O desaparecimento do ministro da Defesa Li Shangfu é o sinal mais recente de problemas no alto escalão da liderança política da China. Nomeado há apenas seis meses para o cargo, Li não é visto em público desde agosto. Acredita-se que o ministro de 65 anos esteja na mira de uma investigação de corrupção, o que poderia ter reflexos negativos para o presidente chinês, Xi Jinping, segundo o Uol.
As suspeitas surgiram quando Pequim cancelou repentinamente a participação de Li em um encontro anual em setembro no Vietnã, alegando que o ministro tinha um “problema de saúde”. Em seguida, reportagens de veículos de mídia do Ocidente ampliaram o debate sobre a sua situação.
Citando autoridades dos Estados Unidos, o jornal Financial Times relatou suspeitas de que Li esteja sendo investigado. O Wall Street Journal também publicou uma reportagem sobre o tema, citando uma fonte com acesso a autoridades de Pequim que disse que Li havia sido detido há duas semanas para interrogatório.
Sob a névoa da corrupção
Na semana passada, fontes anônimas disseram à agência de notícias Reuters que o sumiço de Li poderia estar ligado à compra de equipamentos militares. Em sua trajetória profissional, ele dirigiu o Departamento de Desenvolvimento de Equipamentos entre 2017 e 2022. Em agosto, as autoridades chinesas anunciaram uma investigação sobre casos de corrupção que remontam a seis anos atrás.
“Isso não soa bem para a imagem da China e a de Xi”, avalia Lyle Morris, membro sênior do Centro de Análise da China do Asia Society Policy Institute.
O sumiço de Li ocorre enquanto Pequim vem aumentando seu peso militar no Mar do Sul da China e nas proximidades de Taiwan, uma ilha democraticamente autogovernada e reivindicada pela China.
Em um discurso em 2017, Xi defendeu um desenvolvimento rápido do Exército de Libertação Popular (ELP), com o objetivo de transformá-lo em um “força de classe mundial” que pode “lutar e vencer” guerras. Mas com a direção do ELP agora envolta em acusações de corrupção, “isso faz parecer que Xi não tem pleno conhecimento do que seus líderes estão fazendo”, disse Morris.
Antes de Li, uma grande reformulação em agosto abalou as forças de foguetes do ELP, quando dois líderes e vários oficiais foram removidos de seus cargos. Alguns analistas acreditam que isso ocorreu como parte da uma campanha anticorrupção de Xi.
Embora seja improvável que essas mudanças tenham um impacto imediato sobre as capacidades militares da China, a avaliação é de que as trocas de liderança sugerem “instabilidade” e “falta de profissionalismo” no exército.
Consolidação do poder de Xi
Alguns especialistas têm opinião contrária, e acreditam que medidas drásticas contra Li indicariam um poder cada vez maior de Xi sobre os militares. “As pessoas podem questionar as decisões pessoais [de Xi] a partir de fora, mas, dentro da China, você só pode seguir o que Xi Jinping diz”, afirma Lin Ying-Yu, professor assistente da Universidade de Estudos Estratégicos de Tamkang, em Taiwan. Ao sacudir a liderança militar, Xi conseguiu nomear novos generais que sejam “mais obedientes e leais”, argumentou.
Além das acusações de corrupção, vazamentos de informações sensíveis e disputas por poder também poderiam estar por trás do sumiço do ministro. Lin descreve o cenário político da China como uma “selva” na qual muitos estão competindo por uma posição mais alta, mas a chave para alcançar essas posições é simplesmente “seguir as diretrizes da autoridade central”.
Um slogan que diz “siga o Partido; lute para vencer; forje uma conduta exemplar” pode ser ouvido frequentemente sendo gritado pelos soldados das Forças Armadas chinesas. Esse é um dos princípios que visam fortalecer o exército.
Líderes estrangeiros no escuro
No momento de publicação deste artigo, Li ainda era listado como ministro da Defesa da China nos sites oficiais do governo. Mas muitos observadores avaliam que ele será removido do cargo em breve. O ex-ministro do Exterior da China Qin Gang foi demitido em julho sem uma explicação clara, depois de ter desaparecido por quase um mês.
Em outubro, Li é esperado em uma importante conferência internacional de defesa e segurança em Pequim, o Fórum Xiangshan. A atual falta de clareza sobre quem é, ou será, o rosto público das Forças Armadas da China “colocou outros líderes estrangeiros em uma situação embaraçosa”, disse Morris, forçando-os a especular o que aconteceu com o homem com quem tentavam entrar em contato.
Lin ressaltou que Li e Xi, cujos pais trabalharam juntos no Partido Comunista Chinês, são considerados integrantes da “segunda geração”. Xi raramente eliminou ou deteve os sucessores de oficiais aposentados do partido em expurgos anteriores.
Por isso, Lin avalia que o cenário mais provável é o ministro da Defesa seja rebaixado ou removido da posição militar de liderança, mas ressalta que “o resultado final ainda está para ser conhecido”.