que todos deem um passo para longe do abismo”, disse.

Segundo a ONU, as taxas de pobreza na comunidade de refugiados palestinos, que constituem a maioria da população de Gaza, estão em torno de 81,5%.

O PIB per capita de Gaza – de cerca de US$ 1 mil por ano – é atualmente quatro vezes menor do que o dos países vizinhos ou mesmo o da Cisjordânia. “Essa terrível situação foi agravada por repetidos ciclos de hostilidades, tensões e violência exacerbadas, instabilidade política e a pandemia da COVID-19”, afirmam as agências humanitárias da ONU.

“Juntos, esses fatores desestabilizaram a vida de indivíduos e comunidades e aumentaram ainda mais as dificuldades que eles estão enfrentando. Tendo testemunhado mortes, ferimentos e danos ou perda de propriedade causados por quatro grandes rodadas de violência nos últimos 16 anos, muitos habitantes de Gaza – especialmente crianças – apresentam sinais de trauma”, destaca.

Antes mesmo dos ataques deste sábado, a ONU alertava que Gaza estava em “suporte de vida”, com 80% da população dependente de assistência humanitária.

Três em cada quatro habitantes de Gaza dependem de assistência alimentar emergencial e, apesar desse apoio, a taxa de insegurança alimentar grave aumentava.

A taxa de desemprego em 2021 foi de 47%, sendo que a taxa geral de desemprego entre os jovens foi de 64%.

1,1 milhão de refugiados palestino recebem assistência alimentar da UNRWA – a agência da ONU para os refugiados palestinos, em comparação com apenas 80.000 em 2000. Esse é um aumento de 1.324%.

Entre 2007 e 2022, 292 dos poços de água em Gaza, usados para consumo doméstico e para plantações, foram danificados ou destruídos pelas forças de segurança israelenses. Oitenta e um por cento da água extraída dos aquíferos de Gaza não atende à qualidade da água da OMS.

“A população de Gaza esgotou todos os seus mecanismos financeiros de enfrentamento e a ajuda humanitária é sua principal salvação, mas não é uma solução de longo prazo”, avaliava a entidade.

Antes da mais recente crise, foi determinado que uma solução viável e sustentável só seria possível com o fim do bloqueio e a abertura de oportunidades que estabelecerão as bases para o desenvolvimento econômico futuro.

*Uol