Entenda o que há por trás da expressão usada por golpistas para combinar a invasão do Poderes, em Brasília.
As conotações simbólicas por trás do código bolsonarista “festa da Selma” para combinar a invasão da Praça dos Três Poderes vai além de uma alusão à “Selva”, um cumprimento usado pelo exército brasileiro. Apuração do GGN mostra que o termo escolhido pelos golpistas é carregado de racismo. Entenda abaixo.
De acordo com a Agência Pública, o código “festa da Selma” vinha sendo usado há dias pelos golpistas apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) nas redes sociais, antes da invasão terrorista. A expressão, inclusive, foi utilizada no Twitter junto à hashtag #BrazilianSpring — Primavera Brasileira, em inglês.
Segundo a reportagem, o termo teria sido lançado pelo estrategista da extrema-direita norte americano Steve Bannon, logo após a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022.
“O termo é uma apropriação dos movimentos em países árabes pró-democracia, e foi compartilhado por Bannon para levantar dúvidas falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro”, diz a Pública.
A apuração do GGN, no entanto, mostra que o simbolismo sobre o termo vai além, o que não é uma novidade, tendo em vista que, ao longo de todo o mandato, o governo Bolsonaro tomou para si expressões supremacistas e nazistas.
Nesse caso, o simbolismo do termo “festa da Selma” tem uma ligação direta, já alertada por internautas no Twitter, com a cidade de Selma, no estado americano de Alabama, local do massacre contra negros conhecido como “domingo sangrento” na década de 1960.
A luta por direitos civis em Selma
Em 7 de março de 1965, pelo menos 600 manifestantes partiram pacificamente de Selma para Montgomery. A passeata, no entanto, foi bloqueada na Ponte Edmund Pettus, sobre o Rio Alabama, ainda na cidade de Selma. No local, o grupo foi atacado violentamente pela polícia com gás lacrimogêneo e cassetetes, no que ficou marcado como “domingo sangrento”.
Na ocasião, uma das principais reivindicações dos militantes era o reconhecimento do direito de voto dos negros, que foi assegurado pela constituição desde 1870, mas que na época não garantiria que negros pudesse votar.
Os manifestantes também protestavam contra o assassinato do ativista negro, Jimmie Lee Jackson, morto em fevereiro de 1965, durante uma marcha noturna em Marion, também no Alabama.
Esses movimentos de incentivo ao recenseamento eleitoral começaram em 1963. Em meio ao racismo, os ativistas reuniram líderes que apoiavam os direitos civis e também contaram com o reverendo e futuro Nobel da Paz Martin Luther King para contribuir com as ações.
Dois dias depois do “Domingo Sangrento”, em 9 de março de 1965, os manifestantes fizeram uma segunda tentativa de empreender a marcha, com a participação de Martin Luther King. Nesta ocasião, os policiais e manifestantes ficaram frente a frente. Para evitar novos confrontos, King voltou com os manifestantes à igreja.
Pela terceira vez, em 16 de março de 1965, a marcha foi retomada. Mesmo cercados por soldados, o grupo avançou 16 quilômetros ao longo do dia. Em 24 de março, o grupo chegou em Montgomery e no dia seguinte alcançou o Capitólio do Estado do Alabama .
Após os protestos, no dia 7 de agosto de 1965, o Presidente Lyndon Johnson assinou a Lei sobre o Direito de Voto, uma das mais importantes dos Estados Unidos.
*Ana Gabriela Sales/GGN
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