Bolsonaro tem, claro, o benefício da dúvida. Afinal, contra tudo e contra todos, ele vetou a gratuidade de bagagens nos voos nacionais. No limite, portanto, ele não permitiria, ao menos de graça, o embarque de 39 quilos de cocaína pura no avião presidencial reserva (!?) que o acompanhava ao Japão.
Mas a tolerância com Bozo e sua trupe, rumo ao Oriente, para por aí.
Isso porque imaginar que apenas um militar da FAB, cujo nome ainda está providencialmente mantido em sigilo, montou sozinho um esquema com potencial de faturamento de quase 50 milhões de reais é ridículo, até para a lógica bolsonarista.
39 quilos de cocaína equivalem a, aproximadamente, 8 sacos de 5 quilos de arroz. Um sujeito qualquer, mesmo sendo da comitiva presidencial, não enfia uma carga dessas na esteira da Base Aérea de Brasília sem um amplo apoio logístico de outros criminosos, provavelmente, também fardados.
Há, certamente, mais gente envolvida dentro do Palácio do Planalto, talvez no Cerimonial, onde ficam os responsáveis pelas missões precursoras e de apoio às viagens presidenciais.
Para um governo que arrota, diariamente, o desejo de prender e matar bandidos, notadamente, traficantes de drogas dos morros cariocas, esse acontecimento é extremamente emblemático sobre a hipocrisia bolsonarista – sem falar no óbvio baixíssimo nível de toda gente que cerca Bozo e seus asseclas, dentro e fora dos quartéis.
Imagino que, ao ser abordado pelas autoridades aduaneiras de Sevilha, onde foi preso, o tal militar da FAB tenha sacado as arminhas de dedos e gritado “Brasil acima de tudo!”, certo de que essas palavras mágicas tinham validade universal.
Descobriu, talvez, estupefato, que fora da bolha de idiotas montada pelo governo, pessoas envolvidas em máfias, milícias e quadrilhas de tráfico de armas e drogas acabam no xilindró